Entrevistão: Hélio Flanders, Vanguart

ENTREVISTÃO DE SETEMBRO

por Marcelo Costa, Marco Tomazzoni e Tiago Agostini
revisão: Murilo Basso
fotos: Liliane Callegari

Hélio Flanders tem apenas 25 anos, mas suas histórias são as de um cara que já viveu ao menos o dobro disso. Ele parece levar a sério aquela máxima do Lobão sobre ser melhor viver 10 anos a mil do que mil anos a dez, mas precisou pisar no freio e agora vive sem pressa, fazendo as coisas totalmente de seu jeito. E ainda assim parece estar sempre dois passos à frente dos demais.

A primeira banda apareceu com 13 anos. Sexo, drogas, glam rock e Oscar Wilde no pacote. Aos 17, surgiu a necessidade de um auto-exílio na Bolívia, em que a loucura maior foi ficar careta. “Eu, artisticamente, na maneira mais simples da palavra, queria sentir coisas que nunca tinha sentido”, explica. Após uma bebedeira em La Paz que durou três dias, Hélio decidiu voltar para Cuiabá, reencontrar os amigos e montar uma banda.

O Vanguart surgiu como um furacão no cenário independente nacional. O boca a boca fez a banda lotar de curiosos a Funhouse, em São Paulo, num domingo às 19h para ver um grupo que fazia apenas seu segundo show na cidade. O disco de estreia, gravado e produzido em Cuiabá, apareceu no topo de várias listas de melhores do ano, inclusive do Scream & Yell (melhor disco de 2007, melhor música e melhor show de 2006), e muitos jornalistas viram no hit “Semáforo” o hino da geração 00.

Pelo andar da carruagem, o próximo passo seria o mainstream. A banda assinou um contrato com a Universal, lançou um disco ao vivo com a marca Multishow, mas deu um basta às necessidades do mercado, pois as cobranças ficaram maiores do que os desejos artísticos. O próximo disco do Vanguart, por exemplo, não tem data para sair. “Não se assustem se simplesmente não rolar”, ele avisa em certa altura desta entrevista.

Foram cinco horas de conversa regadas a uma caixa de cerveja belga Leffe em que Hélio – em estágio “semi-bêbado”, ele frisa – abriu o coração diversas vezes. Relembrou o começo da banda, explicou por que o Vanguart não toca mais em festivais, defendeu Mallu Magalhães, detonou o rock burro, falou de sua recente paixão pelo trompete e contou que já entregou 36 músicas novas para a gravadora, mas avisa: “O que menos me preocupa é a necessidade de voltar. O que mais me preocupa é voltar com algo que faça sentido”. Com vocês, Hélio Flanders.

Em 2008 vocês foram para a Europa. Como foram os shows?

Fomos participar do Popkomm Festival, que é um festival de world music classudo em Berlim, na Alemanha. Tocaram bandas brasileiras tipo o Cabruera, do Sergipe, que é do caralho, mas [o festival] tem um lado regional muito forte, batuque… Fodeu. Ninguém entendeu nada [do nosso som]. Lembrou meus shows em Cuiabá. Mas fizemos um show em uma universidade em Luneburg e foi ótimo. Depois tocamos em uma festa de música brasileira em Bamberg, na Bavária, que ninguém entendeu nada também, mas estava todo mundo bêbado. Eu já estava falando alemão no terceiro show (risos). Porque você começa a fazer umas conexões sem nexo nenhum, tipo “isso vem do latim” (mais risos), chega ao terceiro, quarto idioma fácil. Nem precisa estudar (risos).

Quantos shows foram?

Três. O quarto show seria em Londres com o Wry. A Clarah Averbuck estava lançando o livro dela na mesma época em que íamos tocar. Mas não rolou. Tomamos um chá de sala de 10 horas no aeroporto de Londres. Treinei bem o inglês na entrevista. Parecia reunião de pais da Wizard. Estávamos como turistas, sem visto de trabalho e nos deportaram de volta para a Alemanha. Só que nossa passagem de volta [para o Brasil] era saindo de Londres, então rolou uma grana para desmarcar. Ficamos dois dias em Berlim, que se me perguntarem como foi… não vou saber dizer. Tinham uns vinhos sul-africanos em promoção por 2,80 euros e fizemos a festa do vinho. Cada um levava três para o albergue e as suíças amaram a gente, porque os caras eram muito grossos – e elas eram muito barangas. E a gente: “Como assim?” (risos). Uma chorou contando do ex. Ficamos super amigos. Tomamos cada um três garrafas de vinho e comemos wurst…

Foi a única vez que vocês tocaram fora?

Foi. Eu toquei em Buenos Aires solo com o Arthur de Faria, que é um cara que para mim tem uma dimensão musical muito grande. Várias vezes encontro pessoas do meio musical pop que não conhecem ele e fico espantado. Eu estava preocupado com o lugar que íamos ocupar, ou que ocupamos ou já ocupamos no mercado. E a mais otimista das visões é: não existe esse lugar. Então você vê um show na Argentina, era o Arthur e o Mauricio Pereira, que considero um dos maiores letristas de São Paulo. E estavam os dois juntos tocando em um circuito para 40, 60 pessoas. No primeiro estava o Caito Marcondes, um cara que tocou com o Hermeto [Pascoal], com o Marcos Suzano, um dos maiores percursionistas do Brasil. É outra realidade musical. Eles pensam a música de outro jeito. O rock ‘n’ roll é quase uma piada. E se eles estão nesse nível, tocando pra 60 pessoas, eu vou ficar tentando compor um hit babaca, com letrinha de “ela vai sair pra dançar hoje” pra tocar pra 200 pessoas na Rua Augusta? Não! Eu vi um cenário que me surpreendeu totalmente. Estou indo no caminho errado e está maravilhoso, o ostracismo. Meu MySpace cada mês vai diminuindo…

Isso também é reflexo de vocês terem dado um tempo que, na verdade, não foi um tempo, foi um trilhão de anos na música pop. Vocês estavam em uma ascendente. Em alguns shows vocês davam a primeira nota de “Semáforo” e a plateia delirava.

Questão de escolha. Depois do “Multishow Registro” vimos uma realidade: nosso público não estava pronto. Muito menos o Brasil. Não tinha como pagarem o mínimo que precisávamos para tocar em um teatro, levar o quarteto de cordas – o que não conseguimos fazer nenhuma vez. Mas então você diz: “Pô, é meio utópico”, mas para mim eram os teatros os errados. Devíamos estar tocando em teatros para 80 pessoas e o Vanguart tinha tomado uma proporção de equipe e suporte que não dava mais pra fazer isso. A não ser que pagassem uma grana que existe apenas em projetos estatais.

Que é limitado…

É e não é. Você pode estar num grupo de pessoas que faça isso funcionar de uma maneira mais fácil, mas não quisemos levantar bandeira nenhuma nem entrar em discussões de mercado. Vinham falar comigo sobre politicagem e eu respondia: “Bicho, estamos fazendo peças dodecafônicas! É matemática. Não posso gastar tempo lendo comentário de blog. Eu não sei o que está acontecendo”. Então eu era um alienado, um ignorante? Não, eu só estava canalizando meu tempo para minhas prioridades, que hoje é estudar trompete, escrever sobre futebol e atualizar o Twitter. Se você fica dez dias sem atualizar o Twitter hoje em dia, você morreu. Os caras não vão ao seu show.

Em uma entrevista recente do Marcelo Camelo para a Trip ele diz que 1% do tempo dele é destinado à música…

Por isso que fumamos maconha, né? (risos) Passamos 1% do tempo com o violão na mão, mas 61% do tempo eu estou pensando na criação. Pelo menos eu penso nisso porque a minha criação vai muito além de estar com um violão e estar pensando música. Não quero que soe pretensioso, mas demos uma desacelerada porque estávamos pensando em um conceito e a cada seis meses eu mudo esse conceito. Então prefiro não lançar um disco que não diga nada pra mim. É meio burrice, porque estou perdendo grana, estou perdendo uma fórmula de folk bonitinho, de calça apertada, que podia estar dando dinheiro. Mas, ao mesmo tempo, descobri uma forma de fazer dois shows por mês, pagar minhas contas, comprar meu fumo e não precisar ficar blefando, nem segurar placa de gênio pensando ou ficar fingindo que eu tenho culpa cristã. O protecionismo ao redor do artista… isso é um golpe.

O punk veio pra quebrar isso, mostrar que era legal que as coisas estivessem em um pedestal, mas era bom lembrar que foi uma pessoa quem fez, não um deus…

O lance do Vanguart foi uma escolha. Tivemos problemas com nosso empresário, com a gravadora que queria que vendêssemos disco… E eu: “Bicho, quem está vendendo disco hoje? Você me contratou para isso? Você está louco!”

Como foi a aproximação com a gravadora?

Nós gravamos um disco completamente independente, com ajuda de Lei de Incentivo do governo de Mato Grosso, lançado na revista do Lobão. Depois começamos a nos envolver com a mídia, ir aos programas… e tinha nosso empresário, que fez coisas muito legais para nós, mas tinha outro perfil. Sem contar o fator idade. Mudamos muito rápido, começamos a ouvir outras coisas. Cara, eu vim para São Paulo com 21 anos! Eu sou do mato, me fodi muito por ingenuidade e deslumbre. De olhar para onde chegamos. E na verdade não aconteceu porra nenhuma! Hoje eu queria estar fazendo coisas cada vez mais livres e por isso o Vanguart teve um hiato. Era isso ou nos adequar e lançar um disco que não tinha nada a ver conosco. “Ah, mas a pegada da banda é massa”. A pegada é o caralho! Não estou interessado na pegada. Estou interessado em harmonização.

A única saída para a banda era crescer…

Se seguíssemos a fórmula “Semáforo”… Eu tenho outras quatro “Semáforos” lá em casa e acho uma bosta! Renunciamos e a banda me entendeu completamente. Podíamos lançar discos de dois em dois anos, rodar o Brasil em festivais tocando rock ‘n’ roll, mas não quero fazer isso. Soa até meio babaca, mas eu tive uma banda de rock aos 13, 14 anos chamada Valium. Era uma banda glam. Vocês assistiram ao “Velvet Goldmine”? Lembra do Bowie tocando violão, sendo vaiado e depois reaparecendo? É tipo o inverso. Começamos em uma coisa meio glamour, guitarra. Eu ouvia glam pra caralho, achava Marc Bolan melhor que John Lennon! Obviamente hoje não acho, mas já achei. Era reflexo do que eu estava ouvindo na época e quando ouvi Dylan, o “Blood on the Tracks”, em 2000, com 15 anos, entrei em crise. Eu sempre curti letra, comecei a fazer música para escrever letra. E percebi que a narrativa do cara era genial, ele não canta, mas tem personalidade e era isso que eu queria fazer. E é curioso olhar os [nossos] discos hoje e pensar na concepção deles. Eu estava desempregado em Cuiabá e vocês não fazem ideia do que é Cuiabá, do calor que é lá o dia inteiro, pegar ônibus de manhã e chegar ensopado no trabalho. É foda. Trabalhei vendendo marmita, em hospital, computação. Eu destacaria três momentos importantes [na minha vida]: quando ouvi Dylan, quando ouvi Tom Jobim sabendo o que ele estava fazendo harmonicamente e quando vi Hermeto Pascoal. Antes de conhecer os Beatles eu achava que era só Bach. Ouvia música clássica e torcia o nariz para o rock. Tinha 5 anos e era uma criança que queria ser excêntrica, mas achava aquilo realmente foda até que vieram os Beatles. Depois o Raimundos (gargalhadas gerais). Pra mim, o Rodolfo é um grande poeta. Ele é o Genival Lacerda dos anos 90, de uma clandestinidade tosca que existe no Brasil. O Rodolfo teve a casualidade para compor que o Júpiter teve em “Lugar do Caralho” e que hoje vemos no Tatá Aeroplano. Escrever bonito é fácil. Olavo Bilac tem um monte. Cantar coisa casual é foda. O Tatá faz isso muito bem, vocês vão ver nesse disco novo [do Cérebro Eletrônico].

Então você partiu de Bach, passou por Beatles e chegou em Raimundos.

E depois eu conheci o folk do Dylan. E eu juntei tudo, com 15 anos, pensando: “Cara, eu não me permito mais ouvir rock ‘n’ roll”. E não é uma disciplina – eu não curtia mesmo. Então rolou o Strokes e eu achava as melodias uma delícia. Mas de repente todas as bandas começaram a copiar Strokes e pensei: “Gente, fudeu! A história do Brasil agora vai ficar marcada”. Tanto que de 2000 a 2006 tudo foi assim.

O Los Hermanos não bateu em Cuiabá?

Pra minha turma chegou. Ouvi muito Los Hermanos por tabela, porque todo mundo estava ouvindo. Tem pessoas que têm birra, falam mal da banda. Acho que não há o que falar. O problema é quando você ouve uma guitarra meio progressiva e diz: “parece Pink Floyd”. Não! Não tem nada a ver com Pink Floyd. Então todas as bandas de 2003 para cá, que não eram rock, que tinham uma pegada levemente sétima maior bossa nova “parecem” Los Hermanos. Você canta grave é Amarante. E são vícios culturais que a galera acaba pegando e se tornam difíceis de tirar. Acho que é por isso que a galera tem uma leve birra.

Era 2001/2002, Strokes e Los Hermanos rolando, e você estava na fase Bob Dylan.

Não era nem Dylan, estava mais no estudo do “American Anthology of Folk Music”. Em 2000 namorei uma garota que gostava muito do som dos anos 60 e eu ouvi tudo de 1962 a 1970. Tudo que era Flower power e bonito, incluindo os ingleses. Ouvi tudo, por isso que não acho “Impossible Germany” [Wilco] grande coisa (discussão e risos gerais). É meia bomba. Eu ouvi o “Being There” quando descobri o Dylan e pensei que era muito legal porque era tosco. Tem emoção. Depois parece que ele [Jeff Tweddy] começou a usar compressor e não tem graça mais. E ele não fala uns absurdos na letra. Eu acho [o Wilco]… Higienópolis demais. Não tem travesti andando na rua (risos gerais). É torcer para o São Paulo. Não dá! É tipo mudar para o Rio e ir morar na Barra. É até uma coisa carrancuda, rebelde da minha parte, mas porra, não tem como você torcer pra Imperatriz Leopoldinense. É Mangueira ou Portela. Eu gosto do Wilco, mas achei os últimos discos pouco inspirados, convencionais. E você pega os discos do Dylan, que não tem nada de novo, é ele se copiando, mas com uma puta banda de blues e blues mais pro country. Acho o blues do Wilco muito quadrado, careta. O blues do Dylan ainda tem viola, umas coisas assim. Eu não fui ver o Dylan no Via Funchal. Eu vi um velho declamando as letras e uma puta banda de blues. Só que as letras que o cara declamava eram fodas!

Como foi para você ver o Dylan?

Pô, ele vem sacaneando o ouvinte há 40 anos. Achei o show do caralho! Ele declamou várias, é o Dylan, né! Até achei que ele zoou pouco, tocou altos hits. No segundo dia rolou até “Blowin’ in the Wind”.

Beleza, demos a volta, voltamos ao Dylan, você está em Cuiabá. Quando você foi para a Bolívia?

Eu descobri depois que essa história da Bolívia foi coisa para jornalista. Porque todo release tem a parada da Bolívia, parece que é algo absurdo. E tudo é um ponto de passagem, não só a Bolívia.

É que foi vendido que você tinha ido para a Bolívia e “voltou” com o Vanguart.

Eu terminei o “terceirão” e já estava renunciando da minha vida. Estudava à noite, era demais. Todo mundo na minha classe trabalhava, menos eu. Acordava às seis e meia da tarde, ia pra aula, depois ia dormir às oito, nove da manhã. E comecei a fazer umas loucuras. Já tinha tido minha primeira crise criativa em que pensei: “não posso ser eu, tenho que procurar outra coisa, o ‘eu’ já estou fazendo há 15 anos”. Queria algo que não conhecia. Então rolou a oportunidade de ir pra Bolívia, porque minha avó estava morando lá. Ela abriu um restaurante em Santa Cruz de la Sierra.

Como é sua família?

