Cinema: Ainda que fidelíssimo aos quadrinhos, “Adão Negro” é frágil pecando no excesso de reviravoltas

texto por João Paulo Barreto

Há três anos, quando “Shazam!” chegou aos cinemas, a adaptação para as telas do herói cuja palavra mágica o transformava de uma criança em um hilário e espirituoso super-herói, muito do que se destacava (e se diferenciava) naquela nova aventura da DC Comics, conhecida no cinema por ambientações soturnas e de tramas mais pesadas, era exatamente o viés de leveza cômica que o filme trazia. Diante de um concorrente de peso na potência Marvel, com “Deadpool” e “Thor: Ragnarok” garantindo galhofa, risadas e gordas bilheterias, a casa do Superman e do Batman precisou se adaptar e acabou por lançar seu trabalho de maior apelo dentro da comédia. Mas havia um vilão do herói infantil, (o principal deles, na verdade) que se esperava ver na versão cinematográfica do “Capitão… err Marvel”, mas acabou ficando de fora daquele debut de 2019.

Em “Adão Negro” (2022), longa que apresenta esse arquiinimigo, a razão para tal ausência se torna evidente, uma vez que o peso dramático e trágico de sua origem não rimava com o aspecto leve trazido por “Shazam!”. Afinal, muito do trauma que constrói o personagem principal aqui pedia um desenvolvimento exclusivo de tal figura em uma posição que nos quadrinhos possui um arco bem próximo ao visto na tela grande em termos de motivações e condutas que esbarram em questões éticas e morais.

Vivido por um Dwayne Johnson, cujo carisma e presença midiática entrega boa parte do serviço de se vender um filme para grandes audiências, o personagem título Adão Negro consegue servir como um veículo que não necessariamente explora o humor já conhecido do ator em vários dos seus trabalhos, mas, basicamente, sua presença física. Algo que, junto às sequências de destruição, não é pouca coisa.

Na trama, o escravo Teth-Adam, após liderar o breve levante contra o imperador de Kahndaq, sua terra natal, é agraciado com os poderes do mago Shazam, cujo nome desperta capacidades sobrehumanas. Cinco mil anos depois da destruição do império escravocrata, Teth-Adam retorna à vida nos dias atuais após ter seu nome e palavras de encanto encravadas no local onde jazia, pronunciadas por Adrianna Thomaz (nos quadrinhos, também conhecida como Isis), rebelde que luta contra os atuais ditadores que dominam Kahndaq. Com o ressurgimento de Teth-Adam no momento crucial no qual uma perseguição militar ao grupo de rebeldes liderado por Adrianna acontece, o caos emerge na figura do anti-herói assassino e é quando o filme inicia sua espiral de destruição.

Centrando-se basicamente na ideia de tornar o ímpeto assassino e vingativo de seu protagonista em um o conflito moral, as duas horas de duração de “Adão Negro” são supridas com sequências de destruição da cidade de Kahndaq, para a qual, ironicamente, Adam é tido como salvador. Além disso, há um constante evoluir do critério de julgamento do mesmo em relação ao que deve enxergar como moralmente errado em suas ações que levam à morte dos mercenários que tentam dominar o lugar por conta do precioso metal que alimenta a economia local. Assim, é basicamente neste moldar da criatura mística de brutalidade assassina em um super-herói honrado que se baseia seu arco dramático.

Inserindo a clássica Sociedade da Justiça da América com ao menos dois personagens oriundos da conhecida formação que encontra sua origem nos primórdios da Era de Ouro da DC Comics (período entre 1938 e meados dos anos 1950), “Adão Negro” tem como um dos principais fatores de redenção para seu simplório roteiro calcado apenas nas constantes cenas de destruição, as figuras dos clássicos personagens Doutor Destino e Gavião Negro. O primeiro, interpretado por Pierce Brosnan, tem na austera presença do ator irlandês a voz experiente que geralmente tende a guiar os mais jovens. Já o Gavião Negro, na pele de Aldis Hodge, surge como a já comum figura milionária a bancar tudo aquilo, mas que será o principal embate no jogo de moral que envolve a citada evolução de Teth-Adam como ser humano em sua consciência heroica. Em ambos os heróis clássicos, felizmente, o filme de Jaume Collet-Serra encontra a majestosa equivalência cinematográfica em comparação às artes vistas em quadrinhos recentes.

Dentro de uma proposta de desenvolvimento de roteiro que foca excessivamente em reviravoltas que tendem a se tornar confusas ao buscar pela surpresa de seu público, como a verdadeira origem dos poderes de Teth-Adam sendo recontada de modo diferente em ao menos três momentos durante o filme, “Adão Negro” acaba por ter nesse artifício sua principal fragilidade.

Além disso, ao inserir mais de um momento climax com a inserção de um novo e descartável vilão já em seu último ato, o longa perde um pouco do seu impacto emocional, mesmo que em seu encerramento, o espectador precise se despedir cedo demais de um dos principais e melhores personagens da aventura. Fica o consolo de termos em seu aspecto visual e referências aos quadrinhos uma fidelidade admirável. E a cena ao meio dos créditos finais, com a aparição de outro ícone da DC Comics, colabora para a empolgação ao se pensar em uma continuação na qual esses defeitos narrativos sejam corrigidos e sua qualidade visual aprimorada.

– João Paulo Barreto é jornalista, crítico de cinema e curador do Festival Panorama Internacional Coisa de Cinema. Membro da Abraccine, colabora para o Jornal A Tarde e assina o blog Película Virtual.

6 thoughts on “Cinema: Ainda que fidelíssimo aos quadrinhos, “Adão Negro” é frágil pecando no excesso de reviravoltas

  1. Por favor, vocês não cansam de tanta crítica?? Se fosse qualquer porcaria da Marvel vocês estariam rasgando elogios. Percebo que a política está envolvida até nos comentaristas que tem seus favoritos e favorecem a quem eles querem. Isso cansa!

  2. Deu de dez a zero no Thor Amor e Trovão que também fui ver no cinema, teve comédia demais pro meu gosto… Adão Negro foi bom demais!

  3. Critica “especializada ” adorou miss Marvel e shee hulk e vem falar mal do Adão Negro…kkkk…nem me importo mais com a opinião deles, só apareci aqui pra não perder a oportunidade

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