DVD: “A Todo Volume”, Davis Guggenheim

Por Marcelo Costa

Janeiro de 2008: três famosos guitarristas se encontram em um grande galpão para dividir experiências e contar suas histórias com a guitarra. A caminho do local, Jack White (White Stripes, Raconteurs) promete: “Vou enganar os dois e fazer com eles revelem seus truques”. Meia hora depois, um Jack White babão não consegue conter o sorriso assim que Jimmy Page (Led Zeppelin) exibe a introdução de “Whole Lotta Love”, que também arranca sorrisos de The Edge, do U2.

São três personalidades contrastantes. Jack White é o garoto rebelde, caçula de uma família de dez irmãos, que apaixonou pela guitarra após um longo romance com a bateria, e hoje em dia prefere desafiar e brigar com o instrumento: “O rock acaba assim que você consegue esgotar todas as possibilidades da guitarra”, conta. Quem presenciou o show que o White Stripes fez no Tim Festival, em 2003, vai se lembrar bem de como ele suou para domar um modelo marrom, e não conseguiu (mais aqui).

The Edge, por sua vez, é mais técnico, embora soe simplório em várias passagens do longa. Enquanto Jack White acredita na pureza do som, The Edge acredita em sua extensa pedaleira de efeitos. Em certo momento, ele faz um riff. Assim que finaliza, ele explica. “Isso tudo que você ouviu é efeito. Se eu tirar o efeito fica assim”, e ele apresenta um “tóin, tóin, tóin” sem graça. “Imagina eu chegando para alguém e dizendo: ‘Olha o riff que eu fiz: tóin, tóin, tóin’”, e cai na risada. Então pisa em um dos pedais e dá vida a música que guarda dentro de si mesmo.

James Patrick Page é… Deus. Um Deus da guitarra elétrica. Imagens antiqüíssimas mostram um menino tocando skiffe na televisão. Ele diz: “Quero ser biólogo”. No entanto, ele acabou se apaixonando pela guitarra, e o mundo acabou reverenciando seus riffs poderosos. The Edge pergunta: “Você tocou em músicas do Kinks?”. Page responde: “Sim, em várias”. O guitarrista do U2 solta um “uau” tão sincero que até parece um fã. O sorriso de Jack White, citado no primeiro parágrafo, revela algo que já soava óbvio em canções como “Ball and Biscuit”: ele é fã.

“A Todo Volume” (“It Might Get Loud”), porém e felizmente, não se fecha na guitarra. Não é uma exibição de técnica, mas uma tentativa de explicar como esses três seres humanos se transformaram em ídolos da música empunhando este famoso instrumento de seis cordas. Para isso, o diretor Davis Guggenheim volta ao passado de cada um deles para tentar entender o fascínio da guitarra sobre os músicos, e como isso definiu o som de suas bandas.

The Edge leva o espectador para uma pequena sala de aula em Dublin, local em que o U2 ensaiava. “Passávamos dez minutos arrastando cadeiras e uma hora tocando”, relembra. Depois mostra a casa em que o disco “War” foi gravado. “O punk permitiu que pessoas que não soubessem tocar subissem ao palco. Adaptei as notas ao meu jeito de tocar. Simplifiquei-as”. Minutos depois, ele mostra o riff de “I Will Follow” para os outros dois músicos. Jimmy Page questiona: “Isso é um dó? Você tem certeza que isso é um dó?”. The Edge, meio cabisbaixo, comenta: “É uma pegada mais punk”.

Jack White mostra “Dead Leaves And The Dirty Ground” enquanto relembra suas primeiras bandas e apresenta um novo modelo de guitarra que seu luthier acabou de terminar. Já Jimmy Page visita a casa em que foi gravado o álbum “Led Zeppelin IV”. Ele mostra os locais em que cada um da banda ficava e comenta que a crítica sempre detonou o Led. “O IV recebeu uma crítica de apenas uma linha. Uma linha! Depois disso parei de ler críticas”, explica. Ele então apresenta a famosa guitarra de dois braços, construída para a execução ao vivo de “Stairway To Heaven”.

Os três músicos abrem seus baús e mostram coisas que ajudaram a moldar o som de seus grupos. Page coloca um compacto para tocar, e faz air guitar rindo como uma criança. White coloca o disco que mudou sua vida, e a canção é só voz e palmas fora do tempo, como ele mesmo analisa. “É até hoje a minha música preferida”. Edge pega uma caixinha velha de fitas K7, e coloca uma no aparelho. Surge então o áudio da primeira versão da introdução de “Where the Streets Have No Name”, e ele se surpreende que ela não mudou quase nada para a versão que foi parar no multiplatinado “The Joshua Tree”.

Mais do que um documentário sobre a guitarra, “A Todo Volume” é um passeio (paralelo) pela história de três grandes bandas do rock and roll. E para quem tinha receio de que o documentário fosse partir para um lado de exibições de técnica e longos solos, o filme termina com o trio tocando um velho clássico da The Band… ao violão. Um belo momento…

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

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