É uma família classe média católica tradicional brasileira, toda descendente de italianos e portugueses. Minha avó foi para a Bolívia porque estava aposentada, tinha passeado por lá com meu tio, viu que a cidade estava crescendo, montou o negócio, tinha um “apêzaço”. Fui para lá e ela queria que eu fizesse medicina. Desde pequeno eu analisava uns vídeos e livros de psiquiatria clínica do meu pai, então sempre li isso. E começava a analisar os colegas de classe. Falava: “Esse é demente. Aquele é viado”. “Não, não pode, ele tem namorada”. “Não, não, olha lá, ó o comportamento, gestual erótico” (risos). E numa dessas pensei em fazer medicina e virar psiquiatra. Visitei a universidade e na cidade descobri umas banquinhas que vendiam fotocópias dos livros do Garcia Márquez por cinco pesos. O “Cem Anos de Solidão” era 10 pesos. Comecei a ler, falar espanhol pra caralho, gramaticalmente careta… Percebi que não estava pronto pra faculdade. Fiquei meio ano, estudei espanhol por conta, um pouco de inglês em um curso lá, porque precisava do diploma. Já tinha trabalhado como professor de inglês na clandestinidade quando menti no meu currículo e inventei que fiz um curso avançado. Mas eu estava com muitas ideologias nessa viagem. Primeira coisa: ficar careta e não usar nada. Ironicamente, na Bolívia em momento algum eu pirei, mesmo porque seria óbvio demais fazer isso. Fiquei os primeiros cinco meses em um quartinho. Careta, dormia todo dia às 23h. Acho que foi a época em que eu mais compus música na minha vida. Antes eu compunha música na guitarra para tocar em uma banda glam e, de repente, estava compondo umas coisas muito folks que eu nunca gravei porque são de 10 minutos, meio épicos. Dessa época só gravei “Into the Ice” e “Last Express Blues”. De músicas que eram blues tinham 30. E fui testando muito afinação, coisa que eu ainda não sabia. Comprei um charango, que é tipo um bandolim de dez cordas, com a lógica da viola caipira, mas diferente. Alguns têm forma de tatu. Um instrumento bem andino. E eu testava as afinações. Nesse tempo que fiquei na Bolívia não tinha nenhum amigo. Foi meio que uma lavagem cerebral. Saí de um lugar onde eu tinha uma banda, um lugar onde você sai sozinho e sempre conhece alguém, e de repente fui para um lugar careta onde ninguém conseguia nem pronunciar meu nome: era “Hêlio”. E o que eu queria era ser alguém que eu não era. Gravei o “The Noon Moon”, segundo disco do Vanguart, antes de ir pra Bolívia. E tem uma musica épica que sou eu explicando a minha viagem pra lá: “here no one knows my name, they never see me around”. Era quilométrica, prevendo o que seria. E foi muito pior. Foi uma solidão bizarra. Você tem que reaprender mesmo em um lugar totalmente novo. E eu, artisticamente, na maneira mais simples da palavra, queria sentir coisas que nunca tinha sentido. Tinha 17 anos, pensei em ir pra Bolívia e dar uma pirada em cima da caretice, uma coisa muito louca. Então comecei a trampar no restaurante da minha avó e ela queria que eu ficasse no caixa. Pedi para ir pra cozinha, cheiro de gordura o dia inteiro. Jogava bola com a gurizada. Fui perifa na Bolívia e foi do caralho. Depois fui para La Paz. Foi quando passei a seguir caminhos mais sinuosos (risos)… Comecei a raciocinar fora do recipiente. Tive uma bebedeira que durou dois ou três dias em La Paz. Depois disso decidi voltar porque a missão tinha sido cumprida. E eu já tinha 150 músicas, talvez oito coubessem em uma banda. Cheguei a Cuiabá com show marcado, foi uma redenção voltar, encontrar os meus melhores amigos de um ano atrás, que eu tinha me exilado deles. Montamos uma banda e ninguém entendeu nada.

Por que se exilado deles?

É meio cabeça dura da minha parte, mas achei que precisava sofrer algumas coisas na vida para conseguir viver umas coisas além. Algo meio masoquista. Tipo: “eu preciso terminar com ela, mesmo a amando ainda, porque preciso saber o que é isso, preciso sofrer e isso vai me fazer alguém melhor. Vou me ferrar tanto que vou ver coisas que quando estou bem eu não vejo”. Um auto-exílio total. Minha vida é pensar no próximo, sempre. E o choque do Vanguart também foi um exílio em São Paulo, que é a coisa mais claustrofóbica do mundo, mas que está sendo necessário. Acho que só vai acabar ano que vem. Ainda estou exilado.

Quando vocês vieram definitivamente para São Paulo?

Em 2006, moramos por dois meses aqui, dois meses lá, alternados. Em 2007, viemos oficialmente. O show da Funhouse, em 2006, foi legal porque não tínhamos dimensão nenhuma do que poderia ser qualquer repercussão. Hoje olho para trás e penso “que pena que hoje eu sei o que é o cenário”, porque a ingenuidade de tocar sem depender de uma cena é a maior alegria do mundo. Você estar na sua cidade do interior, gravando e fazendo sua música é o maior luxo que a música pode proporcionar.

Mas no show da Funhouse já tinha um bafafá. E o show foi ótimo.

Mas tem muito a ver com a energia. A Funhouse é muito diferente de um teatro do Sesc, onde você vai ter que ir lá e tocar pra caralho. Na Funhouse você precisa chegar com uma puta energia e querendo estar ali. E depois de ficar um ano na Bolívia, de ter voltado para Cuiabá, meu melhor amigo ter sido internado em uma clínica de reabilitação, ter ficado um ano off e ter voltado para banda… E nós começamos a viajar o Brasil! Era um clima que hoje vejo como nós nos recuperando depois de ficarmos três anos em depressão. Mas chegamos em São Paulo e vimos, de repente, que existia um mercado pra alimentar. E pensamos: “Puta que pariu, não é nada disso!”.

Todo mundo mora em São Paulo hoje em dia?

Desde 2007 está todo mundo aqui. Eu moro com o [Bruno] Montalvão, que é nosso secretário adjunto e assessor pra outros assuntos (risos). Ele é um guru, uma referência, um contador de histórias. E moramos com o Douglas, o baterista, que há um ano e meio, no auge da crise, quase foi embora. Nós pedimos para ele esperar que iríamos resolver… Foi uma crise da banda com o meio, não foi a banda em si. A banda em si sempre foi muito franca. Somos grandes amigos, tipo irmãos. Você manda o cara tomar no cu e na outra hora está tudo bem. E hoje a relação está incrível, no ápice da amizade e do entendimento de tudo que passamos.

Como é a piração do sucesso? Tem gente que se mata, Kurt Cobain que o diga.

Totalmente compreensível. Sei lá, não tem nada a ver com arte, com qualidade artística. Por exemplo, desconfio de música alegre. Hoje não tem como fazer música alegre sabendo tudo o que acontece. Sucesso é algo… fico muito “noiado” quando tenho que mudar alguma coisa [na música] para fazê-la ficar mais fácil. E durante dois anos fiz concessões que há seis meses parei de fazer. Não vou mais fazer isso. Por que você acha que nós não estamos hoje com clipe na MTV? Porque não fomos fazer um clipe. Por que estão enchendo o meu saco? Porque as últimas fotos de divulgação são de um ano e meio atrás. É meio babaca por um lado, o cara está nessa e não quer estar, mas não é que eu estou nessa: eu só quero fazer música. E tenho um público do caralho! Parece um milagre. A gente toca e tem 300 pessoas cantando a música, achamos demais! Como veio acontecer isso? Quatro anos atrás estávamos em Cuiabá…

Quando foi o momento em que você virou uma chavinha de “eu quero me exilar de novo”?

Acho legal que a entrevista esteja indo pra um lado meio desolado, decepcionado, mas não é isso. É simplesmente uma opção. Não desprezo meus amigos que estão comprando roupas novas e fazendo música com a bateria estilo Franz Ferdinand porque assim eles vão aparecer no Multishow. São objetivos diferentes. Essa chavinha já veio virada. O Vanguart veio dessa chave virada. Eu não espero nada do mercado. E se fosse esperar, estaria ferrado. Não seria genuíno, não faria minha música. Por isso gravei dois discos em casa. O primeiro nunca liberei porque é muito tosco. Só fui afinar guitarra no segundo disco. Não estudei música, mas acho o punk um golpe. Ele foi um grande erro do inicio ao fim. O punk é e sempre foi uma grande piada enquanto música. O cara me fala no Twitter: “Eu ouço Iggy Pop até hoje”. Então você está louco! É uma preguiça intelectual. Porra! A criação tem que partir de uma auto-renúncia, uma renúncia das influências, uma renúncia de tudo, se não você vai soar igual… Tudo que penso quando vou compor é fazer com que o Dylan seja um bosta, e mesmo assim já parece [com ele]. As bandas não têm essa preocupação. O Vanguart nasceu de eu, com 15 anos, pensando: “cansei, o rock não é pra mim”. Virei a chave e resolvi ser estranho, lancei dois discos muito lo-fi pela internet. Vejo a galera se adequando e é deprimente. Por isso o sucesso virou algo muito pejorativo. Não é que eu não quero. Não é a hipocrisia de não querer fazer sucesso, mas é a hipocrisia da galera que diz que está sendo sincera e não está sendo. 90% das bandas que rodam o Brasil são genuínas, fazem isso porque amam e porque não podiam estar fazendo outra coisa. Tomara que elas virem a chave como eu virei, mas acho difícil. É muito mais cômodo seguir a sua fórmula. E eu acho que 99% das bandas do mainstream, se é que se pode chamar assim, estão sendo mentirosas. Estão sendo hipócritas.

Tem como fazer sucesso sendo íntegro?

Existe a possibilidade. Se você já fez sucesso anteriormente e já está lá em cima, vão te chamar de gênio por qualquer coisa que você faça. É o que o Caetano faz. O “Cê” é foda. Um disco genial, mas se fosse de um cara novo seria um disco genial? Não, seria algo como “um puta disco, o cara pode ficar bom”. Existe um julgamento que é maior que nós. A pessoa, depois que chega a certo lugar, tudo o que ela faz é conceito, você analisa de outra forma. A banda nova se fode porque ou ela faz tudo ou ela é uma bosta. E no Brasil parece que ou você é muito foda ou você é um bosta. Ficou dez dias sem atualizar o Twitter, ninguém vai ao seu show. Você é muito mais escravo do que se trabalhasse em uma repartição.

Você não acha que o Caetano perdeu um pouco a força que ele tinha de uns anos pra cá? Você não precisa mais do apadrinhamento dele pra ser um artista relevante.

Ainda, de certa forma, é importante ser apadrinhado pelo Caetano. Mas acho o “Zii Zie” menos relevante que o “Cê”, menos inspirado. Porque antes o cara tomou um pé na bunda e fez um disco do caralho. Pé na bunda é a melhor coisa que pode acontecer para um homem. Nada melhora o homem como um pé na bunda.

O que você já compôs depois de um pé na bunda?

Nada, mas já bebi pra caralho! Acho que eu transformo a música em algo que não fique biográfico. Porque tudo é biográfico, então a partir do momento em que tudo é biográfico, faz com que esses fatos sejam uma coisa mais ampla, não dá para ser isolado tipo “tomei um pé na bunda aqui e fiz isso”. Talvez a viagem para a Bolívia seja a coisa mais direcionada que já escrevi. Agora não sei o que vai vir. Estamos com 18 músicas novas para o disco e dessas resolvemos ficar com quatro. Ou três. E não tinha nenhuma “Semáforo” no meio. Era tudo muito trash no sentido de “anti-pop” mesmo. Atonal quase, muito mais modal.

É uma coisa geral da banda ou começou contigo?

Ah, o sentimento é geral… Continuamos tocando juntos, fazendo shows e compondo.

Mas diminuiu o ritmo de tocar – você começou a fazer projetos paralelos, começou a tocar com a Mallu, com o Zé Mazzei, do Forgotten Boys.

É, foi isso. E ocupar o tempo. São Paulo é complicado. Até você conseguir acostumar a fazer nada… Porque fazer nada pra mim é a criação. Eu preciso ficar cinco horas ali, pego o violão, toco 15 minutos, faço uma música. E o próximo estágio é entender o que você fez.

Você consegue não fazer nada em São Paulo?

Depende. Eu consigo ficar uma semana sem sair de casa e trabalhar mais do que se eu tivesse saído todo dia.

Mas é que em São Paulo você tem teatro, vários filmes pra escolher no cinema… filmes fodas. Aprendemos a viver numa cidade em que tinha o mesmo filme em cartaz por 15 dias. E esse filme era da Xuxa.

Eu começo a tocar piano e fico lá pensando: “não, não vou a lugar algum, vou ficar aqui”. Uma vez foi engraçado porque deixei o MSN ligado e o cara apareceu para fazer uma entrevista. Nós começamos por ali, eu falei com ele e estava compondo. Ele fez três perguntas, respondi meio monossilábico e depois pedi para ele pra parar porque estava fazendo uma música. No texto depois estava: “Então ele parou a entrevista no meio e disse que ia compor uma música”, de uma maneira pejorativa até. Achei um absurdo. Em toda festa boca livre que rola da MTV, está todo mundo lá. Eu não estou porque até posso estar fazendo nada, mas estou me crucificando, me torturando porque hoje não saiu a melodia, então não vou. Não vou. Eu começo a tocar e não sai. Vou cozinhar. E as pessoas me dizem que é importante eu ir a festas para as pessoas me verem, porque existe o Vanguart e não posso sumir. Mas não é que estou sumido. Estou priorizando outras coisas. E isso faz – olha como é escroto esse cenário que a gente vive – parecer algo estranho, tanto que vocês perguntaram por que nós ficamos um bom tempo off. Não lancei um disco ainda porque não curti o que estou fazendo. Várias coisas eu curti, mas repensei e não é isso que eu quero fazer de novo.

Mas qual é a vibe? Como é na sua cabeça, sendo que o Vanguart tem uma sonoridade que não é o que você vai fazer com o cara do Forgotten Boys, não é o que você vai fazer com o Major Luciana? Que terá uns toques de jazz, você tocando trompete…

Então, esse tempo foi necessário pra eu compreender isso, para eu entender o que era um projeto e o que era o outro. Tudo isso ajudou muito a entender o Vanguart, porque deviam ter oito ou dez canções ali que eram completamente dissonantes. MPB em um sentido que não é rock ‘n’ roll. Desculpa, gente, eu não curto rock! Não é que não acho legal. Acho esteticamente do caralho, mas eu não faria nada pelo rock ‘n’ roll. Não faço questão de ter uma guitarra na minha banda fazendo “tan-tan”, muito menos uma bateria, mas precisei valorizar isso, ainda mais aqui [em São Paulo]. Porque em Cuiabá é normal você ser estranho e fazer só violão e voz. Em São Paulo, rolou a onda folk e pelo amor de Deus… Será que as pessoas ainda me associam ao folk? Ok, menos mal, afinal tem gente sendo associada a coisas piores. Mas porra, eu tinha dez canções que estava pensando em gravar no Vanguart que eram tão estranhas, tão novas no sentido de composição harmônica, modal, que falei que não iria rolar. Eu precisava achar um meio termo do que é o Vanguart dentro disso, o que é a linguagem do Vanguart e o que é a minha linguagem enquanto compositor. Agora estou começando a entender isso. E nisso foram 30 canções que ficaram perdidas em um limbo.

Quando houve a mudança da sonoridade mais folk para outra mais Hermeto Pascoal?

