Entrevista: Nevilton

por Rodrigo Guidi
colaborou Marcelo Costa

Formado em Umuarama, interior do Paraná, o power trio Nevilton é um dos grandes acontecimentos do rock brasileiro nos últimos tempos. Indicada ao Grammy Latino na categoria melhor vídeo musical versão curta, a banda lança o terceiro CD, “Sacode”, pelo selo Oi Música (ouça aqui).

O álbum é fruto do festival Música Para Todo Mundo, que em 2012 teve a banda paranaense como uma das vencedoras pelo voto popular. Gravado na Toca do Bandido, no Rio de Janeiro, o disco tem 12 faixas e produção de Carlos Eduardo Miranda.

Na estrada desde 2007, o trio se inspira na música brasileira e no rock para produzir músicas simples, diretas e cheias de personalidade. Nevilton de Alencar (voz e guitarra), Tiago “Lobão” Inforzato (baixo e vocais) e Eder Chapolla (bateria e vocais) partiram para o estúdio com cerca de 30 canções escritas e a saudade de Umuarama serviu de inspiração para várias letras.

Indicado ao Grammy, o clipe de “Tempos de Maracujá” tem um primoroso trabalho de edição e merece ser assistido. Em meio ao trabalho de divulgação de “Sacode”, o vocalista do power trio concedeu entrevista ao caderno PLUG, do jornal Gazeta de Limeira, parceiro do Scream & Yell. Acompanhe a íntegra do bate-papo com Nevilton.

Vocês têm uma pegada interessante no “Sacode”. Como foram surgindo as composições para o novo disco?

O disco veio com uma leva de canções novas, depois que nos mudamos para São Paulo, após ter rodado bastante com a banda e ter várias experiências pelo país. Além disso, resgatamos algumas músicas que não haviam entrado no “De Verdade” (disco anterior, lançado em 2011). Com o tempo passando, fomos adaptando as músicas. Elas foram ficando mais prontas para podermos atacar nos shows.

Como foi gravar “Sacode” na Toca do Bandido com o Carlos Eduardo Miranda. A figura do produtor é realmente importante?

Claro que é! Gravar com Miranda e Tomás Magno na Toca do Bandido foi uma experiência muito bacana, plural de perspectivas… O Miranda é um poço de referências, das mais simples até as mais malucas possíveis; já o Tomás é um cara mais técnico, se apega em estrutura e formas para que tudo soe bem, sempre em busca de um super som. Isso somado ao ambiente, contexto histórico e equipamentos incríveis da Toca do Bandido… Estávamos nos sentindo na “Disneylândia dos músicos”! rsrsrs

O que você vê como influências para o trio?

A gente vive da música e para a música. Todos nós somos plurais e ouvimos desde Astor Piazzolla até Pantera. É bastante difícil citar uma in fluência direta, mas sempre gostamos de rock nacional, como Paralamas, Barão (Vermelho), Titãs. Sempre gostamos também de indie rock, como Cake, Pixies. Ao mesmo tempo, nesse disco exploramos um instrumental bem elaborado, numa pegada power trio, power pop, que remete àquele começo dos anos 70.

Você acha importante essa pluralidade, essa ausência de preconceito até para influenciar vocês na questão da harmonia e nas composições?

Com certeza. Primeiro porque preconceito musical pode ser um tiro no pé. Os gostos também podem mudar. Sempre pensamos na beleza, em algo que agrade. Então sempre tentamos explorar desde coisas como influência do cancioneiro brasileiro, como Fagner, Belchior, até Titãs, como “Cabeça Dinossauro”, que é uma coisa mais despojada, brincalhona. A gente sempre tentou estar no meio disso tudo, para que um dia sejamos percebidos como parte dessa história.

E a questão das letras. Percebemos muita coisa do cotidiano. Onde você foi buscar inspiração para as letras do “Sacode”?

