30º Festival MixBrasil: “Não É a Primeira Vez que Lutamos pelo Nosso Amor”, resgata a história do movimento LGBTQIA+ no Brasil

texto por Renan Guerra

As histórias LGBTQIA+ no século XX foram construídas à margem, porém elas sempre estiveram lá e os resgates dessas movimentações se fazem necessários para que se entenda o hoje. E é com esse mote que o documentário “Não É a Primeira Vez que Lutamos pelo Nosso Amor” (2022) se apresenta. Com direção de Luis Carlos de Alencar, o filme traz um panorama das lutas iniciais da comunidade LGBTQIA+ no Brasil, indo dos anos 60 até os anos 80, entendendo quem foram os pioneiros nas articulações dos movimentos sociais nacionais e como essas pautas eram discutidas, mesmo frente à Ditadura Militar e toda a repressão policial.

Com estrutura bem clássica de documentário, “Não É a Primeira Vez que Lutamos pelo Nosso Amor” busca fazer um resgate cronológico desses primeiros agrupamentos e dessas primeiras reuniões de pessoas LGBTQIA+. Para isso, conta com uma série de entrevistas com nomes fundamentais para essa história, como o escritor João Silvério Trevisan (Grupo SOMOS SP), a historiadora e ativista Marisa Fernandes (Grupo SOMOS SP), o ativista LGBTQIA+ e pioneiro Jorge Caê Rodrigues (Grupo SOMOS RJ), o ativista Wilson Mandela (Grupo Gay da Bahia), Luiz Mott, um dos mais conhecidos ativistas brasileiros da causa LGBTQIA+, também membro do Grupo Gay da Bahia, e Alexandre Ribondi, do Grupo Beijo Livre (Brasília).

E para dar conta do cenário político efervescente da época, o filme conta também com entrevistas de membros de grupos internacionais como o escritor Gary Alinder, do Gay Liberation Front de São Francisco, Karla Jay, pioneira no campo dos estudos de lésbicas e gays nos Estados Unidos e membra do Gay Liberation Front de Nova Iorque, e Marcelo Benítez e Nestor Latronico, membros da Frente de Liberación Homosexual, de Buenos Aires.

“Não É a Primeira Vez que Lutamos pelo Nosso Amor” é dedicado à memória de Priscila, Laysa Fortuna e Kharoline, pessoas trans assassinadas às vésperas das eleições presidenciais de 2018, em diferentes cidades brasileiras, por homens que gritavam o nome de Bolsonaro. De todo modo, a produção do filme se inicia antes dessa eleição, datando de 2015, especialmente motivados pela sensação de que esse universo temático ainda estava ausente da cinematografia brasileira. Para a produção, o filme conta com imagens raras fornecidas, em muitos casos, pelas próprias pessoas entrevistadas, como fotos pessoais, registros de reuniões, matérias de jornais alternativos e trechos de audiovisuais.

Logo após o resultado das eleições presidenciais de 2018 e diante do avanço de grupos e de ideais fascistas, as filmagens de “Não É a Primeira Vez que Lutamos pelo Nosso Amor” – realizadas em seis cidades: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Buenos Aires, Nova Iorque, São Francisco e Los Angeles – foram antecipadas como uma resposta de resistência. Já entre 2020 e 2021 foi feita a montagem e finalização do longa. Agora, o documentário tem feito carreira em festivais e mostras, como o Festival MixBrasil, onde o filme está sendo exibido em sessões presenciais e também de forma on-line pelo SPCine Play.

Além de recontar essas articulações políticas dos grupos minoritários, o documentário também resgata histórias importantes do movimento LGBTQIA+, como a presença do jornal alternativo Lampião da Esquina, a produção do zine lésbico Chanacomchana e as lutas de pessoas trans frente à violência policial. Segundo o diretor Luis Carlos de Alencar, “o documentário visa justamente lembrar aos jovens que nossa história de resistência é muito antiga e que precisamos conhecer nossa memória para elaborar melhor nossa luta atual, mantendo e ampliando nossa liberdade. Temos uma história da qual devemos nos orgulhar e tirar o acúmulo de experiência para continuar a luta”.

“Não É a Primeira Vez que Lutamos pelo Nosso Amor” é uma aula fundamental de história dos movimentos sociais no Brasil. Este é um documentário que consegue abrir portas para essas histórias que muitas vezes são esquecidas e ajuda a colocar luz nessas pessoas que trabalharam e ainda trabalham por um Brasil mais diverso e com mais respeito pelas pautas LGBTQIA+.

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– Renan Guerra é jornalista e escreve para o Scream & Yell desde 2014. Faz parte do Podcast Vamos Falar Sobre Música e colabora com o Monkeybuzz e a Revista Balaclava. 

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