Entrevista- John e Fernanda (Pato Fu): “Não queremos viver do que a gente já fez. Temos o desafio de conquistar novas gerações”

entrevista por Bruno Capelas

Já disseram muito por aí que a vida começa aos 30. Fernanda Takai e John Ulhoa acham esse papo meio furado, mas independentemente dele ser verdade, os fãs do Pato Fu tem muito a comemorar no trigésimo aniversário da banda. Três décadas após a estreia com “Rotomusic de Liquidificapum”, a banda mineira segue a todo vapor. Entre o final de 2022 e março de 2023, o grupo lançou nove músicas inéditas, em três lotes de três canções, hoje reunidas no disco “30” nas plataformas de streaming. “São canções que resumem um pouquinho do que tem sido o Pato Fu nesses 30 anos, ao mesmo tempo em que mostram que a gente está olhando pra frente”, conta Fernanda Takai.

Logo depois, veio “Pato Fu Ilumina Sonastério”, EP gravado ao vivo no sensacional estúdio belorizontino com clássicos e a recente “Fique Onde Eu Possa Te Ver”. Também teve o início de uma turnê que vai celebrar os 30 anos de carreira nos palcos, com um repertório em que hits e lados-B se encontram na mesma medida. E para os próximos meses, além da turnê , vêm aí um disco ao vivo resultado da colaboração com a Orquestra Ouro Preto e duas temporadas de uma série de TV para a Nickelodeon, inspirada no universo do disco/show “Música de Brinquedo”, com direito a bonecos de verdade e direção de Fernando Gomes (o Júlio de “Cocoricó”, o X do “X-Tudo” e o Gato Pintado do “Castelo Rá-Tim-Bum”).

As capas dos álbuns “30” e “Pato Fu Ilumina Sonastério”

“Todo mundo do Pato Fu é muito fã de ‘Muppet Show’, ter um programa desses é uma espécie de plano maligno que a gente tem desde que a banda começou. Queremos fazer um negócio diferente, sempre. Acho que essa é a função do Pato Fu no mundo: não fazer a mesma coisa”, diz John Ulhoa, em entrevista ao Scream & Yell. O papo aconteceu em março de 2023, quando o Pato Fu – John, Fernanda e os companheiros Ricardo Koctus (baixo), Xande Tamietti (bateria) e Richard Neves (teclado, piano e acordeão) – estavam lançando as últimas três canções de “30”: a dupla de temas sobre a amizade “Diga Sim” e “Dias Incertos” e uma curiosa versão de “Io Che Amo Solo Te”, do italiano Sergio Endrigo, que ficou como “Amo Só Você” na versão Fu.

Mais do que apenas um punhado de novas canções ou mera galeria da história Fu em formato embaralhado, “30” também reflete de maneira sensível dois temas que permearam a vida brasileira nos últimos anos: o isolamento social por conta da pandemia e o recrudescimento da extrema direita, não só no Palácio do Planalto, mas também nas esquinas cotidianas. “São músicas que mostram claramente de que lado a gente está. Eu tenho me colocado para as pessoas desde a época do impeachment da Dilma. Tem fã que não gosta mais de mim. Mas eu gosto da ideia de registrar nas músicas as sensações que nós vivemos como cidadãos, o Pato Fu fala tanto para dentro como pra fora”, diz Fernanda.

E já que o assunto é falar, nessa entrevista John e Fernanda falam pra caramba: além de contar mais sobre os novos projetos e debulhar as canções de “30”, os dois disparam sobre múltiplos assuntos. É uma conversa que fala de novela, gravadoras, MTV, Olimpíadas, falta de interpretação de texto, governo Collor, e claro, passa a limpo os 30 anos do Pato Fu – incluindo a experiência da banda com produtores como André Abujamra e Dudu Marote, a carreira solo de Fernanda e o projeto “Música de Brinquedo”. É, sobretudo, um conjunto de lições de independência de uma das bandas mais criativas, anárquicas e divertidas da história do Brasil – e que segue zunindo como um novo sedã. Pé na tábua, John e Fernanda!

Em 2023, o Pato Fu completa 30 anos. E aí, a vida começa agora?
John: Acho que não, cara. Esse papo é meio furado, tanto pro Pato Fu como pra vida. A vida tem suas fases, tem uma vida que é legal pra caralho antes dos 30. Existe vida depois dos 30 também. Tô com 57, então calma lá.

Fernanda: Tenho 51, vou fazer 52. Pro Pato Fu, o que dá pra dizer é que os 50 são os novos 30. A gente está meio na faixa dos 50, só o Richard que é o mais novinho, tem 41.

Do fim de 2022 para cá, vocês lançaram nove músicas. Agora elas estão reunidas num álbum nos serviços de streaming, “30”, mas originalmente elas foram lançadas em lotes de três canções. O que essas músicas novas representam? E por que vocês decidiram lançá-las nesse formato?
John: Nós lançamos de três em três, verdade, e a última leva delas teve as três mais lentas, mais introspectivas. Duas têm um tema parecido: amizade. A primeira, “Diga Sim”, é uma que eu tinha lançado como single meu, na pandemia. É uma música mais antiga que isso, mas que combina com aquele clima superestranho da pandemia, os amigos longe, muita gente morrendo, a gente ficando deprimido e sem poder estender a mão direito. Dava para estender virtualmente, claro, mas havia um clima muito estranho no País, uma conjunção de desgraças em cima da outra. Nessa época, o Pato Fu estava fazendo algumas coisas online, umas gravações naquele estilo “cada um da sua casa”, mas eu resolvi pegar essa música, gravar toda sozinho e lançar como um single meu, uma espécie de presente de aniversário pros meus amigos. Quando as coisas acalmaram e o Pato Fu resolveu sentar para gravar um repertório novo, acabamos lembrando dela e achamos que ela ia ela ia ficar ainda mais legal com a versão da banda, com a Fernanda cantando e tudo mais, então regravamos do zero.

Fernanda: Tem algumas alterações na letra, né?

John: São umas micro alterações, mas é basicamente a mesma composição. A outra música que fala de amizade é “Dias Incertos”, que também é a música mais nova dessas nove que a gente lançou. Vejo “Dias Incertos” como mais uma conversa de um amigo com o outro. Não é uma conversa no texto, mas ela soa como uma conversa. Tem um sujeito pessimista, achando que está tudo ruim e só vai piorar, e o outro sujeito querendo dar uma força. É um abraço musical.

É um tema que também aparece em “Fique Onde Eu Possa Te Ver”, não é?
John: É… pô, a gente está se repetindo! (risos). Mas é o espírito da época, cara. Esse tempo que a gente passou na pandemia e toda essa distopia brasileira, a gente é permeável ao que a gente sente. Isso faz a música ser de verdade. Às vezes eu escrevo sobre situações bem imaginárias, malucas e tal. Mas numa época que nem essa, a gente vai ficando mais velho, começa a ficar mais sensível às coisas estão ali nos esbofeteando. Você acaba escrevendo uma, duas, três músicas com um espírito só. É parte da verdade da coisa.

