Entrevista: Phoebe Bridgers, uma artista que tem muito a dizer (sobre seu show no Brasil, Lorde, pular etapas, americanos babacas…)

entrevista por Bruno Capelas

Num dia, você está no seu quarto cantando de pijamas. No outro, viaja um dia inteiro de avião para subir num palco e cantar para dezenas de milhares de pessoas, que sabem todas as palavras de suas músicas mesmo que as letras não tenham sido escritas no idioma delas. “É um exemplo do quão babacas são os americanos, de modo geral. Nós não falamos uma segunda língua, é horrível”, brinca Phoebe Bridgers, o sujeito das frases anteriores – e a responsável por um dos shows mais aplaudidos da primeira edição do Primavera Sound São Paulo. Não impressiona: seu último disco, “Punisher”, cheio de canções sobre morte, depressão e apocalipse, foi a trilha sonora da pandemia de muita gente nos quatro cantos do planeta, de Kyoto ao Anhembi.

Lançado em junho de 2020, poucos meses depois de ficarmos todos trancados em casa, o disco fez o público da cantora californiana de 28 anos crescer radicalmente. Muitos fãs foram atraídos por certo tom premonitório do disco, gravado e composto antes da Covid-19 bater – algo que ela diz que não foi proposital. Ou quase. “Sei que [o disco] tem semelhanças [com o que vivemos em 2020], mas poxa, essas coincidências também existiriam se eu estivesse lançando o meu primeiro disco durante a pandemia. Era um disco que foi feito quando Trump tinha acabado de ser eleito. Tem muita merda acontecendo no mundo, sabe”, conta ela ao Scream & Yell, em entrevista realizada num hotel de luxo em São Paulo, no dia seguinte à sua apresentação no Primavera Sound.

Foi uma semana agitada: além de fazer seu show, Phoebe também fez uma participação especial no show de Lorde, cantando “Stoned at the Nail Salon”. Enquanto isso, nos EUA, aconteciam as eleições legislativas, que mudaram a cara do Congresso americano, deixando-o mais conservador e afetando temas caros à cantora, como o aborto legalizado. Os dois temas aparecem nesta entrevista, na qual a cantora conta com o apoio de seu baterista e parceiro, Marshall Vore, às vezes transformando a conversa em um espetáculo stand-up.

Foi uma conversa rápida, mas cheia de assuntos: das comparações frequentes que ela recebe (“Eu me lembro de sempre estar em listas como “as dez ‘garotas indie tristes’ mais legais do momento”… e era uma lista só de cantoras brancas. Que porra é essa?”) ao processo de gravação com Conor Oberst, no projeto Better Oblivion Community Center. Isso para não falar de memes brasileiros e do personagem de Sally Rooney com quem ela mais se identifica – o último single de Phoebe, “Sidelines”, foi feito para a série “Conversas Entre Amigos”, baseado no livro homônimo da escritora. (Além disso, o namorado de Bridgers, Paul Mescal, é a estrela de outra série baseada na obra de Rooney, “Pessoas Normais”, mas não vamos fazer fofoca aqui).

Achou pouco? Tudo bem: tem ainda Phoebe Bridgers impressionada com o fato de que no Brasil se vota no domingo, puta da vida porque não tem um nome homem ou não-branco em seus artistas relacionados no Spotify, fazendo uma imitação de Joni Mitchell (“Eu sou só uma mulher branca de Los Angeles, ela também, mas…”) ou tendo uma crise de riso com uma piada envolvendo as eleições legislativas e Taylor Swift. Foram só 22 minutos de papo (eram pra ser 15, mas aparentemente ela gostou da conversa), mas pensa em alguém que tem muito o que dizer. Com a palavra, Phoebe Bridgers.

Para começar, queria falar um pouco sobre o show no Primavera Sound São Paulo. Era possível ver no seu rosto durante o show que você estava surpresa com a reação do público. Quais eram as expectativas que você tinha? E como foi esse primeiro show aqui no Brasil?
Phoebe Bridgers: Bem, todo mundo disse para nós que seria uma doideira tocar no Brasil e que o público ia ser incrível e apaixonado. Mas é difícil compreender a dimensão disso tudo: eu escrevi algumas músicas, gravei essas músicas no Sul da Califórnia, voei por um dia inteiro até chegar aqui e de repente apareci num palco – e as pessoas sabem todas as palavras das músicas!

