Três perguntas: Alex Santos fala sobre o documentário “Pop ao Reverso: A Trilha do Som Autoral”

entrevista por Luciano Ferreira

O documentário independnete de média duração “Pop ao Reverso: A Trilha do Som Autoral” (2022), do diretor Alex Santos, recém-lançado na página do projeto O Rastro do Som, no Youtube, apresenta um panorama da cena alternativa autoral da capital paulista através de entrevistas com bandas, administradores de selos, responsáveis por curadorias e pessoas ligadas de alguma forma ao meio alternativo.

“Pop ao Reverso” traz entrevistas com as bandas Orange Disaster, Hitchcocks, Ordinária Hit e Loomer além de Marcelo Costa (Scream & Yell), Mariângela Carvalho (Radialista), Rodrigo Lariú (Midsummer Madness), Maurício Bussab (Tratore), Inti Queiróz (Agitadora Cultural). O doc ainda traz trechos de shows, videoclipes (“Right Side of My Brain” e “Sunset Vampire”) e cenas de casas noturnas, imergindo o espectador nesse universo.

Alex Santos coloca o microfone à disposição para que todos participem da discussão e contém suas experiências. “Pop ao Reverso” é, desde já, um registro importante sobre a cena alternativa despido de filtros e com uma abordagem direta e o mais real possível. Ressente-se do tempo curto para a amplitude do tema, mas é um pontapé inicial certeiro para uma discussão que merece no mínimo mais alguns capítulos. Leia o papo com Alex e assista ao documentário abaixo.

Alex, poderia nos contar como surgiu a ideia do filme? E aproveitando a frase de abertura que diz que o filme foi feito “Em um momento distante anterior ao Impeachment e a pandemia”, quais os motivos que levaram ao atraso do lançamento?
A ideia surgiu de uma inquietação pessoal, ainda na época da faculdade, há uns 8 anos. Eu ficava (e ainda fico) indignado de ver um montão de músicos bons tocando a troco de nada ou uma mixaria e, até hoje, tento entender como esse investimento de energia, tempo e dinheiro não lhes dão uma motivação para a carreira artística. Ok… o panorama do mercado cultural ainda é muito segmentado no país e as políticas públicas não contemplam a base da pirâmide como se deve e, sendo assim, é compreensível essa postura descomprometida. Porém, resolvi investigar o circuito e, no decorrer da pesquisa, notei que há todo um sistema para catapultar essas carreiras, mas poucas pessoas conhecem ou falam sobre tal dinâmica. Então, fiz umas ligações, peguei minha handcam e captei as entrevistas. A demora do lançamento se deu por conta do próprio circuito que vinha passando por uma série de transformações ao longo do tempo e eu precisei ser cauteloso para que a abordagem não fosse descartável e isso exigiu muitas observações e análises. Um detalhe importante é que, no começo, eu não tinha muitas referências de livros, filmes, ou publicações brasileiras para me dar suporte na construção do enredo e, no final do processo, surgiram vários filmes relevantes como a da Banguela Records, “Time Will Burn” e o “Guitar Days” e a série televisiva “O Outro Lado do Disco” que “atrapalhou” – de forma boa – o meu processo de roteirização e isso fez com que eu revisitasse o material para fazer ajustes que complementasse as histórias lançadas naquele momento. Além disso, por se tratar de um filme independente e ter custos limitadíssimos, algumas etapas eu tive que aprender na raça – como edição de imagem, mixagem de som e alguns tratamentos estéticos – e isso leva bastante tempo, principalmente se você tem outro emprego (repare o trocadilho. rs).

O filme apresenta uma série de questões interessantes levantadas pelos vários atores da chamada cena independente nacional: músicos, produtores de conteúdo, administradores de selos. Como resultado do filme, o que mudou na tua visão em relação ao cenário musical independente? E, tomando por base o aprendizado com o filme, o que você diria para os músicos que pretendem entrar (ou até mesmo os que já estão) nesse universo não fazerem?
Hoje eu tenho uma visão mais otimista sobre carreiras musicais, mas ainda acho o circuito problemático. Claro que há pessoas incríveis fazendo um belo trabalho, mas ainda acho que existe muitos problemas estruturais… poucos espaços para muita demanda, preços altos, curadorias medianas e falta de diálogos que fazem com que o público não se interesse. Acho fundamental o diálogo e os bons relacionamentos. Diversão é essencial, mas penso que tudo o que é em prol do coletivo acaba tendo mais projeção, entende? Não consigo pensar qualquer relevância sem que haja interlocuções entre os mais diversos nichos culturais ou cadeias profissionais.

Por enquanto o filme está disponível apenas no Youtube? Você pretende apresentá-lo em festivais, divulgar em outros canais? Ou melhor, existem planos para além do Youtube?
Alex: Eu inscrevi esse filme no (festival de documentários musicais) In-Edit desse ano (outro motivo pelo qual demorei para divulgá-lo) mas infelizmente ele não foi aceito. Entretanto, eu sempre tive mais interesse em veicular o filme na tv, já que toda a concepção foi pensada pra isso. Ainda não sei muito bem como são os critérios de envio e seleção então não tenho planos além do YouTube do ‘Rastro do Som’, o hub criativo que conduzo. Ainda não decidi se fica definitivo ou não mas o público terá uns meses pela frente pra assistir sem pressa. Tenho (ainda um) projeto de um spin-off (com o material extra) mas tudo dependerá da repercussão do “Pop ao Reverso”.

Alex Santos, diretor de “Pop Ao Reverso: A Trilha do Som Autoral”

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