Entrevista: Harry

por Marcelo Costa

A Harry está de volta! Uma das bandas míticas do underground brasileiro dos anos 80 passou por um revival interessante no meio da década passada, quando o selo Fiber Records lançou o box “Taxidermy” (2005), que incluía os três lançamentos originais do grupo santista – o EP “Caos”, de 1987, e os álbuns “Fairy Tales”, de 1988, e “Vessels Town”, de 1990 – com um vasto material inédito incluindo as “Taxidermy Tracks” (15 músicas compostas na década de 90 e até então inéditas), mas o grupo só se reuniu para um novo álbum em 2012, época em que Johnny Hansen já se apresentava com o projeto H.A.R.R.Y. and The Addict.

“Sempre que eu vinha para Santos, ia fazer um som com o Cesar (Di Giacomo, bateria), o Lee (Luthier, baixo) e o (Marcelo) Marreco (guitarra), que sempre ensaiavam nas noites de quinta-feira, sem qualquer pretensão que não fosse se divertir, tocando covers e algum material antigo do Harry”, conta Johnny Hansen em bate papo por email com o Scream & Yell. “Comigo junto, começamos a resgatar musicas que não foram gravadas, além de algumas novas. A coisa começou a tomar forma, e achamos que deveríamos registra-las”.

O resultado lançado só agora, e que ainda inclui o membro original Richard K. Johnsson (teclados), é “Electric Fairy Tales”, primeiro álbum da Harry em 25 anos. “São regravações em formato elétrico de 7 das 10 musicas do ‘Fairy Tales’ original, mais 9 inéditas”, explica Hansen, que avisa que a banda já está gravando material novo (“Terá algumas musicas antigas que nunca foram gravadas, e várias compostas agora”) e está pronta para cair na estrada. “Estamos com um set muito forte, capaz de detonar muita banda de pivetada por aí…”, avisa. Confira o bate papo abaixo:

www.facebook.com/harrybandbrazil

É uma boa surpresa ouvir um disco novo da Harry. Você estava tocando o projeto H.A.R.R.Y. and The Addict, certo? Quando surgiu a ideia da formação se reunir e gravar “Electric Fairy Tales”?
O H.A.R.R.Y. and The Addict ainda segue, embora não tenha virado como eu gostaria (o que é uma pena, porque eu acho o material muito bom: http://tnb.art.br/rede/harryandtheaddict), mas sempre que eu vinha para Santos, ia fazer um som com o Cesar, Lee e Marreco, que sempre ensaiavam nas noites de quinta-feira, sem qualquer pretensão que não fosse se divertir, tocando covers e algum material antigo do Harry. Comigo junto, começamos a resgatar musicas que não foram gravadas, além de algumas novas. A coisa começou a tomar forma, e achamos que deveríamos registra-las. O problema maior foi o nome, eu não sabia como batizaria o projeto. Mas uma vez com as musicas gravadas, chamamos o Johnsson (que era autor de quase metade das musicas) para uma participação em duas ou três, mas ele abraçou a coisa e quis fazer todas. Eu expliquei a ele que o teclado teria que ter uma participação discreta, como a guitarra tinha na época dos eletrônicos, mas ele sacou a proposta. No final, soava como o Harry, entre 85 e 87. E afinal, a formação original éramos eu, Cesar e Johnsson (a Denise entraria depois, o Verta produziria o primeiro EP, depois ela sairia e o Verta entraria), assim acabamos usando Harry mesmo. Ficou meio complicado duas bandas com o nome quase igual, mas enfim…

As guitarras estão mais presentes nesse novo disco: mudou o mundo ou mudou a Harry?
Resgatamos o som que fazíamos antes de entrar toda a tecladeira. Na verdade, o Harry foi uma das bandas pioneiras (junto com o Azul 29 e os Agentss) na mistura do rock com a música eletrônica aqui no Brasil. Só separei os elementos agora com o Harry e o H.A.R.R.Y.

A produção do disco é dividida entre você e o Nando Bassetto, guitarrista do Garage Fuzz. A ideia era soar mesmo como banda, abdicando dos recursos eletrônicos?
Sim. Acho que sempre fomos referência em termos de discos bem produzidos aqui, mas o som da guitarra sempre ficou uma merda (apesar que eu não conheço nenhum disco gravado aqui com bom som de guitarra, pelo menos até 2000). Nesse ponto, o Nando foi de grande valia. Ele tocava no Mr Green, que foi a primeira (talvez a única) banda estilo Shrapnel Records aqui no Brasil, tendo gravado um vinil e um CD, então era a pessoa perfeita para me ajudar na produção, além de que ele é um dos donos do estúdio, então sabe pilotar bem as maquinas que estão lá.

Como está o momento da banda nessa nova fase? Podemos esperar material novo?
Sim, já estamos gravando o próximo disco. O “Electric Fairy Tales” foi bancado pelo Cesar, Lee e Marreco, e essas novas gravações estão sendo pagas com a grana das vendas do CD. Esses processos são demorados. O “Electric Fairy Tales” foi gravado entre setembro e dezembro de 2012, mixado durante todo o ano de 2013, e só consegui achar uma empresa para fabricar tanto CD como capa (a Triplica), quase no final de 2014. Mas eu queria um material um pouco diferenciado das caixinhas de plástico, então acho que valeu a espera. Dessa vez, haverá apenas duas regravações: “Warning”, do “Vessel’s Town” (aquela versão nunca me agradou) e “Liar”, que é a versão em inglês de “Caos”. O novo, além das regravações, terá algumas musicas antigas que nunca foram gravadas, mas já terá várias compostas agora. Mas o disco deverá ficar pronto só em 2016 ou 2017.

E shows? A Harry está pronta para circular em festivais pelo país? Ou a ideia é se concentrar no trabalho em estúdio?
A ideia é fazer shows, sim. Fizemos o Sesc de Santos em março e a reação foi altamente positiva, o material funciona muito bem ao vivo. O problema é que não temos, aliás, nunca tivemos um empresário exclusivo. O Eugênio Martins Jr, da Mannish Boy Produções, é quem tem marcado os shows nos últimos dois anos, mas ele trabalha com muitos outros artistas, assim não temos exclusividade com ele, como nunca tivemos com ninguém. Mas estamos com um set muito forte, capaz de detonar muita banda de pivetada por aí…

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

4 thoughts on “Entrevista: Harry

  1. Harry é e sempre será uma das minhas bandas favoritas. Quando Fairy Tales foi lançado não havia nada no país que chegasse perto em qualidade.

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