E músicas que não são nem na língua dessas pessoas!
Phoebe: Sim, sim, exato! Isso é algo muito incrível para mim. Também é um exemplo do quão babacas são os americanos, de modo geral. (risos). Americanos não, as pessoas dos Estados Unidos! Nós não falamos uma segunda língua, é horrível. Mas é muito legal vir aqui, poxa, vocês têm acesso a tanta música!

Quantas vezes você já ouviu “please come to Brazil”?
Phoebe: Muitas! Ele falava isso muitas vezes para mim!

Marshall Vore: É uma coisa cultural, um fenômeno!

Phoebe: É um meme!

Sim! Para os brasileiros, é engraçado: dizemos isso nas redes sociais para basicamente qualquer artista de quem gostamos muito. Não sei como um artista se sente quanto a isso…
Phoebe: (pensa um pouco)… Acho que é algo que reflete o quão apaixonados são os fãs brasileiros, até por conta do volume que essa frase tem na internet. E claro, isso faz ainda mais sentido quando a gente chega aqui e vê que os fãs são mesmo incríveis. Sei lá, acho que eu escuto “please come to Brazil” desde que lancei minha primeira música. É bem incrível. Você conhece “Brazil, I’m devastated”?

Sim!
Phoebe: Que bom! Porque Marshall me fez usar essa frase como legenda no Instagram na noite passada e eu achei que ninguém ia entender a referência! (risos)

Marshall: É óbvio que as pessoas iam saber!

É óbvio. A gente conhece memes, poxa vida, confie em mim!
Phoebe: Eu confio em vocês!

Marshall: Acho só que ela não confia em mim.

Phoebe: Sim, eu não confio nele!

(Nota do Editor: “Brazil I’m devastated” é a frase de início deste tuíte no qual Lady Gaga cancelava seu show no Rock in Rio em 2017 e acabou, óbvio, virando meme.)

Além do seu show, você também fez uma participação especial na apresentação de Lorde. Como surgiu a ideia desse encontro? É algo frequente entre vocês?
Phoebe: Bem, eu encontrei Ellie [apelido a partir do nome de batismo de Lorde, Ella] aqui apenas no sábado. É insano: eu cantei em sete músicas de “Solar Power”, incluindo a música que eu cantei ontem [“Stoned at the Nail Salon”]. No domingo de manhã, o dia do show, ela me perguntou se a gente poderia cantar junto. Eu pensei: “fuck!”. Eu nem sabia direito o que fazer, porque eu gravei essa música há dois anos e há inúmeras camadas vocais nela. Além de mim, a Clairo também cantou nessa música e eu literalmente não sei quem é quem na gravação, nós soamos muito parecidas. Foi muito curioso quando a Ellie me mandou as músicas, eu pude ouvir minha voz cantando uma música que eu não lembrava ter cantado. Ela escreveu todas as harmonias, lembro que foi algo muito fácil de gravar. Agora, no palco? Eu estava muito nervosa, mas foi incrível.

Você é próxima de muitas outras cantoras e compositoras da atual geração. Gravou com Lorde, você tem o boygenius com Lucy Dacus e Julien Baker, em breve você vai abrir alguns shows da Taylor Swift… Como é fazer parte dessa comunidade de artistas e como isso afeta o seu trabalho?
Phoebe: Não sei bem dizer o que é bom ou não. Sei que gosto muito disso, acho que eu até tomo essas relações como garantidas, como algo que já faz parte de mim. É só quando converso com artistas que começaram a fazer música uma década antes de mim, por exemplo, que percebo que estou vivendo algo especial.

Você acredita que esse espírito de comunidade não existia há uma década?
Phoebe: Com certeza! Também acho que os jornalistas estão tomando na cabeça o suficiente por comparar constantemente duas mulheres. Não sei, me lembro de sempre estar em listas como “as dez ‘garotas indie tristes’ mais legais do momento”. E era uma lista só de cantoras brancas. Que porra é essa, sabe? Não sei, é esquisito. E não faz muito tempo, isso foi há cinco, sete anos. É esquisito demais, porque nós todas somos amigas, de alguma forma. Estranho como minha etnia e meu gênero são pensados como um estilo de música. É muito maluco como eu sou mais comparada com a Snail Mail, por exemplo, do que a Mitski. É algo estúpido e redutor. Felizmente, isso tem mudado, no passado isso acontecia muito mais. Acho que tenho sorte.