Fernanda: Acho que, nesses blocos de canções que estamos lançando desde o ano passado, tentamos mostrar um pouquinho do que tem sido o Pato Fu nesses 30 anos. Na primeira leva tinha música com o Ricardo cantando, música comigo cantando e música com o John cantando, algo que a gente fez muito nos primeiros discos. Além disso, o fato de termos chamado o Dudu Marote para produzir duas faixas (“No Regresso” e “Silêncio”) mostra que ele foi um dos produtores mais importantes pra nossa carreira, marcou uma época. Já nas outras faixas, foi o John quem produziu. Além disso, tem uma coisa que o Pato Fu sempre fez: versões. Geralmente, são escolhas raras, como “Sítio do Picapau Amarelo” – que só o Pato Fu poderia ter feito do jeito que foi feita. Na minha carreira solo, eu costumo muito pegar coisas que escutava quando era criança e traduzir para um jeito mais atual. Fizemos isso agora: pegamos uma música do Sérgio Endrigo, “Io Che Amo Solo Te”, que eu conhecia mais pela gravação da Rita Pavone. É uma música que já tinha sido gravada em uma versão em português há uns 15 anos, em samba, mas aquela versão tinha algumas coisas que a gente não concordava. Aí o John resolveu propor uma nova versão para a editora e eles liberaram, depois que a família do Sérgio Endrigo aprovou lá na Itália. Ou seja, nós temos a nossa própria versão de “Io Che Amo Solo Te”, que ficou “Amo Só Você”. Nela, a gente realizou um sonho que a gente tinha, de fazer alguma coisa com o [maestro] Ruriá Duprat. Ele fez um arranjo de cordas muito bonito e os nossos amigos da Orquestra Ouro Preto gravaram aqui no Sonastério, um estúdio maravilhoso aqui em Belo Horizonte. Acho que essa é uma faixa bem diferente das outras, ela traz aquele Pato Fu bem pop, de “Depois”, sabe?

John: Mas é um Pato Fu de smoking, né?

Fernanda: É, de smoking, porque tem aquele arranjo bonito. É uma música bem de amor. A gente já teve muita música em novela, mas essa a gente pensa assim, “poxa, essa cabia numa novela”. Ou então num filmão brasileiro bom.

John: Você é muito novinho, a gente sabe… mas quem tem mais de 45, 50 anos, vai reconhecer a música na hora. Quando elas ouvirem o refrão, vai rolar aquele “ahhh”, porque era uma música que tocou em uma novela antiga, “Anjo Mau”. Na década de 1970, ainda nos anos 1980, tinha um fenômeno que tocava muita música italiana no rádio. Era aquela coisa do Festival de San Remo, aquelas músicas dramáticas, e isso meio que desapareceu. É uma forma de arte perdida, a música pop italiana era muito popular no Brasil.

Fernanda: De vez em quando volta, com Laura Pausini ou Eros Ramazzotti, mas não é como era antigamente.

Não é como era, mesmo. Mas isso é algo até que eu discuto muito com alguns amigos: não dá pra entender Roberto Carlos pensando só no rock, tem que passar pelo pop italiano.
John: Tem razão. E essa música é dessa leva. A gente sabe que quem tem menos idade vai ouvir como uma música nova, super bonita, mas quem é mais velho vai dar um clique, aquele “puuuutz”.

Fernanda: Aqui no Brasil, a gente teve uma época que havia muitas versões, de músicas em inglês, em francês, você até nem sabia que tal música era uma versão. Pela minha idade, eu ouvi muito rádio e por isso eu sou contaminada por essas ideias, de trazer essas músicas, de rádio, de novela. Eu gravei “Pavão Mysteriozo”, porque tocava em “Saramandaia” na TV. Eu era criancinha, mas eu gostava muito da música. Acho que são escolhas para acentuar que a gente é parte de uma geração que ouviu muito rádio e viu muita novela, viu muito programa de auditório, onde essas músicas de todos os estilos eram tudo misturado, não tinha essa coisa de elite e tal…

Não tinha bolha.
Fernanda: Não, era Titãs com Ovelha, junto com Odair José e Ultraje, tinha aquelas misturas todas!

Por que lançar as músicas em bloco e não lançar um disco-disco de uma vez só?
John: Confesso que é uma escolha meio aleatória, não tem um sentido tão pragmático assim. A banda está fazendo 30 anos, então pensamos em lançar três músicas. Essa era a ideia da primeira leva: uma música comigo cantando, bem doida, cheia de guitarras. Uma música bem Ricardo e outra bem Fernanda. Isso ia representar o Pato Fu 30 anos. Só que a gente tinha mais músicas, então decidimos lançar mais três. Não era um negócio assim de ter uma ideia de marketing maravilhosa, de lançar um número cabalístico de músicas. Só olhamos e falamos: pô, então vamos lançar nove, então.

Fernanda: Ficamos meio na dúvida de como seria legal lançar: “será que era melhor ser uma música por mês”? Por outro lado, a gente está fazendo 30 anos, e sabia que quando a gente fosse para a turnê, as pessoas iam querer mesmo é ouvir as músicas velhas, não as novas. Ao mesmo tempo, outras bandas da nossa geração estão acabando aos 30 anos, outras acabaram mais cedo que a gente… e lançar nove músicas, nesse momento, ainda mais com todo esse capricho, é para mostrar que a gente está olhando para frente. Não queremos só viver do que a gente já fez. Temos o desafio de conquistar novas gerações, de pegar as crianças que ouviram o “Música de Brinquedo” e apresentar enfim o Pato Fu “grande”. E quando a gente viu que hoje nove músicas já configuram um álbum, pronto. Afinal de contas, nessas premiações todas tem vários discos com nove músicas, oito, dez… não tem mais essa coisa de “quantas músicas um disco tem que ter?”.

John: Ainda mais porque hoje tem toda essa coisa do disco, sabe? Os artistas adoram, alguns fãs adoram, mas se você faz o CD, acaba não vendendo nada. Tem a ideia de fazer vinil, mas é super difícil. Além disso, acho que esse formato de lançar lotes de três músicas tem um pouco a ver com uma espécie de tortura que o Pato Fu sempre sofreu na hora de fazer singles. Nosso som é muito variado, nossos discos tinham som de tudo quanto era jeito. Tem disco que começa com música em japonês, aí vem uma balada de cortar os pulsos e depois tem um metal… e a gravadora sempre pedia pra gente escolher uma para virar single. É inevitável, o jeito pop de se ouvir música é achar que a banda é aquilo que toca no rádio. Não é maldade das pessoas, é natureza humana, mas a gente achava que as pessoas nunca entenderiam o que o Pato Fu é, a menos que fossem fãs. Acho que todas as bandas tem um pouco disso, mas a gente tem mais, pelo fato da produção ser muito variada. Como hoje em dia a gente não depende mais da gravadora para escolher um single que tem que tocar na rádio, decidimos lançar três músicas de uma vez mesmo.

