Entrevista: Antonia Morais celebra a obra do pai, Orlando, em “ÍMPAR 60”, reposicionando as canções entre o rock e a eletrônica

entrevista por Renan Guerra

Na música “Boy”, Willow conta para a mãe sobre um garoto que ela conheceu e está se envolvendo. Em determinado verso ela diz: “He thinks I’m boring / ‘Cause I come from a cluster of super bright stars / And probably to him it feels scary to reach that far / But down on Earth there’s so much pain / But way up here we explore galaxies”. [“Ele pensa que eu sou chata / por que eu venho de um cluster de estrelas super brilhantes / e provavelmente para ele é assustador alcançar algo assim tão distante / mas lá em baixo na Terra há tanta dor / e aqui em cima nós exploramos galáxias”]. Willow é filha de Will e Jada Pinkett Smith e essa música veio à mente na hora de pensar sobre como começar a explicar quem é Antonia Morais. Para o público geral ela é essa figura que também vem de um cluster de estrelas: Gloria Pires, Orlando Morais, Cleo, Ana Morais. Mas se engana quem lê Antonia a partir dessas credenciais.

Antonia é uma artista curiosa, inventiva e atenta ao seu tempo, por isso mesmo seu novo disco traz uma lufada de jovialidade para a obra do pai, Orlando Morais. “ÍMPAR 60” surgiu como forma de celebração da obra de Orlando e se tornou um processo de experimentação sonora para Antonia. O próprio Orlando faz questão de repetidas vezes ressaltar a força com que Antonia abraçou essas canções, tornando-as dela de uma forma muito autoral. Com produção de Antonia e Arthur Kunz, “ÍMPAR 60” pega canções de MPB e as reposiciona entre o rock e a música eletrônica, em universos sonoros que Antonia já vinha explorando em seus trabalhos anteriores, o interessante “LUZIA 20.20” (2020) e a estreia com “Milagros” (2015).

Em um processo que durou cerca de um ano, Antonia foi criando, ao lado de Kunz, as sonoridades que constroem novos ambientes para as canções do pai e, com isso, consegue levar o repertório de Orlando para outros universos e, consequentemente, novos públicos. Para além disso, é interessante observar as escolhas não-óbvias de Antonia. Ela é uma figura pública importante, circula em meios recheados de artistas e criadores, porém foge dos feats por interesse, das trocas por views e números e se joga em conexões que fazem mais sentido para ela. Isso já era visto em seus projetos ao lado do produtor Zopelar, se consolida agora na parceria com Kunz e se expande no palco, onde ela é acompanhada por Kunz, Pipo Pegoraro na guitarra e a excelente Joana Cid no baixo.

Antonia tem essa inteligência de se conectar com pessoas que enxergam a música da mesma forma que ela e isso se sobressai em suas produções, que soam sinceras, entregues e, por isso mesmo, cativantes. Em papo via zoom com o Scream & Yell, Antonia falou sobre a sua relação com o pai e com a Covid-19, que levou Orlando para a UTI, bem como esmiúça a produção de “ÍMPAR 60”, falando sobre sua parceria com Artur Kunz, suas inspirações e seus projetos futuros. Confira o papo na íntegra abaixo:

Pra começar, imagino que você já esteja cansada de falar sobre isso, mas acho que como é um disco com a obra do seu pai, acho que é importante entender qual foi a sua relação durante a vida com essa questão dos seus pais, que são duas figuras culturamente muito importantes e acredito que em algum momento você deve ter pensado sobre isso também.
É, sim e não. Sinto que foi mais uma imposição externa de pensar sobre isso, as pessoas me obrigam mais a pensar sobre isso do que realmente penso. Não sou uma pessoa que fico pensando nisso o tempo todo, não passa pela minha cabeça, e só passa pela minha cabeça quando me lembram [risos] “ah, você é filha da Gloria”, “você é filha do Orlando”, ai eu lembro e falo “ah é!”. Além de ter essa relação com os meus pais, tem essa questão da minha relação com a obra do meu pai que, por exemplo, sempre foi muito íntima. Depois que eu entendi o que eu queria ser, o caminho que eu queria seguir como artista, aí eu comecei a vê-lo e entender a dimensão que ele tinha como artista, mas até então eram músicas do meu pai que coincidentemente eu amava e me identificava com elas. Então a minha relação com isso é bem dessa forma, é uma coisa que não passa pela minha cabeça, não fico pensando nisso, não me defino dessa forma, isso não vem nas minhas definições como ser humano, como artista, só que a sociedade me obriga a pensar nisso o tempo todo.

