Panoramas da Iberoamérica pela FARO: Os destaques de junho de 2023 em oito países (D2, Usted Señalemelo, Sen Senra, Lee Eye)…

ALIANÇA FARO – JUNHO DE 2023

A Aliança FARO regressa com um novo Panorama, desta vez com os destaques do mês de junho em sete países. No compilado temos álbuns há muito aguardados, singles do hemisfério sul que nos fazem ansiar pelo verão, obras novas e expansivas além de canções que refletem o distanciamento dos últimos dois anos que tivemos de viver. Cada uma destas recomendações, além de uma seleção mais ampla, pode ser encontrada, como sempre, na nossa playlist PANORAMA IBEROAMERICANO, disponível no Spotify. Deixamos então você com os destaques da música ibero-americana em junho com curadoria dos meios de comunicação membros da aliança, a saber: Indie Hoy (Argentina), Indie Rocks (México), Magazine AM:PM (Cuba), Mondo Sonoro (Espanha), Piiila Musica (Urugauai), POTQ (Chile), Shock (Colômbia), Scream & Yell (Brasil) e Zona de Obras (Espanha).


ARGENTINA
Por Juampa Barbero – Indie Hoy

“TRIPOLAR”, DO USTED SEÑALEMELO: Junho nos trouxe um dos álbuns mais esperados da cena argentina dos últimos tempos. Mais de cinco anos desde o lançamento do seu álbum anterior, “II” (2017), o tempo que passou reflete-se na evolução e maturidade sonora do terceiro álbum do Usted Señalemelo. Em “Tripolar” (2023), o trio de Mendoza vai mais longe. Ao longo das suas treze faixas, o álbum experimenta a fusão de gêneros para nos mostrar a visão partilhada pelo trio no que eles têm de melhor. Do rock dos anos oitenta ao pop moderno deixando ainda um rastro de funky pelo caminho, a banda criou um álbum envolvente e versátil que capta a sua percepção das dualidades da vida. Com uma abordagem conceitual e fresca, “Tripolar” desafia os rótulos ao incorporar a inteligência e a diversão como uma terceira força psicodélica. Estes últimos anos foram suficientes para que os Usted Señalemelo explorassem cuidadosamente e aprofundassem o seu som, alcançando uma harmoniosa amálgama de cores e texturas. A energia destas novas canções capta a atenção de imediato, enquanto as suas letras enigmáticas nos levam a afogarmo-nos em interpretações pessoais e abrasadoras.


BRASIL
por Marcelo Costa – Scream & Yell

“IBORU”, DE MARCELO D2: Em um dos sambas icônicos da música brasileira, lançado em 1975, a grande Alcione clama ao sambista mais novo um pedido final: “não deixe o samba morrer, não deixa o samba acabar”. Em seu recém-lançado nono disco solo, “IBORU”, o rapper, sambista, punk rocker e eterno moleque (aos 55 anos) Marcelo D2 crava: ”Porque eu só morro quando o meu samba morrer”. Traduzido livremente da língua Yoruba, Iboru significa “que sejam ouvidas as nossas súplicas”, uma conexão direta não só com a música “Não Deixe o Samba Morrer” e com Alcione, mas também com a Ifá, religião de matriz africana seguida por D2, num disco que traz o eterno vocalista do Planet Hemp (responsável pelo melhor disco de 2022) mergulhado nas tradições do samba de terreiro sem abandonar os graves do hip hop e acompanhado de um time luxuoso que conta desde a própria Alcione como também Zeca Pagodinho, Xande de Pilares, B Negão, Mateus Aleluia e a banda Metá Metá. Segundo o próprio D2, “IBORU” é “sobre a urgência do tempo lento, de termos sabedoria de saborear o agora, honrando sempre nosso passado e abrindo caminhos para um futuro melhor, mais leve, esperançoso e otimista”. Um daqueles discos inspirados e inspiradores de um artista que sempre esteve à procura da batida perfeita… e aqui, novamente, ele a reencontra.


CHILE
Por Bárbara Carvacho, de POTQ Magazine

“VERANO”, DE DANI Y LOS ARGOMEDOS: Um “verão” em pleno equinócio de inverno. Daniel Burgos é o líder de Dani y Los Argomedos, cantor, compositor e produtor multi-instrumentista que nos deu uma das nossas canções favoritas do mês. “Verano” foi lançado como single e é parte de seu terceiro EP, a ser disponibilizado ainda em 2023, do qual já conhecíamos o single “Bonita Historia“. ‘Verano’ nasceu como uma canção inspirada nessa época, mas pensada para ser ouvida em pleno inverno que já nos visita nesta parte do mundo. Ao mesmo tempo é uma reversão de “Verão”, lançada por Dani y Los Argomedos em 2019. A versão de 2023 refresca-a com nostalgia e uma construção ambiental perfeita para dizer adeus a junho e mergulhar no frio. A atmosfera vocal e instrumental dá-nos muito boas esperanças para o que será o novo EP do grupo, que tem como título “Hotel”, e que certamente desfrutaremos quando estivermos mais perto do… verão.