Tem duas músicas bem marcantes nessa coleção de nove canções, que falam de temas parecidos: “A Besta” e “Silenciador”, ambas refletindo como foi viver nos últimos quatro anos no Brasil. Como vocês estão vendo o momento hoje? De um lado, a gente teve um respiro do fim de outubro para cá, mas do outro tem um monte de besteira acontecendo – e a besta está aí, acordada.
Fernanda: Quando a gente lançou “A Besta” e “Curral Mal Assombrado”, no final do ano passado, a gente não tinha certeza de nada, porque ainda podíamos estar naquele inferno, naquele lodo. Na época em que o Bolsonaro foi eleito, ninguém acreditava que ele seria eleito – e a gente acabou passando quatro anos em posição fetal, só virando uma ervilha seca. Foi muito pior do que a gente esperava. Acho que lançamos essas músicas de uma maneira corajosa. Sei que outros artistas fizeram músicas bem explícitas sobre a época que vivemos, mas também teve uma boa parte dos artistas que não quis comentar nada, que não quis se expor. Essas músicas mostram claramente de que lado a gente está. Eu, muito mais do que o Pato Fu, tenho me colocado claramente para as pessoas desde a época do impeachment da Dilma. Recebi muitas críticas, tem fã que não gosta mais de mim, mas a grande maioria, na real, se acompanha a nossa vida, já entendia que a gente não iria se omitir, sabe? Gosto dessa ideia de registrar nas músicas essa sensação que nós vivemos como cidadãos, elas marcam bem essa época e marcam uma vontade que a nossa banda tem de discutir. Não são só as questões individuais, do coração, mas também as questões coletivas. O Pato Fu fala tanto pra dentro como para fora. Estamos aqui no mundo, sabe.

Acho que o fã que largou o Pato Fu de 2016 para cá talvez não tenha ouvido o Pato Fu direito. Não ouviu “Licitação”, pelo menos.
Fernanda: Pois é, exatamente.

John: Isso é que nem o cara que vai no show do Roger Waters e fica puto.

Fernanda: É o cara que nunca traduziu nada, nem abriu o dicionário pra entender.

Depois dessas nove músicas, acabou? Quais são os planos pra seguir comemorando os 30 anos?
John: Hoje em dia, podemos lançar música a qualquer momento. Temos estúdio em casa, somos a nossa própria gravadora, então se a gente tiver uma ideia, a gente pode lançar sim. Mas não é o plano para agora. A ideia era lançar essas nove. Gravar essas músicas deu bastante trabalho. O plano agora é fazer uma turnê que comemore esses 30 anos dignamente.

Fernanda: E que traga algumas das músicas novas pro repertório…

John: Queremos fazer um negócio diferente de uma simples turnê de 30 anos, realmente criativo, que aponte pra frente. Sei lá, acho que essa é a função do Pato Fu no mundo: não fazer a mesma coisa. Além disso, tem um produto do audiovisual que a gente está incubando tem alguns anos… e agora vai finalmente sair. A gente pode falar o que é?

Fernanda: Pode falar! Nós vamos fazer uma série do “Música de Brinquedo” para a Nickelodeon. Tem duas temporadas gravadas, então são 13 episódios do “Música de Brinquedo”. Nós pegamos cada música e inserimos dentro de uma historinha que acontece num estúdio monstro. O roadie é monstro, o empresário é monstro, a faxineira é monstra, só a gente da banda que é humano. Ainda não saíram cenas oficiais, o John está editando loucamente o design de som agora…

John: Nós fizemos os roteiros, eu estou agora cuidando do design de som. Ter um programa assim é uma espécie de plano maligno desde que a banda começou. Todo mundo é do Pato Fu muito fã de “The Muppet Show”. Eu assistia quando era pequeno e achava a coisa mais incrível do mundo, um humor meio adulto combinado com os bonecos, aquela pegada musical. Aí fizemos o nosso próprio “Muppet Show”.

Fernanda: E a direção é do Fernando Gomes, sabe, do “Cocoricó”?

Que coisa incrível! Sou fã do Fernando.
Fernanda: Os roteiros são dele e do John e ele faz a direção. Ele veio para cá e ficou dois meses aqui. No começo de 2023, nós gravamos a segunda temporada. A primeira foi feita um ano antes da pandemia, mas a gente estava naquele momento que a Ancine ficou parada. Ficamos esperando o carimbo andar, mas agora finalmente as coisas estão andando. Além disso, tem o áudio dos shows com a Orquestra Ouro Preto, que a gente fez aqui no Palácio das Artes de Belo Horizonte. É algo que deve sair mais para o fim do ano nas plataformas, são aquelas músicas que a gente fez com a Orquestra, com uma super qualidade. Tem muita coisa pra sair a partir do que a gente fez aqui nas nossas oficinas.

John: Corte e costura!

Fernanda: E quem acompanha o Pato Fu vai achar legal de ver o tanto que a banda está fazendo de coisa nova esse ano.

Alguma chance de um show só com o John cantando?
Fernanda: Ahaha!

John: Por que você quer uma coisa dessas? Olha a cantora que tem aqui do meu lado, cara! (risos)

Fernanda: Pior que a gente já pensou de um dia pegar um teatro e tocar a semana toda, cada dia um disco.

Seria genial!
John: Vocês são loucos, isso dá um trabalho desgraçado. Fizemos isso há uns 10 anos com o “Gol de Quem?”, no Sesc Belenzinho. É massa demais, mas dá um trabalho desgraçado. Na época desse show do “Gol de Quem?”, pensamos em fazer em outras capitais.

Fernanda: Mas não fez, no fim a gente só fez lá.

John: Não rola, porque assim… fazer um show de um disco é muito legal porque os fãs ficam loucos, mas não é tanta gente assim [que veria o show] para você sair fazendo em Curitiba, Porto Alegre… é super difícil.

Fernanda: Mas o John tem um fã-clube que sempre faz bastante barulho. A gente sempre escuta: “pô, mas é a Fernanda cantando de novo?”.

John: Meus fãs são a minoria barulhenta!

Fernanda: Quando a gente fez “A Besta” e o “Curral”, já tinha esse conteúdo político desse tempo difícil. Aí o John apareceu com “Silenciador”. E aí o John mostrou a música pra gente, e ele mesmo disse: “acho que tá muito pesada para eu cantar”. E aí eu pedi para cantar a música. Acho que a grande força dessa música é que ela é contundente, mas sou eu cantando. Eu dou uma suavizada para a pessoa começar a ouvir, mas quando ela vê, já pegou a mensagem e agora é tarde. É uma coisa que a gente faz, né? A gente faz uma música que é fofinha como uma bolinha de algodão. Só que no meio da bolinha de algodão sai um monte de espinho. Aí a pessoa chora, sangra, mas depois acaba gostando.

É a maçã envenenada.
Fernanda: É bem isso. Acho que “Silenciador” é uma música que se eu não topasse cantar, talvez ela não entrasse. Mas eu pedi pra cantar, porque acho que é uma música importante. É como você falou: hoje parece que a gente está respirando aliviado mas não está não, está cheio de sementinha do mal por aí. O “Silenciador” pega em cheio justamente essa turma, a turma da bala e da Bíblia.

Vamos falar um pouco de assuntos mais abertos. O Pato Fu chegou aos 30 anos, enquanto outras bandas da geração não chegaram – o caso do Skank está aí e é evidente. Até mesmo bandas de outras gerações, como é o caso do Moons, que você está usando a camiseta, que decidiu acabar ontem [no dia anterior à entrevista]…
John: Eles acabaram? Sério?

Eles decidiram entrar em hiato.
Fernanda: Mas eles estão sempre fazendo coisas juntos, né?

