Lucy Dacus fala sobre os 25 anos de “Electr-O-pura”, do Yo La Tengo

Continuando com a série “Revisionist History”, a Matador Records anuncia a edição de 25º aniversário do álbum de 1995 do Yo La Tengo, “Electr-O-pura“. Apresentada em versão gatefold, a masterização original de 58min será abrigada pela primeira vez em uma prensagem em dois LPs, para garantir a mais alta qualidade de áudio que o álbum já teve em vinil até hoje. A pré-venda da nova edição está disponível agora na loja da Matador.

Em seu sétimo álbum, o Yo La Tengo continuou expandindo as composições inventivas de seu álbum anterior, “Painful”, com técnica impressionante e uma exploração de texturas, humores e atmosferas contrastantes. Repleto de momentos memoráveis como no pop de “Tom Courtenay”, a melancolia comovente de “Pablo And Andrea” e a espetacular “Blue Line Swinger”, “Electr-O-pura” é um disco grandioso de uma das bandas indies mais queridas dos EUA, alcançando seu auge criativo e se estabelecendo como um dos mais sublimes álbuns que a banda lançou em seus 36 anos de carreira ininterrupta.

A compositora Lucy Dacus, que nasceu no dia do lançamento de “Electr-o-pura”, dividiu conosco um ensaio sobre o álbum, junto com o vídeo em que mostra um cover de sua faixa favorita, “Tom Courtenay”. Leia o ensaio completo abaixo.

por Lucy Dacys

“Nasci em 2 de maio de 1995, no dia em que o ‘Electr-o-pura’ foi lançado.

Quatorze anos depois, eu comecei o ensino médio e fiz um novo amigo que usava jaqueta de couro e botas, que expressava opiniões confiantes sobre músicas que eu nunca tinha ouvido. Devorei todas as recomendações que ele me deu, num esforço para alinhar meus gostos. Eu queria ser descolada, ou pelo menos algo do tipo. Descobri The Stooges, Philip Glass e Sonic Youth através do meu esforço para obter a aprovação dele. Adorei tudo enquanto meus pais odiavam todas as minhas novas descobertas. Ser descolado soava alto demais.

Um dia, meu amigo me trouxe uma pilha de CDs, todos do Yo La Tengo, e me disse para levá-los para casa, ouvi-los, gravá-los e devolvê-los. Eu fiz o que ele disse. Gostei desses discos desde o início, e mais e mais a cada nova audição. Ficava deitada na cama ouvindo um dos discos, pausando a música que estava ouvindo quando estava cansada demais e pressionando o play ao acordar.

Lembro-me da minha confusão ao ouvir “Electr-o-pura” pela primeira vez. Li a tracklist na parte de trás do CD para aprender o nome das músicas, mas a duração da música impressa não correspondia ao que eu estava ouvindo. Considerei que havia algum erro de fabricação, não estava ouvindo as músicas que deveria ouvir. “Flying Lesson (Hot Chicken #1)” está na lista com duração de pouco mais de três minutos, quando são realmente 6:42. “Blue Line Swinger” diz que são 3:15, mas na verdade são 9:18. Agora, ao investigar, sei que Yo La Tengo intencionalmente imprimiu os tempos, tentando combater períodos curtos de atenção, esperando que enganassem as pessoas a dar uma chance a essas músicas longas. Isso me enganou, embora tenha certa queda por músicas longas, de qualquer maneira. É interessante pensar em como isso não poderia ser realizado hoje em um mundo de música digitalizada. E se as pessoas tinham pouco tempo de atenção, então, quão baixos esses tempos são agora? Tudo isso para dizer que gostei da brincadeira.

O que me fez voltar ao Yo La Tengo foi a compreensão deles sobre o humor. Ouvi bandas que exprimiam raiva, bandas que exprimiam tristeza, mas não conhecia outras bandas que pudessem expressar uma gama completa de sentimentos da maneira como o Yo La Tengo pode. De música para música, ela podia ser ansiosa, celebratória, triste, contente, confusa, etc. E mesmo quando ficavam barulhentas ou dissonantes, nunca pareciam hostis. Os sons podiam ser severos, até feios, mas eram alegres. Algumas músicas poderiam me fazer chorar, mas eram divertidas e não agressivas. Eu estava assimilando o gosto de outra pessoa e, no processo, descobrindo o meu.

“Tom Courtenay” foi a primeira música do Yo La Tengo que aprendi na guitarra. Eu não sabia o que significava, mas sabia quem Julie Christie era e amava os versos: “As the music swells somehow stronger from adversity / our hero finds his inner peace.” Não sabia o significado, mas não conseguia parar de pensar nisso. Era como qualquer bom poema, deixando um espaço para mim, entre imagens. Agora, acho que a música pode ser sobre obsessão com a mídia, equiparando aos filmes e estrelas de cinema à dependência de drogas. Bom, quem sabe, essa é apenas a minha opinião.

Eventualmente, quando a Matador me convidou para entrar no selo, o fato do Yo La Tengo estar na lista deles foi um componente importante da minha decisão. Eles lançam ótimos álbuns a cada dois anos há mais de três décadas, experimentando e explorando o que parece ser uma criatividade despretensiosa. Vale a pena comemorar, especialmente agora, quando qualquer oportunidade de celebração é uma bênção. Feliz aniversário de 25 anos para o “Electr-o-pura” e obrigado pela música, Yo La Tengo.

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