Cinema: Fofo e divertido, “Tangos, Tequilas e Algumas Mentiras” brinca com as diferenças entre argentinos e mexicanos

texto por Marcelo Costa

Nove anos atrás, Amaia, uma bela garota basca, saiu para encher a cara após o término de seu noivado, e topou com Rafa, um sevilhano que nunca tinha saído da Andaluzia. Os dois quebraram o pau no bar, se desentenderam, e acabaram na cama. Quando acordou, Rafa percebeu que Amaia havia voltado para o País Basco, e decidiu ir atrás do seu amor. Esse era o ponto de partida de “Oito Sobrenomes Bascos” (2014), divertida comédia de costumes espanhola que fez um sucesso danado nas bilheterias de seu país de origem, a ponto de render uma” continuação” no ano seguinte, “Oito Sobrenomes Catalães” (2015).

“Apesar do acabamento fraco, ‘Oito Sobrenomes Bascos’ sobrevive a uma cinematografia tosca, com fotografia e cenografia canhestras, devido a um grupo de atores dedicados que conseguem fazer o espectador rir das diferenças entre os povos espanhóis”, explicava uma resenha aqui no Scream & Yell. Corta para 2023, e o roteiro original ganhou uma deliciosa releitura mexicana, reescrita com dedicação por Marco Lagarde, numa produção que conseguiu corrigir os equívocos da versão original (em todos os quesitos que ela falhava) mantendo a comédia de costumes – um gênero infalível – em pauta, mas aumentando a carga romântica da história.

Desta forma, “Tangos, Tequilas y Algunas Mentiras” (disponível na Prime Video) conta a história de Lu (Cassandra Sánchez-Navarro), uma excelente bartender que convenceu duas clientes a comprarem o bar em que ela trabalhava – e que estava à venda – e agora toca com elas o botequim na Cidade do México. Como Lu não tinha dinheiro, Tatiana (Pilar Santacruz) e Fer (numa ponta agradável da cantora Ximena Sariñana) pagaram a parte dela, que ficou de repassar pras amigas quando conseguisse falar com seu pai. Lu, porém, é daquelas pessoas que vive uma vida perfeita… no Instagram. Sua rotina é toda inventada, o que faz com que Fer comece a perder a paciência.

Entra em cena Diego (David Chocarro), um cara que está tomando um porre no bar das garotas, e Fer, depois de Lu dizer que já tinha ficado com caras mais gatos que esse do balcão, então provoca: “Se você é tão foda assim, que tal uma aposta: se você conseguir fazer com que ele se apaixone por você, a sua parte do bar está quitada. Se você não conseguir, o bar é nosso e você fica sendo nossa funcionária”. Lu pensa um pouco e aceita o desafio, partindo com tudo para cima de Diego, que está mais pra lá do que para cá, mas que acaba cedendo aos encantos de Lu, que acorda realizada na manhã seguinte, com um detalhe: Diego foi embora… para Buenos Aires.

Comédia de costumes que choca as diferenças entre argentinos e todo o resto da América Latina (o trecho em que Diego tenta fazer com que Lu entenda por que os argentinos transformam o som do L em J é divertidíssimo), “Tangos, Tequilas y Algunas Mentiras” ganha muitos pontos com as participações dos premiados veteranos Soledad Silveyra (como a caricata e divertidíssima mãe tirana de Diego) e Emilio Guerrero (como um pai para Lu), que, assim como no original espanhol, destaca um trabalho meticuloso dos atores coadjuvantes. Eles acrescentam caos (Soledad) e improviso (Emilio) na história de uma maneira graciosa.

Com cenografia e fotografia muito mais bem acabadas que no filme original e direção correta de Celso Garcia (que já tinha adaptado em 2019 para a língua espanhola um hit hollywoodiano, “O Casamento do Meu Melhor Amigo”, com Ana Serradilla no papel que havia sido de Julia Roberts), “Tangos, Tequilas y Algunas Mentiras” seria ainda melhor com uns 20 minutos a menos, mas, ainda assim, consegue cumprir aquilo que propõe (muito por mérito da química de Cassandra Sánchez-Navarro e David Chocarro) : ser um filme fofo e divertido (e meio bobinho, faz parte da equação) que brinca com as questões de costumes (incluindo uma esperta tiração de sarro com as redes sociais), mas não perde o foco do romance. Para ver descompromissadamente enquanto se deseja um (ojo de bife) passeio por Buenos Aires e pela Cidade do México (e, por que não, o amor da sua vida).

– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.

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