Quando o Vanguart começou folk era uma coisa de necessidade. Voltei da Bolívia e precisava gravar minhas músicas. Antes era violão e gaita. Quando voltei, chamei uma banda para fazer a mesma coisa e assim foi o “Before Vallegrant”, nosso primeiro EP. Eram as minhas canções da Bolívia, com uma puta sonoridade nova de um baixo dançante. Com uma guitarra sem distorção, que era uma coisa pensada. Nós não usamos distorção e a guitarra nunca pode fazer ritmo – e já nos fodemos várias vezes porque dava pau no violão, precisávamos terminar uma música e não sabíamos fazer o ritmo. Era uma coisa meio xiita, “vamos fazer diferente: proibido usar distorção e efeito em guitarra”. Acho foda essas coisas de tremolo do [Fernando] Catatau, mas na minha banda não rola. Eu falava: “gente, a ideia é folk, mas pensa no caipira”. Esse é o primeiro disco do Vanguart. É uma renúncia das influências o tempo inteiro, porque elas já estavam tão incrustadas que… Cara, banda que parece o Iggy Pop tem um monte. Banda que faz Bob Dylan não tem, mas eu não quero parecer o Dylan. Eu quero viver a minha época. Nesse meio termo o Caymmi caiu como uma coincidência, talvez destino. Eu pensei no Dorival e tinha que ser ele, senti uma energia do caralho. Estava ouvindo muito ele antes da sua morte. E a primeira vez que tocamos ao vivo foi antes dele morrer – ele morreu de manhã e tocamos “O Mar” na madrugada. Assim como ele, o Tom Jobim caiu; o João Gilberto, que acho que ninguém entendeu ainda; muita música brasileira caiu, até o Milton [Nascimento]. As pessoas falam: “esse falsete é Thom Yorke” e eu me desespero. Porque não é! Você não ouviu direito! É Milton, é Paul [McCartney], é Judy Garland! Acho que há uma preguiça de referências quando alguém analisa. Com o Caymmi também foi algo assim. Soa folk. Ouvimos tanta coisa bizarra de música brasileira e dodecafonia que depois do Hermeto, do Egberto Gismonti, dessa galera, você pensa que o Iggy Pop não é do caralho. Acho do caralho, mas não vou ouvir Stooges. Nasci brasileiro. Estou ouvindo umas coisas que me falam. A cultura pop veio e mandou umas coisas que não precisávamos ter absorvido. Mas então São Paulo não seria São Paulo e o Outs [bar da Rua Augusta] não existiria.

Mas por que vocês tocam um projeto de Beatles e não tocam isso? É grana?

Não. Beatles têm um lugar inexplicável no nosso coração. É muito mais uma magia indescritível de ter assistido aos filmes aos 12 anos e ter chorado antes de dormir porque os Beatles tinham acabado, porque ninguém tinha feito aquelas melodias. “Ah, eu prefiro Stones”. Tudo bem. Eu prefiro melodia. Amo os Stones, mas prefiro os Beatles. Pra gente eles sempre foram a coisa mais natural do mundo pra tocar.

É que não se ouviu o Vanguart fazendo esse tipo de música brasileira, mas tem uma sonoridade Beatles na guitarra.

Eu acredito em uma sonoridade do Vanguart de mais conceito. O que é o Vanguart sonoramente envolve muito música americana, de influências da infância, de Beatles a Bob Dylan. O Vanguart absorveu tudo isso, as coisas que não tem nada a ver, que não vão se aplicar, mas que estão ali, que é modal pra caralho agora. Que eu acho que não são nada comerciais e que provavelmente a gravadora achará o mesmo.

Mas o “Kind of Blue” [disco de Miles Davis] é o disco de jazz mais vendido de todos os tempos.

Ainda se estivéssemos falando de jazz, talvez estivéssemos melhores. Ou não (risos). Mas por exemplo, esse projeto novo, Major Luciana, conseguiu desovar boa parte das canções do Vanguart que estavam jogando a banda para o buraco. A banda não estava se adaptando a essa sonoridade. E olha que eles são músicos fodas. E todo mundo está no Major Luciana, mas é diferente, pela presença do Julio. Tem uns pianos, agora estamos pirando em umas peças dodecafônicas e líricas. Estou com dois discos para fazer esse ano. Penso que lancei o primeiro disco em 2007, devia ter lançado um novo em 2009. Lancei um disco ao vivo que não conta, mas tinha cinco inéditas, beleza. Então esse ano eu tinha que lançar um disco de inéditas, mas foda-se! Vou ficar pirando. A minha ideia ainda está fomentando. Prefiro sobreviver de fazer dois shows por mês segurando minha onda, fumando menos, porque acredito que a ideia não está pronta. O que menos me preocupa é a necessidade de voltar. O que mais me preocupa é voltar com algo que faz sentido. Senão eu vou jogar bola, volto a trabalhar. A gravadora até já pediu um single, mas ainda não tem um single. A gente não vai fazer nada para se adequar à gravadora. Se tivermos que fazer, preferimos sair. Nunca estivemos tão pouco preocupados em fazer sucesso e tão preocupados em fazer algo que nos satisfaça.

Como foi o contato com o [empresário] Glauber Amaral?

O Glauber é um cara que admiro, mas tivemos algumas divergências.

Como aconteceu de vocês divergirem?

Quisemos ficar independentes e não passar por ele. Poder parar quando quiséssemos.

Mas como era a relação de vocês?

Ficamos dois anos em um circuito de tocar, tocar, tocar, produzir, produzir, produzir, fazer grana, ensaiar e cadê o disco novo? Chegou uma hora que eu disse: “Ó, bicho, desculpa, mas o disco novo não vai rolar não”. “Por quê?” “Não estou afim, não é assim”. Sou criticado na minha família. Tenho um tio que sempre me pergunta onde está a “Semáforo” nova. E eu falo, “tio, não é por aí”. É uma coisa de opção. Eu queria dar uma mensagem positivista para a galera que está começando. Eu podia dizer: “galera, vamos fazer os festivais, vamos tocar”, mas é até ingênuo falar isso. Não se vendam! Eu sinto uma caretice generalizada.

Que bandas da sua geração você admira?

Muitas. Cada vez mais fico feliz de ver bandas maravilhosas musicalmente consolidadas, mas tem duas especiais: Porcas Borboletas e Los Porongas. São bandas que estão levemente “lost in translation”, como o Vanguart está “completely lost in translation”, porque estão se negando a fazer o careta. Quem está se negando a fazer o careta na música brasileira é a galera de raiz, mas nós não viemos da raiz – viemos de todo um conhecimento geral de arte. Então você pensa, “estou fodido, já fizeram tudo”. Você tenta ser de raiz, mas não consegue e tem que achar um meio termo de uma linguagem que seja de personalidade, e hoje o mais difícil é isso. Pega essas bandas que viajaram o Brasil nos festivais independentes: quem está fazendo algo genuíno, quem está fazendo algo de negação? Ninguém. “Ah, mas a arte não precisa ser negada.” É uma opção minha. Eu acredito que para você ser você, você precisa negar você mesmo o tempo inteiro. Só assim você vai olhar depois de 20 anos e se surpreender. Ver que fez algo que não era o convencional. Eu sinto poucas bandas fazendo isso e a fórmula mata todo mundo. Mas para ganhar dinheiro é assim: tem que seguir a fórmula.

É possível ganhar dinheiro nessa negação?

Vamos saber agora, mas a perspectiva é ruim.

Mas vocês romperam com o Glauber?

Hoje vamos fazer um show juntos, é uma relação… Contratualmente eu falei para ele: “Glauber, somos amigos, trabalhamos juntos até agora, mas eu não estou curtindo já tem um tempo e o Vanguart vai acabar”. Ele disse: “Pô, Hélio, você está mentindo pra mim. Está usando isso para a gente romper”. Eu falei: “Não, é verdade. Não está rolando. Se tiver que continuar assim ou eu vou para Cuiabá, ou para Europa ou sei lá, vou fazer umas fitas, descolei uma nacionalidade italiana e vou nessa. Hoje o Vanguart é a minha vida, mas eu não vou fazer o que não quero para manter uma coisa que logo não vou querer mais”. Então ele perguntou o que eu queria e eu disse que queria ficar sem exclusividade, para poder parar quando quisesse. Ele até disse que entendia, mas também precisa entender que para mim é importante estar independente de um jeito que faça bem para a banda. No princípio ele não entendeu, nós “tretamos”, só que uma semana depois conversamos e nos entendemos. E pronto. Ainda temos o contrato. A última coisa que gosto é discutir com alguém com quem fiz muitas coisas juntos, então sentei com ele e bati a real. E rolou. Ele foi bacana conosco nesse sentido. Estou editando minhas músicas com ele ainda. Temos um monte de coisas juntos. É uma necessidade muito mais artística que eu tinha. Estava me sentindo preso, não tinha exigência nenhuma, mas, porra, raspei a cabeça com 16 e fui para Bolívia com 17. Não ia assinar contrato para ficar preso. Fiquei e me fodi.

Mas você tem algo pronto? Quantas músicas gravadas?

Mandamos uma prévia para a Universal com 18 músicas e vamos mandar mais 18. Vão ser 36 para escolher. Disso, metade em inglês e metade em português. Tem guitarra sem distorção, ainda continuamos negando tudo, mas estamos cada vez mais longe do rock ‘n’ roll. Essa é única coisa que eu posso dizer com certeza.

Como você vê a arte, o palco?

O palco pode ser a etapa final. Sabe quando você se apaixona e é correspondido? Sabe essa alegria? Então você a beija na primeira noite, vocês se acariciam e você não quer saber se você vai para a casa dela, se ela vai para sua, se vocês vão meter, você não quer saber disso porque não é importante. Não é que não seja importante, mas você está tão envolto em uma coisa que o gozo é algo eventual. O palco é o gozo, é a etapa final. Muitas vezes você nem precisa chegar nele, mas acabamos sempre indo para o palco. É um dos momentos mais afirmativos.

Como estão os shows nesse período de mudanças?

Os shows do Vanguart têm sido incríveis porque estamos fazendo um repertório baseado no primeiro disco, com duas, três inéditas. E com Caymmi. Tem sido incrível. O Vanguart nunca foi tão rock ‘n’ roll, o Caymmi é rock no palco. Quando eu vou pra casa compor e ensaiamos com os meninos, é totalmente o oposto. E sinto que vamos precisar de todos esses anos de espera justamente para analisarmos, entendermos esse processo. O próximo disco vai vir bem pouco rock ‘n’ roll, embora ao vivo eu possa tocar músicas com pegada rock. Mas o nosso show vai ter, fatalmente, um bloco no futuro que vai ser MPB. É um passo natural. Volto a dizer: o rock ‘n’ roll pra mim é mais uma possibilidade. E não uma religião como é pra 98% das pessoas com quem eu convivo. O rock foi importante, mas não é um dogma. E posso muito bem viver sem ouvir rock até o fim da minha vida. Não é que eu acho bonito falar mal do rock, mas é verdade, é sincero. Não acho legal, pelo contrário: acho bem careta ouvir rock ‘n’ roll hoje em dia.

Nessa linha, quando é que você vai fazer MPB?

Já estou fazendo MPB desde o começo. O Vanguart pode ser analisado como um disco de MPB. Se o Caetano no “Transa”, quando canta “You Don’t Know Me”, é MPB, então acho que também sou. Claro que eu não sou o Caetano. Sou muito menos. Um guri do Mato Grosso que lançou um disco. Mas eu cantando em inglês no meu primeiro disco, para mim, é MPB.

Houve uma grande discussão devido à carta do João Paraíba aqui no Scream & Yell. Em certo momento, perguntamos por que o Romulo Fróes não tocava nos festivais independentes. A resposta foi: “Ah, o Rômulo tem um perfil controverso para festival de rock”. Desde quando os festivais são de rock?

Desde quando os festivais emburreceram se fechando em uma temática “rock stoner, guitarra é legal”. Guitarra só é legal quando é bem feita. A partir de 2006, os festivais independentes emburreceram. Por que o Vanguart sumiu dos festivais? Porque não tem mais espaço. Só tem espaço para bandas que “agitam a galera” (aumenta a voz). Isso é o rock ‘n’ roll brasileiro independente atual. É som pesado. Só que o “Kind of Blue” é mais pesado que o “Artista Igual Pedreiro”. Não ataco o rock quando falo mal dele. Eu falo mal da caretice, do fechamento artístico totalmente burro que o rock faz. Um exemplo: a galera que jogou lata no Lobão quando ele subiu com a Mangueira pra tocar um som pesado e ninguém entendeu. Essa é a massa rock que me decepciona. Ainda bem que eu não estou nesse bolo porque parece que o som pesado é o que rola. Minha esperança é que daqui a cinco anos seja diferente, que o Rômulo esteja ganhando uma puta grana com as músicas dele e que eu possa estar compondo para alguém, porque hoje estamos compondo uma música que se fode porque é diferente. O Romulo é um dos artistas mais corajosos, inquietos e criativos dos últimos anos. O nosso disco novo tem coisas tão diferentes, bizarras, que resolvemos não lançar… ainda.

Por que não?

A gravadora fez uma pressão pra ter uma música forte e eu disse que não tinha uma, mas 14, que todas eram fortes, dependendo do jeito que você olha (risos). Tem uma que fala: “Eu te levei até a praia / eu me desfiz da minha esposa / eu joguei fora o meu dinheiro / e eu dei de costas para um amigo e só sonhei meu desengano”. Coisas de você ter se fodido mesmo, e eles não acharam forte. Então isso mostra que até nossa gravadora, que sempre foi incrível conosco, sempre nos entendeu, está pensando de outra maneira. Assim como eu acho que 90% das bandas brasileiras estão pensando de outra maneira. Ainda mais as bandas novas que entraram e vislumbraram um cenário de festivais independentes. “Meu, vamos viajar o Brasil inteiro curtindo? Comendo buceta? Vamos, vamos?” E quem não vai? É foda. E tudo envolve paixão porque todos estão apaixonados pelo som que estão fazendo, mas não está existindo um questionamento sobre o que se está fazendo. Falta uma sagacidade artística de “vamos fazer diferente, mesmo que seja uma bosta”. Está todo mundo só seguindo a onda. E quem está tendo essa sagacidade – como o Rômulo, a Lulina e o próprio Vanguart – está se fodendo porque não falam a língua dos festivais, que acharam muito mais cômodo pegar bandas que seguem uma onda. Funciona pra eles. O público vai rolar e a politicagem está na ponta da língua. É tudo uma questão de prioridades. Quem não está tendo a prioridade de defender a cena e tocar de graça pelo Brasil inteiro está em casa, por isso que continua fazendo coisa boa, como o Romulo Froés.

E você?

Vocês não sabem o que eu estou fazendo? Vocês ouviram o Major Luciana?

Vimos um pedaço do show na abertura do Jonathan Richman, bem estranho…

Yes!

A Universal tem contrato de quantos discos?

Fizemos um contrato de um a quatro discos. Então já fizemos o primeiro, que foi o ao vivo. Se nós educadamente quisermos romper é só comunicá-los, mas ainda estamos conversando. Não temos nenhuma obrigação, até por isso eu estou com esse discurso. Quando a água bater na bunda, o discurso muda.

Parece que a Universal tem uma janela para o trabalho de vocês muito maior do que vocês imaginavam.

Sim, mas vamos chegar e apresentar o material. Apresentei o material anterior, que foram 18 canções. Falei com o diretor artístico: “Oh, essa é a pira: provavelmente 40% do disco será isso. Ouve. Nós ainda não sabemos o que estamos fazendo”. E ele respondeu: “Achei legal pra caralho. Tem cinco músicas que acho fortes, mas não vejo o hit. Vocês pensam em regravar algo?” Porra, até penso, dependendo da proposta. E agora estamos compondo uma coisa que tem muito mais a ver com a cara da banda e vamos chegar nisso, que é parecido com uns 30% da primeira parte. Acho que é a nossa cara, não é muito cabeça como o Major Luciana, que é bem complexo. O Vanguart é natural. Se eles não se interessarem pelas músicas, vamos fazer um disco por fora. A questão é que estamos sobrevivendo e é outra conduta: só precisamos pagar as contas e fazer um som. Lembro quando fomos assinar com a Universal e a Deckdisc, do grande Rafael [Ramos], queria um contrato de quatro discos. E falei: “Bicho, quatro discos? Quando estivermos no segundo nem vai existir mais disco. Que vou gravar um eu sei. Que vou gravar dois eu já não sei. Três já é difícil, agora o quarto não vou gravar nem fodendo”. Não podia assinar aquilo. Não posso fazer um contrato desses. Não estou na música pra fazer carreira. Estou nela para fazer disco, conceito. Se o conceito não rolar, nós não vamos gravar. Não se assustem se o próximo disco do Vanguart simplesmente não rolar. A minha pretensão é só fazer som. Se o disco não rolar, eu trabalho em cozinha, faço produção…

Mas é uma coisa que o Tatá Aeroplano já falou, algo como quando você compõe, você tem que lançar para “se livrar” da música.

Eu tive isso aos 15. Hoje prefiro não gravar um disco sem achar que ele é muito foda.

Você acha o primeiro disco do Vanguart muito foda?

