Boteco: Cinco estados brasileiros, cinco cervejas

 por Marcelo Costa

Abrindo mais uma série de nacionais com uma Hoppy Lager da carioca Overhop, a Startup, uma cerveja de coloração dourada, cristalina, e creme branco de boa formação e longa retenção. No aroma, notas que remetem a frutado cítrico (limão e laranja) além de sugestões discretas de melão, de floral e de notas derivadas da malteação (pão e biscoito). Na boca, frutado cítrico no primeiro toque trazendo algo de laranja seguido de forte percepção de chá além de pão e biscoito (em segundo plano). O amargor é praticamente inexistente (são apenas 10 IBUs, discretíssimos) e a textura é leve. Dai pra frente segue-se um conjunto refrescante, com pegada frutada cítrica envolvente e malteação potente, sem doçura, mas com a remissão a chá ainda intensa. No final, leveza e leve cítrico. No final, refrescancia.

Do Rio de Janeiro para Tijucas, Santa Catarina, com a Savannah Freeway, primeira da cervejaria Sunset Brew a passar por aqui. Trata-se de uma Vienna Lager de coloração âmbar acastanhada levemente turva com creme bege de boa formação e média alta retenção. No nariz, como pede o estilo, doçura caramelada derivada do malte domina a paleta, que deixa ainda perceber sutilmente algo de herbal, mas beeeem distante. Na boca, um replay do aroma, com doçura caramelada chegando forte no primeiro toque e continua dando as cartas na sequencia, em que ainda também é possível sentir herbal, sutil. O amargor (20 IBUs, mas poderiam dizer que é 2 IBUs que todo mundo iria aceitar) é imperceptível enquanto a textura é suave com discreta picância. Dai pra frente segue um conjunto bastante maltado e bastante doce, caramelado. No final, doçura. No retrogosto, caramelo.

De Santa Catarina para Campo Bom, no Rio Grande do Sul, com mais uma 1824 Imigração, que já havia passado por aqui com a sua Pilsen tradicional, e agora retorna com a versão Pilsen Premium. É uma Premium American Lager de coloração âmbar amendoada clara com creme bege claro de boa formação e retenção. No nariz, presença assertiva de cereais sobre uma base levemente adocicada que sugere tanto caramelo quanto mel. No paladar, o primeiro toque traz uma combinação de doçura maltada e leve presença de cereais, praticamente ao mesmo tempo. Na sequencia, ambos disputam mililitro a mililitro a atenção do bebedor, com a doçura caramelada levando leve vantagem, mas não deixando para trás a percepção de cereais, que ainda remete a pão doce. O amargor é bem baixo, a textura é leve e, dai pra frente, a doçura se sobressai num conjunto simples e tradicional. No final, bastante doçura. No retrogosto, mel, caramelo e refrescancia.

Mantendo-se no Sul do país, mas saindo do Rio Grande para o Paraná, casa da Maniacs, que produziu essa Belgian Wit em sua fábrica em Londrina sem as adições tradicionais do estilo (casca de fruta e semente de coentro), mas com a cor (amarelo palha) honrando o rótulo e a benchmarking do estilo, a belga Hoegaarden. Na receita, malte Pilsen e trigo mais lúpulo Aloha. O resultado é uma cerveja de coloração amarelo palha e creme branco de ótima formação e média alta retenção. No nariz, o aroma é tímido (o que deixa evidente o motivo do coentro e das raspas de casca de laranja) com um discreto apelo cítrico que remete a limão além de leve doçura. Na boca, um replay da timidez do aroma com leve toque cítrico no primeiro toque seguido de refrescancia e um amargor bem baixinho (14 IBUs). A textura é leve e, dai pra frente, segue-se um conjunto levemente cítrico e bastante refrescante. No final, secura e leve adstringência, que permanece no retrogosto, refrescante.

Do Paraná para São Paulo, mais propriamente o bairro de Perdizes, onde está localizado o taproom da Trilha, cervejaria que despontou em 2017 tendo o Ambar, bar de cervejas nacionais em Pinheiros, como uma de suas casas fiéis. Nada mais justo que a cervejaria fizesse a cerveja de comemoração dos 3 anos do Ambar, carinhosamente chamada de 3 Hops Ambar, uma New England IPA com os lúpulos El Dorado, Cascade e Hull Melon. De coloração amarela turva, juicy tal como um suco, e creme branco espesso de boa formação e retenção, a Trilha 3 Hops Ambar apresenta um aroma que combina frutas tropicais com anis. Há, ainda, percepção sutil de doçura. Na boca, o primeiro toque reforça a pegada frutada seguida de maciez, anis e um amargor que, quase, passa batido. A textura é suave, cremosa, e, dai pra frente, segue-se um conjunto de NE incrível, como a Trilha sabe fazer de maneira caprichada. No final, anis e frutado, que seguem no aroma aliados a refrescancia. Uou!

Balanço
A Overhop é uma cervejaria carioca especializada em altas lupulagens, e eu esperava um pouco mais da StartUp, a India Pale Lager da casa, que traz sinais claros de lúpulo num território predominantemente de malte e chá. Não sei, fiquei na vontade (talvez mais fresca tudo mude, quem sabe). A Sunset Brew Savannah Freeway é uma Vienna Lager bem maltada e bem doce – até um pouco demais. A 1824 Imigração Pilsen Premium, para mim, fica atrás da Pilsen tradicional, muito mais equilibrada e refrescante. Esperava mais. A 3 Hops Ambar é mais uma New England IPA sensa da Trilha.

Overhop StartUp
– Produto: India Pale Lager
– Nacionalidade: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro
– Graduação alcoólica: 4.5%
– Nota: 2.93/5

Sunset Brew Savannah Freeway
– Produto: Vienna Lager
– Nacionalidade: Tijucas, Santa Catarina
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 2.85/5

1824 Imigração Pilsen Premium
– Produto: Premium American Lager
– Nacionalidade: Campo Bom, Rio Grande do Sul
– Graduação alcoólica: 4.8%
– Nota: 2.86/5

Maniacs Belgian Wit
– Produto: Witbier
– Nacionalidade: Londrina, Paraná
– Graduação alcoólica: 4.6%
– Nota: 3.12/5

Trilha 3 Hops Ambar
– Produto: New England IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 7%
– Nota: 3.95/5

Leia também
– Top 2001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas (aqui)

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