Entendo, mas aí você teve algum momento específico em que decidiu “essa é a hora de cantar e me debruçar sobre a obra do meu pai” ou era algum desejo que já vinha há bastante tempo?
Já vinha há bastante tempo. Eu e o meu pai sempre falamos sobre isso, tipo “nossa, imagina o dia que você fizer um álbum com essas músicas”, porque é o que ele fala, ele deixou muito claro, “essas músicas são mais suas do que minhas”, porque eu participei da criação delas. Não de todas as fases, obviamente, porque meu pai já fazia álbuns antes de eu nascer, mas é que quando eu nasci, a partir daí, eu comecei a participar disso, porque o nosso estúdio era em casa, então muitos dos álbuns ele fez em casa, naquele estúdio. E eu participava, eu sempre gostei de acompanhá-lo e ele compartilhava comigo as composições que ele tinha escrito, ele escrevia uma coisa e falava “olha o que eu acabei de escrever”, aí lia uma música, uma poesia que ele tinha escrito, depois ele musicava e ele me mostrava também, depois aquilo ia pro estúdio, começa a ser produzido, aí o músico entra… então eu participava de todas as etapas daquelas músicas sendo feitas. Então eu realmente criei um nível de intimidade com a obra dele muito profunda. E esse desejo sempre existiu em mim, pois eu sempre, de verdade, me identifiquei muito com as músicas do meu pai, muito com a forma que ele pensa, muito com a forma que ele vê o mundo, muito com a musicalidade dele, é quase que eu e ele temos uma coisa assim de projeção muito grande. Então eu sabia que esse momento ia chegar, eu só não sabia quando ia chegar, mas eu sabia que ia chegar. E as coisas da minha vida, elas acontecem de uma forma muito orgânica, um pouco sem explicação, é tudo muito pautado pela intuição, tudo muito pautado pelo momento certo das coisas acontecerem, então chegou um momento em que eu falei “cara, agora é hora, eu já estou indo para o meu terceiro álbum, estou com essa necessidade, estou afim, me reconectei com a obra do meu pai de uma maneira muito forte, estou afim de fazer esse álbum pra ele e ele vai fazer 60 anos, quero dar um presente para ele que seja muito simbólico”, sabe? Como a gente nunca conversou sobre isso, achei que seria perfeito. Juntei o útil com o agradável de uma forma muito prática, e pensei “cara, eu acho que ele ia surtar se ele visse um álbum em que eu canto as músicas dele, eu interpretando as músicas dele, músicas que eu vou escolher…” – o que foi muito difícil – “e dar uma roupagem completamente maluca”, porque o meu pai sempre falou isso pra mim: “eu acho a forma que você faz música tão foda, eu gostaria de ter feito um álbum assim, como você faz, com essa liberdade, com essa liberdade de fazer o que você quer, pois você faz o que você quer”. Então eu pensei “como é que eu vou pegar essas canções e vou surpreendê-lo? Como é que eu vou dar essa roupagem que ele tanto gostaria de ter feito? Eu acho que seria muito interessante se ele visse as músicas dele nessa forma que ele fala, de uma forma muito ousada ou muito diferente”, então foi um pensamento assim.