Não. Ele é um bom disco. Acho até que poderia ser muito melhor. E lembro que rolou uma crítica falando, acho que foi até o queridíssimo José Flávio Júnior quem falou. Porque o Zé Flávio saca muito, assim, das coisas que ele gosta. E lembro que ele mandou uma matéria falando mal do Otto porque o Otto tinha defendido a maconha, e isso é até uma queixa com os jornalistas da atualidade, porque eles se comportam como estudantes do Mackenzie. Eles são muito caretas. E então o Zé me encontrou e falei: “Bicho, você falou mal de nós. Você não ouviu?”. E ele disse: “Ouvi, mas parece que você não quis que fosse um disco de rock”. Então beleza, abraço. E nem falei nada porque se o cara diz isso pra mim é óbvio que ele não entendeu. “Parece que você não quis.” Não é isso! Tudo que eu quis foi que não fosse um disco de rock (aumenta a voz). Eu batalhei, fiquei no produtor falando: “Essa guitarra, abaixa”. “Essa pegada está legal, curtiu essa pegada? Abaixa”. Tudo que quis foi querer um disco “não rock ‘n’ roll” enquanto mérito conceitual, de ter tido um disco bizarro esteticamente em que estou de vestido na capa. O resto não interessa. Sei lá se as músicas são boas. Contextualizando é um grande disco. E pra fazer um segundo disco… Só vou fazer se fizer sentido pra mim, por isso não fiz até hoje. E olha, está todo mundo lançando disco. Show de lançamento dá muita gente. Dá dinheiro, dá buceta, até droga. Só que só eu não estou fazendo show de lançamento. E tenho namorada.

Como é a sua relação hoje com a Mallu Magalhães?

Cara, eu gosto muito da Mallu! Acho que ela é muito injustiçada pela música que faz. Fora que também envolve a chegada dela, que foi algo difícil pra quem estava acostumado à velocidade natural das coisas no mercado. Acho que ela sofreu com isso, com a ida ao Faustão e etc. Mas vocês ouviram o último disco dela? O que vocês acharam? O que ela fez com 15 eu só fiz com 16. Então acho que não consegui superar ela, mas me apaixonei pela Mallu porque ela tem um estilo de compor que é dela…

Todos os músicos se apaixonam por ela?

Me apaixonei por ela como me apaixonei pela Cida Moreira. Cada mulher tem seu encanto e quando conheci a Mallu ela trouxe muita coisa boa pra mim. Somos muito parecidos, de compor naturalmente. Valorizo o “take um”. Não aquela gravação foda. E a Mallu é muito “take um”, natural, por isso que às vezes ela se fode e paga um preço da crítica, do público e é tão vista com preconceito, porque ela é genuína. Ela é daquele jeito. E é por isso que ela é tão bacana, compõe coisas tão legais. Eu sou um grande fã da Mallu. Sinto que ela está no mesmo exílio que eu, mas está em uma situação privilegiada, porque nasceu mulher.

Ela parece ter sido engolida pelo mercado.

Essa busca de vocês tem grande culpa nisso. Estão sempre buscando algo novo e não tem que buscar algo novo. O novo vai vir e ele não vai ser novo, vai ser melhor. E vocês, como jornalistas, tem que ter a sensibilidade de que muitas vezes o novo é somente o novo e não tem nada. Ou nem é novo, mas está todo mundo chamando de novo e vocês precisam, pelo trabalho, ir lá cobrir o novo, mesmo sem gostar.

Mas o que é o “Mallu Magalhães 1” ao lado do “Blood on the Tracks”?

Acho que ela é alguém que foi profundamente influenciada pelo Dylan e fez isso de maneira muito boa, especialmente se você olhar o Brasil. É só isso. É uma leitura que eu tenho. Estou analisando a nossa situação, o meio que vivemos. Acho do caralho esse disco da Mallu mesmo ao lado do “Blood on the Tracks”. Obviamente jamais vou comparar ele com o “Blood on the Tracks”, mesmo porque jamais compararia nada com o “Blood on the Tracks”. Talvez o “Songs of Love and Hate” [disco de Leonard Cohen].

Mas tudo é música. É preciso comparar.

Mas é bizarro comparar a Mallu com Bob Dylan como, ouvi essa semana, comparar Mini Box Lunar com Stereolab. Vanguart com Violent Femmes. Superguidis com… Foo Fighters? Está louco, meu? Não tem que comparar. Falar de influência é uma coisa, mas se você for ouvir a Mallu comparando ao Dylan ou ao Leonard Cohen você vai achar uma bosta. Se você for ouvir o Vanguart comparando [ao Dylan] vai achar uma bosta.

Só que o Dylan não escreveu nada para essa geração 00 como você escreveu! Nem a Mallu.

Você acha que eu escrevi pra minha geração?

Sim. Lúcio Ribeiro e Humberto Finatti também já definiram “Semáforo” como o hino dessa geração.

Acho que analisar a Mallu não tem nada a ver com o Lúcio ter dito que eu escrevi algo para minha geração. Eu li a letra de “Little Noil” e de “It Takes Two to Tango” e não tem nenhuma banda brasileira que escreva em inglês que chegue aos pés dela. Rola um problema com as influências. Ela não tem culpa de ter escolhido o Bob Dylan como influência. Se eu tivesse escolhido fazer uma banda para imitar o Foo Fighters eu estava até hoje tocando guitarra e achando do caralho. No mínimo rodando os festivais independentes tocando rock ‘n’ roll, usando All Star e comendo mulher. Eu não quis isso. É careta. Mas acho foda ela ter feito “Get to Denmark” com 14 anos e meio e colocado no MySpace. Quem fez isso? Acho a Lulina foda, mas ela não chegou nesse nível de subjetivismo que a Mallu alcançou com 15 anos. Nem nós chegamos. Então acho que ela foi totalmente perseguida. A culpa é toda dela, quem se expôs foi ela, quem foi no Faustão foi ela, eu não iria…

Não mesmo?

Nem fudendo. Se não me entenderam no “Altas Horas” vão me entender no Faustão? Não vou lá queimar o meu filme.

Também não entenderam o Lucas Santanna no “Altas Horas”.

E Lucas Santanna é do caralho! Mas o que eu queria dizer em defesa da Mallu: quando ela surgiu tinham duas mil cantoras de MPB por aí. Chatas. A metade era lésbica. Seguindo a regra, hoje qualquer cantora de MPB que não for lésbica já é subversiva. Só nisso a Mallu já é subversiva, mas ela tem 15 anos e ainda escreve umas letras boas. É óbvio que iam meter o pau. Desde que cheguei a São Paulo não li letras assim. Eu não acho legal o cara fazer uma letra falando de buceta, mulher e cerveja. Porra, bicho, qual é? Eu não sou viado, mas a viadagem me apetece. A Mallu está escrevendo coisas subjetivas na escola Dylan…

Mas ao mesmo tempo você vai ter o Cérebro Eletrônico fazendo uma coisa do caralho com boas letras. Vamos ter o Romulo Froés com as letras do Nuno Ramos…

Sim, mas isso é 10% do todo. Eu venho de uma cidade que é periférica. Em Cuiabá, Belém ou Goiânia, 80% das bandas estão imitando as próprias bandas de lá. Elas não têm personalidade. Vocês viajam os festivais, sabem como é.

Beleza. O Hélio de Cuiabá, que precisou virar a chave, era um Hélio que acabou virando umas duas ou três chaves até aqui. Quantas chaves a Mallu virou? E qual vai ser o valor daquele primeiro Hélio violão e gaita? A Mallu tem tudo para ser uma grande compositora. A diferença é que você chegou num ponto e falou: “eu não quero fazer mais quatro ‘Semáforos’”. E ela está fazendo uma puta letra legal, mas tocando uma música que ainda sofre de uma referência norte-americana. Tem o seu valor, mas…

Eu achei que nesse disco novo as referências foram muito óbvias: música norte-americana e Marcelo Camelo. Mesmo assim, ela fez algo com consistência que 90% das bandas independentes não fazem. Então prefiro criticar 90% das bandas independentes que ainda não se encontraram do que meter o pau na Mallu. Ela é uma das artistas mais honestas do Brasil, mesmo com todo marketing por trás. O namoro com o Camelo apenas expõe ela. E o lance dela ser precoce parece que joga contra ela, quando na verdade devia jogar a favor. Ela é uma puta artista. Não conheço o Black Drawing Chalks, nunca ouvi. Vi na propaganda da MTV e percebi que era meio “stoner”. Mudei de canal. Eu prefiro valorizar uma mina que está com o violão dela cantando músicas e melodias dela do que uma banda que fica fazendo “gan-gan-gan-gan-gan, uaaaau”. É uma coisa pessoal, minha. Não gosto de rock ‘n’ roll, muito menos de bandas de rock que não falam nada. A Mallu, com um violão, me diz mais que 90% das bandas disseram em quatro anos de cena independente. Talvez porque tenha a linguagem folk… Como eu entendo a Lulina e acho que ela está falando a minha língua. Como eu acho que o Romulo, meu Deus… Ele não está falando a minha língua; ele está falando a língua que eu vou falar. Gosto de falar [nas letras] sobre o que vejo, o que rola em volta, e rolam coisas tão bizarras que não posso nem escrever. Então usamos metáforas. A grande música é aquela que consegue te trazer anos depois um entendimento ou uma lição meio vanguarda mesmo. Tem músicas que você escreve e entende que é uma coisa. Um ano depois você ouve e pensa: “Porra, meu. Eu nunca tinha visto dessa maneira”. E você já passou por uma experiência que não tinha passado antes, você se identifica. Enquanto compositor isso é uma dádiva.

Você curte ser intérprete?

Eu só queria ser intérprete. Queria gravar meu disco só com músicas do Júpiter Maçã. A letra, como compositor, é o mais importante, então como intérprete vai ser o mais do caralho para escolher. Tem uma música do Mauricio Pereira chamada “Trovoa” que é uma canção perfeita. Você não questiona porque ela está ali. Senti isso com algumas outras coisas na vida como “Junk”, do Paul McCartney. E paralelamente tem “Sozinho”, do Emicida. Músicas que você não questiona tipo “Capítulo 4, Versículo 3”, dos Racionais. Uma música foda do Los Hermanos: “Retrato pra Iá Iá”, semi nonsense, com um refrão maravilhoso.

Quando começou a paixão pelo trompete?

Ah, adoraria mentir e dizer que ouvi o “Kind of Blue” antes, mas eu ouvi “Let’s Get Lost” [disco de Chet Baker] primeiro e descobri muitas semelhanças no crossover entre João Gilberto e o cool jazz. Curti, vi que ele tocava meia boca e sempre tive o sonho de aprender. No fim do ano passado, resolvi. Não estou fazendo aula. Se você sabe o campo harmônico no violão, você tem isso na mão. No piano também. No trompete você tem que ter isso na cabeça e no beiço. Estou estudando os campos harmônicos e intervalos, o principal. A sonoridade ainda está estranha. Até componho, só não sai bonito. Tem cinco meses que toco trompete. Depois que você começa a tocar trompete, vira piada, uma brincadeira cantar. Você sabe exatamente o que tem que fazer. Chet Baker cantava bem por causa do trompete.

E literatura?

Eu fui fazer uma viagem e levei um livro do [Samuel] Beckett e um do [Jorge Luis] Borges. Foi curioso porque eu li primeiro o Beckett, fui tomado por aquele ar meio junkie dele e estava me sentindo próximo de Deus. Na volta, estava esperando o ônibus e faltavam dez páginas para terminar o Beckett, mas resolvi parar e ler o Borges. Cara, Samuel Beckett é o caralho! Achava ótimo até ler Borges. Isso agora. Tive uma grande fase Oscar Wilde na época da banda glam. O Oscar Wilde foi foda. Eu dava aula de inglês e contava os contos infantis dele. Era lindo. Wilde é um cara que me formou muito como leitor. E o Hermann Hesse, que é quase a mesma coisa, só que menos viado. Paralelamente teve o Gabriel Gárcia Márquez, que tem uma narrativa que permite um paralelo com Dylan. Se ele fosse escrever música, faria como o Dylan. Ou se o Dylan fosse escrever prosa, escreveria como ele.

Como você vê nosso momento atual? Segundo alguns, vamos ter no mainstream Ivete. Autoramas é o top dos indies. Imagine que você é um músico preparando um disco que não é pop, mas você vive num cenário em que você faz música, a Ivete faz música, o Autoramas faz música e esse é o organograma da música brasileira. Você vai ter um midstream que é o Fresno…

Fresno é mainstream. Vamos fazer [uma escala] de um a cinco. O Fresno é cinco, Autoramas é dois e Vanguart é um. Ou Vanguart chegou a ser dois e voltou a ser um. O cara da Universal me falou: “Mas investimos muita grana no Moptop e não rolou”. Então, bicho, nós vamos rolar muito menos se você pensar com essa mentalidade.

Vanguart ainda toca em festival independente?

Eles não têm nos chamado muito porque acho que não estamos inseridos muito nessa questão ideológica e política. Não acho errado fomentar que você precisa se articular, ir com seu produtor e ver se tem alguém da associação. Acho isso tudo muito válido porque faz com que as novas bandas apareçam, mas acho que deveria ter um departamento separado para cuidar da manutenção das bandas que já existem. E uma curadoria totalmente artística e nada política. Sinto falta de bandas que não estão tocando mais hoje porque não se adaptaram ao padrão político dos festivais. É uma pena.

Mas quando você voltou da Bolívia, formou a banda e encontrou os caras. Como foi? Vocês tocaram em vários festivais…

Pablo Capilé foi fundamental na história do Vanguart. Lembro muito bem quando voltei. Conversávamos todos os dias sobre algo novo. Sempre concordávamos e divergíamos no assunto. De que era necessária uma organização. Eu defendia que era uma organização individual de cada um diante de algo. O Pablo sempre defendia uma coisa mais reta, mas nunca deixamos de se admirar pelas ideias iniciais. E nós sempre conversamos. Só que sempre tivemos propósitos muito diferentes. Não minto quando digo que de dois anos para cá não sei o que está acontecendo. Ouço a galera falar, mas paciência, a minha questão artística de criar algo novo é tão grande que prefiro não me envolver, porque vou gastar uma energia que já estou gastando com piano e com minha namorada. Estou precisando terminar uma música, não vou ler blog. Talvez por não saber [o que anda acontecendo] o Vanguart não esteja frequentando tanto os festivais que fomentam uma maior participação, você ir lá falar com os produtores, sentar e falar: “eu toco aqui e não cobro nada e a gente tenta fazer algumas coisas”. Acho isso válido, mas cada caso é um caso e talvez o Vanguart não esteja frequentando porque eu esteja com outros interesses que não sejam apenas de estar participando dos festivais. São de vital importância, mas já estive lá e hoje posso estar em casa…

Quando convidamos você para vir aqui, pensamos que era legal ter um cara que esteve dentro do negócio e poderia falar umas coisas boas, outras nem tanto. Falamos dessa forma porque tem gente que acha que somos contra os festivais. Não somos. Só não aprovamos a maneira como eles vêm sendo feitos, e apenas fazer não basta: tem que fazer bem.

Entendo que a intenção seja a melhor do mundo, como a minha também é. Parece que existe certa atitude de defesa natural da Abrafin que não deveria existir. Eles poderiam ter feito uma manutenção do poder que adquiriram de uma maneira muito mais saudável e muito mais de curadoria do que de parceiros políticos. Nisso eles acabaram se enfraquecendo, com pessoas muito influentes que estavam ao lado deles. Faltou um pouco de tato para eles serem mais nobres de abraçar quem realmente estava sendo relevante e não só todo mundo que estava apoiando cegamente o trabalho deles. Se me aprofundar na questão vou continuar apoiando, talvez por uma questão natural, mais marxista minha, essa ideia de democratização, que é o que eles levantam. Já estive lá dentro e sei que as idéias do Pablo [Capilé] são as mais nobres possíveis. Como isso tem sido conduzido eu não sei, mas gostaria que eles tivessem tido uma curadoria mais neutra do que partidária, porque a Abrafin é uma das ideias mais legais dos últimos anos.

Como você imagina estar em dez anos?

Quero estar muito louco. De chinelo, passando calor, tomando uma breja na praia. O mundo vai esquentar. A última coisa que eu quero daqui dez anos é estar em um puta apartamento, paranoico, achando que eu sou foda. Eu quero estar de boa. Fazendo música com uma visão muito mais real do que está rolando de criação. Se ainda puder estar fazendo isso, curtindo sem precisar dar a bunda, vou estar satisfeito.

