Boteco: Cinco cervejas brasileiras, cinco dinamarquesas

por Marcelo Costa

Odense é um importante município da Dinamarca, localizado no sudeste do país, no condado de Fiónia, a menos de duas horas da capital Copenhague. Com uma população de 185 mil habitantes, Odense é um centro comercial de grande importância e local de embarque de mercadorias, além de ser a casa da The Man Behind Brewery, cervejaria que chega ao Brasil com dois rótulos, primeiro o Berlin IPA, uma Caramel IPA de coloração âmbar acobreada com creme clarinho de boa formação e permanência. No nariz, leves notas cítricas e florais sobre uma base dominante maltada, com muito caramelo em destaque. Na boca, doçura caramelada no primeiro toque seguida de leve alaranjado e amargor leve (imagina apenas 30 dos 60 IBUs que a casa adianta). A textura é leve, quase suave. Dai pra frente segue-se o conjunto de uma Caramel IPA eficiente e refrescante. No final, secura e amargor suave. No retrogosto, caramelo, laranja, amargor leve e refrescância.

A segunda da The Man Behind Brewery é a Madrid, uma American Brown Ale que exibe uma bonita coloração âmbar acobreada translucida com creme bege clarinho de boa formação e retenção. No nariz, notas clássicas do estilo valorizando o malte tostado e sugerindo toffee, caramelo tostado, café fraco, frutas secas e chocolate amargo. Na boca, caramelo tostado se destaca no primeiro toque seguido de café e toffee e um leve amargor, que ganha força no conjunto notadamente doce e tostado (são apenas 28 IBUs, mas é marcante). A textura é leve, caminhando para o suave, e, dai pra frente, continua se equilibrando com destreza nas notas advindas da tosta do malte (toffee e caramelo em destaque) tanto quanto trazendo uma leve pegada mineral. No final, amargor leve e toffee, que retorna potente no retrogosto acompanhado de caramelo tostado e café. Interessante.

Da Dinamarca para Campo Bom, no Rio Grande do Sul, casa da Cervejaria Imigração, responsável pelas linhas Barbarella e Roleta Russa, que retorna ao site com duas da linha da casa, a 1824 Imigração, sendo a primeira a Pilsen, uma Premium American Lager que exibe uma coloração dourada cristalina com creme branco de boa formação e media alta retenção. No nariz, aroma dominado por derivados de malte sugerindo cereais, pão e biscoito além de leve presença mineral. Na boca, leve toque de cereais no primeiro toque seguido de pão, biscoito, caramelo discreto e amargor bem baixinho, 14 IBUs típicos do estilo. A textura é leve caminhando para o suave, num corpo de German Pilsner, mais espesso. Dai para frente, uma cerveja que vai além do conjunto Premium mostrando mais personalidade e sabor, doçura mediana, e amargor bem leve. No final, doçurinha sutil e biscoito. No retrogosto, cereais, pão, caramelo e biscoito.

A segunda cerveja da Imigração é a 1824 (Single) Hop Lager, uma Session India Pale Lager com uso do lúpulo estadunidense Cascade que exibe uma coloração dourada cristalina com creme branco de baixa formação e boa retenção. No nariz, a mineralidade se destaca num conjunto que se divide entre suaves notas cítricas (laranja e toranja bem distantes) e maltadas (casca de pão, cereais, biscoito). Há, ainda, sugestão discreta de caramelo. Na boca, toranja e mineral no primeiro toque seguida de cereais, casca de pão e um amargor bem leve, quase imperceptível, 14 IBUs bem discretos. A textura é leve e, dai pra frente, segue-se um conjunto refrescante, ainda que com muita interferência do malte sobre o lúpulo para se denominar “Hop”. No final, secura e cereais. No retrogosto, toranja, casca de pão, biscoito, cereais, mineralidade e refrescância.

