Entrevista: Elefant

Por Danilo Corci

No começo dos anos 00, Nova York era “a” cidade da música. De lá vinham, considerados por todos, as melhores ideias musicais, as bandas mais quentes e, claro, os Strokes, que quanto mais se aproxima o final da década, mais gente os apontam como “revolucionários”.

Verdade ou não, o fato é que em sua passagem pelo Brasil, os Strokes se mostraram apenas uma bandinha de nightclub ao vivo, uma tristeza só. Mas se eles são supervalorizados, também é verdade afirmar que se não fossem por eles, outras dezenas de bandas nova-iorquinas não teriam a menor chance de galgar o mundo.

Um dos casos mais curiosos é o Elefant, quarteto formado pelo argentino Diego Garcia nos vocais, Mod, na guitarra, Jeff Berrall, no baixo e Kevin McAdams, na bateria. Tudo começou com o EP “Gallery Girl”, em 2003, seguido do álbum “Sunlight Makes Me Paranoid”.

Em comparação com o que era feito na época, o disco atendia bem ao briefing: era rock, mas pop o suficiente, com integrantes devidamente vestidos em brechós. Mas havia algo ali de diferente. O disco, celebração de baladas e lindas garotas melancólicas, trazia melodias leves e despretensiosas, com dez canções redondas, que praticamente impede a escolha de uma como a melhor. Era sinal de algo raro naquela efervescência toda.

Outro sinal que o Elefant também era diferente: a banda não se apressou em gravar um novo disco, regra básica para os grupos dos anos 00. Três anos se passaram até surgir “The Black Magic Show”, com uma reviravolta e tanto. Ainda que a tentativa de som leve estivesse lá, a banda parecia cada vez mais introspectiva, não no sentido Interpol, mas sim no de ruptura com que havia feito antes. Alguns narizes foram torcidos e a banda, apontada por muitos como a “the next big thing” foi deixada de lado. A atmosfera experimental de colocar novos elementos nos sons não caiu bem para o público.

Mas como que imitando o nome de batismo da banda, o Elefant parece querer voltar a serem notados com um terceiro disco, programado para sair no começo de 2010. Eles parecem não ter pressa alguma em lançar novos materiais, indo contra a corrente vigente. Conversamos, via e-mail, com Kev para saber o que ainda pode se esperar da banda. O resultado você lê abaixo.

Sete anos se passaram deste o começo da banda. Como estão as coisas para o Elefant?
Kevin McAdams: Na verdade já são oito ou nove anos. Louco, não? Onde o tempo foi parar? Bom, as coisas estão legais. Estamos adorando fazer o novo disco e entrar em contato novamente com os fãs.

Vocês surgiram numa época de boas bandas em Nova York. De alguma maneira isso ajudou vocês?
Acredito que muitas das bandas de Nova York estavam na mesma onda. O final dos anos 90 foram tão fracos para a música popular norte-americana que alguma coisa tinha de acontecer. Estávamos querendo criar músicas que gostaríamos de ouvir. A cena nova-iorquina estava tão pra baixo que alguma coisa boa iria acontecer. E aconteceu.

“Sunlight Makes Me Paranoid”, em minha opinião, é um dos grandes discos desse levante de Nova York. Fazendo uma retrospectiva, como vocês lidam com ele agora?

Obrigado! Nós gostamos muito daquele disco. Não havia expectativas quando o fizemos. Há uma inocência genuína nele. E olhando agora, isso realmente foi importante pra cacete.

Já “Black Magic Show” trouxe diferentes reações, algumas pessoas diziam que você havia evoluído, outras que vocês perderam a mão. De alguma maneira dá pra dizer que o disco foi uma espécie de “Kid A” de vocês, porque ele soa mais tenso e menos fácil do que o primeiro?
Realmente é um disco bem diferente de SMMP. A qualidade estética dele foi em direção oposta ao primeiro álbum. Escrevemos muitas canções, mas não conseguimos lançar logo após “Sunlight”, levou três anos para conseguirmos organizar tudo. Então, não houve uma ponte de conexão entre os sons do primeiro e do segundo disco. O primeiro disco de uma banda geralmente define a marca dela. Por inúmeras razões, o som de BMS foi um contraste para o SMMP, o que causou essa reação nos críticos e nos fãs. Mas não chegaria a dizer que foi um “Kid A” da banda, longe disso.

As bandas que surgiram nos anos 00 parecem ter uma ânsia gigantesca por lançar novos materiais. Vocês, ao contrário, levam mais tempo para cozinhar um novo. Alguma razão para isso?
Sim, tudo menos a música. Temos bastante material novo. Criativamente, poderíamos lançar um disco novo por ano, mas a política do selo e a loucura do “mu sic business” atrasam o processo. Por isso eu escrevi e gravei meu álbum solo, “It’s My Time To Lose My Mind”, com o Mod coproduzindo. Eu quis criar e lançar um disco do meu jeito, sem as frustrações de ter de agradar um bando de pessoas que se preocupam apenas com os resultados. Você pode ouvir um pouco em http://www.myspace.com/kevinmcadams

Vocês estão em estúdio agora. O que podemos esperar para o novo álbum?
Um disco mais pra cima, muito mais parecido com o SMMP. Estamos num bom lugar e curtindo a música por ela mesmo.

Como é o processo criativo de vocês? Todos fazem de tudo?
O Diego vem com um sketch de uma música, um acorde, uma melodia vocal. Daí, trabalhamos em conjunto, colocando o tempo, sentimentos, estruturas, melodia, etc…

E o que você tem ouvido?
Muito Beatles, Stevie Wonder e Miles Davis. Cresci ouvindo isso.

Alguma chance de turnê na América do Sul ano que vem?
Espero que sim. Assim que tivermos a data correta do lançamento do novo disco na América do Sul, seria sensacional fazer uma turnê por aí!

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Danilo Corci é jornalista e editor dos sites Speculum e Mojo Books

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Leia também:
– Strokes ao vivo no Tim Festival SP, por Marcelo Costa (aqui)
– “First Impressions of Earth”, do Strokes, por Marcelo Costa (aqui)

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