Entrevista: Reverend Beat-Man

por Andye Iore

Reverend Beat-Man é o cara! Ele tem 45 anos e é um dos principais sucessores de Hasil Adkins, um dos pioneiros do psychobilly. Beat-Man também é um grande agitador cultural do underground. Já tocou em diversas bandas, canta numa das principais bandas de garage rock da atualidade – The Monsters, na ativa desde 1986 -, tem uma das mais bacanas onemanbands da história e comanda a gravadora Voodoo Rhythm.

Com 13 anos o jovem Beat-Man já fazia barulho tocando (e gravando) sozinho em casa. Nos anos 80 ele impressionou o underground europeu como Lightning Beat-Man, misturando garage rock com luta-livre ao vivo. Em 1992 criou a gravadora Voodoo Rhythm para levar sua esquisitice para mais pessoas ao redor do mundo.

Reverend Beat-Man já tocou no Brasil com o The Monsters em 2003, e retorna ao país em 2013 para se apresentar no Psycho Carnival, festejado festival de psychobilly que acontece em Curitiba durante o carnaval (em 2013, de 07 a 12 de fevereiro). Beat-Man se apresentará com seu projeto onemanband e também com o The Monsters.

Em bate papo com o jornalista Andye Yore, do programa Zombilly, o músico suiço fala sobre a expectativa de voltar ao país, comenta sobre Hasil Adkins, The Cramps, internet, polêmicas religiosas e de como o mundo seria bem mais bacana se ele fosse presidente! Com você, Reverend Beat-Man.

Você recebeu uma carta de Hasil Adkins. Qual é o valor disso para você?
Mandei uma carta para ele na década de 80 e no início dos anos 90 eu fui para o West Virginia para conhecê-lo. Eu vi minha carta pendurada na parede ao lado de páginas da Bíblia. Passamos bons momentos lá até que ele quis transar com minha namorada. Então fomos embora [risos]. Ele me escreveu uma carta que foi tão gentil da parte dele… ele era um homem e um guitarrista incrível. Hasil Adkins era uma criança presa num corpo de adulto… louco, muito louco!

Como você conheceu o trabalho de Hasil Adkins e The Cramps?
Conheci o Haze [Hasil Adkins] pelo The Cramps. E o The Cramps entrou no meu caminho em 1982 com fitas cassete que eu comprava em uma loja de Berlim. Antes do The Cramps havia Elvis Presley e depois do The Cramps tinha Charlie Feathers [risos]. De qualquer maneira essa banda era incrível e mudou meu mundo para sempre. Cresci numa pequena cidade da Suíça. Cresci ouvindo AC/DC, Black Sabbath e Status Quo. The Cramps e Venom tiveram uma grande relevância.

Você chegou a tocar com o The Cramps?
Não, (provavelmente porque) não vou com frequência para Los Angeles. Nunca conheci a banda e nem toquei com eles. Não tenho feito muitos shows de aberturas para bandas maiores. Mas, para o The Cramps eu tocaria até no banheiro deles! Já toquei com os Ramones, Public Enemy, entre outros. Estou na estrada há mais de 25 anos…

Você já teve várias bandas. Como é o seu trabalho hoje como músico e na Voodoo Rhythm?
Tenho muita sorte. Nunca precisei de agências para marcar shows. Aconteceu tudo automaticamente. Os bares pedem para tocarmos e temos shows suficientes para rodarmos por aí. O selo Voodoo Rhythm vai muito bem! Melhora a cada ano. Comecei em uma pequena sala e hoje temos empregados em um grande galpão. A coisa ficou grande e ainda é divertida!

Como você começou a tocar como onemanband?
Quando tinha 13 anos eu gravava tudo sozinho, em dois gravadores no estilo pingue-pongue. Mas nunca tinha feito shows como onemanband. Na década de 1990, a Junkie Rec lançou as músicas que fiz entre 1984 e 1994. Comecei a tocar ao vivo como onemanband só em 1992. Primeiro só com a guitarra. Depois usei um bumbo por dois anos tocando em pé. Então coloquei outras partes e comecei a tocar sentado. Sou uma das primeiras onemanbands blues punk do underground depois de Hasil Adkins! Na época não havia internet e foi muito divertido descobrir por minha conta o que uma onemanband fazia.