Retornando à Dinamarca com uma colaborativa da Indslev Bryggeri, cervejaria de Nørre Aaby, cidade a duas horas de Copenhage, responsável pela famosa linha Ugly Duck, com Mike Romeo e Steve Rold, da Cervejaria Fano Bryghus. Trata-se de uma Imperial Pumpkin Ale cuja base de Belgian Quadruppel recebe adição de levedura Brett e de abóboras Hokkaido assadas com sávia, açúcar mascavo, noz moscada, sementes de funcho, gengibre fresco e canela!!! De coloração âmbar com creme bege espesso de boa formação e retenção, a Ugly Duck Imperial Pumpkin Ale apresenta um aroma que combina doçura de malte, tosta, cardamomo, canela, abóbora (bem sutil), fumaça, especiarias e leve funky. Na boca, doçura e tosta no primeiro toque seguido de um levíssimo avinagrado, especiarias e azedume – o amargor fica em segundo plano aqui. A textura é frisante e picante (mas o álcool parece estar muito bem escondido com seus 9.7% de graduação). Dai pra frente, um conjunto tortinho que traz abóbora, mas ela acaba inserida numa maluquice deliciosa com resquícios avinagrados, de fumaça e condimentação. No final, abóbora tostada, figo e fumaça. No retrogosto, avinagrado e azedume suaves, abóbora, canela e tosta. Uou!

A segunda Ugly Duck é a Putin, uma Imperial Wheat Stout produzida com trigo defumado e lúpulos Cascade, Citra e Amarillo. De coloração marrom escura com a borda translucida, mas o conjunto mais denso, e creme bege espesso de boa formação e retenção, a Ugly Duck Putin apresenta um aroma com bastante sugestão de turfa, fumaça e defumação, uma paleta de aromas intensa que, no entanto, ainda abre espaço para chocolate, caramelo tostado e baunilha. Na boca, doçura de chocolate no primeiro toque atropelada no microssegundo seguinte pela intensidade da defumação, que traz consigo turfa e fumaça, num conjunto que ainda se “confunde” com baunilha e caramelo tostado. Não há amargor, há cinzas, fumaça, tabaco, chocolate. A textura é densa, sedosa, tal qual um achocolatado. E, dai pra frente, o conjunto continua impressionando com muita turfa e muito chocolate, muito defumado e muita baunilha, muita fumaça e muito caramelado tostado. No final, chocolate e turfa. No retrogosto, mais chocolate, mais turfa, mais baunilha, mais fumaça. Uma delicia!

Voltando ao Sul do Brasil, mas agora na capital Porto Alegre com duas novas Tupiniquim. A primeira é a Juicy IPA, praticamente uma Session Juicy American IPA com 5% de graduação alcoólica e coloração amarela com turbidez intensa, tal qual um suco, e creme branco de boa formação e média alta retenção. No nariz, bastante frutado tropical (laranja, mamão e manga), leva condimentação vinda da levedura e doçura agradável. Na boca, doçura cítrica no primeiro toque com elevação de frisancia e acidez na sequencia devido a levedura do estilo, que apenas se une ao delicioso perfil frutado que segue sugerindo laranja, mamão e manga. O amargor é de baixo para médio (coisa de 30 IBUs) e a textura, macia e levemente picante. Dai pra frente, o perfil mantém a característica Juicy, mas com bastante leveza Session. No final, leve frutado e secura. No retrogosto, laranja, mamão e manga, doçura frutada e leve picância condimentada.

A segunda da Tupiniquim (que junta a anterior integra uma nova linha de cervejas da casa que busca um custo benefício mais em conta para o bebedor) é uma Single American Pale Ale, que utiliza o lúpulo norte-americano Summit e que exibe uma coloração dourada com turbidez a frio e creme branco de ótima formação e média alta retenção. No nariz, reminiscências suaves de frutado (remetendo a melão) com leve percepção herbal (pinho) além de doçura discreta. Na boca, doçura rápida no primeiro toque seguida de uma boa combinação de notas frutadas (melão ainda) e herbais (pinho) promovendo bela refrescância. O amargor é de baixo para médio (coisa de 30 IBUs novamente) e a textura é leve. Dai pra frente segue-se um conjunto interessante e refrescante, que combina com elegância notas frutadas e herbais, finalizando de maneira seca e levemente herbal. No retrogosto, mais herbal, mais frutado, ambos bem suaves, e doçura leve e agradável além, claro, de refrescancia.