A transformação da imprensa, com mais mulheres escrevendo sobre música, influencia nesse sentido?
Phoebe: Totalmente! Eu sinto que agora há muito mais chances de eu ser entrevistada para uma grande reportagem por um repórter que seja queer. Eu lia muitos sites e revistas de pequeno porte quando eu crescia. No começo da carreira, eu sentia que era entrevistada por gente que nem sequer ouviu os meus discos. Agora, há uma transformação: eles mandam para as entrevistas pessoas que pelo menos gostam dos meus discos! É algo que eu aprecio, mesmo. No começo da minha carreira, eu era sempre comparada com os homens com quem eu colaborava nas minhas músicas. Agora, pelo menos me perguntam sobre as artistas que são mais ou menos da minha idade e com quem eu trabalho o tempo todo. Acho também que minha comunidade de fãs está crescendo exponencialmente, o que ajuda.

É curioso você mencionar essa coisa das ‘garotas tristes’. Eu estava navegando pelo Spotify, ouvindo seus discos e me preparando para a entrevista quando me deparei com várias playlists do próprio streaming que te identificavam assim, como, não sei, “Sad Girl Starter Pack” [o kit inicial de garotas tristes, em inglês]. É esquisito.
Phoebe: Muito esquisito. E tem a ver com o algoritmo. Isso está mudando um pouco, mas lembro que há alguns anos eu não tinha nenhum homem ou artista não-branco como “artista relacionado” na minha página do Spotify. What the fuck, sabe? Ao mesmo tempo, muita gente olhava para mim e pensava… “hmm, Joni Mitchell”. Minha música não é parecida com a dela! Eu sou só uma mulher branca de Los Angeles, ela também, mas…

Vocês fazem músicas com letras enooormes, mas até aí…
Phoebe: Sim! Poxa, eu amo Joni Mitchell, mas eu nunca faço um “uuuuh ahh” [imita um vocalise típico de Joni Mitchell, cheio de notas]. (risos). Eu faço quase o oposto disso, só canto uma nota a cada cinco segundos.

Marshall: Ok, vocês usam afinações de guitarra parecidas.

Phoebe: Putz, mas ainda assim… vamos lá, eu amo Joni Mitchell! Mas acho que se você escavar um pouco além das aparências, vai perceber que tem muitas diferenças. Tem tantas categorias que diminuem a forma como você trata a música. As pessoas ainda usam “urban” [urbana] para se referir a música feita por pessoas negras. Espero que isso mude.

Então quem você colocaria nos seus artistas relacionados do Spotify?
Phoebe: Não sei. Todo mundo com quem eu trabalho, claro, isso faz sentido. Mas quem mais? (pensa um pouco)… já sei, já sei, Bob Dylan! (risos).

Marshall: O que você está perguntando é algo mais sobre quem influenciou a Phoebe, ou quem são colegas de geração, não só uma escolha algorítmica do Spotify ou do TikTok. Nesse sentido, acho que Elliott Smith é um cara muito grande para você. Ou o Bright Eyes.

Phoebe: Acho que sim, são coisas bem diferentes. Os dois fazem sentido.

Marshall: Acho que até o The 1975 faz sentido nessa lista.

Como foi gravar com Conor Oberst [em 2019, Phoebe e o líder do Bright Eyes lançaram um disco conjunto, “Better Oblivion Community Center”]?
Phoebe: Ele é um cara fora desse mundo, de todos os jeitos possívels (risos). Ele é incrível, realmente incrível. Eu amo pessoas que são apaixonadas pelo que fazem hoje em dia da mesma forma que eram apaixonadas no início da carreira. Eu me sinto assim com o The National, me sinto assim com ele. É um cara que fica no estúdio até as 3 horas da manhã, gravando, sei lá, barulhos de sementes que ele achou no mato. Eu gosto de me cercar de pessoas assim. E Conor é um cara muito interessante, porque ele escreve muito rápido – e eu não. A gente poderia estar no estúdio e ele estaria ali num cantinho escrevendo as letras literalmente na hora que a gente ia começar a gravar. É algo muito divertido de se assistir.

Falando sobre criação, queria entender uma coisa. Tenho a impressão de que hoje há uma pressão sobre os artistas, seja por parte dos fãs ou de jornalistas, para criar uma nova era a cada disco. Uma narrativa que explique e dê sustentação a um novo trabalho. Vejo essa pressão em muitas artistas que colaboram com você, por exemplo. Como você vê isso? A cada disco que faz, é preciso se reinventar e criar uma nova Phoebe Bridgers?
Phoebe: Eu gosto disso. Pelo menos de uma parte disso, a parte do figurino, de me fantasiar. Mas faço isso para me entreter. Tematicamente, eu não gosto tanto. Acho que se eu cantar sobre as mesmas coisas para o resto da minha vida, vou ficar bastante entediada. Mas eu gosto da ideia de ter uma nova “roupa de palco”, uma nova coisa rolando, porque acho que é divertido.