Sim, mas a banda tava num momento muito legal depois do disco do ano passado. Enfim… mas o que eu ia perguntar é… qual é o segredo do Pato Fu durar tanto tempo? É por que vocês são um casal?
John: A resposta também não é muito racional. É uma fórmula que não dá pra ensinar as pessoas, não dá pra aplicar a ninguém. O fato da gente ser casado é parte da equação. Para algumas bandas, isso é fatal: se o casal briga, já era, é muito difícil continuar ou um dos dois sai. Cada banda tem a sua equação. O fato da gente ser um casal e a gente se dar bem, o fato da gente se completar musicalmente, a banda ter feito sucesso no início da carreira. Tudo isso são fatores. A gente é uma banda nerd, tudo que a gente faz, a gente faz com cuidado. Se a gente fosse fazer uma foto, a foto tinha que ser muito legal. Se fosse lançar um disco, não ia ser qualquer disco. A gente cuida muito do ISO 9000, qualidade total.

Selo Fu de qualidade!
John: Nós tínhamos esse negócio desde o começo e ainda temos. Eu estou mixando aqui essa série e cuidando de cada efeitinho, cada coisa. Além disso, a gente cuidou bastante do relacionamento com os outros membros da banda também.

Fernanda: A gente tem o mesmo empresário há 28 anos, que também é uma coisa rara. Não dá pra gente falar que a gente sabe como é se fosse de outro jeito, porque a gente vive assim há tanto tempo.

John: Mas acho que tem a ver também com sermos muito fiéis com o que acreditamos musicalmente, sem fazer grandes apostas. Não decidimos fazer algo só porque é o que está fazendo sucesso. Acho que tem bandas que fazem isso e dá certo, bandas que fazem coisas legais. Nós não temos muito esse talento de surfar a onda que está aí. Tentamos criar a nossa onda, como o burrinho com a cenoura na frente que vai se autoalimentando. Nós colocamos o motor de popa num balde e tentamos fazer nossa própria onda. E isso é legal porque quando as coisas dão certo ou não, é com a gente mesmo. Fico imaginando: ali no começo de carreira, teve um momento que tomamos a decisão de não fazer playback em TV. Fizemos uma ou duas vezes e achamos muito ruim. Tem gente que faz playback com a maior alegria, com pureza de alma mesmo. Mas todas as vezes em que a gente fez, eu olhava depois para a minha cara [na TV] e estava óbvio que eu não estava feliz. Era algo que não vendia a banda, e porque eu ficava azedo, não aumentava o público. De uma certa maneira, pode ser uma escolha que atrapalhou a quantidade imediata de discos que a gente vendeu, mas também preservou a nossa energia, fazendo a gente durar mais tempo. No fim das contas, nós tentamos ser fiéis ao que a gente acredita, seja musicalmente, esteticamente, socialmente…

Fernanda: E nesses 30 anos, só 10 anos foram dentro de uma gravadora. Em 20 anos da nossa vida, somos uma banda independente, que se suporta. Nós é que escolhemos para onde vai nosso investimento. Quando a gente erra, a gente é que escolhe. E quando a gente ganha um Disco de Ouro como independentes…

John: (interrompe) Ganhamos um Grammy Latino!

Fernanda: Tudo o que acontece é por conta das nossas escolhas, lidando com todas as dificuldades. A época de gravadora foi uma época maravilhosa: o trabalho com o Dudu, por exemplo, só foi possível na época por conta da gravadora. Ele era um superprodutor, tinha cachê caro, mas a gravadora bancou. Foi algo muito positivo na nossa história, tanto que chamamos ele de novo para trabalhar agora. Ter estado numa gravadora foi maravilhoso: aprendemos muito, montamos nosso estúdio, aprendemos a produzir música. Mas acho que dois terços dessa vida foram de escolhas completamente nossas, lidando com erros e acertos.

John: O próprio “Música de Brinquedo”, sabe? Foi um acerto muito grande, mas imagina propor isso para uma gravadora. Olhando agora, parece óbvio que ia ser um sucesso, mas não é.

Claro, criança vende, criança se encanta, parece muito lógico…
John: É isso: tocar com instrumento de brinquedo, fazer um monte de cover? Os caras iam achar que a gente estava maluco, que queríamos acabar com a nossa carreira. Era a nossa chance de despontar para o anonimato, mas funcionou super bem. É o tipo de escolha que a gente só fez por causa da independência.

É engraçado vocês falarem disso, porque o Pato Fu é uma banda muito interessante. Eu sou um fã de Pato Fu que descobriu a banda por causa das novelas, mas ao mesmo tempo, depois de mergulhar na discografia, me causa até um estranhamento o quanto o Pato Fu é uma banda popular. O Pato Fu é as duas coisas: uma banda que toca na novela, mas que também tem muita música maluca. Acho que é muito parte do espírito de uma época da indústria fonográfica e do Brasil. Se o Pato Fu tivesse surgido dez anos depois, a banda teria o mesmo efeito?
John: Acho que não teria dado certo. Essa coisa da banda fazer sucesso é um troço tão raro e depende de tantos microfatores, que acho que nenhuma banda faria sucesso [se tivesse surgido] 10 anos depois. Não é so o Pato Fu não. A gente aconteceu no início dos anos 1990…

Fernanda: E o John já tinha dez anos de carreira antes disso.

John: Esses dez primeiros anos de carreira foram fundamentais porque eu tive experiências. Nos anos 1990, em BH havia uma cena com um monte de bandinha aparecendo. Tinha muita gente cantando em inglês, as bandas eram muito novas, os meninos eram muito novinhos. Com a minha experiência, quando íamos fazer um show, um festivalzinho junto com outras bandas, a gente passava por cima de todo mundo. Eu já sabia montar um show: levava técnico de som, um cara de luz, e todo mundo só naquele espírito “vamos tocar”. Era massa pra caralho, está valendo, mas a gente se dava bem, porque tinha luz, a gente tinha uma luz toda doida, que fica tudo acelerado. O nosso técnico de luz é o mesmo até hoje.

Fernanda: Com duas lâmpadas, uma sirene e uma strobo, ele fazia de tudo.

John: Isso aconteceu naquela época, naquele momentinho dos anos 1990, que o rock dos anos 1990 estava vindo de volta depois de uma baixa no fim dos anos 1980. Entre 1989 e 1992, veio lambada…

Veio o governo Collor.
Fernanda: Veio sertanejo.

John: O que ficou de rock era só o que estava no mainstream mesmo, tipo Paralamas, Barão, Titãs, as bandas que estavam estabelecidas. As bandas mais independentes? Foi todo mundo pro saco, inclusive o Sexo Explícito, a minha banda dos anos 1980. Então teve aquele momentinho, com aquele som que nós fazíamos na época… cara, se o Pato Fu aparecesse com aquele som 10 anos depois, não ia funcionar. E teve vários outros fatores, imponderáveis, que vão acontecendo. O surgimento da MTV no início dos anos 1990, por exemplo. A MTV foi fundamental pra gente.

Fernanda: A MTV foi a nossa rádio, foi a rádio do manguebeat, foi a rádio do pessoal do Rio Grande do Sul.