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– Marcelo Costa é editor do Scream & Yell e assina o blog Calmantes com Champagne
– Marco Tomazzoni é jornalista e escreve no iG Cultura
– Tiago Agostini é jornalista, colaborador da Rolling Stone e assina o blog A Balada do Louco
– Liliane Callegari é arquiteta e fotógrafa: http://www.flickr.com/photos/lilianecallegari/

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Leia também:
– Entrevistão do mês de maio: Lulina e Stela Campos (aqui)
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131 thoughts on “Entrevistão: Hélio Flanders, Vanguart

  1. muito boa a entrevista. não sou nem fã de Vanguart, mas o cara fala altas verdades sobre a mesmice do cenário indie brasileiro. tomei a liberdade de reproduzir um trecho e comentar no blog De Inverno. abs

  2. otima entrevista, junto com a do Romulo Froes foi uma das melhores que eu li, me surpreendeu positivamente

  3. Helio Flanders consegue alternar entre um chatismo insuportável com boas ideias. Fora isso, a (boa) entrevista mostra o quanto essa geração tem medo de fazer sucesso.

  4. Achei muito boa a entrevista, mostra que o Hélio pensa diferente de muitas outras bandas (pra mim sempre pensou, sempre foi um cara a parte). E não só porque faz folk rock. Interessante também a postura libertária porque a gente sempre acha que todo mundo tá engessado, tá chato, tá infeliz, e não é todo mundo que é assim. Só que temos que mostrar sempre isso. Eu acho interessante a parte que ele fala que se não der, não acontece, mas a questão é que ele tem que saber que tem que acontecer, que a banda é boa, e que tem que continuar, ter uma carreira. Acharia bom o Glauber botar isso na cabeça dele. Acho legal ele ser solto, mas não pode ser tanto assim, senão pode atrapalhar.

  5. Gostei muito da entrevista, não porque li o que esperava ler, mas porque li o que ninguém fala. Críticas, elogios, ótimas perguntas, ótimas respostas. Não são ótimas porque alegram, mas porque falam a verdade dele, a verdade do Hélio. Se alguém acha errado, acha certo, não é muito isso que importa, mas sim a opinião diferenciada de ambos entrevistado e entrevistadores. Só assim os debates e discussões vão pra um lugar humanamente interessante: com opiniões interessantes, elas agradando ou não.

  6. Caralho… To chapado com essa entrevista! Imagina que o Helio fosse deste jeito, mas não de forma tão intensa.

  7. Hélio! Sou seu fã, sempre fui. Já tentei fazer o Vanguart mil vezes no Festival Dosol mas financeiramente (como vc citou logo no começo do texto) nunca foi viável. E isso não tem nada haver com política, associação, rock, não rock e afins, tem haver só com música e o valor dela.

    Amo sua música. Faz tempo que não conversamos, grande abraço!

  8. Sabe que nunca prestei muita atenção no Vanguart, assim como nunca prestei muita atenção na Mallu, e sim, sempre coloquei os dois no mesmo barco…mas confesso que me bateu uma curiosidade de ouvir novamente os álbuns do Vanguart, somente para saber onde vai parar toda essa busca do Hélio, pois ela conceitualmente é muito interessante…

  9. “Medo de fazer sucesso” é uma das idéias mais engraçadas que eu conheço, competindo com clássicos do humor como Sinhá Boça e Monty Python. Que o diga Manoelzinho Araujo. Muito boa entrevista.

  10. A entrevista é ótima, com excelentes pontos que foram tocados e servem para reflexão de todos aqueles envolvidos com música além do simples ouvir.
    Porém, ele mais me parece um ressentido por não ter dado certo do que outra coisa. Tipo o pessoal do hard rock antes do grunge: todos culpando as bandas daquela “cena” por ninguém querê-las mais em festivais, shows, etcs, etcs. Claro, a grosso modo, mas me lembrou…
    Sem falar que posar de artista torturado, maldito e atormentado que se impõe “exílio” aos 25 anos, é meio estranho… se fosse exílio mesmo não dava nem entrevista e nem gravava jingle de partido político… ou será que essa é a tal “mudança do som” do Vanguart que ele tanto falou na entrevista?
    De qq forma, bom ver alguém realmente defendendo suas ideias e não querendo fazer política de boa vizinhança com o pessoal.
    Fora isso, impossível não escutar em alguns momentos o Homer Simpson: “Shut up, Flanders”. >:)\m/

  11. Bacana a entrevista do hélio e tem alguns pontos que eu gostaria de debater com ele como sempre fizemos durante toda nossa trajetória, ja que começamos juntos em Cuiabá.

    Vamos aos pontos:

    “Eles não têm nos chamado muito porque acho que não estamos inseridos muito nessa questão ideológica e política”

    Respeito o achômetro mas discordo helio, a questão tem a ver somente com música e o valor dela, como o foca disse, vários festivais sempre entraram em contato com o Glauber, empresário de vocês durante os ultimos anos e a dificuldade de negociação sempre foi gigante e você sabem disso melhor do que eu inclusive. Até pq se analisarmos a trajetória do Vanguart desde quando começou a circular pelos festivais, lá em 2005 , a banda já não estava inserida nessa questão ideológica e politica, nunca esteve, circulavam pq a banda era boa e pq junto ao espaço cubo e ao poder público viabilizavam a logistica de circulação.

    Até 2006 circulavam nos festivais e nas cidades fora do eixo, em 2007 foram pra SP e o custo da sobrevivencia em uma cidade como SP também aumentou, e consequentemente aumentou-se o “Custo Vanguart”, sem falar que a banda começou de certa forma a priorizar o mercado de SP , ja que estava chegando na cidade e precisava pagar suas contas e posicionar a marca.

    A partir de 2008 esse “Custo Vanguart” aumentou muito, devido a maior exposição da banda e aliado a chegada do Glauber , o custo que ja era alto acrescentou uma dificuldade grandiosa de negociação. O que acabou transformando a banda em “Grande” demais para a cena independente e “Pequena” para o mainstream, e ai surge esse conflito no meu ponto de vista de ” pra onde vamos” que vc alega estar resolvendo ao priorizar o conceito….

    So que esse “grande” demais para o independente estava muito mais na cabeça do glauber e talvez da propria banda do que propriamente do publico de cada cidade que tem festival , ja que a banda não tinha um publico que correspondesse aos custos que geravam….e nem sempre o que vc acha que vale é o que os outros acham que você vale.

    Não tenho nada contra as escolhas da banda, todas as opções que fizeram são legitimas, mas falta estrada, tempo de carreira, cds lançados e etc para acharem que precisam ser medidos com a mesma régua que o mercado mede um hermeto pascoal.

    Então a questão não é de estar ou nao estar envolvidos com parte ideologica e politica e sim o velho debate do Vale quanto pesa….

  12. DO CARALHO A ENTREVISTA, sou fã do VANGUART E DO Helio principamente pelo jeito de pensar!

    ISSO AE HELIO NÃO TORNE VANGUART UMA BANDA DE MODINHA COMO TANTAS OUTRAS!

  13. Putamerda esses caras do fora do eixo são malas demais meu deus do ceu… a entrevista mal saiu do forno e já tá esse chatão desse baterista do macaco bong enchendo o saco. vai contar mentira no twitter dizendo que tua banda lota todo lugar por onde passa que tu ganha mais vai ô maleta

  14. Acho que o último festival da Abrafin que Vanguart tocou foi o Abril Pro Rock. Foi o lançamento do DVD do Multishow. Eles cobraram caro e o empresário da banda ainda brigou com a produção.

    O show foi uma merda e foi visto por quase todos produtores de festivais. Quem vai pagar caro por show ruim e empresario que gosta de confusão?

  15. Nunca escrevi matéria sobre o Otto. Nem resenha. Isso aí é delírio do Helio. Esse diálogo que ele descreve na mesma resposta também nunca aconteceu. Eu não fumo maconha e tenho boa memória. A última coisa que eu faria seria questionar o teor roqueiro do Vanguart ou de qualquer banda. Isso seria absolutamente estúpido. Quem não entendeu nada foi ele. Mas nem vale continuar o papo. Até porque ele não lê comentário em blog – prefere gastar o tempo escrevendo 36 músicas que ninguém quer lançar (se vocês soubessem o quanto a Universal está preocupada com o novo disco do Vanguart…). Essa entrevista vergonha alheia já diz tudo. Primeira vez que vejo alguém se assumir como hasbeen sem ter sido nada. Ainda bem que existe o cancioneiro dos Beatles (ou do Roberto) para sustentar os incompreendidos.

  16. E já que a Alessandra perguntou, sim, o jingle foi gravado pelo Vanguart. Quem quiser ouvir outras músicas do Vanguart exaltando o controverso (pra dizer o mínimo) candidato ao governo do Mato Grosso Wilson Santos, esse é o canal: http://www.wilson45.com.br/TvWilson
    Parece que esse desdém por política mostrado pelo Hélio é só até a página dois. Ou então é muita paixão por gravar jingle (nenhum é atonal ou lembra Semáforo, já aviso). Fica a dica para a Abrafin – a entidade está precisando de uma música tema mesmo.
    Que mico!

  17. No twitter ele disse isso, dia 01 de setembro: esclarecimento: o @Vanguart não lançou nenhuma música nova, muito menos virou gospel (essa foi boa). não caiam em papo de jornalista canalha que utiliza questões pessoais pra tentar difamar quem está trabalhando honestamente. FRANCAMENTE!!! com todo repeito, TOMA NO CU TRANQUILO

    No mais, achei ótima a entrevista. E talvez ele até tenha dado umas viajadas na realidade pra contar fatos, mas o que achei mais importante foi a opinião e visão dele sobre as coisas.

  18. O legal desse entrevistão do Mac é que, como ele embebeda os entrevistados, eles tendem a soar como seres humanos, em vez de gente de cartolina com resposta pronta e politicamente correta para tudo. Não sou grande fã do Vanguart, mas respeito muito o Hélio por essa entrevista. Esse papo nos comentários acima de que ”só tem 25 anos e já quer ser exilado” não faz sentido algum. Todo artista tem, de tempos em tempos, de se exilar, principalmente se exilar do seu trabalho passado, que, geralmente, já perdeu sentido pra ele. É buscar outra coisa, que dê gosto. Foi o que os Los Hermanos fizeram. Pode-se questionar o fato de que o Vanguart nunca foi grande como os Los Hermanos, mas o que isso tem a ver? É uma necessidade pessoal. Não tem regra para isso. Cada um é cada um. E foda-se o rock mesmo.

  19. Foda-se essa música ruim adorada pelos “intelectuais”. Viva o Rock, foda-se os Los Hermanos, hehe.

  20. Obs do moderador:

    Renato, o IP que você está usando está em nome de outra pessoa e seu email retornou. Aguardamos para aprovar seu comentário.

  21. Esse Hélio se contradiz o tempo inteiro. Se acha gênio incomprendido, sei lá….Nem ele deve saber. Já os comentários estão melhores que a entrevista. Os leitores merecem umas Leffes também….rsrs

  22. Verdade, o grande mérito do Mac e cia. é adotar a tática que os pinguços do Pasquim usavam pra fazer uma entrevista: alcool na veia. não há quem comece a falar certas verdades (e viagens tb) depois da 3ª Leffe.

    Bem que vcs podiam embebedar o Camelo tb, hein.

  23. Meu papo vai pro José Flávio Júnior, comentário 22.
    O candidato Wilson Santos é “controverso” em qual sentido?
    Cuidado prá não transformar as suas opiniões contrárias ao trabalho honesto das pessoas em algo meio patrulhador tão normal nos anos 70/80. Vamos com calma. O que Hélio disse é de responsabilidade dele. Não deixe o preconceito embaçar a sua visão. Liberdade de manifestação e expressão deve ser exercida junto com a responsabilidade. Isto é democracia.
    No mais. Hélio Flanders, siga seu rumo com a sua verdade. É melhor ser assim. Vi muito de nós na sua entrevista. E aproveito prá dizer que mesmo sendo de Cuiabá eu entendo a sua música.

  24. Agora vai pro Ynaiã Benthroldo.
    Fantástico o resumo que vc faz no comentário.
    A coerência histórica e o ritmo metódico mostram o quanto o Macaco é diferente do Vanguart, embora tenham nascidos sob o mesmo teto Cuiabano. Hélio é romântico. Ynaiã é realista. Macaco é disciplina e improviso (será que podem conviver?) Vanguart é repetição e acerto. Tão diferentes, tão iguais. Sorte de Cuiabá ter esses filhos. Vida longa a Pablo Capilé e ao Espaço Cubo.

  25. Convencimento surpreende, sobretudo nestes tempos de tantas incertezas. E esse cara tem isso de sobra. Agora, posar de honesto, artista verdadeiro, profundo até as entranhas, eu nao engulo… um menino de 25 anos, classe-média-leite-moça, que fez uma viagenzinha pra bolívia, volta contando que foi ao inferno e descobriu a verdade… exilado???ahhh, vai trabalhar, vai olhar gente de verdade vivendo, posar de genio do alto da subjetividade narcisica é fácil… difícil é ter alguma coisa pra dizer, ou melhor, obra.
    “Eu te levei até a praia / eu me desfiz da minha esposa / eu joguei fora o meu dinheiro / e eu dei de costas para um amigo e só sonhei meu desengano”, quanta profundidade!!!

  26. “Eu te levei até a praia / eu me desfiz da minha esposa / eu joguei fora o meu dinheiro / e eu dei de costas para um amigo e só sonhei meu desengano”, quanta profundidade!!! [2]

  27. “Não tenho nada contra as escolhas da banda, todas as opções que fizeram são legitimas, mas falta estrada, tempo de carreira, cds lançados e etc para acharem que precisam ser medidos com a mesma régua que o mercado mede um hermeto pascoal.”

    Isso tem que ser muito medido,vai no que eu tava escrevendo acima.

    Agora não adianta querer bater de frente,ah o Helio isso,o Helio aquilo.Ele nem lê essas coisas gente,rsrs.Mais fácil achar na rua e falar isso com ele.

  28. Fernando, acho que tem que ser medido, sim, mas não com a mesma régua.

    Cada um tem um tamanho, não da para querer ser maior do que se é…. enfim,

    ele sabe muito bem disso; sempre que nos encontramos conversamos.

    Conheço o Helio.

  29. tem um tanto de delírio aí, talvez mais até da parte dos entrevistadores do que do hélio. o vanguart nunca foi grande. posicionou-se, deu um passo em falso (mais graças aos parceiros capitalistas, mas anyway foi a banda que escolheu seus parceiros capitalistas), e agora está encapsulado numa espécie de limbo nem-grande-nem-pequeno – que pode até desembocar numa saída esteticamente criativa. aliás torço pra isso, porque pessoalmente gosto muito dos caras. mas o hélio “compra” demais uns hypes fofos paulistanos (rômulo, lulina, mallu, tatá – que não deixam de ser a outra face cabeçuda da moeda do rock fake que ele execra) e mistura com miles, hermeto e egberto para concluir que… é segregado politicamente? no geral, falta um pouco de clareza. e de senso de humor também.

  30. “eu me desfiz da minha esposa/ (…) eu dei de costas para um amigo”
    só lendo um dos comentários acima é que mei dei conta de como esse verso é ocultista
    :)))))))))))))))))))))))

  31. Essa galera dos coletivo hein, vai ficar falando que neguinho é gênio a torta e a direita, depois que cair na real é perigoso hein, e porque desinterraram esse truta? E quanto a barata na cara dele nessas fotos, não sei de quem foi a idéia disso mas no minimo ficou nojento.

  32. Amigos,

    quero aproveitar espaço do Scream & Yell para esclarecer essa história de jingle político:

    2006. o Vanguart estava tocando em Cuiabá sem a perspectiva de lançar um álbum, pois estávamos completamente falidos. Havíamos alugado uma casa para ensaiar e tivemos grandes dificuldades para pagar o aluguel, em 5, que era de 300 reais na época. O crédito já havia sido esgotado, ninguém tinha mais nome limpo na praça, inclusive meu nome só vai ficar limpo agora em Outubro, 2010 (nem acredito). Em 2008 já havíamos conseguido pagar todas as pessoas e só restando pequenas restrições bancárias. Aí que em 2006 o então Secretário de Cultura de Cuiabá, Mário Olímpio, agendou uma reunião do Vanguart com o prefeito de Cuiabá, Wilson Santos, que havia ouvido falar da banda e queria nos conhecer. Tivemos poucos minutos, mas saímos de lá com a garantia de que teríamos apoio para gravar um disco. Já havíamos passado em São Paulo e sofrido as consequências de não ter um trabalho profissional. No fim desse ano, gravamos o álbum com ajuda da prefeitura de Cuiabá, que se comprometeu a pagar o estúdio. Depois de 7 dias, havíamos registrado as 14 canções do álbum de estréia do Vanguart. Com esse disco viemos pra São Paulo, conseguimos lança-lo por todo Brasil através da Revista OutraCoisa do mestre Lobão e ficamos embasbacados com a resposta que tivemos de pessoas muito gabaritadas e honestas em relação a nossa música, como Marcelo Costa, Thiago Ney, Alexandre Matias, Abonico Smith, Daniel Benevides e jornalistas de todo o Brasil.

