Em Porto Alegre, L7 mostra integridade e peso enquanto Black Flag faz um show bélico e punk nos 40 anos do Opinião

texto por Janaina Azevedo
fotos de Billy Valdez

Pareceu bom demais pra ser verdade um show que reunisse Black Flag e L7. Duas bandas de cenas diferentes, não exatamente com sons afins, improvável que fossem associadas de imediato. Mas depois da turnê que conseguiu colocar ambos no palco, está feita a ligação na memória do fã.

L7 chegou primeiro e foram as headliners de shows em São Paulo e interior. Foi em Curitiba que as agendas bateram. Em Porto Alegre as bandas chegaram no dia seguinte. Rio de Janeiro fecha a dobradinha no domingo. Daqui, Black Flag segue para o Japão. L7 fica na América Latina para shows na Argentina, Chile e Colômbia.

Depois de testemunhar o show de São Paulo, a reportagem do Scream & Yell aportou em Porto Alegre. L7 abriu a noite, mas a lógica não foi exatamente a de abertura: ambas as apresentações ganharam o espaço completo, setlist na íntegra e status de dois shows juntos.

O começo atrasou um pouco. Diferente de São Paulo, o som estava acertado. Quase 5 anos após a estreia da banda na cidade, as gurias repetiram em boa medida a noite de 2018.

O setlist segue priorizando as músicas de “Bricks Are Heavy”, que completou 30 anos em 2022, sem deixar de fora hits punks como “Andres” e “Shove”. A performance das quatro gurias é empolgada e não deixa dúvida da influência metal: Donita Sparks toca sua Flying V e fica de olho na baixista Jennifer Finch para baterem cabelo em sincronia. É manjado, mas é divertido.

Assistir o L7 em 2023 parece cumprir o que os fãs gostariam que fosse o destino das suas bandas favoritas dos anos 1990: que se mantivessem íntegras, coerentes, irônicas e, principalmente, ainda ótimas e pesadas. Ainda bem que elas deixaram de fora “Cooler Than Mars”, música lançada meses antes da vinda ao Brasil. Não está à altura do legado da banda.

Outra da safra recente, “Dispatch From Mar a Lago” entrou, com o protocolar xingão a Donald Trump, o tema da canção debochada. Até nisso parecia 2018. Não é errado xingar o Laranja. Mas isso reforçou a cara de repetição da apresentação anterior.

Sem bis devido ao atraso, L7 se despediu com “Fast & Frightening”. Suzi Gardner escolheu a dedo na plateia uma menina parecida com ela para ficar com a palheta. Pesado e divertido, apesar de repetir quase na íntegra o show de 2018. L7 se despediu do palco e, no som mecânico, surgiu um jazz.

O próprio Greg Ginn subiu no palco para ajeitar sua guitarra, e em poucos minutos, o riff inconfundível de “My War” abriu o show do Black Flag em Porto Alegre. O status é de lenda, mas o público era modesto. Pogar era confortável com bastante espaço na frente do palco do aniversariante Opinião. A banda recriada pelo fundador da banda começou a execução na íntegra do disco clássico de 1984 e o clima era bélico.

Fãs insistentes arriscavam subir no palco, e o vocalista Mike V reagia enfurecido, apontando para que seguranças tirassem eles dali. Alguém alcançou um gorro, um presente para Mike V, que pegou a peça, olhou e devolveu. Outro rapaz que conseguiu pular no palco levou uma rasteira do já idoso Greg Ginn, e ainda saiu sorrindo. Um fotógrafo que filmava o palco do gargarejo depois do período liberado para os registros foi enxotado pelo líder da banda.

Tudo isso enquanto a banda passava, na ordem, por cada uma das faixas de “My War”. O disco é peculiar pois foi a transição do hardcore sem concessão de “Damaged” (1981) para faixas mais longas, solos arrastados, frases repetitivas. Não à toa influenciou bandas de stoner e metal. No palco, Greg Ginn passeia com a guitarra em cima da cozinha bruta. O pogo para um pouco. Os punks se balançam pra frente e pra trás acompanhando a música. Sete músicas, e “My War” acaba. Mike V avisa de um intervalo de 10 minutos, que dura um pouco mais e volta com “Nervous Breakdown”. Estamos novamente em um show de punk.

A segunda metade aglutina o que o Black Flag tem de mais parecido com hits. Boa parte do setlist de “Damaged” eleva a tensão punk. Mike V muda a letra de “TV Party” já que hoje os jovens não se reúnem mais em todo da TV, e cita plataformas de streaming e redes sociais.

Com quase duas horas de shows, a banda entrega “Louie Louie” para se despedir. Instantes depois de descer do palco, Greg Ginn surge entre a plateia, cumprimentando os fãs, simpático como não esteve em cena. Era uma noite de quarta-feira, em plena comemoração dos 40 anos da casa de shows, o Opinião. Black Flag entrava ali na lista de grandes shows já recebidos por aquele palco.

– Janaina Azevedo (www.facebook.com/janaisapunk) é jornalista e colabora com o Scream & Yell desde 2010. 

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