Nos seus DVDs você agradece aos seus amigos que participaram da filmagem. Você ainda tem dificuldades para fazer e lançar o CD e DVD hoje?
Não há dificuldades… tudo é possível hoje!

Quando você começou a tocar as pessoas faziam fanzines e as bandas lançavam demo tapes. Como a internet mudou o seu trabalho?
Lembro que antes da internet havia o fax. E chegava fax de madrugada. O telefone tocava às 4 da madrugada com alto custo. Era tudo muito difícil e caro para organizar turnês. Hoje é tudo incrível. Adoro a internet! É tudo muito rápido e fácil de fazer. Hoje falo com você aqui e amanhã posso estar tocando aí. Agendamos as passagens de avião, imprimimos os cartazes… é uma grande ferramenta! Assim como para a sociabilidade. Temos o Facebook, o Twitter e outros sites. É tudo muito legal e divertido. Sou um cara muito ocupado e toda essa evolução é perfeita para mim.

O que é necessário para entrar na igreja do Reverend Beat-Man?
Você precisa ser mulher e ir para a cama comigo primeiro. Depois podemos começar a falar sobre isso [risos]. Não, não há exigências… mas você precisa ter uma cabeça livre. Foda-se as normas, os estilos e as cabeças fechadas. Primeiro você tem que ter amor. Depois se divertir e daí vem o resto… muito fácil!

Você já teve algum problema com qualquer instituição ou igreja, por relacionar religião com sexualidade e rock?
Sim, muito! Se você é um pensador livre, você é um adorador do capeta! Como “satanista” eu sou muito leal [risos]. Na Suíça eles cospem em mim quando toco em regiões muito cristãs. Mas sei que eles não ficam até o final do show e isso é um grande erro. Veriam que as pessoas vão para o show revoltados e cansados do trabalho. Em seguida, depois da minha lavagem cerebral, viram pessoas novas com 15 toneladas de energia e um sorriso nos rostos. Eu prego para os cristãos e como bom “satanista” eu “limpo” as pessoas como tiramos um vírus do computador. E isso dá força para as pessoas para o futuro. A grande diferença é que você só precisa acreditar em você mesmo e em ninguém mais.

O Brasil tem várias onemanbands. O que você acha do crescimento deste gênero?
Acho que isso é fantástico!

Você vai voltar ao Brasil depois de dez anos. Quais são suas expectativas para tocar no Psycho Carnival em 2013?
Foi uma loucura quando tocamos no Brasil em 2003! Lembro-me de muitos fãs selvagens e meninas no palco sentando no meu rosto enquanto tocava [risos]. Eu amo o Brasil! Vocês são pessoas maravilhosas. Ouvi dizer que muitas coisas mudaram desde então… estou bem curioso e ansioso para os shows.

Como será o set do The Monsters e do Reverend Beat-Man no Psycho Carnival?
O set do The Monsters será muito selvagem! Cheio de garage punk num volume alto e cheio de barulho. Será muito foda! Com o Reverend Beat-Man haverá muita pregação e algumas canções lentas também. Os dois shows são bem intensos e o público vai gostar!

Se você encontrar alguém que não conhece a Voodoo Rhythm o que você indicaria no catálogo?
www.voodoorhythm.com somos nós! Transformamos as pessoas em outsiders… se você se sente estranho, esse é seu lugar! Temos discos muito loucos, garage punk rock para jovens selvagens, rock´n´roll blues trash e muito mais! Temos discos usados, muitos produtos e acessórios, camisetas quentes e muitas outras coisas que não posso falar aqui.

O que você planeja para o futuro do seu trabalho?
Damos um passo depois do outro. E vamos dominar o mundo! Quando formos presidente do mundo vamos nos livrar de todas as fronteiras, queimaremos todo o dinheiro, nos livraremos das antigas religiões e criaremos uma nova religião: o Rock’n’Roll!!!

– Andye Iore (@andyeiore) é jornalista em Maringá e Cianorte (PR), fã de Cramps desde 1986 quando ouviu “Surfin’ Dead” no filme “A Volta dos Mortos Vivos”. Apresenta o Cinema na Música na rádio Música FM de Cianorte (89,9 FM) e o Zombilly no Rádio na UEM FM (106,9) e na Alma Londrina (www.almalondrina.com.br) além de ser responsável pelo site Zombilly.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.