    Neste ano Wilson Santos e Mário Olímpio procuraram o Vanguart para ver se tínhamos algo pra campanha dele, pois os outros candidatos tinha orçamentos milionários (Blairo Maggi INC.). “Ele virá” é uma canção que compus numa trip religiosa de 2008, um exercício de composição que inclui canções satanistas (“Mexico Dear Blues”, presente no Dvd Multishow Registro “The Answer In Yer Eyes”), como canções que podem ser vistas como proféticas, que é o caso de “Ele Virá”, que inicialmente tinha duas letras, uma pro JC e uma pra Lucifér. Acho que quem entendeu essa entrevista sabe o porquê desse exercício de compor fora de suas inspirações comuns, enfim, um exercício de desprender-se do “eu” estabelecido enquanto compositor. Quando Wilson me pediu uma música fiquei numa sinuca, porque eu jamais cometeria a ingratidão de negar um pedido a quem foi fundamental pra o Vanguart estar onde está. Vai além dessa coisa de “traidor do movimento” (risos), é uma questão de hombridade. Ali está nosso sincero agradecimento e nenhum arrependimento. Não é um trabalho do Vanguart para seu público e sim para um amigo.

    Ynaiã,
    de um artista trabalhador para um artista trabalhador, nunca quisemos nos distanciar dos festivais. Nosso rompimento com Glauber tem muito a ver com o distanciamento que nos foi contratualmente imposto. Queríamos estreitar a relação com a Abrafin, mas naquela época não foi possível. De verdade pensei que minhas palavras pudessem ser absorvidas como algo construtivo, porque a idéia é totalmente essa. Não que eu ache que os Festivais precisem ser salvos, mas apenas gostaria que fosse sempre repensado o “modelo”. Sempre deixei claro pro Pablo que sem Glauber, qualquer negociação é outra. E quando menciono som pesado, tenha plena certeza de que o Macaco Bong jamais está inserido nesse contexto de rock burro do qual eu falo. Pra mim vocês transcendem qualquer coisa, chamar vocês de rock and roll é caretice.

    No mais, a entrevista toda gira em torno de uma insatisfação com um cenário mundial de música e mercado e sobre o processo de composição. Só isso. Não estou levantando bandeira nenhuma, pelo contrário… é um simples retrato do que aconteceu comigo e só comigo, nos últimos anos. Talvez o problema seja eu idealizar na cabeça um cenário onde todos possam estar independentes de posicionamento político. Ainda tenho essa esperança. Música pela música. É só isso – e vou estar absurdamente feliz de voltar a dialogar com a Abrafin se ela conseguir ver que o que falei em momento algum tem o objetivo de diminuir a entidade.

    Agora, Hermeto Pascoal vocês tão apelando, né? Hahahah, eu sou só um garoto, mas me botaram umas cervejas que eu não tenho grana pra comprar e eu falei o que tava pensando. Não pensei que minha opinião fosse tão importante pros que não gostam do meu trampo, a ponto de “perderem” seu tempo lendo tudo isso, comentando e lendo comentários. Get a life!

    E obrigado aos amigos, desde siempre
    hasta hoy,
    força bruta!

    Helio F.,
    25 anos,
    Judas, bicha e maconheiro.

    (não voltarei aqui pra ler comentários, qualquer outra mensagem é falsa)

  33. O Hélio é um cara por quem eu tenho certa admiração – digo, em relação ao trabalho, que não acho genial mas que com certeza se inclui no que de interessante se produziu na música independente em tempos recentes no país. E ao vivo, é um cara gente boa pra caramba.

    Mas, quanto à entrevista: dá pra mapear fácil uma série de contradições essencias na fala dele, no que diz respeito à postura de artista renegado. Fiquei surpreso como ele soou raso e óbvio em alguns momentos, será que é o efeito desta cerveja aí do Marcelo?…

    Na boa, pagar de Rimbaud hoje em dia não dá, meu velho…simplesmente não cola mais.

    E fica a sugestão pro Marcelo: se, de alguma forma, o Scream&Yell participa dos debates acerca deste momento de transição que vive o universo da música independente no Brasil, seria interessante também dar voz pra quem tem sido sempre citado, de alguma forma, nas matérias aqui.

    Meu voto vai para o Ynaiã, da Macaco Bong.

    Abraços.

  34. foram perguntas feitas a uma pessoa que discorda dos outros e não tem medo de falar !!! entrevista mto foda

  35. 2007. Minha inércia natural só me permitiu descobrir o som da Vanguart numa banca de jornal. Uma das poucas bandas brasileiras que não soavam infantis em português, que funcionavam em outro idioma e cujo som não me cansava os ouvidos. Tempo de menos descrença no meu futuro. De convencer outras pessoas das qualidades dessas músicas.
    2010. Depois de meses sem ouvir Vanguart, retorno ao álbum ao vivo. Mesmo com o gosto musical afetado irreversivelmente, graças a más lembranças que tiraram o sabor de certas canções para meus ouvidos, ainda gosto da Vanguart. Com a vantagem de ficar curioso sobre os rumos da sua música para o futuro. Se houver.

    Hélio, vivi algum tempo em Cuiabá, apesar da minha cabeça mentalizar Goiânia. Hoje não pertenço nem a uma cidade nem a outra. Enquanto não me firmo em outro lugar, olho para trás para lamentar o que vejo no presente. Ao menos há calor nos dois lugares. Pelo menos o solar.
    Você viveu de fora para dentro para fora. Eu vivi de dentro para dentro para dentro, com uma ou outra espiada para o mundo externo.
    Ler sua entrevista confirmou minha impressão sobre você em muitos aspectos e desfez muitas outras impressões. Confortei-me ao notar que não era o único a pensar sobre certos aspectos da arte e de como o mundo está se lixando para quem não segue a onda do momento, seja ela na superfície ou no submundo do espetáculo.
    Portanto, nada mais justo do que também se lixar um pouco para um mundo que exige tanto sem nenhuma garantia. Mesmo que isso signifique privar algumas pessoas de músicas feitas como um fim em si mesmas.
    Não conseguiria dispensar totalmente o rock. Mas o tal do stoner rock, poderia morrer sem saber o que é isso e minha vida não se alteraria.

    Tudo isso só para dizer que ler sua entrevista me trouxe a mesma impressão estragosa que tive ao ouvir o primeiro disco da Vanguart. Em 2007, isso não foi o bastante para eu começar meus planos de refundar a mim mesmo e, quem sabe, descobrir em mim o artista que sempre refutei. Talvez em 2010 eu mude de pele. O importante é que você é um artista no melhor sentido da palavra.

    Sorte para você, seja qual for o rumo que seguir, não importa se cantando para 1 ou para N pessoas. Ou para nenhuma.

    Saudações.

  36. O que diabos o Vanguart foi e ou é? Quando que eles foram alguma coisa além de uma promessa que nunca deu certo ou mais uma bandinha indie? Lembro do show deles no Via funchal antes do Hives com uns gatos pingados na frente do palco…Dai o cara fala como se tivesse chegado ao topo ou tivesse sido alguém muito relevante que resolveu entrar no “exílio”….Por Favor…Música de uma Geração????? Só se for de uma geração de 200 indies que andam nos clubes descolados de São Paulo.

  37. E é muito fácil nunca ter feito sucesso e dizer que nem faz questão disso. Se o importante é o sentimento, a arte e blá, blá, blá, pq ele não fica dentro de casa tocando violão pra ele mesmo?

  38. Essas entrevistas são melhores que qualquer manual de cultura e música independente. Gostei demais do que o Hélio falou assim como a carta do João Paraíba. Tenho de fato aprendido com o conteúdo daqui.
    Depois do meu expediente como executiva de uma empresa, estou arriscando ser a produtora executiva da banda MATCH, do Matheus Duarte. Só Deus e meus seguidores no twitter sabem como eu tenho sofrido pra entender esse cenário! heheheh.

    * Helio: torço pra que você esteja de fato onde gostaria de estar daqui a 10 anos. =)

    \o/

  39. Incrível o nível dos comentários. Se o cara cita alguém é pretensioso, se cita um tal movimento ele não é vanguarda, se cita sua própria história o cara é egocêntrico/coitadinho? Não há Cristo que se salve….

    Pô galera isso lá é debate? Isso aqui é o fetichismo da opinião e só. Eu opino tu opinas e pronto?

    Eu não curto mesmo o Vanguart. E aí? Po eu posso não curtir nada do que o cara fez. Mas ele participou de parte do que está acontecendo atualmente e tem sua visão sobre o campo mais expandido. Não deveria ser disso que trataríamos comentando as idéias do Flandrers?

    Pelo clima dos comentário precisaremos criar um mega ídolo que unirá as 12 tribos e assim conseguirá reunir o respaldo suficiente para criticar algo de maneira sólida.

    O menos importante aqui é a opinião surrada que cada um tem do Vanguart. Será que poderíamos falar do que é ser artista no Brasil? Será que as histórias que o Hélio nos contou não servem para iluminar um pouco o panorama?

    É uma pena que o um dos únicos que conseguiram dialogar com o Hélio foi o Ynaiã. MAS infelizmente se enveredou em numa parte estancar a crítica ao mesmo tempo que se denunciou, através do linguajar tosco de produção, como um mero burocrata chamando uma banda de marca… se seu posicionamento no mercado…

  40. Grande entrevista. O pessoal da Scream & Yell está de parabéns. Parabéns para o Flanders também pelo bom senso e análise equilibrada. Discordo de alguns pontos,mas escolhas são escolhas e ponto. Espero pelo disco novo, cara…

  41. Boa noite,

    posso não estar sendo muito parcial, já que sou amigo dos Vanguart e nunca neguei que gosto muito da banda, porém quando estavam no auge, não tinha pra ninguém, era fácil um dos 5 melhores shows independentes nacionais. E não adianta falar que eu não vi show nenhum nesse tempo ou que sei lá onde o show foi péssimo. É indiscutível que eles tinham um dos shows mais vigorosos que era possivel ver na Baixa Augusta, um pouco antes de hypar geral pra cima da região.

    Eu acredito que muitos dos que comentaram não viram um show da banda. Quando você ouve o disco e vê o show, entende algumas coisas que Hélio disse em sua entrevista.

    Mais entrevistões ae, Mac.

    Grande abraço.

  42. Bela entrevista, mesmo que algumas respostas estejam viajosas demais. Não vi em nenhum momento Hélio execrando ninguém, só defendendo o seu som, o que gosta, a sua opinião enfim. Assim como fazem as bandas que ele citou e as que não citou. E que pedem respeito pelas suas opiniões. Então as dele também devem ser respeitadas, mesmo não agradando a todos. Ao contrário dele, sou fã de rock e praticamente é só o que escuto. Nunca gostei do Vanguart. E provavelmente continuarei sem gostar. Mas a entrevista ficou muito boa, como a do Romulo Fróes.

  43. Tantas discussões, teorias e estudos para algo que ainda nem aconteceu…
    O negócio é que um artista expôs o q pensa, e antes de ter acontecido o que ainda irá acontecer…
    Um dia, se o Vanguart fizer um sucesso estrondoso, e se tornar um símbolo de uma época, as mesmas pessoas que estão fazendo esses comentários (inclusive eu) vão ler essa mesma entrevista e dizer que Hélio era um gênio, e que mesmo ele tendo apenas 25 anos precisou de um tempo só para ele, para poder fazer o q ainda nem esta pronto…
    Esperar, pra ver oq mais Ele tem a nos proporcionar, e sim depois fazer debates, para ver quem é o mais culto, ou o mais conhecedor de uma obra, e coisa e tal..
    E outra, todo mundo viaja nas suas próprias idéias, ninguém é a pessoa mais inteligente, coerente, e perfeita do mundo… por isso que o mundo tem graça, pela diversidade de idéias
    Apenas leiam a entrevista, vejam oq ele tem a dizer agora, pq tudo muda! principalmente nossas opiniões e a visão que temos do mundo… Agora ele disse estas coisas, daqui um tempo, anos, ele dirá outras… e mais tarde outras..
    Só pra fechar… eu gosto das letras, e do som do Vanguart como um todo, se não, nem teria lido essa parada toda!! Fiquem na Paz galera…

  44. Salve!

    Comentando em cima da fala do Ynaiã, fico pensando no quanto é maleável a questão público e mídia, e o quanto trabalhamos com expectativa o tempo todo. O Glauber talvez tenha sido muito otimista mesmo e “superfaturou” a banda, mas estamos sempre lidando com a sorte, tem coisas que bombam na mídia que acabam não afetando o público como a gente gostaria. E vice-versa, como eu vejo bandas que bombam no boca-a-boca com pouquíssima mídia… no cenário das artes plásticas p. ex. ninguém reclama se neguinho põe quadro pra vender a 5000 reais, e com certeza absoluta não tem o mesmo alcance de público que um Vanguart ou Macaco Bong. E não é errado, o gesto de valorização é importante, é o bicho, Brasil tá mudando o tempo todo. E se a música vende e gera identificação com as pessoas já cumpriu seu papel, não tem muita diferença entre a Ivete e o Iron Maiden. São fatos e falta a cena se ligar mais e tirar uma onda com isso, ao invés de jogar na defesa o tempo todo e delimitar tanto.

    Essa tecla de organização econômica batida o tempo todo é legal, é legal ver que estamos criando toda uma geração de músicos não-alienados, mas tem o outro lado, discurso afasta público. Eu, como público quero devorar esses signos, símbolos e emoções ligadas ao palco e à música e aos artistas, e pronto. Acho até que a organização política e econômica faz parte da linguagem estética e da arte, mas a linguagem é que é o valor maior. Eu tento jogar com isso o tempo todo e pensar como público, já estamos há tanto tempo mergulhados nessa briga por espaço e pela tal da cena que perdemos de vista o carinha que trampa das 9 às 6, rala pra conseguir ir no SWU, e no tempo livre ele em vez de varar a madruga no Playstation ele prefere ir num show e conhecer pessoas, e só isso, e é lindo, e é a história da vida do cara.

    E em cima das brisas do Helinho, só tenho a acrescentar… sem o rock, no meu gosto fica faltando um ingrediente frenético importantíssimo pro lance. Eu não gosto de Black Drawing Chalks e já gostei mais de Stooges. Mas pega um Little Richard, ou no “yeeeyeeeeeaaaah” da Lithium do Nirvana, aquela sensação de montanha-russa pra mim é o que liga. Vai de cada um….