É tudo bastante natural mesmo, de um cotidiano e não necessariamente só o meu. Brinco muito de me apropriar de perspectivas de amigos e até de um personagem mesmo.

Boa parte do primeiro repertório da banda foi composto ainda quando vocês moravam no interior do Paraná. O que São Paulo trouxe de novo para vocês – tanto musicalmente quanto tematicamente?

Trouxe muita coisa, além de contas altas (ô, cidade cara pra se viver, né!? hahahaha). Toda a agitação da cidade, a loucura frenética, todo mundo trabalhando e produzindo muito, somado a vários movimentos culturais, inúmeras possibilidades de se entreter, sensibilizar, conhecer mais expressões e perspectivas… Estar perto de tanta coisa acontecendo já motiva a também tentar fazer algo acontecer. Enfim, todo mundo está ficando ainda mais louco e motivado a fazer mais e sempre…

Como foi sair de Umuarama para o Grammy Latino? Como foi essa exposição para uma banda independente?

Sempre pensamos em nos envolver em concursos, prêmios. Estivemos em um concurso da MTV abrindo o show do Green Day. Quando ganhamos o Multishow, foi a mesma coisa. E nos inscrevemos para o Grammy. Quando recebemos a informação de que havíamos sido indicados, isso foi uma coisa muito além do que esperávamos. Vimos depois que, historicamente, naquela categoria, só duas bandas brasileiras haviam sido indicadas: o Frejat e o Paralamas. Então foi algo que nos deixou muito honrados. Chegar lá como uma banda independente do interior do Brasil foi muito legal. As pessoas respeitaram muito, bandas já estabelecidas no Brasil, Venezuela, EUA, que hoje trabalham para o público latino. Foi ótimo e só nos motiva agora com o “Sacode” a caprichar ainda mais. A intenção é mostrar o trabalho o máximo possível.

Já dá para perceber uma diferença na projeção de vocês por causa do Grammy?

É sempre uma pauta a se explorar. A todo lugar que vamos, as pessoas têm essa curiosidade. Não rolou tanta coisa em termos internacionais, mas é algo perceptível na curiosidade e na vontade de saber quem somos.

Como está o trabalho do “Sacode”?

Ele foi lançado no início de março e já começamos a fazer shows. Já fizemos cidades no interior de São Paulo, Paraná e estamos com uma agenda bastante interessante. Vamos gravar um clipe e estamos a todo o vapor.

Vocês circulam bastante pelo cenário independente tocando em diversas cidades do país. Como vocês veem a cena musical brasileira atual? Tem muita coisa boa acontecendo?

Ao meu ver, estamos num momento incrivelmente plural, cheio de produções, de todos os tipos e gostos, onde podemos encontrar boas surpresas com frequência. A internet e novas tecnologias trouxeram toda uma facilidade de se ouvir mais música, acompanhar trabalhos de diversos artistas, ver/ler/ouvir novas perspectivas e tendências, se informar e aprender, conseguir equipamentos pra conseguir fazer gravações cada vez melhor e mais fácil… tudo isso contribui, motiva e traz esperança de termos muitas cenas acontecendo e se comunicando.

Qual o projeto da banda agora?

Acredito que tudo tem que ser feito com muita paciência e carinho. Estamos lançando o disco agora e acredito que a onda seja focar nesse conteúdo e fazer materiais legais ao redor desse disco, como clipes, eps, singles, gibis… Enfim, conteúdo relativo ao disco que possa também entreter e chamar atenção para que a turma possa curtir e conhecer nosso trabalho.

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Rodrigo Guidi (@rodrigoguidi) é jornalista do caderno Plug, do jornal Gazeta de Limeira

Leia também:
– Entre hamburgueres e panetones, Nevilton conversa com Bruno Capelas. Leia aqui
– Entrevistão: Heitor (Banda Gentileza) e Nevilton, por Mac e Tiago Agostini (aqui)

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