O segundo disco da Mafalda Morfina

por Daniel Tavares

Embora boa parte das bandas que rejuvenescem continuamente o rock brasileiro adote estilos mais pesados, ainda podemos encontrar novos nomes que fazem músicas cerebrais sem esquecer do entusiasmo e da leveza do bom e velho rock and roll. A Mafalda Morfina, banda cearense (hoje radicada em São Paulo), integra o segundo grupo como atesta seu novo disco, “Carrossel Estático” (2014), sucessor de “Sonhos Contrários”, debute da banda em 2008.

“Carrossel Estático” é aberto com “A Velha A Tricotar Desilusões”, faixa que já ganhou clipe e exibe uma melodia contagiante que destaca uma levada de baixo muito boa carregando a música entre intervenções precisas de guitarra enquanto a letra, bastante interessante, desfila seu jogo de palavras (a velha do título não seria exatamente idosa, mas uma personagem que sofreu transformações passando a maltratar as pessoas que ama, algo que pode levar uma vida inteira ou até mesmo acontecer no espaço de uma só noite).

A voz potente de Luciana Lívia é responsável por grande parte da personalidade da banda, mas é preciso ressaltar o baixo de Carla Keyse, que continua duelando com a vocalista em “Melhor Falar Com As Estrelas” e na excelente “Espelho”. As duas faixas também contam com a participação de Moisés Veloso, conhecido produtor conterrâneo. Outra faixa que merece destaque é “Supra Desejo”, que merece ser figurinha sempre presente nos shows da banda e abre caminho para a faixa título, que sintetiza bem o trabalho tanto na parte lírica quanto no instrumental.

O posto que outrora foi ocupado por “Sonhos Contrários”, canção que intitulava o trabalho anterior e era também a faixa mais marcante daquele disco, aqui é representado pela bela “Xícara Azul”, mesmo com a concorrência feroz de “Poderosa Imperfeição”, faixa que conta com a participação do quase cearense Bruno Gouveia, vocalista do Biquini Cavadão, e traz citações do também cearense Belchior.

Ao contrário do primeiro disco, onde havia teclados aqui e ali, há pouco do instrumento em “Carrossel Estático”, um álbum que privilegia os riffs de guitarra gravados por Renato Galozzi, o poderoso baixo de Carla, a bateria precisa registrada por Andrews Rogério e a voz personalíssima de Luciana, que assina todas as canções – vale a pena ler o encarte, as letras são boas e interessantes independentemente do que chegará aos seus ouvidos. A bonita e melancólica “Adeus” encerra o trabalho, de forma como todos os discos deveriam terminar: suavemente, mas sugerindo a espera por um novo trabalho ou um novo play.

A Mafalda Morfina não é uma banda para se esperar longuíssimos solos de guitarra, viagens psicodélicas ou bumbos duplos, mas sim melodias contagiantes, vocais marcantes e um trabalho bem feito. Há influências fortes de rock alternativo, um pouco de hard-rock, outro tanto de indie e algo de pop. O conteúdo lírico também continua sendo um dos pontos fortes da banda que, após a mudança para São Paulo, passou por mudanças e atualmente é formada por Luciana Lívia (voz) e Carla Keyse (baixo), da formação original, ao lado dos novos integrantes Thiago Arena (guitarra) e Renato Manteiga (bateria). Preste atenção neles.

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