Lançamento: Céu e Marcella Bellas

Por Adriano Mello Costa

“Vagarosa”, Céu (universal)

Escutar “Vagorosa”, o novo disco da cantora paulista Céu, é uma tarefa que deve ser feita de maneira cuidadosa, prestando atenção nos detalhes de cada acorde, de cada batida. Quando escuta-se o disco pela primeira vez, ele não chega a conquistar por completo e deixa só algumas boas impressões. Porém, usando um clichê tão comum, “Vagorosa” é o tipo de trabalho que vai crescendo a cada audição, envolvendo mais e mais ao deixar sua sutileza a mostra.

Céu caiu nas graças de muita gente com seu primeiro trabalho, adquirindo elogios até certo ponto superlativos para uma carreira que então se iniciava. Esses elogios que soaram meio exagerados anos atrás, hoje parecem muito mais honestos e merecedores. “Vagarosa” é um bonito mosaico sonoro que envolve na sua composição reggae, samba, dub, pop, mpb e jazz, executados por músicos de qualidade e com uma produção certeira e ousada.

O samba aparece na abertura com “Sobre o Amor e Seu Trabalho Silencioso”, conduzida pelo cavaquinho de Rodrigo Campos e que serve de introdução para o resto do disco. Este mesmo samba volta mais lá para o meio com “Vira-Lata”, um dueto com o grande Luiz Melodia, com uma cadência de não fazer feio a sambista nenhum, e acaba por ser desvirtuado na versão arrebatadora e lisérgica de “Rosa Menina Rosa” do mestre Jorge Ben, que os Sebozos Postizos (a turma da Nação Zumbi) abrilhantam ainda mais.

Os músicos que fazem participações especiais em “Vagorosa” representam um grande plus. Além dos já citados, aparecem Bnegão, Thalma de Freitas, Anelis Assumpção, Guizado, Curumin e Fernando Catatau (Cidadão Instigado), que dá um show a parte em “Espaçonave”. A produção de Gui Amabis, Gustavo Lenza e Beto Villares, além da própria cantora, soa precisa, limpa e crua, remetendo a outras épocas como os anos 60 e 70.

Enquanto o disco passa, as músicas que tinham se destacado anteriormente dão lugar a outras sem muita lógica ou razão. Pode ser o reggae preguiçoso e quebrado de “Cangote”, “Grains de Beauté” com sua ambientação climática, vocal remetendo a Elis Regina e o baixo no centro do comando ou de repente tudo pode mudar e “Cordão da Insônia”, um reggae mais alegre, quase ensolarado, ser a canção escolhida para se repetir algumas vezes.

Em tempos de consumo tão feroz de informação, onde discos aparecem por todos os lados a cada dia, onde discos são escutados uma vez e nunca mais revisitados, Céu vai na contramão dessa marcha, lançando um trabalho que precisa de dedicação para ser apreciado. “Vagorosa” é melhor servido em doses do que de uma vez só. É para ser degustado com calma, tranquilidade e com ouvidos e mente aberta.

Site Oficial: http://www.ceumusic.com
My Space: http://www.myspace.com/ceuambulante

“Será Que Caetano Vai Gostar?”, Marcela Bellas (independente)

Diretamente da Bahia vem um dos discos mais interessantes da música nacional nesse ano. “Será Que Caetano Vai Gostar?” marca a estréia da cantora Marcela Bellas, que já tinha um Ep na carreira lançado em 2006. Gravado de maneira independente, o álbum traz parcerias com outros músicos como Helson Hart, além da regravação de “Bloco do Prazer” de Moraes Moreira e Fausto Nilo que Gal Costa já havia feito um ótimo trabalho anteriormente.

No meio de apostas recentes como Maria Gadú e Ana Cañas, Marcela Bellas consegue sair alguns bons passos na frente. Seu disco é tranqüilo, cotidiano, simples e direto. Agrada sem fazer muita força, o que sempre é um grande mérito. Logo na entrada com “Quando o Samba Quer”, a coisa já flui bem. Um sambinha torto com scratches e cheio de malemolência com referência direta na música baiana.

Em “Me Leve”, uma bonita balada que já constava no primeiro Ep, Marcela canta suave os versos: “se você for embora me leve, se você for passar a tarde fora me leve (…) me leve pra qualquer lugar, pra onde seu bloco passar”. Cantoras como Vanessa da Mata devem ficar pensando: “Porque não consigo fazer algo assim?”. “Esse Samba” homenageia artistas como Gilberto Gil e Dorival Caymmi enquanto o baixo toma conta com um groove forte e pesado.

“Alto do Coqueirinho” é um sambinha com pandeiro em destaque e letra meio Rita Lee, engraçada e pra cima. “Bloco do Prazer” ganha uma digna versão enquanto “Por Outro Lado” é outra bonita canção conduzida por violões. “Por Favor” é triste, uma típica canção de final de amor, com ótimas pitadas de ironia e algumas cortadas fulminantes. “Esse Samba” ainda volta no fim em uma boa versão remixada para fechar o disco.

Andando livremente sem pressa e sem compromisso pelas ruas da Mpb, Marcela Bellas visita lugares com influências modernas ao mesmo tempo em que honra antigas influências baianas. “Será Que Caetano Vai Gostar?” traz um clima que deixa o ouvinte em uma situação bastante agradável. Se continuar assim, ainda podemos esperar muita coisa boa de Marcela Bellas nos próximos anos. Ah, e se Caetano não gostar, azar o dele.

Download Gratuito: http://www.marcelabellas.com.br

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Adriano Mello Costa assina o blog Coisa Pop

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