    Abraços gerais

    F. (Visitantes, CICAS)

  45. Interessante a entrevista com o Hélio. Ele tocou em pontos importantes. O que me chamou a atenção foi a preocupação em tentar fugir do rotulo de roqueiro. E aí a gente vê como ainda está presente na nossa formação a distância entre essas duas tradições; o que já deveria estar mais bem resolvido nessa nova geração parece ainda um problema, um conflito. A questão da sonoridade, dos efeitos. E mais do que isso, questões relacionadas à própria composição e a discussão sobre arte, qualidade, técnica. A musica não é boa porque é matematicamente mais complexa, porque tem uma harmonia difícil, modal, dodecafônica, etc… Não é boa porque é bela, perfeita, mas porque acontece, ecoa, bate, num determinado momento, e para quem escuta, detonando múltiplos significados e sensações. Quando o artista consegue fazer algo que é muito complicado parecer simples, ele pode dizer que chegou a perfeição. Com os grandes criadores aconteceu assim. Mas nem todo artista é necessariamente um bom artesão, no sentido de dominar a técnica perfeitamente. Existem artistas que são grandes mestres da intuição. Interessante o Hélio falar do Caymmi, um musico intuitivo sem nenhuma formação musical, no entanto, capaz de fazer coisas belíssimas e belas por conterem o essencial, a idéia clara e límpida de uma experiência sensorial, contemplativa, prazerosa; a antítese da musica cerebral. O fato é que não tem regra. Tem musica pra tudo e pra todos. Musica pra dançar, musica só pra escutar; musica pra fazer pensar…

    Temos que devorar a experiência dos que vieram antes de nós e todas influencias que recebemos, do radinho de pilha, da musica brega, do som que vem das ruas, das violas caipiras. Essa foi à lição dos modernistas, Mario e Oswald de Andrade. Trabalhar com o lixo da cultura. Cada um vai fazer a sua síntese e dar a sua contribuição. O rigor com que o Hélio trata a si mesmo e a musica que ele faz é saudável; indispensável. Ele sabe que não sabe tudo. Não se contenta com pouco. Quer explorar outros universos musicais. Vive o processo como mais importante que o resultado. Coisa raríssima hoje em dia. Seu interesse rompe as fronteiras da musica e se transporta para a literatura e para a experiência da própria vida, como é o destino do verdadeiro artista. Ainda bem que ele existe. É bom saber que tem um garoto assim tão novo pensando todas essas coisas que eu também penso, também vivo, acredito, e que de certa maneira também foi vivida por tantos outros artistas, independente de quem eles tenham sido; do sucesso que tenham alcançado. Digo isso porque antes de tudo o artista cria para si mesmo. O publico, o Outro, é apenas um facilitador. O artista cria porque precisa se comunicar consigo mesmo, antes de tudo, dar sentido a sua vida, viver a sua própria ficção. Se tiver companhia, melhor ainda. Se tiver talento, sorte, persistência, facilitadores, pode, quem sabe, ser reconhecido pelos outros. Mas a maioria não é nem vai chegar a isso. Isso não impede que eles continuem a produzir. O mais importânte é continuar a produzir e desafiar os próprios limites para resistir antes de tudo a si mesmo.

  46. Pérolas! ahahah

    “Jornalistas que se comportam como estudantes do Mackenzie…” kkkkkkkkkkkkk

    “eu me desfiz da minha esposa/ (…) eu dei de costas para um amigo” só lendo um dos comentários acima é que mei dei conta de como esse verso é ocultista :)))))))))))))))))))))))

    LELECO ANTUNES, EU TE AMO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! hihihihihihic

    Stoner rock é do caralho! O pessoal do Black Drawing Chalks precisa somente fazer um supletivo em carioquês mulambo pra se livrar do sotaque…

    Em tempo: JFJu. grite assim: PAULO MALUF, SAIA DESTE CORPO QUE NÃO TE PERTENCE…

    abs

  47. Texto bom é aquele que te faz pensar, independente se vc concorda ou não com o mesmo. Bem isso é o que dizem. A entrevista com o Helinho me fez pensar e muito, mesmo discordando do cara em um ou outro ponto. Quando entrei para o jornalismo o fiz pq queria escrever sobre cultura pop e pq pensava como os “estudantes do mackenzie” (lol) .Achava duca as figuras rocker, poser, blasé, indie. Mas daí vc começa a levar a sério esse lance de ler e entender o mundo que o cerca, e acaba adquirindo certo conhecimento. Daí querer se encaixar em um rótulo parece um tanto bobo, babaca até, “Sou roqueiro”, “Só escuto punk” (grande merda). Penso que o Helio ache o mesmo, o cara já leu muito, já viveu muitas experiências. Gosto do posicionamento dele, admiro a maneira como vem conduzindo a carreira, a importância e preocupação em trilhar um caminho do qual se orgulhe, enxergando no resultado final, seja ele um show ou um cd, apenas a cereja do bolo.

    Mas por outro lado tbm sou simpático a posicionamentos como os de Billy Corgan e Tony Parsons, para eles “o urderground é para os perdedores”. Acredito que o caminho natural do Vanguart e de qualquer banda que tenha um trabalho bom, seja o de cativar mais fãs, alacançar novos públicos.Uma vez que é bom, vale a pena trabalhar para que se torne conhecido. Querer ser um eterno outsider, um artista recluso ala Salinger não me parece certo, ainda mais depois que o artista nos brinda com algo tão bom, o apanhador no campo de centeio no caso de Salinger, o debut do vanguart em disco no caso do Helio.

    Acho o Vanguart uma banda fora de série no cenário independente, por isso mesmo não gostaria que se tornassem o Neutral Milk Hotel brasileiro. Quanto ao medo de se tornar grande demais, um dinossauro ala Titãs como Helinho comentou em uma outra entrevista veremos em 20 anos.Sempre vejo com um pé atrás declarações como essa.Mas valá também não defendo uma pegada Oasis, a de lançar qualquer porcaria, mas seria muito bom ver o Vanguart seguindo os passos de Caymmi.Este não gravou tantas músicas, mas tão pouco deixou apenas um único registro. Chega , já me estendi demais, Parabéns ao Mac e colegas pela entrevista. Vida Longa ou mais uma dúzia de bons singles para o Vanguart. .É isso que espero enquanto fã. PS: Bônus para o Helio, o bom humor do cara é cativante.

  48. “o nosso público não estava pronto. Muito menos o Brasil” e jamais estára caro Hélio, infelizmente! pelo nivel de alguns comentarios aqui não há duvidas! bresileiro tem mesmo preguiça intelectual crônica! mas oq vc quer acho q ja esta conseguindo! fazer musica pra pessoas q entendam sua musica! e não musica pra vernder CD! Parabéns pela entrevista!

  49. Como tem nego tonto que endeusa um trouxa desse, não sei porque o cara não cita que é filho de diplomata e tudo mais, o pessoal na carência de artistas de verdade acabam adotando qualque um por ai, esse verme é um playboy da pior estirpe e pior nasceu na minha cidade, Arapongas PR. Creio que a visão artística esta sendo massacrada ao entrevistar um zé mané desse que pelo visto é um ser extremamente ocioso e fica criando teorias em torno de si mesmo.

  50. Quero saber o que ser um playboy e filhode diplomata tem a ver com a coisa.
    O engraçado é que eu nunca ouvi Vanguart, já ouvi falar muito – não muito bem, até – mas nunca quis ouvir. E gostei bastante da entrevista dele. Acho que pq não estou nem aí para a pretensão dele, se quando ele analisa um fato ele tira conclusões que como disse o camarada aí de cima, fazem a gente pensar um pouco. Acho que ele mesmo percebeu que a entrevista estava indo “pro lado depressivo” com o lance do auto-exílio e disse que não era essa a questão. Exílio é só uma palavra. Se vc resolve cair fora, ir para um país estranho ficar longe de tudo aquilo que construiu, ou aconteceu, é uma espécie de exílio e qual o problema? Cada um sabe a sensibilidde e a tolêrancia que tem ao vivenciar as coisas. O problema é quando começam a patrulhar, a dizer que vc não pode se sentir desse jeito pq é novo, pq não viveu, pq não foi um grande sucesso, como se fosse ilegítimo.

    Talvez por isso alguns artistas preferem não se abrir tanto, já que sempre tem uma meia dúzia pra ficar ditando quem vc deveria ser, como fazer, se te falta bom humor ou humildade. Acho que os julgamentos só empobrecem os debates e saem completamente do assunto, já que cho que a entrevista era mostrar o que ele pensa e, quem sabe, fomentar um debate sobre isso. Não expor o cara na vitrine pra gente julgar “aprovado” ou “reprovado”.
    Claro, se ele estivesse atacando alguém a coisa seria diferente. Mas está falando dele, da vida dele, das experiências dele, e da visão que ele tem de tudo isso.

    É mais produtivo levar o debate para o “concordo pq…” ou “discordo pq…”

    Eu, como sou apenas espectadora, não sei como é vivenciar essas coisas, não sei o que se passa nos bastidores e achei interessante a ver que um rapaz novo preferiu seguir caminhos não convencionais, já que poderia estar aí comendo buceta como todo mundo, para fazer algo de que se orgulhe (mesmo que seja uma merda pra todo mundo). É o lance de se sentir autentico na propria pele, não uma farsa, e compreendo. Tem que lembrar que o convidaram pra dizer o que pensa, ele só disse. Não foi ele que começou a aparecer aí levantando bandeiras no estilo Tico Sta Cruz-blogger.

    Também acho que muitas bandas da geração dele tem discuros babacas de rock e tentam ao máximo se parecer com as influências senso comum que tem, soando genéricas e mais do mesmo (se ele tbem é eu n sei, não ouvi).

    E não vi nada de mais na fala dele sobre ter 4 Semáforos em casa. Quem compõe, e tem vários projetos, é assim mesmo. Acho normal que se ele fez uma, tenha feito outras com o mesmo alcance (independente de qual seja) e se ele em algum momento passou a se questionar sobre o que estava fazendo com a banda, tenha preferido nao se repetir do que, novamente, ser uma farsa. Algumas pessoas tem facilidade pra compor, compor coisas que sabem que podem agradar a um certo publico, mas pode chegar uma hora que nao querem. Não precisa ser uma grande estrela pra se questionar ou mudar de direção.

  51. “Shut up, Flanders!”

    Em tempo,

    Essa coisa toda já virou um embate entre fãs e anti-Vanguart.
    Na boa, não gosto de Vanguart. Porém, achei a entrevista excelente (algumas respostas tb foram bem interessantes para se pensar), mas sigo dizendo, o cara é muito ressentido.

    Em tempo 2,
    Para alguém que diz “Não posso gastar tempo lendo comentário de blog” vir responder e ainda dizer que não lerá mais nada (de novo)… sei lá… tal qual a entrevista, mais contradições que só servem para deixar o discurso todo estranho demais.

  52. brasileiro é tão baixo! é muito facil levantar ofensa contra alguem! dificil é construir argumentos bons e transmitir um ponte de visitar, isso sim seria uma critica inteligente! como disse a renata logo acima, tb não encontrei na entrevista o Hélio atacando alguém. só fala de si mesmo! brasileiro não tem opinião propria, vai com a maioria! e outra, morei na argentina dois anos e ele tem toda razão qd diz q a coisa la é diferente!

  53. Não sei por que tanto trololó por causa dessa entrevista. A maioria dos macoheiros aos 25 anos responderia à entrevista exatamente com o Hélio fez.

    “eu sou só um garoto, mas me botaram umas cervejas que eu não tenho grana pra comprar…”

    Poderia ser tb; “eu sou só um músico maconheiro que fez um disco mediano com os meus amigos igualmente medianos, mas o mercado brasileiro é tão escasso de talento, que acabei virando algo muito maior do que realmente sou”.

  54. A verdade é que “se ninguém falou mal da tua banda, ela não tá fazendo sucesso”.

    O Hélio – e consequentemente o Vanguart – tem algo que 99% das bandas da atualidade gostariam de ter: público.

    Ele fala o que quer, ouve o que não quer por isso. Pois tem público. Se não tivesse público, ele falaria o que quisesse mas não ouviria nada, pois ninguém leria.

    Parabéns Hélio, um dos melhores frontmans da atualidade.

  55. Acho essa banda uma mala sem rodinhas, mas gostei da entrevista do cara.
    Se mostrou articulado e com boas idéias.
    Mac, essa entrevista vai na mesma pegada da do Rômulo Fróes. Ou seja, mostra a visão dos ‘perdedores.”
    Proponho uma rodada de cerveja com uma ‘vitoriosa” dessa geração, falo da vagarosa Céu.
    Uma com o instigado Catatau tb cairia bem.
    Que tal?

  56. Li a entrevista na íntegra e alguns comentários (a escolha dependia do impacto da frase inicial). E, bem, acho que o sujeito entrevistado, tirando de foco toda a discussão acerca de sua produção artística, seu modo de dar sentido à vida ou mesmo suas opiniões referentes a cena atual da música & afins , demonstra ter humanidade em si – no sentido cru: com todo o caos que a sociedade espetáculo impõe para que seja palco da construção do “eu” hipermoderno. É, ao menos assim vejo, extremamente pouco frequente ver sangue no retrato de uma personalidade, já que as pessoas estão tão mais preocupadas em se proteger, enquadrar-se num status social que lhes assegure alguns bens favoráveis para suportar um dia-a-dia que doutrina a felicidade como uma dimensão temporal dita “futuro”: a bendita não vai chegar em “hoje” algum). Vejam o paternalismo pedante dos discursos eleitorais! A massa (você e eu, inclusive) cai no “bom-samaritanismo” porque a verdade é que todo mundo quer estar na condição de ser cuidado – para que a culpa existencial seja melhor administrada. Aí vem o garoto de vinte e cinco anos que assume toda a sua contradição, perplexidade, olhar torto, infelicidade & amor e recebe inúmeros analistas que vêem na interpretação aleatória o absoluto sem antítese. Que importa se para ele rock é pouca bosta ou se a espontaneidade do discurso se deve às cervejas de colecionador, importa os apontamentos sinceros de um ente, belamente conduzidos pelos entrevistadores. Vejo em toda a entrevista, além do músico, do compositor, do leitor, do namorado, do amante, do (…), um alguém que perscruta o coringa escondido na manga do mundo. E, por essa via de perguntas direcionadas quase que obrigatoriamente ao produto do entrevistado, é raríssimo poder sacar toda uma gama de subjetividade mais afiada.

  57. O cara queria fazer a música dele, levou tufo do que o mercado impôs e fim de papo, taí tendo que lidar com tudo isso.
    Não sei porque o espanto geral.

  58. tudo que eu gostaria de poder dizer em uma entrevista hj em dia.
    fico feliz de ler alguem dizendo isso por mim. por nós.
    salve helio. linda entrevista, mac.
    :**

  59. Ótima entrevista. Como vários já disseram aqui, apesar de discordar de algumas opiniões do Hélio, acho respeitável o fato dele ter uma opinião e defendê-la doa a quem doer.

  60. O cara queria fazer a música dele, levou tufo do que o mercado impôs e fim de papo, taí tendo que lidar com tudo isso.
    Não sei porque o espanto geral. (2)

    UPEM O ÁUDIO DA ENTREVISTA EM ANEXO, SEMPRE QUE AS PUBLICAREM. E sem cortes, ok?
    abs

  61. Bicho, divagações de beck e 25 anos. Agora me explique: qual o problema em tocar um projeto já iniciado, mesmo que não esteja de acordo com a sua ‘essência artística’? Faça dois, três discos, consolide marca, posicionamento, público e produto. Sim, música é produto. A partir do momento que escolhe viver dela, ela vira seu ganha pão. Como numa hierarquia empresarial, você tem que começar do zero; de repente não propriamente concorde com a missão, valores e objetivos da empresa, mas você um dia com sua competência e trabalho reconhecidos poderá dar novos rumos a tudo isso, caso continue acreditando e investindo numa “carreira” contínua. A entrevista é legítima, mas por cargas d’água, qual o problema em fazer uns disquinhos com o perfil do que foi feito e depois resolver fazer algo mais intimista, ligado com o que você realmente acredita e curte? Que viadagem! Mais estrada e percepção, menos brisa e precipitação. Abs.

  62. Então, gosto muito do site. Pelo fato da entrevista ser grande toda vida, li em três partes. E em todas as três me bateu uma enxaqueca violentíssima. Esse moleque consegue ser mais chato que o Holden Caulfield.

  63. Helio Flandres: Muita afetação e muito estrelismo pro trabalho que faz. O cara é muito pretensioso, e, me desculpe, mas a banda não é tudo o que dizem por aí.

  64. Ahhh, Mac, dei umas sujestões de entrevistas e esqueci de indicar o Lucas Santtana.
    Taí um cara articulado, que entende pacas de novos mercados e que não vai choramingar.
    Foi hypado no começo da carreira, por seus tentáculos baianos, caiu e voltou com trabalhos bonitos e relevantes.
    Enfim, fica a dica.

  65. “Vejo em toda a entrevista, além do músico, do compositor, do leitor, do namorado, do amante, do (…), um alguém que perscruta o coringa escondido na manga do mundo. E, por essa via de perguntas direcionadas quase que obrigatoriamente ao produto do entrevistado, é raríssimo poder sacar toda uma gama de subjetividade mais afiada.”

    Esse trecho do comment da Rebecca também a alça à condição de futura entrevistanda…

  66. Exílio, artista atormentado, o tormento do sucesso…acho que estou em outro planeta, porque até onde sei esse cara não fez nada de realmente relevante. E é chato e pedante.

    Shut up flanders!