Mas você acha que a narrativa em torno disso é algo necessário?
Phoebe: Acho que não. Bob Dylan não fez isso, fez? Neil Young não fez isso. Acho que é uma coisa nova, mas você pode optar por não fazer isso se você quiser.

Você é parte de um grupo de artistas que cresceu muito em popularidade durante a pandemia. “Punisher”, seu último disco, saiu poucos meses depois de nós todos começarmos a ficar trancados em casa. Agora que você está ganhando a estrada, como é ver o crescimento desse público, a mudança do tamanho dos lugares dos shows, até mesmo a hora que você toca em um festival?
Phoebe: É incrível. Agentes e managers de gravadoras são obcecados com a ideia de que você “não deve pular passos”. Eles são obcecados com a ideia de que você tem que tocar em todo tipo de palco, em todo tamanho de palco possível, e ir crescendo. Não sei exatamente o porquê, mas é algo que faz parte da indústria. Quando eu comecei, eu tocava em lugares muito pequenos e achava estranho, mas me diziam que eu não ia querer pular aquela etapa, especialmente porque se eu pulasse, depois me pagariam menos para tocar em uma casa de tamanho médio. É como se a cada turnê, você tivesse que provar o seu valor, crescendo aos poucos.

É como criar uma camada extra de pele, talvez?
Phoebe: É por aí, você vai crescendo… mas a verdade é que eu adoro pular esses passos! (risos). O último show da turnê do boygenius em 2018 foi no Wiltern Theatre, em Los Angeles, e era o maior show que eu já tinha feito na cidade até então, lá cabem 2 mil pessoas. E depois disso, eu já toquei duas noites seguidas no Greek Theatre, que é um dos maiores palcos de Los Angeles, para 6 mil pessoas, eu sonhava em tocar lá. É incrível, e ainda mais incrível por ser depois da pandemia. Eu me lembro da primeira vez que senti que algo ia ser diferente, e “Punisher” ainda nem tinha saído. Eu fiz uma sessão para a Pitchfork durante a pandemia e lembro que acordei cinco minutos antes de começar tudo. Lembro de colocar meus pijamas – os pijamas que eu uso para minhas performances na internet, é um pijama inteiro. Óbvio que eu não durmo com eles, eu não sou louca, mas enfim… enfim, entrei e de repente tinham 20 mil pessoas assistindo ao vivo. Eu achei bizarro, eu não estava preparada. Foi bem naquela época da pandemia em que você conseguia mobilizar as pessoas, era aquela fase em que todo mundo estava vivendo sem regras, as pessoas só queriam participar de algo e estar juntos.

Marshall: É muito estranho, pensar nessa época agora. Fizemos um disco que, se tivesse um tema, é um disco que fala do fim do mundo e de que não há nenhuma esperança do futuro. Digo “se tivesse um tema” porque, na verdade, acredito que toda parte da sua vida tem um tema. É muito doido pensar que a gente lançou esse disco exatamente nesse momento, porque foi sem querer. (faz uma pausa) Eu não tinha pensado sobre isso ainda!

Phoebe: Nossa, eu penso muito sobre isso! Tem muitas letras que fazem alusões a coisas que aconteceram na pandemia…

Marshall: Quase como se você soubesse o que ia acontecer?

Phoebe: Sim, mas não, né? Quando o Bright Eyes lançou o disco deles [“Down in the Weeds, Where the World Once Was”], muita gente também teve esse sentimento. E Conor simplesmente virou e falou: “pessoal, eu estou escrevendo sobre o apocalipse desde que eu tinha 16 anos de idade, não tem nenhuma novidade aqui”. Bem, eu sei que tem semelhanças, mas poxa, essas coincidências também existiriam se eu estivesse lançando o meu primeiro disco durante a pandemia. Era um disco que foi feito quando Trump tinha acabado de ser eleito, sabe. Tem muita merda acontecendo no mundo, sabe.

Tem as “Midterms”…[nome dado às eleições legislativas de meio de mandato nos EUA, que aconteciam durante a semana da entrevista].
Phoebe: Sim, totalmente… acontecendo agora.

Marshall: Você está falando do disco novo da Taylor Swift?