John: O Pato Fu não tocou muito bem em rádio até a fase do Dudu Marote. Ok, “Sobre o Tempo” até tocou, mas o rádio era difícil para caramba. Era uma coisa muito difícil: você que tinha que convencer um sujeito, um programador, que ele tinha que ouvir e tocar a sua música. Era muito difícil, mas a MTV era incrível. A MTV brasileira era boa demais para ser verdade.

Fernanda: Além disso, teve o lance que as gravadoras deram o clique de que elas tinham que ter uma banda nova. Isso aconteceu principalmente quando apareceu Chico Science e Nação Zumbi, o Skank, o Raimundos. A Sony tinha que ter uma banda nova, a Warner tinha que ter uma banda nova, e aí a BMG tinha o selo Plug, que a gente fez parte, então vários botõezinhos foram ligados. Dez anos depois, talvez não houvesse isso do nosso lado.

E aí isso culmina com as novelas, que é um ponto importante.
John: Nessa época, as gravadoras faziam uma força muito grande para ver se emplacavam as músicas das bandas nas novelas, e especialmente na abertura da novela. Toda vez que entrava uma música nossa na novela, era um gol da gravadora – e nosso também. Hoje em dia ainda tem isso, mas é um mais disperso. Antigamente, a música entrava na novela e todo mundo via, todo mundo ouvia. Até na MTV a gente tinha essa sensação. Se lançasse um clipe novo, todo mundo falava que tinha visto. Hoje, a minha filha Nina, que tem 19 anos, não vê televisão. Não é nem novela, é televisão como um todo. Para uma certa quantidade de pessoas, isso significa que não adianta colocar a música na novela.

Tem que colocar no TikTok.
John: É, totalmente.

Queria falar um pouco dos produtores que caminharam com vocês ao longo desses 30 anos – o Carlos Savalla (“Gol de Quem?”), o André Abujamra (“Tem Mas Acabou”) e o Dudu Marote (“Televisão de Cachorro”, “Isopor” e “Ruído Rosa”, este último já em co-produção com o John). Como é que cada um deles contribuiu (ou contribuiu pelo negativo) para formatar o que o Pato Fu vai fazer como banda independente depois?
John: Vamos lá. Tem que falar do nosso primeiro “produtor”, que foi o Haroldo Ferreti, do Skank. Ele não foi exatamente produtor, ele era o dono do estúdio, aquele sujeito que está meio ali. Nós gravamos o “Rotomusic de Liquidificapum”, nosso primeiro disco, no estúdio dele. A história mais legal é que o disco custou US$ 500.

Foi mais barato que o “Bleach”, do Nirvana.
Fernanda: Foram 10 sessões de US$ 50, a gente pagava religiosamente.

John: E depois ele deu mais uma sessão de graça, para acabar uns últimos detalhes. No fim das contas, foram 11 sessões por US$ 500.

E era em dólar porque o cruzeiro era uma zona, certo?
Fernanda: Exatamente.

John: O preço das coisas era “incruzeirável”, se é que existe essa palavra. Já no segundo disco foi o Savalla, que foi nosso primeiro produtor profissional. Ele tinha uma experiência com os Paralamas, tinha até uma experiência com os Mutantes, e foi demais trabalhar com ele. O Savalla foi uma escola pra gente, não só de como funciona um estúdio, de como é que se grava a sequência de coisas, mas até da experiência dele como gravadora. Ele ensinou para nós como funciona uma gravadora, a gente absorvia tudo atentamente. “Ó, gravadora está gravando esse monte de banda pequena mas quem paga isso tudo aqui é o Amado Batista, viu?”. Era o Amado Batista que pagava o Pato Fu, o Professor Antena, não sei mais quem… o Amado Batista dava tanta grana para a gravadora que até sobra pra gravar esse monte de banda. “Se alguma dessas bandas fizer algum sucesso, vocês vão continuar na gravadora.” Era esse tipo de dica, muito preciosa, que ele dava pra gente. Temos uma relação tão legal com o Savalla que ele foi padrinho do nosso casamento, ele é nosso amigo até hoje, de vez em quando trocamos umas figurinhas.

Fernanda: Antes de gravar o disco, nós fomos pro estúdio para fazer uma demo com o Savalla. No repertório, tinha “Sobre o Tempo”, “Mamãe Ama É o Meu Revólver”, tinha mais um monte de música, mas ele sempre falava: “Ó, gente, ‘Sobre o Tempo’, vamos fazer essa música porque a gravadora vai gostar e eles vão deixar a gente trabalhar.”

John: “Se vocês estão numa gravadora não precisa fazer 12 músicas radiofônicas, eles sabem o que é o Pato Fu…”. Acho que o Pato Fu tinha uma sorte, também, de naturalmente gostar de coisa pop, sem ferir o nosso gosto. Quer dizer: a gente gosta de coisa pop e de coisa esquisita, de coisa pesada, de coisa eletrônica e de coisa acústica. A gente gosta de um monte de coisa e detesta uma porrada de coisa também. E o fato da gente ter uma verve pop, que tem muito a ver com a Fernanda, é uma sorte. Temos esse lado que serve pras rádios e para a gravadora, então não tinha nenhum problema pra gente fazer o pop. A não ser aquela tortura interna que já falei, o fato de que as pessoas não entendem direito o que é o Pato Fu. Mas tudo bem, está tocando no rádio, está vendendo disco, seguimos a nossa carreira e quem for fã vai entender.

Vocês já levaram isso pra terapia?
John: Eu não faço terapia… (risos). Eu vou enlouquecer meu terapeuta!

Fernanda: Engraçado, quando eu fiz terapia eu só falava de outras coisas, não profissionais (risos).

John: Mas isso não é um trauma, é uma constatação.

Fernanda: E é uma aceitação, a gente sabe que a gente é assim. Convivemos com isso há bastante tempo, sem nada de muito mais forte pra nossa vida.

Depois do Carlos Savalla, veio o André Abujamra.
Fernanda: E o Abujamra veio por quê? Porque a gente começou a frequentar as festas da MTV naquela época – e o disco que eu mais ouvia era o primeiro disco do Karnak. Para você ter uma ideia, descolei o telefone dele só pra ligar: “Oi, André, eu sou a Fernanda, do Pato Fu, e o disco do Karnak é o melhor disco brasileiro que eu ouvi nos últimos tempos…”. Ele ficou super feliz, ficamos amigos, fizemos shows juntos em Ouro Preto, toda vez que estávamos em São Paulo eles apareciam. Queríamos muito que ele produzisse um disco nosso, porque a gente achava que éramos (e somos até hoje!) irmãos de pensamento livre em relação à música, de fazer projetos diferentes, de interagir, de chamar mais gente para participar. Ele apareceu assim. O problema é que a gente mais se divertia do que trabalhava no estúdio. Era tanto caso, tanta amizade, que a parte mais legal era ir almoçar e voltar pro estúdio contando os casos, coisa bem de banda irmã. Ele é super amigo nosso até hoje. E o John aprendeu bastante com o André de usar programação, os primeiros computadores.

John: É, o André já tinha esse negócio e depois eu peguei a manha, também peguei isso com Dudu. Mas o André é um cara incrível. Acho que a coisa mais legal que ficou dessa produção foi a amizade. Outra coisa que a gente fez com o Karnak que foi muito importante foi o MTV RockGol. Nós tomamos as maiores goleadas de todos os tempos do desporto nacional. O Abu é foda. Eu também fiz um disco solo com o Abujamra, o “ABCYÇWÖK”. É um disco que levou 15 anos para ficar pronto. Na verdade, levou 15 anos e uma semana.

