Boteco: três blends do sueco Monk’s Cafe

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por Marcelo Costa

Existem vários Monk’s Cafe ao redor do mundo. Numa busca no Google, o primeiro resultado diz que esse Monk’s Café “é a alma da Bélgica no coração da Filadélfia”. Outro, mais famoso, foi popularizado na série Seinfeld, inspirado no Tom Restaurant, de Nova York. E o terceiro, tema deste post, é um “Restauranger Bryggerier och ölfrämjande i Stockholm”. Isso mesmo, um pub cervejeiro em Estocolmo que produz suas próprias cervejas, grande parte delas envelhecida em velhos barris (e bastante alcoólicas). Além disso, a partir de 2009, o mestre cervejeiro da casa, Charles Cassino começou um projeto maluco, mas muito interessante, que consiste em preparar blends de cervejas variadas buscando criar uma nova receita a partir disso. No momento já são 32 blends (“very limited edition”, como avisa o rótulo) listados no site oficial do Monk’s Café Stockholm, também disponíveis no Systembolagets suecos. As três abaixo foram compradas em agosto de 2014 em Estocolmo. Vamos a elas.

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A Blend n° 14 Bavarian Hero do Monks Café é o resultado da junção no mesmo barril da Monks Black & Spicy Imperial Stout com a Riegele Sebastian Weisse, o vinho branco Black Tower e a Goose Island Bourbon County Stout. O resultado é uma cerveja âmbar (como açúcar queimado) com creme bege explodindo na taça (gushing) e, após acalmar, de média permanência. No nariz, proximidade com Sour Ale: azedume, doçura melada (açúcar mascavo e caramelo), frutado (uva e alcaçuz), herbal (pinho) e sugestão de condimentação (canela, pimenta do reino, gengibre e cravo). Na boca, acidez picante na textura e rápida doçura melada no primeiro toque. Depois, azedume frutado com toque cítrico bem próximo de uva verde, forte alcaçuz e leve sugestão de canela e gengibre, que permanecem no trecho final, (mais) condimentado, (menos) melado e bastante acético. No retrogosto, adstringência constante, alcaçuz, açúcar mascavo e gengibre. Doideira.

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Uma dos blends mais respeitados do Monks Café Stockholm é o n° 4 Vigorous, que junta a Monks Imperial Cherry Stout (Imperial Stout envelhecida em barris de madeira que recebe adição de cerejas e alcança 13.4% de álcool) com a De Molen Hel & Verdoemenis, elogiada Imperial Stout dos holandeses de Bodegraven (com 10% de álcool). De coloração preta intensa com creme bege meio escuro de boa formação e média alta permanência, a Monks Café Blend n° 4 Vigorous apresenta um perfil aromático caprichadíssimo, com várias sugestões pedindo atenção ao mesmo tempo: há bastante amadeirado, notas derivadas do malte torrado (café e caramelo), doçura (baunilha), frutas escuras e vermelhas (ameixa, alcaçuz, nozes e cereja) e leve percepção de álcool remetendo a uísque, com suavidade. Na boca, a excelência do aroma se amplifica num conjunto que desce impressionantemente suave: há cereja, uísque, baunilha, ameixa, madeira e alcaçuz convivendo harmoniosamente num conjunto que finaliza melado, frutado (cereja) e levemente acético. No retrogosto, madeira, cappuccino e cereja. Uau.

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Outra parceria entre holandeses e suecos, o Blend n° 2 Superior Sour Stout junta a Monks Black Jack da casa (uma Sour Ale de 10% de álcool) com a De Molen Marshmello Bitch (uma cerveja misteriosa aparentemente produzida pela turma de Bodegraven exclusivamente para este blend). De coloração marrom bem escura com creme bege claro de boa formação e média alta permanência, a Monks Café Stockholm n° 2 apresenta um aroma interessante com muita sugestão de frutas vermelhas e escuras (ameixa, mirtilo, alcaçuz e uva passa), doçura (açúcar mascavo e caramelo), madeira e vinho do Porto (o sour do nome ficou fora do aroma). Na boca, a Superior Sour Stout apresenta um tiquinho ínfimo de azedume, o que não caracteriza uma Sour, muito menos uma Superior. Escorregão a parte, o conjunto é bastante agradável com sugestão delicada de vinho do Porto mais frutas escuras (ameixa, mirtilo, alcaçuz e uva passa) e doçura nada enjoativa. Os 10% de álcool são totalmente imperceptíveis em uma cerveja que finaliza caramelada e levemente (encantadoramente) azeda/amarga. No retrogosto, frutas escuras, acidez e caramelo. Bem gostosa.

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Balanço
Primeira dos três blends que eu trouxe de Estocolmo em 2014, a n° 14 Bavarian Hero é, no mínimo, interessante. A aparente tentativa do mestre cervejeiro Charles Cassino foi amaciar com cerveja de trigo alemã e vinho branco a junção da porrada Goose Island Bourbon County Stout (15% de álcool no original, mas que deve acrescentar muito pouco a este blend) com a Black & Spicy Imperial Stout da casa. O resultado, se eu tivesse que cravar um estilo, é uma Sweet Sour Ale bastante condimentada e com pouca proximidade ao estilo bávaro. Já a Monks Café Blend n° 4 Vigorosa é simplesmente venerável: a junção de duas Russian Imperial Stout (uma sueca, outra holandesa – a segunda mais reconhecida mundialmente que a primeira) rende uma terceira cerveja sublime, que consegue acrescentar cereja no conjunto vigoroso de uma cerveja escura potente. Para se apaixonar. O Blend n° 2 Superior Sour Stout atira num alvo e acerta em outro: não há absolutamente nada de Sour aqui, muito menos Superior, mas a junção da Monks Black Jack com a De Molen Marshmello Bitch resulta uma terceira cerveja bem frutada, amadeirada e saborosa. Não é uma Sour, mas é uma boa cerveja.

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Monks Café Blend n° 14 Bavarian Hero
– Produto: American Strong Ale
– Nacionalidade: Suécia
– Graduação alcoólica: 6%
– Nota: 2,96/5
– Preço pago em São Paulo:  R$ 13 – 330 ml

Monks Café n° 4 Vigorous
– Produto: Imperial Stout
– Nacionalidade: Alemanha
– Graduação alcoólica: 10%
– Nota: 4,27/5
– Preço pago em São Paulo:  R$ 23 – 330 ml

Monks Café n° 2 Superior Sour Stout
– Produto: Wild Ale
– Nacionalidade: Suécia
– Graduação alcoólica: 10%
– Nota: 3,58/5
– Preço pago em São Paulo:  R$ 23 – 330 ml

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– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
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