  67. Vanguart é uma das melhores bandas dessa geração. Achei massa saber que o Hélio além de grande cantor tem muitas ideias legais.

  68. E então, Mac; vai ou não embebedar o Catatau?
    Sugiro ao invés de cervejas belgas botar na roda a boa e velha cajibrina brasielira, e lá pela 5ª dose, perguntar:

    “E a Abrafin, hein, Catatau?”

  69. MC: fantástica entrevista!

    Já tinha lido com bastante atenção, mas, agora, final de semana, parei e LI a entrevista.
    E os divertidíssimos e valiosos comentários, lógico!!!

    Antes, se me permite, gostaria de elogiar especialmente o Fred (coment. 43):
    véi, essa da barata foi ótima, caríssimo…
    Mas o quê será que ela estaria farejando ali…?…

    Indo à entrevista queima-filme, puxa vida, o Flanders tentou…
    Caralho! Merda ele não é!

    “Ah, mas o cara é um burguesinho maldito….”

    Bem, seguindo este raciocíno, chegaríamos fácil à caça às bruxas, às capitanias hereditárias, aos senhores feudais, até ao primeiro grande fdp que cercou um pedaço de terra e chamou aquilo de propriedade privada…

    Ok, ok…, diria Nelson Rubens…

    Seguinte: tenho 30 anos. O HF tem 25.
    E ele fez muito, muito, muito mais que eu. Nem por isso o admiro.
    Cada empreitada tem seus riscos, consequências, responsa, e, principalmente, senso de ridículo. Pra começar, acho Vanguart um baita nome infeliz; parece empreendimento imobiliário.

    Aí o cara diz: “tenho x Semáforos guardadas”.
    Lembrei na hora de uma entrevista do Michael Stipe dizendo que tinha várias “The One I Love” escritas, mas que o R.E.M. não as produzia por que já tinham feito esta música.
    Desnecessário dizer mais.

    HF, fica sussa: você não é o o Kurt Cobain do rock brasuca! Não se mate!!! Rs…

    Véi, abandone este Vanguart…
    Paulinho Moska não perdeu nada ao abandonar os Inimigos do Rei.
    Ao contrário, construiu uma carreira solo respeitável. Penso que você pode ir além.

    Você não tem sequer a conchinha e já quer a pérola.
    Calma, bicho.

    Dica: dê um tempo no beck, no goró, na farinha.
    Internação domiciliar: só violão, caderno e lápis.

    Te garanto que ninguém vai sentir sua falta.

  70. “Eu tenho outras quatro ‘Semáforos’ lá em casa e acho uma bosta!” É claro, se são iguais a Semáforo elas são uma bosta.

    Cara chato e pretensioso. Ainda bem que a entrevista é só pra ler, pq ver ele falando é tortura ainda maior.

  71. além de nunca ter sido grande, o vanguart também nunca foi grande coisa. mas o hélio parece ter acreditado tanto que é mesmo um garoto prodígio, que o fracasso do vanguart só deixou uma saída: vestir uma fantasia remendada de gênio incompreendido.

    “Como você imagina estar em dez anos?”

    “Ah, provavelmente em dez anos vou estar tão arrependido quanto envergonhado desse tipinho cool beatnik que tô tentando fazer pra vocês aqui nessa entrevista. Espero que até lá eu já tenha sacado que isso não convence ninguém e só ajuda a queimar o meu filme, que já tá torrado.”

  72. Envergonhar-se é apenas para quem está tentando fazer algo, para quem fala e faz. Vivemos em um cenário calado, que dorme sonolento e que quem sobrevive são aqueles que puxam o saco. Parabéns ao Scream & Yell por acordar e dar voz a pessoas que tem o que falar. Se daqui dez anos ele vai se envergonhar ou não, pouco importa. O que importa é que vocês estão mostrando as veias de uma cena, estão mostrando que há um coração batendo por trás deste marasmo que as bandinhas da MTV e os festivais políticos tentam impingir como verdade. Vocês estão no caminho certo.

  73. Uma entrevista realmente digna, fodaça e de fôlego, como todas as que a equipe da Scream&Yell costuma fazer. Juntou a fome (dos entrevistadores, sempre com ótimas perguntas) com a vontade de comer (do querido pequeno Flanders, um gênio em estado bruto e puro da música brasileira dos anos 00, de cultura elevadíssima e com reflexões sempre instigantes sobre todas as questões que lhes são propostas).
    Vou linkar a entrevista na Zap’n’roll. E agradeço a lembrança do meu nome numa das perguntas, embora eu não me lembre de ter dito alguma vez que “Semáforo” seja um dos hinos da geração 00. Aliás, apenas lamento que eu, que acompanhei tão de perto os primeiros passos do Vanguart em Cuiabá e quando a banda se mudou pra SP, não tenha sido citado ou lembrado pelo Helinho em nenhuma das suas ótimas respostas. Ao contrário, ele preferiu citar um dos maiores crápulas que se tem notícia na história recente do jornalismo musical brasileiro, um sujeito que sempre detestou o Vanguart. Enfim, é a vida e eu desejo de coração sucesso à banda nessa sua “negação” a uma investida no mainstream que a torne mega banda. Afinal, Flanders tem razão: hj ninguém mais vende disco. Isso é fato.

  74. Concordo com o Edipo. Ficar bêbado com uma caixa de cerveja é coisa de gurizinho. Mas eu gostei bastante da entrevista e acho o Hélio um bom letrista, embora não consiga achar o Vanguart grande coisa. Prefiro mil vezes Charme Chulo, Supercordas e Los Porongas.

  75. Aê Helio, ficar contradizendo apenas por contradizer o consagrado para se colocar no posto de vanguardista é que coisa de careta. Vc ainda adora rock, isso tá muito claro nas entrelinhas. Vai comer feijão!

    Há muito tempo seu padrinho Caetano entrou nessa onda e você está indo pelo mesmo caminho. Ele já está num estágio acima que é “elogiar apenas por elogiar o execrável para ser vanguarda”. A última de Caê foi divulgar publicamente que vai votar no Cesar Maia para senador porque ele um “super político”. Porra! O cara fudeu o Rio de Janeiro! As favelas nunca cresceram tanto quanto nos 3 governos dele + o mandato do Conde – o seu “Ceslo Pitta”. Expor esse tipo de opinião é vanguarda?! É polêmico?! Para mim, é coisa de zé mané. Enfim, foda-se…

    Parabéns pela página, pessoal! Não conhecia, estou fuxicando e curtindo muito! abraço!

  76. Aê Finatti, não adianta ficar de chororô aqui pq o cara não cita seu nome em entrevistas. Até pq o “Helinho” já mentiu o bastante dizendo que não voltaria aqui pra ler os coments, ou seja, claro que ele voltou e leu seu mimimi, mas vai negar até a mort dizendo que não leu.

  77. tem até uns 10% que presta aí. o resto… esse cara tem certeza que ele é um geniozinho se querendo fazer de true. personagem mal construído. pq todo mundo cai?
    se ele estudou psiquiatria (haha!), sabe do que estou falando.
    ter um cara desses como refer6encia da música independente é chocante. pra ver como nossa música é pobre.

  78. O José Flávio Júnior é engraçado!

    Ele sempre é citado em blogs e foruns e GERALMENTE por alguma controoversa opinião sua, ou equívoco na interpretação do que ele pensa e fala. O mais engraçado é que ele GERALMENTE responde com uma IRA, um tom grosseiro e irritado, como quem se defende numa guerra! Não entendo a agressividade….. Nosssssa quanto ego !

    É esse tipo de gente cheia de ego que observa e escreve sobre nossa cultura ???????….Deus meu….

    Alguém citou que essa entrevista mostra que o Helio é mais um dessa geração que tem medo de fazer sucesso. Não seria um equívoco ou análise precipitada?

    Reflitam que:
    Pela primeira vez uma geração vem com o cuidado para fazer sim, mas o sucesso certo, com cautela com sua obra e principalmente fazer sucesso e se dar bem sim, mas não a qualquer custo, como fizeram as gerações anteriores.
    Ninguém grava discos e lança e dá entrevistas sobre o trabalho para não fazer sucesso.

  79. O Rômulo Fróes não gravaria 4 CDs e estaria pensando num quinto à toa, fazer sucesso é o que essa geração quer, mas pela primeira vez existe uma consciência coletiva do cuidado que isso requer no tocante à personalidade e controle da sua obra. Sobretudo o cuidado com as concessões! Creio que essa geração põe a arte na frente do sucesso e espera a compreensão de alguns para que o o sucesso não aumente o EGO e diminua a profundidade da criação. Com acontece muito. Acho que parte do que o Hélio falou passa por aí!!

  80. Estou com aqueles que acham o Vanguart um pé no ovo, mas gostaram da entrevista. Me lembrou, quase o tempo todo, das entrevistas do Renato Russo pra Bizz nos anos 80/90: boa articulação, enfileiramento de referências “acima de qualquer suspeita” (ainda vou entender por que é tão cool ler Oscar Wilde, por exemplo), reafirmação sem pudor do mito romântico do artista angustiado, e por aí vai.

    E me adiantando aos legiotários que possam vir questionar o meu atrevimento em fazer tal comparação, a coisa é simples: tratam-se de dois babacas pretensiosos. Um queria ser idolatrado, e escrevia na língua que a mulambada fosse capaz de entender, gerando o fenômeno Los Hermanos – fazer sucesso fazendo estudantes de comunicação de faculdade privada analfabetos funcionais se sentirem sofisticados porque “entenderam o que o poeta quis dizer” – duas décadas antes do Los Hermanos.

    E o outro, como fica claro na entrevista, está mais preocupado em fazer “música de qualidade”, seja lá o que ele entenda por isso, do que em correr atrás de um cada vez mais conjunturalmente improvável sucesso de público.

    Eu comecei este post achando que tinha uma tese a defender aqui, mas pra ser honesto, acabo de perceber que não tenho não. Então foda-se, e só pra não perder a viagem, #dilmanão

  81. “To lendo essa entrevista ouvindo ARNALDO BAPTISTA, e fiquei pensando ‘Jesus, quanta pretensão, quanta viagem”.
    Esse garoto já produziu algum disco realmente foda? “ah depende dirão os certinhos de plantão, eu digo porra nenhuma, se um alienígena chegasse aqui e lesse essa entrevista iria pensar “deve ser algum grande artista (pela pretensão) confuso e pseudo-articulado (o ET é gente fina).
    Patético é pouco e olha que tentei gostar desta banda, mas sinceramente……nao da!!
    ARNALDO, ACUDANOS ANTES QUE A MEDIOCRIDADE SE INSTALE DE MANEIRA IRREMEDIAVEL

  82. O álbum do Vanguart não representa nada. É mais um lixo para o montante da música brasileira recente. O vocalista aí parece saber disso. Ele diz que não se importaria em estar cozinhando daque a alguns anos, caso nada de bom apareça. Esse é provavelmente o caminho. Na verdade, o cara tem 25 anos e parece ter 17. É a típica entrevista que ele ainda se arrependerá completamente de ter dado. Espero que leve pouco tempo pra isso. A única noção real sobre a construção de uma música boa que o rapaz tem é quando pensa em fazer algo diferente. De resto, toda essa preocupação harmônica e erudita só nos mostra uma besta que deve ter aprendido a respeito há alguns meses atrás. Pensa que é descolado por falar mal do rock, de distorções, guitarras. Inteligente quanto uma barata. Pode-se citar mais de duas mil bandas de qualidade que se utilizam de tais aparatos, eu só diria My Bloody Valentine e já me daria pena refletir sobre a idéia musical do cara. Mas, afinal, quem é Hélio Flanders? Por que eu ou alguém deveria esperar algo decente dessa entrevista. O erro é meu.

  83. Acho o Vanguart um disco muito bom, que meio voltou meu desejo de acompanhar a música (seja indie, seja mid, seja main) do Brasil. Foi meio que tipo, algo, “acho depois do suposto fim do Los Hermanos as coisas ainda tinham jeito”.. Estava numa fase de só escutar gringo, mas o Vanguart meio que mudou isso e voltei a acompanhar alguns lançamentos nacionais, acho que é um disco que entra sim pra história da música brasileira, você gostando ou não.

  84. Vao querer me matar, mais paciencia!.
    Entrevista chata! Sabe, cara mais babaca, posando como um guru… Que merda! Faz 10 anos que venho falando, “Esse negocio de rock intelectual, meio MPB, com poesias que nao levam a nada, frases inconclusivas, pregando que ser chato, manter-se bebado e pronunciar preciosismos é a salvação do rock, da musica!”. Coisa chata!

    Quem disse que Los Hermano é legal? E Caetano Veloso? Strokes?…Ah diferente, mais se ouvir a primeira musica e a ultima, tudo igual, nao muda…mesmice… Eu ovi Cachaça do Vanguart, quase dei um tiro na minha cabeça… Que musica chata…que coisa sem pé nem cabeça… O pessoal quer compor melodias intelectualizadas, ai tentam fazer um riff “estrambolico”, e no fim, nao sai nada do nada… Que coisa chata…Que coisa imbecil…

    Confesso, faz 3 meses que ouço todos os dias, tudo que “Indie”, como Vaccines, Strokes, Arctic Monkeys, Suede,Libertines… E DEUS é testemunha, que eu pego, leio primeiro a letra, sem ouvir o som… depois tento tocar, pra sentir o que o musico quis “passar” na sua criação.. e por fim, tenho vontade de vomitar!

    Agora sobre o punk, que esse moleque ai citou: Bem, realmente o punk perto do “Indie” é sim pobre…pobre de melodia, de notas musicas, de performance…Mais é simples e objetivo! É rock! Rock nasceu pra ser simples…quer ser “rustico e rebuscado? vai na OSESP..” Pink Floyd e Emerson,Lake & Palmer quase mataram o rock r roll, e o punk salvou… O grunge(outra merda), deu a primeira facada na tentativa de matar o novamente o rock, e tudo que foi feito de lá pra cá, só matam a cada dia mais o rock n roll… Glam… Guns, Poison, Bon Jovi… ate eram farofa…mais nao mataram o rock… “enviadaram” por causa da estetica Glam Rock, mais vc ouvia as guitarras, os acordes, os vocais… Mais voces, “Indies”, o que fazem? Cara, entre ouvir “Os Barcos” dos Looser Hermanos e ouvir Poison, vejo mais atitude no Poison!

    Mais, hoje é “hype” é moda ser intelectual…e pra ser intelecutal no Brasil pe facil…Um país com 70% de analfabetismo, qualquer moleque que venha dizer ” Ai, eu morava em Cuiabá e virei a chave da minha vida” é intelectual! Se ate poesia do Pedro Bila vende…

    Horrivel! Tudo que li acima! Uma porcaria…

  85. Everson, para você, “atitude” vale mais do que melodia, ritmo e harmonia?
    Posar de fodão não é garantia de qualidade para artista nenhum. Isso vale tanto para o Poison quanto para a Vanguart.

    Na boa, seu comentário parece uma versão requentada das ranhetices do Álvaro Pereira Junior.

  86. Cara, acabei de conhecer a Vanguart e estamos em 2014, eu curti muito o som dos caras, e resolvi pesquisar sobre pra eles, pra conhecer a história deles (do Helio em especial) e achei essa entrevista… Vi um monte comentários, dizendo “que esse cara pensa que é? ele tem 25 anos” … Poxa, essa coisas me entristecem, ser novo é estar condenado a não saber, ou não querer entender as coisas?? Sei lá, mas enfim, a entrevista é antiga, a Vanguart está no seu 3º disco, e eu agradeço ao Helio por ter insistido, prq pra mim, é uma banda foda que merece continuidade e merece espaço, e já estão conquistando… Não entendo muito desse discurso (intelectual pra mim, que não entendo nada, sou apenas uma mera espectadora) que alguns tanto levantaram, sobre acordes de guitarra, ícones antigos da música e tudo mais, o Helio falou muito a visão dele das coisas, não somos obrigados a concordar, mas acredito que somos obrigados a respeitar, eu acho que respeito se conquista, e não é menosprezando alguém por pensar diferente da gente que vamos conquistá-lo… Enfim, chega de blá blá blá… Helio, se a banda já tinha conquistado minha admiração, vc conquistou meu respeito!! Vida longa a Vanguart…

  87. Brother, essa entrevista consegue ser mais escrota que o pornô do Frota com um traveco.

    Quem gosta desse cidadão merece ter uma pinta bizarra no meio da cara também.

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