Como é que é?
John: É porque a gente fez metade do disco há uns 15 anos. Aí, no meio da pandemia, eu e ele lembramos daquele disco, e em uma semana fizemos a outra metade toda. O disco que levou 15 anos e uma semana.

Bom demais! E aí tem o Dudu.
Fernanda: O Dudu chega em 1998, e aí a gente trabalha junto de 1998 a 2001. Foi um choque. Fomos pra São Paulo gravar, com calma. O trabalho com o Savalla tinha sido no Rio, numa época de gravação muito corrida, com pouquíssimo tempo e orçamento. Já com o Dudu não, gravamos em estúdios como o Mega, o Bebop, o próprio estúdio dele, que era um baita estúdio. Ele tinha um equipamento incrível e uma finalização na produção muito diferente do que a gente já tinha feito. Ele tinha um esmero na timbragem, na busca de achar o take perfeito da voz. Era um cara que exigia muito da gente. Se você falava “pô, acho que eu não sei cantar”, ele ia lá e fazia musculação vocal com você.

John: Dudu me ensinou, como produtor, esse esmero nerd de produção, de buscar o melhor som, de saber achar que o som ainda não tá pronto e tem que torcer um pouco mais. É só você que vai fazer isso, as pessoas não vão saber identificar, mas quando você chegar lá as pessoas vão achar que o som está foda. O Dudu tem esse esmero brutal. Ele me ensinou isso e isso não sai mais de mim. Meu jeito de produzir é totalmente assim.

Fernanda: Ele também tinha uma coisa muito forte com seleção de repertório, batia muito na tecla de que tinha música faltando [no disco]. “Me mostra mais”, “essa música que você fez ainda não está definida”, “faz outra coisa, vai puxando outra coisa”. Acho que essa insatisfação que ele tinha era sempre para tirar o melhor da gente, bem professor exigente. Aprendemos bastante, tanto que nas últimas produções, quando chegava a parte de repertório, nós chegávamos, mostramos e ele adorava de primeira, é o resultado do aprendizado. O “Ruído Rosa” já foi um disco de produção bem dividida entre ele e o John, metade das bases a gente já tinha feito no nosso estúdio, nessa casa que a gente está até hoje. E aí parte do disco foi finalizada em São Paulo, e a outra em Londres, no Strongroom, um sonho que a gente tinha. E faltou falar do Beto Villares, que gravou o “MTV Ao Vivo 10 Anos” com a gente, ele co-produziu com o John.

É verdade.
John: O Beto é demais.

Fernanda: É um super amigo nosso, todos são super amigos nossos. Acho que nessa carreira não tivemos nenhum super atrito, não tem ninguém que era amigo e agora não é mais.

John: O Beto teve a função de controlar a banda no lance do ao vivo. Gravar ao vivo não é muito a nossa especialidade, não somos uma banda de jam session. Não é o jeito que a gente acha um arranjo. Fizemos isso um pouco no “Tem Mas Acabou”, porque era o método do André, que ele usa com o Karnak. Mas a gente não faz jam session: eu faço umas bases e todo mundo dá palpite na frente da tela, e aí vamos gravando. Fazer um disco ao vivo é outra coisa, tinha que ficar todo mundo tocando junto, e o Beto foi demais nesse disco, controlando a gente. Além disso, tinha dois convidados nesse disco, o Nico [Nicolaiewsky] e o Hique [Gomez] do Tangos e Tragédias, e a interação deles com o Beto foi realmente demais, os dois também viraram amigos para a vida. A gente só vai fazendo amigos, os caras são muito bons.

Fernanda: E o Beto veio também porque nesse nosso disco ao vivo, mais uma vez, o Pato Fu fez uma ideia que a gravadora não acha que é normal. Em discos ao vivo, a gravadora normalmente quer registrar a música do jeito que ela é, bem conhecida, para todo mundo cantar junto com uma multidão. Já nós resolvemos fazer um show num lugar para 150 pessoas, mudando todos os arranjos das músicas. As músicas todas tem arranjos diferentes, versões novas, até mesmo em músicas bem conhecidas, como “Canção Pra Você Viver Mais”, “Perdendo Dentes”, “Sobre o Tempo”. O Beto ajudou muito nessa reconstrução das canções, dos arranjos, junto com o John. Nunca vamos pelo caminho óbvio, o que faz com que a gente tenha que chamar as pessoas que não são óbvias para ajudar a gente.

John, tem uma pergunta específica pra você. Uma das músicas que eu mais gosto do Pato Fu é “Estudar Pra Quê”, que já falava que “quem tem computador nem precisa de estudo”. Você vai atualizar essa letra para o ChatGPT?
John: Putz, cara… eu acho que ela está completamente atualizada, cara. “Estudar Pra Quê” é uma música muito massa. Ela era a abertura dos shows na turnê do “Toda Cura Para Todo Mal”, era legal pra caralho. Aquele barulho de guitarra, era bem legal. Não sei se a gente vai atualizar, mas é uma boa música em se pensar para colocar numa turnê de 30 anos… apesar dela ser muito obscura, né? Engraçado, quando ela saiu, teve gente que chegou a falar que a gente estava falando mal da educação!

Fernanda: É, eu brincava que o John tava errado mesmo.

John: Não tem como argumentar com uma pessoa assim. A pessoa é a favor do estudo, né?

É tipo quem diz que é contra a corrupção.
Fernanda: Você é contra ou a favor da educação?

John: “Pô, você é contra o estudo das criancinhas?” Não, eu sou contra a falta de interpretação de texto.

Fernanda: Essa pergunta está boa de ser respondida pelo Flávio Dino, que é o nosso herói. É muito bom. Ele tá conseguindo lidar com esse povo bruto com muita ironia e muita inteligência.