Antes de a gente falar sobre as músicas em si, no meio desse processo, seu pai também ficou doente – Orlando teve covid e passou dez dias internado. Como foi passar por esse momento? Você fala um pouco sobre isso no minidocumentário que acompanha o disco, mas gostaria de entender como foi pra você esse momento?
Hoje falo com bastante praticidade sobre o tema, mas foi desesperador, porque eu de verdade… a gente estava conversando sobre isso agora, inclusive, antes de eu começar a entrevista com você. A gente estava jogando um jogo chamado “Puxa Conversa”, eu, meus irmãos e meus pais. Aí eles puxaram uma carta “qual foi o momento da sua vida em que você mais sentiu medo?”, e todo mundo “época em que meu pai pegou covid”, “época em que meu pai pegou covid”. Como foi uma coisa muito reservada, acho que ninguém participou exatamente como a gente. A gente não podia estar no hospital com ele, mas a gente tinha acesso a imagens dele muito drásticas, meu pai teve nove pneumonias, ele não podia ser entubado, então chegou um momento que era tipo assim “cara, o que a gente vai fazer?”, porque ele estava com 85% do pulmão tomado, e o próximo passo seria… ele assinou uma autorização de fazer um procedimento… enfim, foi loucura gente. Foi loucura! Mas eu sou uma pessoa que não foge da batalha, eu não fujo da luta, eu enfrento as coisas, então quando vi que isso estava acontecendo com a gente e que não tinha o que fazer, me vi naquela situação também que eu estava fazendo o álbum pra ele, que era algo que a gente sempre esperou, que a gente sempre visualizou esse momento, e pensei “cara, tem alguma coisa por trás disso, tem alguma coisa que nesse momento eu não estou compreendendo, mas que eu vou compreender”. E entendi que aquele álbum ele era um dever, sabe? Ele era um dever. E usei todo esse desespero, essa tristeza, esse medo, esse pavor de perder meu pai naquele momento, ao invés de fugir disso, em vez de fingir que isso não estava acontecendo, e coloquei isso na sonoridade do álbum, de uma forma minha, então acho que esse álbum é o que ele é, a sonoridade é o que é por conta de tudo que a gente passou. É como um relato. Falando bem friamente sobre isso, acho que trouxe um drama e um medo e um desespero necessários, que são muito presentes, e eu quis colocar isso no álbum, ao invés de “ai vamos fingir que não tem nada acontecendo e vamos fazer um álbum assim”. Não, eu não quis. Falei “não, vamos pegar isso, botar isso, (pois) eu tô com medo, tô morrendo de medo de perder meu pai”, eu fiquei desesperada, desesperada! E eu acho que é isso, sabe? A arte ela está aí pra ísso, ela está aí para ser um relato autêntico do que você está vivendo, não para ser o que você gostaria de viver – na minha concepção.

E eu acredito que isso tudo reverbera nessas batidas que há no disco, que é um trabalho seu junto com o Arthur Kunz. Como se deu esse processo de parceria entre vocês na produção?
Foi um processo muito bacana. Durou um ano, porque até há pouco tempo antes de lançar eu estava lá “mexe nisso, tira isso, não seio que”. A gente estava mexendo ainda. Mas o Arthur foi um produtor muito foda, ele emprestou também o drama da vida pessoal dele, e eu não quero adentrar a questões pessoais dele, porque acho que isso cabe a ele falar, mas ele também estava vivendo um drama muito forte e isso também carregou o álbum de alguma forma. Além da visão dele, além da forma que ele faz as coisas, sabe? Então ele ao mesmo tempo se disponibilizou muito a me escutar, a entender o que eu queria, a entender quais eram as minhas prioridades, quais eram as minhas vontades, pra onde eu queria ir, o que eu queria comunicar como filha, como artista através desse álbum. Foi um processo muito intenso, ele ia semanalmente lá em casa, a gente montou um home studio, ele levava o laptop, as coisas dele, e toda semana, durante um ano, ele estava lá, a gente ficava horas trabalhando nas músicas, experimentando, ele montava os monstros, criava os arranjos, aí eu falava o que eu gostava, o que eu não gostava, o que fazia sentido, e a gente foi mixando junto. E fomos chegando em resultados que faziam muito sentido pra mim, era um álbum que eu já visualizava, que eu já tinha mais ou menos o esqueleto na cabeça, eu já sabia o sentimento que eu queria que guiasse, por isso também que eu chamei o Arthur para produzir, porque eu acho que ele tem esse dado, ele imprime na música dele a identidade que eu gostaria que esse álbum tivesse, então ele foi muito necessário nesse processo todo.