Phoebe: (risos)

Você deveria dar para ela essa dica!
Phoebe: Wildterms! (tem uma crise de riso). Eu adorei mesmo essa piada! É tão boa que acho que eu mesma vou fazer esse disco.

(Nota do Editor: o nome do disco novo de Taylor Swift é “Midnights”.)

Em abril, você lançou “Sidelines”, uma música especialmente feita para a trilha sonora da série “Conversas Entre Amigos”, baseada no livro homônimo de Sally Rooney. É a única música que você vai lançar em 2022…
Phoebe: Não é verdade! Não sei quem publicou isso e as pessoas acharam que é verdade. Todo ano eu lanço uma música de Natal, que vai sair em breve (Nota do editor: Já saiu, chama-se “So Much Wine” e a receita será destinada ao centro LGBT de Los Angeles). Mas ok, “Sidelines” talvez seja a única música original que vou lançar este ano, sim.

E tem alguma coisa vindo aí? Um disco sobre a pandemia, ou não sei… as eleições legislativas?
Phoebe: Não. Mas eu e Maggie Rogers relançamos nossa cover de “Iris”, do Goo Goo Dolls, para uma campanha beneficiente em prol do aborto. Não sei, é muito difícil ficar falando para as pessoas hoje em dia que elas têm que ir votar. É um sistema todo corrompido. Só o fato de que você tem que votar numa terça-feira? Isso é horrível – e olha que eu não tenho um emprego, o que me afeta menos.

Aqui no Brasil, votamos aos domingos.
Phoebe: Viu! É algo genial. Porque ninguém está trabalhando no domingo! Porra, sabe? Por que nos EUA a gente tem que votar quando todo mundo está trabalhando?

Marshall: Eu acho que é de propósito…

Phoebe: Mas é óbvio que é de propósito. (risos)

Calma: tem muito patrão conservador no Brasil que força os funcionários a trabalhar especialmente no dia das eleições.
Phoebe: Oh! Isso é bem… ferrado. E também um pouco confuso, por conta do catolicismo? Que porra, sabe? Bem, todo lugar está fodido. Mas os Estados Unidos tem um sabor especial de merda, sabe?

Muita gente aqui no Brasil gosta de tentar copiar esse sabor…
Phoebe: Que merda. Bem, enfim… sei que é difícil dizer às pessoas que elas são irresponsáveis por não votar quando votar é tão difícil. Quando votar pode fazer você ser demitido por faltar ao emprego, ou quando seu local de votação fica a três horas de distância da sua casa, ou quando tem uma papelada enorme para você votar. Eu mesmo mando minha mãe cuidar da papelada. Quer dizer: eu cuido da papelada, mas ela envia pelo correio, porque eu sempre estou em turnê.

Marshall: Lembra quando eles tentaram fechar os postos dos correios para evitar os votos a distância?

Phoebe: Sim! Sim… Enfim, é difícil dizer às pessoas para votar. Para mim é fácil, mas nem para todo mundo é. E bem, o aborto é uma questão importante que está nas urnas este ano, então queríamos dar um apoio nesse sentido.

Última pergunta, prometo: que personagem de Sally Rooney você é?
Phoebe: Infelizmente, acho que eu sou a Frances, de “Conversas Entre Amigos”. Eu amo aquela parte em que ela escreve sobre a amiga Bobbi de um jeito que ela acha que é carinhoso – mas não é. E quando a Bobbi lê sobre ela, ela surta de um jeito bizarro, ela não consegue acreditar que a Frances a vê da forma como está escrito, de um jeito meio superficial. Eu me identifico muito com aquela personagem, mas especialmente pela parte em que eu escrevo sobre alguém de uma forma que acho que é bonita, mas as pessoas sempre reagem de um jeito ruim, questionando se é “realmente desse jeito que você vê a nossa relação, me transformando numa personagem?”.

Marshall: Mas você é uma versão extrovertida da Frances, sabe?

Phoebe: Obrigado, querido. Na verdade, acho que Sally tem uma característica incrível de fazer você se identificar com todos os personagens dela, nem que seja só um pouco. Tirando, claro, Jamie, um dos namorados de Marianne em “Pessoas Normais”. Ele é horrível. Tirando ele, claro, todo mundo tem aquele grau em que você pensa “nossa, ele está certo…” até o momento em que não está mais. Mas bem, acho que eu sou uma Frances.

– Bruno Capelas (@noacapelas) é jornalista. Apresenta o Programa de Indie, na Eldorado FM, e escreve a newsletter Meus Discos, Meus Drinks e Nada Mais. Colabora com o Scream & Yell desde 2010.

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