Lá atrás, a gente fez uma divisão da carreira do Pato Fu em três décadas. Ao longo desse tempo, a Fernanda também se lançou em carreira solo. Confesso que eu tive um choque quando fui ouvir seu trabalho solo, porque o Pato Fu era minha banda doidinha do coração e o trabalho solo da Fernanda já tinha uma pegada mais classuda, elegante. Queria saber um pouco da Fernanda como a sua carreira solo influencia e, ao mesmo tempo, se diferencia do Pato Fu?
Fernanda: Minha carreira solo, que já tem 15 anos, é algo muito raro. Não só no Brasil, mas no mundo. Durante todo esse tempo, o Pato Fu esteve tocando e produzindo. E eu me impus vários limites – não foi ninguém da banda ou empresário que pediu, mas eu me impus um limite de separar o Pato Fu da Fernanda. No meu show solo atual, eu só toco uma música do Pato Fu, “Nada Pra Mim”, que a gente já não toca há muito tempo. Eu busquei trilhar um caminho com composições que eu fizesse sem o John. Fiz música com a Pitty, com o Climério, com a Marina. Acho que minha carreira solo tem a ver com ética: se eu fizesse carreira solo cantando as músicas da Nara, mas no meio do show colocasse “Sobre o Tempo” ou “Perdendo Dentes”, fatalmente a gente ia discutir. Não foi o que aconteceu: todos entenderam muito bem que eu estava num momento diferente, que eu queria gravar um repertório precioso para mim e que não tinha esse espaço no Pato Fu. Eu queria que as pessoas me vissem não só como uma vocalista de banda, mas como uma cantora – e foi o que aconteceu a partir desse disco. A partir do disco da Nara, [“Onde Brilhem Os Olhos Seus”, de 2007], eu recebi convites para gravar com outros artistas. É quase como se, antes, as pessoas achassem que para eu estar num lugar, seria preciso chamar toda a banda. E quando eu saí em carreira solo, isso ampliou o público que eu poderia ter. Foi bom para a banda: de repente, muita gente que não se deu a oportunidade de ouvir o Pato Fu, acabou me ouvindo solo e aí resolveu ouvir o Pato Fu, entendendo o que não estavam gostando antes. Sinto que [minha carreira solo] tem um público mais velho que veio do projeto da Nara, bem como um público novinho que descobriu Nara Leão ou gosta de bossa nova. Mas também tem um público intermediário que não gostava muito do Pato Fu, mas foi ouvir por conta da carreira solo e descobriu que gosta sim. Foi uma carreira solo que só agregou plateia, tanto pra banda como pra mim, e me possibilitou essa expressão. Sinto também que fui mais levada a sério depois da carreira solo. Tanto que ninguém fica me pedindo para parar de fazer carreira solo, não tem isso na banda. Ao mesmo tempo, toda vez que eu faço show com o Pato Fu, com os músicos que são, com essa história que a gente tem, é muito forte. Fico tão feliz quando estamos todos juntos no mesmo camarim. Nós envelhecemos juntos, não teve um momento em que cada um ficou na sua. A gente vai na pizzaria do Ricardo comer pizza com ele, não é [uma amizade] contratual. É uma relação super viva, que nós queremos viver – e por isso estamos lançando músicas novas. Mas é isso, tem esses limites que são invisíveis, limites éticos, que levam a uma compreensão maior. Os próprios jornalistas veem isso: Fernanda é um show, Pato Fu é outro show. Não existe oportunismo, eu não me sinto uma cantora em carreira solo querendo ganhar mais grana, é algo conceitual mesmo.

John tá com cara de pensativo.
John: Eu tô sempre com cara de pensativo! (risos). Mas é verdade: a carreira solo deixou a Fernanda uma figura mais poderosa até para o próprio Pato Fu. É verdade: ela passou a ser levada mais a sério quando interpretou coisas consagradas de modo bem-sucedido. Ela faz um negócio e as pessoas dão valor. Quando ela volta pro Pato Fu, o Pato Fu tá maior. E essa coisa dos limites éticos, cara, é muito simples: se ela começar a tocar as coisas do Pato Fu no show solo, as pessoas ficam plenas de Pato Fu ao ver aquele show – porque ela tocaria os hits, as músicas de sucesso. E iria atrapalhar a agenda da banda. O que ela faz é simples, é óbvio, mas é preciso enxergar isso.

Outra coisa que sempre marcou a carreira do Pato Fu são as releituras, as regravações. Muita gente descobriu bandas como Graforréia Xilarmônica ou Mutantes por causa de vocês. Mas quero saber: o que faltou gravar?
John: Putz, cara, nós gravamos “Io Che Amo Solo Te”, cara! Não falta mais nada! Essa fechou o barraco, cara.

Fernanda: A gente deu muita vazão a isso no “Música de Brinquedo”. “Eu”, “Ando Meio Desligado”, “Sítio do Picapau Amarelo”, “Nunca Diga”, também da Graforréia, todas foram escolhas bem importantes. No caso da Graforréia, era uma banda contemporânea que a gente tinha uma real admiração. A gente achava que as pessoas precisavam conhecer mais – e teve muita gente que ouviu essas músicas e não sabia que era deles. Fez o caminho inverso, acho que isso é maravilhoso. Quando chega o “Música de Brinquedo”, em que a gente precisa recorrer a grandes sucessos de todos os tempos, aí abriu a porteira. Mas a gente respeitou alguns parâmetros: a música tinha de ter um arranjo conhecido, como “Frevo Mulher” ou “I Saw You Saying”. O “Mùsica de Brinquedo” deu vazão a todas essas músicas que a gente queria gravar, como “Live and Let Die”, ou “Severina Xique-Xique”, “Rock and Roll Lullaby”, são todas músicas que se a gente não tivesse o “Brinquedo”, elas estariam aí flutuando e a gente ia pegar. Ou eu ia pegar pro meu show, da mesma forma que eu gravei Reginaldo Rossi na carreira solo. O “Música de Brinquedo” deu essa apaziguada na nossa vontade, e acho que depois do “Io Che Amo Solo Te” não falta mais nada, mesmo.

John: Mas cara, tem uma que faltou: a gente gravou pro “Música de Brinquedo” uma música do Led Zeppelin que não entrou. Como chama aquela música: “ah, ah ah ah…”

É “Dy’er Maker”?
John: Isso! E a gente gravou, mas não tivemos autorização para publicar.

O Led Zeppelin é conhecido por ser chato com autorização.
John: O Led e o Jimi Hendrix.

Fernanda: E o Roberto Carlos também, Roberto Carlos quase não me deixou gravar o “Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos” no projeto da Nara. Mas aí o Nelson Motta interviu.

John: Roberto Carlos tem umas curvas, você chega pelas curvas de Santos, alguém que conhece o Roberto… o problema é que ninguém conhece o Led, né?

Fernanda: É. E a gente está brincando com o “Io Che Amo Solo Te”, mas fatalmente vai ter outra música no futuro que a gente vai querer regravar.

John: São coisas que vêm da nossa memória afetiva mesmo. É muito raro a gente fazer uma versão de uma música de sucesso recente. “Eu Sei” tinha 10 anos quando a gente gravou. E a Graforréia, que foi recente, não era um sucesso quando a gente gravou.

Fernanda: Isso pode acontecer: conhecermos uma banda ou artista novo e colocar no nosso disco.

John: Mas no “Música de Brinquedo” a gente não toca músicas com menos de 15, 20 anos. Tem de ser músicas que os pais das crianças ouviram, tem que ter essa pegada um pouco nostálgica do arranjo feito com os brinquedos, das pessoas reconhecerem.

O “Música de Brinquedo” não é um projeto só para crianças, como vocês acabaram de falar, mas ele atinge em cheio essa audiência. Como é ter criança como público?
John: Cara, eu adoro fazer o show do Música de Brinquedo. É legal pra caramba. Os instrumentos são difíceis de tocar, são meio desafinados, a gente erra pra caramba, mas não tem importância, por causa do tipo de plateia. As pessoas sabem que a gente está tocando uns negócios pequenos, que o dedo nem cabe direito na guitarra ou nos tecladinhos, que sai um monte de nota torta, mas o conjunto de um monte de gente tocando aquilo tudo ao mesmo tempo vira uma ópera bufa que funciona. E as crianças são muito engraçadas, é aquele negócio do “começa! começa!”. É muito bom, é uma espontaneidade que desaparece em algum momento da nossa vida, mas no “Música de Brinquedo” ela está sempre ali. Essa espontaneidade é renovada sempre, já que as pessoas continuam produzindo crianças, então os shows são sempre muito frescos. Parece que é um monte de gente assistindo a um show pela primeira vez, todos muito animados, e os pais também muito animados. A coisa mais louca do “Música de Brinquedo” é que mais da metade da plateia vai ao show sem criança, os caras vão para ver a encrenca. Tem muito músico que vai ver para sacar qual é. É legal demais, é um show que a gente sai com um sorriso no rosto e a plateia sai também, é sempre um momento muito feliz. Ele é difícil tecnicamente, a passagem de som é gigante, insuportável, porque os instrumentos são difíceis de microfonar, mas é sempre muito legal.