COLOMBIA
Por Fabián Páez López, de Shock.co

“PERREO SAD”, DE LEE EYE: A voz de Lee Eye é sem pudor e sem filtros. Nota-se quando a presenciamos falando sobre um palco: por detrás da sua timidez parece haver uma intensidade irreprimível que só se revela quando ela canta. Lee fala, ri timidamente e quase que após cada frase repete: XD. Em 2017 lançou as suas primeiras músicas no YouTube. Era R&B em inglês com uma fluência altiva que lhe valeu um reconhecimento nada pequeno na sua cidade natal, Bogotá. As suas canções viajaram sozinhas pela Internet. Nos últimos três anos, concentrou-se em fazer música em espanhol, e tanto a indústria como o público internacional começaram a tomar conhecimento. Depois de o ter anunciado algumas vezes, agora, com uma visão mais alargada da sua carreira e depois de ter evocado os perigos da sua personalidade, lança “Perreo Sad”, o seu primeiro álbum. São oito músicas de uma nostalgia dançante, escorregadia e cativante. Têm reggaeton, afrobeat, rap e R&B. É um álbum feito, sem dúvida, para conter os demónios.


ESPANHA
Por Zona de Obras

“PO2054AZ (VOL.1)”, DE SEN SENRA: O artista galego oferece-nos em “PO2054AZ (VOL.1)” uma matrícula, uma viagem de autodescoberta, à memória do seu pai. Uma revisão da sua própria obra, com a nostalgia como combustível. O álbum abre com o impacto de “No Quiero Ser Un Cantante”, e a reviravolta é total, sem bases programadas, apenas algumas notas sustentadas no ar, tal qual uma declaração de princípios: solilóquios de um autor que passa da adolescência superficial para a reflexão da sua primeira maturidade. Metáforas simples como em “Mi Norte”, que funcionam em diferentes níveis, bases que são sustentadas por pianos orgânicos na faixa “Uno De Eses Gatos”, ali, na noite, onde o colapso do artista está prestes a chegar, mas o bumbo chega para nos lembrar que os cantos escuros estarão sempre no caminho do criador. São treze canções onde se pode encontrar uma guitarra que sustenta “Me Debes Esto”, uma balada minimalista de sexualidade contida, ou o vislumbre de oceano que escorre do arranjo cantábrico de “Familia”, o fraseado de quem se dirige às origens em busca do seu lugar, seja a norte ou a sul, sozinho no meio de um milhão de pessoas. Repete e repete, como se lhe faltasse o fôlego. “Não importa o que as pessoas pensem”, é necessário um salto qualitativo para que a obra de um compositor não fique estagnada e, com “PO2054AZ”, tudo é arte, arte orgânica e natural, com a nostalgia como combustível.


MÉXICO
Por AnaLi Rodríguez, de Indie Rocks!

“DATURA”, DE LORELLE MEETS THE OBSOLETE: O mês de junho nos brindou com um dos momentos mais sufocantes de nossas vidas, já que durante todo o mês vivemos uma das ondas de calor mais intensas do país. No entanto, apesar da temperatura no Vale do México ter ultrapassado os 30 graus, as pessoas reuniram-se na capital para comemorar a diversidade no Dia Internacional do Orgulho LGBTT. E se estamos falando de diversidade, não podemos deixar de mencionar “Datura”, o mais recente álbum de Lorelle Meets the Obsolete. Gravado em Ensenada, Baja California, este material, mixado por Jace Lasek e masterizado por Mikey Young, é uma oportunidade para a banda expandir o seu som e experimentar novas texturas. O selo inglês Sonic Cathedral distribuí esta produção que atravessa as fronteiras do rock psicodélico oferecendo uma onda de frenesi e melodias sólidas que vão do shoegaze ao kraut e ao space rock. Ouvir “Datura” representa um grande passeio por um terreno desconhecido onde há muita luz branca, demasiado ruído e trilhas de sentido único. Lorena Quintanilla e Alberto González atrevem-se a fazer mutações e dão-nos 34 minutos de uma nova era, com Andrea Davì na bateria e percussão e Fernando Nuti no baixo.


URUGUAY
Por Kristel Latecki, de Piiila.com

“WANDERING REBEL”, DE JUAN WAUTERS: “Durante a Covid descobri / Que gosto de estabilidade / Mas o mundo ainda me vê / Como um rebelde errante”. Estes versos da faixa-título do sexto álbum de Juan Wauters captam a dicotomia que atravessa este trabalho. Desde a fundação da sua banda The Beets no final dos anos 2000 até à expansão do seu projeto solo, graças ao seu primeiro álbum em 2014, Juan não parou de fazer turnês. Como músico indie, fez carreira e, mesmo antes de tocar na sua terra natal, Montevideu, já tinha feito apresentações pela Europa e por grande parte dos Estados Unidos. No entanto, como toda a gente, a pandemia obrigou-o a repensar as coisas, e não só a fazer uma pausa forçada, mas também a encontrar a necessidade de assentar e começar uma família. “Wandering Rebel” reúne reflexões e observações sobre os acontecimentos dos últimos anos e a mudança na sua vida depois de deixar o Queens novaiorquino, que foi o ninho da sua carreira, e regressar à Montevideu, que teve de deixar quando era adolescente. Assim, passa do júbilo solarengo e praiano de “Milanesa al Pan”, com Zoe Gotusso, ao passeio preocupado pela Nova Iorque pandémica em “Modus Operandi”, com Frankie Cosmos; à reflexão sobre a sua saúde mental em “Nube Negra”. No final, fez bem a este vagabundo encontrar uma casa para criar um álbum que, não só pelo grande número de artistas uruguaios envolvidos (Paul Higgs, Fran Cunha na arte, Nicolás Demczylo na mixagem e masterização, entre outros), mas principalmente pela melancolia que consegue captar, é talvez a sua obra mais uruguaia.


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