Durante esse processo o seu pai também chegou a participar ou você só mostrou o resultado final?
Ele não participou pessoalmente do processo, mas eu ia mandando algumas coisas, porque na verdade esse álbum era para ser uma surpresa, eu queria lançar no dia do aniversário dele de 60 anos e era para ser uma surpresa, do tipo assim do nada ele ia ouvir tudo num Spotify, em qualquer lugar e levar um puta susto, essa era a minha ideia, mas aí o que aconteceu? Ele foi internado com Covid e eu pensei “cara, assim…” – soa frio eu falar isso agora assim, mas quando a gente está com uma pessoa que a gente ama à beira da morte, a gente pensa em tudo e eu pensei “ele esperou tanto por isso”, porque eu sei que esse álbum não é um sonho só meu, era um sonho dele também ver isso acontecer, eu pensei “cara, ele não pode morrer sem saber que eu estou fazendo isso”, porque a gente falou disso a vida inteira, isso não pode acontecer, então não posso correr esse risco, vai ser uma frustração do tamanho do mundo, que eu não sei se eu vou um dia conseguir curar isso. Então, eu queria que ele soubesse que eu estava fazendo isso aqui para ele, e a gente não sabia mesmo o que iria acontecer. Então enquanto ele estava no hospital, eu mandei umas músicas para ele, que ele não chegou a escutar, porque ele não tinha acesso ao celular enquanto ele estava internado, mas depois ele escutou e aí eu comecei a contar pra ele, aos poucos, o que estava acontecendo “olha, pai, eu estou fazendo a sua obra, eu resolvi contar, seria surpresa, mas depois desse susto, eu prefiro contar e quero que você fique muito confortável com isso, quero que você ame, então é isso, vou te mandando”. Ele ficou muito emocionado, só que meu pai é zero careta, ele sempre me deu essa liberdade, desde que ele ficou sabendo ele me incentivou a pirar mesmo, “Antonia, faz o que você quiser, vai pra onde você quiser com essas músicas”, ele sempre falou “essas músicas são mais suas do que minhas, então pode pirar, se expressar do seu jeito, vai fundo”, e ele amava tudo que eu mandava. Algumas coisas ele estranhava, “nossa você tirou a harmonia? Nossa, mas essa nota aqui tá…”, aí o que tinha de errado às vezes aí a gente corrigia, porque as harmonias dele são muito complexas. Mesmo que a gente tenha tirado muitas das harmonias, tenha deixado um álbum mais seco, mais vazio, algumas notas ali eram importantes, então ele ia falando “ó, essa nota aqui é assim”. Mas o que ele achava estranho, a gente deixava estranho, pois o que ele acha estranho é porque é bom, ele acha bom, então foi mais ou menos feito assim.

E como foi esse processo de escolher as músicas que entraram no disco? Acredito que tenha sido bem difícil.
Essa pra mim foi uma das partes mais difíceis, pois é aquilo que eu te disse: o meu pai tem uma discografia gigante e eu amo tudo; praticamente todas as músicas eu me vejo cantando, então deixei de botar muita música que eu queria, deixei de botar “Lagoa humana”, deixei de botar “A montanha e a chuva”, várias clássicas, “Sonora” que eu amo – que inclusive eu acho que quero até colocar no show, porque “Sonora” é muito foda –, “Curvas e retas”, “TV, rádio e jornal”, “Futebol”, tem milhões que eu falava assim “eu quero botar tudo”, eu queria fazer um álbum de 21 músicas, eu brinco até hoje que eu queria fazer dois volumes, um álbum de dois volumes, aí o Arthur falou “cara, se você quer fazer em um ano, não vai dar tempo, porque a gente tem que realmente adentrar esse universo e destrinchar ele e espremer tudo que a gente tem dali”, e realmente é um processo de fermentação também, não é uma parada que você consegue fazer assim correndo, ainda mais 21 músicas. Se a gente escolheu 11 músicas, mesmo assim a gente fez cheio de coisas ali que eu gostaria que tivesse ficado melhor, você imagina 21.

Mas acho que essas canções escolhidas também são interessantes para apresentar a obra dele para muitas pessoas que talvez não a conheçam, porque eu achei, no final das contas, uma seleção muito moderna, de canções que falam muito com a gente desse tempo, desse 2022.
Ai que legal que você achou isso.

É que tem muitas coisas que eu não conhecia, pois como você falou, muitas coisas clássicas ficaram de fora e têm coisas que são mais escondidas, então eu fui ouvindo e voltando para as coisas originais, eu acho que esse também é um caminho legal de se fazer.
As músicas do meu pai são muito atemporais, muito atuais, elas conversam muito com os dias de hoje e por isso que eu acho que ele é um cara muito moderno, um compositor muito moderno. É interessante também porque durante o processo o álbum vai criando vida própria, ele vai fazendo as suas próprias escolhas, então, por exemplo, “Agora” era uma música que não ia entrar, e o Arthur foi a pessoa que bateu e falou “não, vamos botar ‘Agora’, vai dar um negócio foda no álbum”, entrou por causa dele, “Libera” também.

Nossa, “Libera” ficou muito boa nessa versão.
“Libera” foi uma insistência do Arthur de entrar, “Libera” e “Agora” foram insistências dele. A gente foi entendendo o que fazia sentido naquilo que a gente estava criando, sabe?

