Três perguntas: Renê e Célio (Everbrew)

por Marcelo Costa

Primeira cervejaria artesanal da cidade de Santos, a EverBrew nasceu do desejo de dois amigos que faziam cerveja caseira: Renê dos Santos, que morava na cidade praieira, e Célio Ongaro, que vivia em Sorocaba, no interior paulista. O que começou com um hobby de amigos logo se profissionalizou, e eles lançaram as duas primeiras cervejas em 2016: do primeiro lote independente saíram 500 litros da EverBlack e 1000 litros da EverIPA, que logo se transformou em uma das mais requisitadas do mercado.

De lá pra cá, Renê e Célio lançaram mais 19 cervejas da EverBrew pulando da produção inicial de 1500 litros para cerca de 20 mil litros mensais, feitos na fábrica da Cervejaria Dádiva, em Várzea Grande. O hit da casa ainda continua sendo a EverIPA (uma West Coast IPA clássica, de pegada citrica, amargor caprichado, mas sem ser exagerado), mas diversas outras cervejas conquistaram os paladares mais exigentes, como o trio de New England IPA EverMont, EverMaine e EverMass, as duas Sours da cervejaria (Soul e Sister, a segunda com nome inspirado no filme “Beleza Americana”, é uma American Sour com 200 quilos de polpa de maracujá para um lote de 2 mil litros) até as Russian Imperial Stouts.

Para celebrar o lançamento da EverBrew Enjoy The Spring, uma New England IPA herbal (bastante interessante), os cervejeiros convidaram a imprensa para um bate papo no Empório Alto dos Pinheiros, em São Paulo. Na pauta, além da nova cerveja e um passeio por outras belas cervejas da linha EverBrew (destaque para a EverMex, uma Mexican Imperial Stout com pimenta rabanero, baunilha, coldbrew e nibs de cacau), Renê e Célio falaram do brewpub que eles estão às vésperas de abrir no Canal 4, em Santos, contaram sobre como tudo começou e revelaram que a colaborativa com a norte-americana Sand City Brewery será lançada no Slow Brew 2018! Confira!

Como vocês entraram nessa de cerveja artesanal? Que cerveja abriu a cabeça de vocês?
Célio: Acho que são várias as cervejas que vão introduzindo a gente neste mundo. Para mim, talvez a primeira tenha sido a (belga) Hoegaarden, que me chamou muito a atenção ali por 2009/2010. Na sequencia, a Brewdog Punk IPA, foi a segunda. Depois, mas não muito distante, a Hocus Pocus Overdrive e a Dogma Rizoma, que foram o terceiro passo.

Renê: A gente começou a beber (cervejas artesanais) quase junto, mas acho que a primeira que me chamou a atenção foi a Leffe, uma cerveja mais pesada, que tinha um pouco de dulçor e eu gostava muito. Depois veio a fase da Sierra Nevada, que eu achava um negócio diferente. Depois, com a onda das nacionais, a gente vai se apaixonando pelas nacionais que são frescas, pois o frescor da cerveja artesanal brasileira não deve nada para ninguém, e por isso decidimos entrar nesse mundo e estamos trabalhando para fazer um negócio diferenciado.

Célio: Comecei a fazer cerveja em 2012, muito influenciado pelas cervejas artesanais (que eu estava conhecendo), e comecei a assistir vídeos e percebi que era possível fazer cerveja em casa sem grandes dificuldades. Fui totalmente autodidata. Comecei a estudar, assistia a vídeos e peguei o livro do John J. Palmer (“How To Brew: Everything You Need to Know to Brew Great Beer Every Time”, de 2006), que é um clássico para quem quer fazer cerveja. Depois comprei alguns equipamentos no Lamas, na época, e comecei a fazer. A primeira cerveja que fiz foi uma witbier e os primeiros lotes saíram mais ou menos, mas dai a gente vai aprimorando com o passar dos dias e dos processos. Depois fiz uma American Pale Ale, uma English Bitter e uma India Pale Ale, e quando cheguei na IPA era só IPA, IPA e IPA (risos). Foi muito nessa curiosidade de fazer cerveja em casa.

Vocês já estão no mercado há alguns anos, lançaram mais de 20 cervejas e agora anunciam o lançamento de um brewpub próprio. Como será esse brewpub?
Renê: Começamos a pensar no projeto do brewpub há um ano, mais ou menos. A proposta é inaugura-lo em Santos, que é a cidade onde a cervejaria Everbrew ficou conhecida, e será um espaço com 14 torneiras baseado no sistema de autosserviço. Teremos uma cozinha de 250 litros e mais quatro tanques de 500 litros. Será o nosso laboratório, o local onde poderemos testar receitas mais radicais, extremas, brincar mais. Dos 14 bicos imaginamos ter 10 bicos nossos tanto com as cervejas que vamos produzir no brewpub quanto as de linha que produzimos como ciganos. Pretendemos separar dois bicos para cervejarias convidadas e outros dois para cervejarias santistas, que é um movimento que está crescendo, fomos precursores, mas tem muita gente boa chegando, produzindo cerveja legal, que queremos levar pra lá.

Célio: O legal é que com 10 torneiras vamos também poder valorizar as escolas clássicas. Apesar de fazer cervejas extremas, sou fã da escola inglesa (das English Bitter e da pioneira English IPA), da escola belga (Tripel, Flanders talvez), da escola alemã. Queremos fazer Bohemian Pilsner, Altbier, Blond Ale. É uma forma de resgatarmos as origens da cerveja. O mundo da cerveja não começou com Juicy IPA. Houve um background imenso para se chegar nelas. Queremos mostrar que os estilos clássicos também são legais.

Hoje tivemos o lançamento da Everbrew Enjoy The Spring, a 21ª cerveja de vocês, e eu queria que vocês me contassem quais são as suas favoritas no cardápio da Everbrew! Quais são?
Célio: No meu caso tenho sempre a EverIPA como primeira opção, que foi a primeira receita da Everbrew, é a mais clássica. Mas eu flerto muito com as Sours (a Sister e a Soul) e também com a Evermex, porque ela é uma cerveja bastante reconfortante. Tem tudo ali junto: chocolate, café, baunilha, pimenta! Atualmente, até pelo clima, tem sido uma das cervejas que mais tenho tomado.

Renê: No meu gosto pessoal predominam as New England IPAs, gosto muito do estilo. Tanto que quanto as pessoas falam que NE é um estilo temporário, eu discordo e digo que tenho certeza que não é. As New England IPAs vieram para ficar, e a tendência, aqui e lá fora, são cervejas mais Juicy e aromáticas. Já a Enjoy The Spring vem dessa escola da NE IPA, mas saindo do frutado, que é o carro chefe do estilo, e indo para o herbal. Ela traz uma característica diferente para o mundo das New England. Pessoalmente estou numa fase de beber a Evermex, estou gostando da pimenta e é uma Mexican Imperial Stout com um pacote que me agrada muito. A Evermont também é bem especial. Mas eu vou mudando e sempre tenho uma nova paixão. Meu coração é muito grande (risos).

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