Três filmes: “O Mundo Depois de Nós”, “EXMas” e “O Maestro”

textos por Marcelo Costa

“O Mundo Depois de Nós”, de Sam Esmail (2023)
Após acordar certa manhã de sonhos intranquilos em Nova York, a publicitária Amanda (Julia Roberts) decide reservar uma casa em Long Island para passar o fim de semana com o marido Clay (Ethan Hawke) e os filhos adolescentes Rose (Farrah Mackenzie) e Archie (Charlie Evans). A família encara numa boa o evento não planejado e se embrenha numa bela casa alugada buscando se afastar do caos de Manhattan. Tudo segue mais ou menos bem na história – ainda que efeitos, montagem e direção de atores, principalmente Julia, insistam em incomodar o espectador de maneira forçada e extremamente banal desde o primeiro segundo do filme – até a família, reunida em uma praia, presenciar um imenso barco desgovernado ancorar na areia assustando a todos os banhistas. Junte a isso o fato de que os quatro não estão conseguindo conectar-se à Internet nem acessar canais de TV na casa, ou seja, estão isolados do mundo, e de que uma série de pequenos atos estranhos irão começar a acontecer na vizinhança, para que o terror psicológico pós apocalíptico entre em cena, incluindo a chegada, no meio da madrugada, do dono da casa, o misterioso GH Scott (Mahershala Ali) acompanhado da filha Ruth (Myha’la). Um dos hits da Netflix no final de 2023, “Leave the World Behind” (inspirado no livro de mesmo nome lançado por Rumaan Alam em 2020) tinha um material de partida interessante, que o diretor Sam Esmail, que também assina o roteiro adaptado, desperdiça de maneira acintosa abusando de clichês, maneirismos e um desejo óbvio (plenamente fracassado) de repetir o êxito conseguido por John Krasinski na sustentação do suspense em “Um Lugar Silencioso” (2018) – que, por sua vez, tinha um ponto de partida péssimo. Não bastasse todos os equívocos de estilo, Esmail ainda comete um dos maiores pecados cinematográficos que é tratar o espectador como idiota ao explicar a trama didaticamente no trecho final da história. Único ponto positivo do filme: demonstrar a importância da mídia física…

Nota: 3


“EXMas”, de Jonah Feingold (2023)
É semana de Natal e Graham (Robbie Amell), um desenvolvedor de games vivendo em Los Angeles, está atulhado de trabalho, com um jogo para ser entregue nos últimos dias do ano. Sua família, na nevada Minnesota, está animada nos preparativos natalinos quando descobre que o rapaz irá dar cano na festa familiar para o aniversário de Jesus, mas se conforma e, em sua ausência, decide convidar sua ex-noiva Ali (Leighton Meester, de “Gossip Girl”), que lhe deu um pé na bunda seis meses antes, para passar o período natalino com eles. Acontece que, no fundo do poço da solidão e do abandono em LA, Graham decide, de última hora, fazer uma surpresa chegando sem avisar para a festança familiar. Já imaginou a confusão, certo? Quem nunca encontrou um ex-par conversando com os pais em casa que atire a primeira pedra… Bem, a coisa toda ganha impacto quando Graham e Ali decidem disputar a família num jogo meio “Como Perder um Homem em 10 Dias” em que vale tudo para queimar o filme um do outro. Comédia romântica sazonal disponível na Amazon Prime, “EXMas” não é essa rabanada toda que a introdução adianta, mas ainda assim se sai muito melhor do que diversas comédias românticas disponibilizadas em streaming durante esse sofrível 2023 para o estilo. Há certa química entre Robbie e Leighton, e o elenco secundário, com a novata Veronika Slowikowska (no papel de – jovem Ellen Page – irmã do rapaz) e os experientes Michael Hitchcock e Kathryn Greenwood (como os divertidos pais dele) garante algumas risadas mesmo com o roteiro forçando a barra em diversas passagens. No fiel da balança, “EXMas” é simples e bobinha, mas funciona como passatempo descompromissado. Assista pensando com qual de seus ex seus pais ainda mantêm contato…

Nota: 5


“Maestro”, de Bradley Copper (2023)
Uma lenda da música estadunidense, o maestro, compositor e pianista Leonard Bernstein é um dos artistas mais influentes na história da música clássica americana do século 20, tendo se tornado famoso tanto como condutor da Filarmônica de Nova York como apresentador de concertos para jovens na televisão (Young People’s Concerts) entre 1954 e 1989. Ahhh, Bernstein ganhou vários Grammy e alcançou reconhecimento em boa parte do globo, mas nada disso soou interessante para o ator e diretor Bradley Copper, que interpreta o maestro no filme assim como dirige o longa-metragem (cotadíssimo para o Oscar) e divide com Josh Singer o roteiro. Cooper preferiu focar na conturbada vida pessoal de Bernstein, um homem hiperativo, falastrão, genial (ainda que isso fica em segundo plano na história), bissexual, casado com uma atriz então em ascensão em Hollywood (Felicia Montealegre, interpretada de modo carismático por Carey Muligan), com quem ele teria três filhos enquanto iria seguir mantendo relacionamentos com diversos outros homens (até o fim da vida). Há de se destacar a coragem de Cooper de fugir da obviedade de filmar uma obra que louvasse a carreira de Leonard Bernstein num formato de documentário teatralizado, mas, ainda assim, “Maestro” soa um disparate produzido com a única intenção de chocar o espectador, sendo que no final soa apenas triste. O ritmo alucinante do filme, num show de montagem (as áreas técnicas – incluindo as duas atuações principais – vão brilhar na temporada de premiações), atropela qualquer sutileza ignorando completamente a música (relegada praticamente a trilha incidental) e resumindo quase 40 anos de vida em duas horas de tela que tentam fisgar o homem deixando-lhe escapar a alma. “Maestro” é um filme cheio de superlativos e vazio de qualquer tipo de sentimento. E, em mais um episódio das injustiças do Oscar, deverá se sair muito melhor que o maravilhoso filme da maestra do ano passado. Coisas do cinema…

Nota: 6

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.

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