Dentro desse processo de produção as faixas ficam com esse caráter bem diferente da produção do seu pai, elas conversam mais com a música eletrônica. Eu queria entender um pouco quais são as suas inspirações, as suas referências, pois esse já é um diálogo que você sempre fez na sua carreira, de diferentes formas com a música eletrônica, às vezes de forma mais aprofundada, às vezes de forma mais indireta.
É, eu gosto muito. Eu acho que hoje os gêneros se misturam muito, é difícil de definir assim, mas eu tenho referências que eu escuto a vida inteira, como Air, que tem essa coisa louca da música se transformar, tem uma vibe e de repente a música muda pra outra vibe. Sempre gostei de Aphex Twin, que faz uma música bem eletrônica. Crystal Castles, acho que teve muito Radiohead nessas inspirações. Tem também muito rock dos anos 90, aí Strokes, um pouco de Nirvana, é uma mistura tão doida. Sem contar nas pessoas da música brasileira que eu escuto… Na verdade, o que é muito engraçado, eu não penso em referências para cada álbum, essas referências elas meio que se misturam, elas sempre estão ali, em alguma coisa, seja em um sentimento, seja em uma vontade, em um ímpeto, em uma sonoridade. Eu gosto de muita coisa, eu escuto muita coisa, muita música brasileira, muita coisa europeia, eu acho que esse álbum tem uma frieza alemã. Molchat Doma, por exemplo, é um grupo bielorusso e aí eles têm um som, um rock meio oitentista, meio frio, que eu me identifico muito com esse som, eu vejo muito eles, mas eu não pensei neles em nenhum momento, só que eu os escuto pra caramba.

Era algo que já estava lá, não é?
Sim, são coisas que muitas vezes são subjetivas. As inspirações, as referências às vezes são muito subjetivas, às vezes você está ali absorvendo elas e você coloca no seu trabalho sem perceber, sem sentir, depois aquilo você fala “tem isso aqui, tem um pouco disso também”, é uma mistura doida assim.

Além disso, seu trabalho também é muito visual. Acho que como você é atriz, além de ser cantora, acredito que isso também se conecta, tanto que você lançou os vídeos do disco e tal. Como é pra você essa parte da produção visual?
Eu gosto muito. O meu pai fala que eu sou “uma cineasta da música”, ele fala que as minhas músicas são muito visuais, que a gente vê imagens quando escuta as minhas músicas e eu acho isso muito interessante, porque eu tenho essa coisa com o cinema, com a imagem, com a estética, muito forte, muito forte. E eu acho que uma coisa complementa a outra, então, por exemplo, quando eu estou fazendo uma música, o clipe dessa música ou a imagem dessa música, ela já vem imediatamente na minha cabeça. Então eu escrevo para o diretor ou para a pessoa que irá me ajudar a fazer aquilo e já falo “eu quero isso aqui assim, isso aqui assado, eu acho que tem que ser essa cor, eu acho que tem que ser esse fundo, essa roupa, essa posição, não sei o que, não sei o que lá”, então eu vou dando todas as orientações que eu quero, que eu sinto e vou criando junto com a pessoa ou com a equipe que eu tô. É muito uma coisa puxa a outra. Acho que sempre vem a música e depois a imagem. A partir da música eu consigo criar uma imagem, consigo criar um clipe, um filme, e assim vai acontecendo.

Nesses processos todos, entre ser cantora, ser atriz, você tem trabalhado mais nesse momento como cantora, por isso quero saber do seu lado mais atriz, você tem explorado também?
O meu lado atriz está de ladinho agora, assim como o de cantora também já ficou um tempo. Eu lancei um álbum em 2015, aí fui fazer vários trabalhos como atriz e eu não consigo muito fazer as coisas em paralelo, eu tenho muita dificuldade, porque sou muito inteira em tudo que eu faço, eu não consigo me doar pela metade, entendeu? Ou eu vou de corpo inteiro ou eu não ponho a pontinha do pé. Então não sei fazer um malabarismo com essas duas coisas, não sei. Nesse momento eu venho de dois lançamentos, o “Luzia 20.20”, e em seguida, não deu nem tempo de eu respirar, eu fui pra “ÍMPAR 60”, então é isso, depois que você lança um álbum, você tem que trabalhar ele, você tem que focar nele. E eu deixo muito a vida me levar também, sabe, por enquanto é isso que está me seduzindo mais. Essas duas profissões que batalhem pra ver qual vai me seduzir mais.

– Renan Guerra é jornalista e escreve para o Scream & Yell desde 2014. Faz parte do Podcast Vamos Falar Sobre Música e colabora com o Monkeybuzz e a Revista Balaclava. 

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