Fechando a participação dinamarquesa com uma Amager, que dá nome tanto à ilha dinamarquesa em Øresund quanto a esta badalada cervejaria, que retorna ao site com a Sundby, uma Stout que recebe dry-hopping dos lúpulos Nugget, Centennial e Cascade. De coloração marrom translucida com creme bege de boa formação e retenção, a Amager Sundby Stout apresenta um aroma com notas derivadas da torra do malte em destaque (sugerindo café e chocolate), mas também leve cítrico e leve floral, um toque novo a um estilo clássico. Na boca, a surpresa permanece com a torra em destaque no primeiro toque, mas trazendo consigo leve cítrico e leve floral, agradáveis. O amargor é médio, bons 40 IBUs, e a textura, suave com leve picância. Dai pra frente segue-se a receita de uma Stout macia com presença suave, mas facilmente perceptível, tanto de cítrico quanto floral. No final, amargor e torra sutis. No retrogosto, torra suave (café fraco e chocolate), cítrico e floral. Delicia!

Do lado do Rio Grande do Sul, quem encerra a peleja é a Suricato Ales, representada aqui pela Berga, uma Gose que recebe adição de sal e de cascas de bergamota, popularmente conhecida em outros estados brasileiros como mexerica, poncã, laranja-cravo e mimosa, entre outros nomes. De coloração amarelo palha quase transparente e creme branco efervescente, de baixa formação e rápida dispersão, a Suricato Berga apresenta um aroma que traz, de maneira totalmente nítida, bergamota em primeiro plano (de maneira deliciosa e apaixonante) sobre uma base que junta mineral e leve presença de sal. Na boca, frutado cítrico da casca da bergamota no primeiro toque seguido de acidez, mineralidade e salgado. Não há amargor, mas a acidez cumpre a função com destreza. A textura é efervescente sobre a língua e, dai pra frente, segue um belo conjunto de Gose, salgado, acético e bastante frutado. No final, bergamota e salgadinho. No retrogosto, acidez leve, mais bergamota, mais salgadinho e refrescancia. Delicia!

The Man Behind Berlin IPA
– Produto: India Pale Ale
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 5.8%
– Nota: 3.21/5

The Man Behind Madrid Brown Ale
– Produto: American Brown Ale
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 5.4%
– Nota: 3.08/5

1824 Imigração Pilsen
– Produto: Premium American Lager
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4.8%
– Nota: 3.00/5

1824 Imigração Hop Lager
– Produto: Session India Pale Lager
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4.5%
– Nota: 3.00/5

Ugly Duck Imperial Pumpkin Ale
– Produto: Pumpkin Beer
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 9.7%
– Nota: 3.75/5

Ugly Duck Putin
– Produto: Imperial Wheat Stout
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 8.9%
– Nota: 4.15/5

Tupiniquim Juicy IPA
– Produto: American IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3.39/5

Tupiniquim Summit APA
– Produto: American Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3.31/5

Amager Sundby
– Produto: Stout
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 6.2%
– Nota: 3.57/5

Suricato Berga
– Produto: Gose
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4%
– Nota: 3.57/5

Leia também
– Top 2001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas (aqui)

4 thoughts on “Boteco: Cinco cervejas brasileiras, cinco dinamarquesas

  1. Estive como Aluno intercambista, em Odense – Dinamarca em 1984. Residi na Família Frits Niegel, dono da Odense Pilsner (Top to Top). Jeg elskær øl. Onde posso compra-la aqui em São Paulo Capital?

    1. Oi Emilio, a cervejaria que produz a Odense é a Albani Bryggerierne, que é uma cervejaria local que em 2000 se fundiu com o conglomerado dinamarques Royal Unibrew, que, entre outras cervejas, exporta para o resto do mundo toda linha da Faxe. Quem importa a Faxe para o Brasil é a distribuidora Interfood, mas as cervejas da Albani (incluindo a Odense Pilsner) nunca foram trazidas por eles para venda aqui. Então a única maneira mesma é ter algum amigo por lá que possa trazer para você numa mala de viagem, porque infelizmente ela ainda não é encontrada em nossas prateleiras.

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