Fernanda: Além disso, tem a coisa do Giramundo estar com a gente no palco, e eles são bem ácidos. Não são monstros que falam coisas fofinhas, eles falam umas coisas que a gente às vezes tem que lembrar que tem criança na plateia. É bem legal. Apesar de ter setlist, o roteiro e as falas são imprevisíveis, não dá pra saber como o Ulisses e a Bia vão reagir. Está todo mundo fazendo ao vivo, então eles mandam coisas da cabeça deles e a gente tem que responder. E as crianças comentam coisas no intervalo das canções. No “Música de Brinquedo 1”, eu usava um vestido azul, era uma coisa meio fadinha, mas no “Música de Brinquedo 2”, eu usava um fraque, cartola e gravata, com cabelo mais curto. No primeiro show, acaba a primeira música e aí você só ouve uma vozinha: “mãe, ela não era menina?”. (risos). Eu estava com uma roupa “de homem”, então a criança comenta mesmo, e aí cai todo mundo na risada. É claro que eu vou comentar, também, e eu falei que era menina, mas que podia me vestir do jeito que eu quiser. Gravata não é só roupa de menino. Até essas falas das crianças geram reflexão, temos que estar preparados para responder a elas, não pode deixar no vácuo. Se a criança traz um cartaz, você tem que dar alguma coisa de volta, porque pode ser o primeiro show daquela pessoinha pequenininha. A gente aprende muito a lidar com reações inesperadas.

John: É uma frase que a gente ouve direto no camarim: “pô, esse é o primeiro show do meu filho”. É demais.

Nesses 30 anos, tem alguma coisa que vocês se arrependem de ter feito como Pato Fu? Ou é uma vibe meio Edith Piaf, “non je ne regrette de rien”?
John: Cara, acho que a coisa mais mal sucedida que a gente fez foi o tema das Olimpíadas de 2000 (nota do editor: presente em uma edição especial do álbum “Isopor”).

Pô, eu adoro essa música!
John: Pô, mas a gente não ganhou nenhuma medalha de ouro naquela Olimpíada e eu tenho certeza que a culpa foi nossa.

Fernanda: Eu adoro a música também. A culpa foi dos atletas lá, cara.

John: Não é muito a nossa cara, né? Imagina, o Pato Fu fazer uma música de Olimpíada. Olha para a minha cara, sabe? Mas a história é que tem uma galera da Globo, da parte de Esportes, que adora a gente. Eles usam muito o Pato Fu como trilha no “Esporte Espetacular”, às vezes tocam umas coisas obscuras do Pato Fu. E de vez em quando eles chamavam a gente para fazer umas coisas, sempre eram uns convites legais. E aí eles chamaram a gente para fazer esse tema. Eu achei esquisito…

Fernanda: Eu gostei!

John: É… é legal, mas é difícil. Pô, você precisa ser ufanista, fazer um tema do esporte olímpico, você tem que evocar um clima que não é a nossa cara.

Vou dizer que eu ouvi essa música ali por setembro de 2022 e ela bateu de um jeito muito esquisito. Mas eu continuo gostando!
John: Pô, “vamos lá, ver o Brasil brilhar”. É um negócio assim, né? Você recebe uma missão, até pode falar não, mas a outra alternativa é fazer o melhor que você consegue. É difícil fazer isso sem ser trilheiro ao receber uma missão dessas. Agora, é um negócio que tem a assinatura do Pato Fu, seria uma cilada dizer não. Mas aí a gente lembrou do New Order, que fez uma trilha para a Copa do Mundo e eu lembro de ter achado legal.

Fernanda: Eu fiquei convencendo os meninos, “os caras do Esporte da Globo são super legais, a gente tem que levar em consideração essas coisas”. Tem tanta gente legal que gosta da gente e eles tão tentando inserir a gente ainda mais no negócio, pô, vamos fazer. E eu gosto muito da música.

John: Você vê que a música é meio New Order, a gente pegou essa inspiração. Mas resultado? Nenhuma medalha de ouro! (risos). Desculpa, atletas, a culpa é nossa!

Se a gente fosse fazer de novo a cápsula da Voyager para mandar músicas para o espaço, quais seriam as cinco músicas do Pato Fu que vocês mandariam?
John: Putz…

Fernanda: Se fosse cinco discos era mais fácil. Acho que eu mandaria uma do “Rotomusic”.

John: Eu mandaria a própria “Rotomusic de Liquidificapum”, porque ela é o começo improvável de tudo. Apesar daquilo, a gente fez sucesso.

Fernanda: Eu mandaria “Sobre o Tempo”. “Eu”.

John: “Canção Pra Você Viver Mais”

Fernanda: “Canção”. E eu mandaria uma do “Música de Brinquedo”, porque acho que um marciano ia ficar assim “wow”, de olho arregalado.

John: Aí a gente vai ter o mesmo trauma que a gente tá falando o tempo todo, de “que porra é essa?”. É a mesma banda?

Fernanda: Do “Música de Brinquedo”, eu mandaria o “Frevo Mulher”, porque eles iam passar a música no Google Tradutor e não iam entender nada da letra do mesmo jeito. Nem a gente entende.

John: Acho que tá bom assim.

Pra gente fechar, como é que zune um novo sedã? Que raios de barulho é esse?
John: Você sabe o que é um sedã, né?

Sei.
John: E sabe o que é zunir, assim, quando o carro passa pela rua e faz “uooon”. É isso. É o efeito doppler!

Fernanda: É efeito doppler e bem maciozinho, porque o carro é novo, não está batendo o motor.

John: A sua vida vai passar um dia assim, macia e rápida, como um carro novo.

É assim que passou até agora?
John: Ué, cara, ela ainda tá passando! “Sobre o Tempo” é uma música bem legal nesse sentido. “Só me derrube no final”? Você vai tentando fazer com que a coisa continue andando como um carro bem regulado, o melhor regulado o possível. Sabendo que vai ter um final, mas tentando adiar esse final o máximo possível. É essa a ideia.

Fernanda: É sofrer menos, comemorar mais. É por aí.

– Bruno Capelas (@noacapelas) é jornalista. Apresenta o Programa de Indie, na Eldorado FM, e escreve a newsletter Meus Discos, Meus Drinks e Nada Mais. Colabora com o Scream & Yell desde 2010.

One thought on “Entrevista- John e Fernanda (Pato Fu): “Não queremos viver do que a gente já fez. Temos o desafio de conquistar novas gerações”

  1. Pato Fu é uma banda pra vida toda, sempre surpreende, sempre legal, sem polêmicas, com uma certa calma que faz bem pra vida caótica que a gente vive. E que outra banda tem CAPETÃO 66.6 FM?!

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