Boteco: Brouwerij De Molen (Parte 5)

por Marcelo Costa

Abrindo o quinto passeio pelo extenso cardápio da holandesa De Molen com a Licht & Lustig (Luz e Alegria), uma Belgian IPA cuja receita reúne trigo, aveia e maltes Munique e Caramel com lúpulos Sladek (amargor) e Cascade (aroma). De coloração âmbar caramelada (bastante característica da De Molen) e apresentando turbidez (típica das cervejas não filtradas), a Licht & Lustig exibe um creme bege claro de ótima formação e média permanência. Mais de 30 meses após engarrafada (a data deste lote é 27/02/2012), é praticamente impossível encontrar os rastros de Cascade no aroma, que acaba sendo dominado pela doçura caramelada do malte aliada a condimentação arisca (cravo) derivada da levedura. Na boca, adstringência típica de leveduras ariscas marca o primeiro toque junto ao caramelado do malte, sendo que este último enfrente sozinho a barreira de amargor suave imposta pela lupulagem (com auxilio da picância da levedura) num conjunto que prima por doçura de malte (melaço, bala toffee e caramelo) e amargor adstringente (cravo) com um leve toque frutado (banana). O final traz doçura, notas frutadas (a sugestão de banana aumenta conforme a cerveja aquece na taça) e picancia enquanto o retrogosto une caramelo, banana e cravo.

A segunda desta sequencia é a De Molen Pijl & Boog (Arco e Flecha), uma Belgian Strong Ale que une maltes Pale Ale e Caramel com lúpulos Premiant, Saaz e Amarillo num conjunto que alcança 10.3% de graduação alcoólica. A data do lote é 07/02/2013 e o longo tempo de guarda (15 meses) costuma ser bom para cervejas deste estilo. De coloração âmbar caramelada (olha ela ai) e apresentando turbidez, a De Molen Pijl & Boog exibe um creme bege de baixa formação e rápida dispersão (fato em comum em cervejas extremamente alcoólicas). No nariz, notas carameladas intensas dominam a percepção, mas há espaço para um suave toque cítrico (que deve ser mais presente em garrafas de safras novas) remetendo a laranja e damasco além de percepção de álcool, que não prejudica o conjunto. Na boca, a entrada traz melaço de caramelo e, logo na sequencia, amargor suave e álcool. Embora exiba mais a doçura do caramelo, o conjunto abre espaço maior no paladar do que no aroma para as notas cítricas (laranja, maracujá e toranja), ainda que sem muita profundidade. O final é simples e se compõe de melaço e álcool em primeiro plano e suave cítrico na retaguarda. No retrogosto, caramelo e calor de álcool.

Fechando o trio com a De Molen Pais & Vree, uma sensacional Belgian Strong Ale (que, na leitura dos holandeses, é uma Imperial Amber Ale) que une um blend com maltes Munique, Caramel, Vienna e Pils com cinco lúpulos norte-americanos: Chinook, Columbus, Citra, Amarillo e Cascade. De coloração âmbar caramelada e turbidez um pouco mais densa do que a linha tradicional da casa, esta De Molen Pais & Vree (lote de dezembro de 2013) exibe um creme bege de baixa formação e média permanência, com direito a rendas belgas na borda da taça. O aroma, fantástico, une o melaço de caramelo do malte com suaves notas cítricas derivadas da lupulagem, sem agressividade. Na boca, a entrada é bastante equilibrada entre a doçura de caramelo do malte tostado e as notas cítricas características dos lúpulos norte-americanos. Mesmo com os 66 de IBU, o amargor é suave e agradável, derivado mais do álcool (são 10%1 de graduação) do que do lúpulo, que, no entanto, se acumula na garganta (como uma IPA inglesa) conforme a garrafa esvazia. O conjunto reforça a linha de trabalho (caramelo + cítrico) em uma cerveja que termina melada e amarga e retorna trazendo caramelo e maracujá. Bela.

Balanço
IPAs (principalmente as mais exageradas) são cervejas que necessitam de frescor: quanto mais novas, melhor. No caso desta De Molen Licht & Lustig, os 30 meses tornaram o que era uma Belgian IPA quase que numa Belgian Dubbel, com álcool mais aparente, pouca lupulagem e muita doçura. Transformou-se em outra cerveja, ainda assim boa. Já a De Molen Pijl & Boog é uma Belgian Strong Ale com lúpulos norte-americanos, que se apresentam com delicadeza neste exemplar de 15 meses (um tempo de guarda ótimo para cervejas tradicionais do estilo), ainda que dominado pelo malte. Bastante simples, sem muita profundidade e de álcool elevado, a De Molen Pijl & Boog deixa a sensação de que mais fresca deva ser melhor. Já a De Molen Pais & Vree foi paixão ao primeiro gole! Caramelada e lupulada, essa belezinha é, ao fim deste quinto passeio, a segunda melhor cerveja que experimentei da De Molen entre 16 que já bebi (a primeira segue sendo a Tsarina Esra). Para beber devagar e sempre.

De Molen Licht & Lustig
– Produto: Belgian India Pale Ale
– Nacionalidade: Holanda
– Graduação alcoólica: 5,2%
– Nota: 3,10/5
– Preço pago: R$ 16 – 330 ml

De Molen Pijl & Boog
– Produto: Belgian Strong Ale
– Nacionalidade: Holanda
– Graduação alcoólica: 10,3%
– Nota: 3,30/5
– Preço pago: R$ 20 – 330 ml

De Molen Pais & Vree
– Produto: Belgian Strong Ale
– Nacionalidade: Holanda
– Graduação alcoólica: 10,1%
– Nota: 4,01/5
– Preço pago: R$ 18 – 330 ml

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