Entrevista: Jair Naves se redescobre no ‘caos’ sonoro de seu novo disco, “Ofuscante A Beleza Que Eu Vejo”

entrevista por Victor de Almeida

Em 2010, em uma das primeiras viagens que fiz a São Paulo, lembro de ter entrado em uma loja de discos na Galeria do Rock, um dos pontos que visitei e, talvez, centro de um imaginário roqueiro para aqueles que, assim como eu, consumiam música na primeira década dos anos 2000 e nunca tinham visitado a capital paulista. Lembro de ter pegado no balcão da loja um folheto do tamanho de um cartão postal com a divulgação do lançamento do trabalho solo de Jair Naves, até então conhecido pelo seu trabalho com a banda Ludovic.

O cartão era uma sobre “Araguari” (2010), primeiro trabalho de Jair, e trazia algumas citações e, dentre elas, acho que a de Hélio Flanders me chamou a atenção. O cantor e compositor à frente do Vanguart enaltecia Naves como um dos maiores compositores de sua geração e chamava a atenção para uma beleza, digamos, “cortante” das músicas do ex-Ludovic em sua empreitada solo. Em 2022, mais de uma década depois, Jair Naves lança seu quinto álbum de estúdio, “Ofuscante A Beleza Que Eu Vejo” e, ao que me parece, segue sendo um lugar comum reafirmar as palavras de Flanders no cartão de “Araguari”.

Naves é dono de um estilo muito peculiar de composição lírica, que mescla uma sensibilidade aflorada com uma sinceridade arrebatadora sobre si. Musicalmente, sempre transitou entre uma figura de trovador ao violão flertando com sonoridades folk, principalmente no início da sua carreira no já citado EP “Araguari”, e entre o performer roqueiro enérgico e catártico, remetendo aos tempos de sua ex-banda, em trabalhos mais recentes como “Trovões A Me Atingir” (2015) e “Rente” (2019).

Nesse novo trabalho, Jair parece apontar para novos rumos e nos oferece um disco sobre processos, sejam eles de aprendizagem, descoberta ou experimentação, mas que passam desde o desbravamento de um novo instrumento, como também novas relações com a composição musical em estúdio, técnicas de gravação e, até mesmo, uma mudança de paradigma em relação ao equipamento de áudio e etapas de pós-produção.

O que temos nas 13 faixas de “Ofuscante A Beleza Que Eu Vejo” é a poesia apurada de Jair Naves refletindo sobre a vida em seus agora completados 40 anos, a complexa divisão de vida entre dois países (sob a perspectiva de imigrante latino em uma Califórnia progressista e neoliberal, assim como, um estrangeiro que, sem ufanismo, se [re]descobre brasileiro), a solidão do isolamento social ocasionado pela pandemia e sobre um Brasil adoecido tanto pela COVID-19, ansiedade e depressão quanto pelo fascismo espraiado pela extrema-direita.

Produzido pelo próprio Jair, em parceria com Zeca Leme (BTG Studio), “Ofuscante A Beleza Que Eu Vejo” é um álbum que traz um esmero e atenção aos detalhes, ao mesmo tempo que nos apresenta um compositor de longa data que redescobre uma alegria de amador, ou melhor de iniciante, no contato com o piano, pedais de efeito e novas formas de conceber a sua voz e cantar.

Em uma entrevista sincera e emocionante ao Scream & Yell, Jair Naves fala sobre essas novas descobertas da carreira, desafios do cenário independente no Brasil, envelhecimento, sua relação com Fred (seu cachorro, personagem por trás de “Breu”), inquietações sobre o futuro, além de destrinchar alguns aspectos técnicos por trás do novo álbum, vivências em estúdio e demonstrar um ânimo renovado para o que está por vir. Seja lá o que for.

Queria começar nossa conversa pelo início do disco. Em “Ofuscante A Beleza Que Eu Vejo” o primeiro instrumento que se dá para ouvir, além da voz, é um piano. Coisa que me chamou a atenção em relação aos seus outros trabalhos que tendem a começar com o protagonismo de guitarras/violão. O piano aqui diz algo sobre o processo de composição dessas músicas?
Diz muito.

Eu não tocava piano antes da pandemia, e comecei a tocar para não enlouquecer. Lá por abril de 2020, comecei num processo de me assumir como iniciante, o que é difícil na minha idade. Acho que a gente tem idade parecida, não sei como é para você. Mas é aquela coisa de pegar o tutorial do YouTube e saber onde fica o Dó e desenvolver a partir daí. Acho que nem quando comecei a estudar violão, eu estudei tanta música. Não tinha muito o que fazer e era o que me dava prazer, sabe?

De fato, nunca teve esse começo mesmo e nunca teve tanto piano num disco. Acho que isso reflete muito um estado de solidão. O piano é um instrumento muito autossuficiente, ele pode ser percussivo, é melodia e harmonia acontecendo ao mesmo tempo. E o que me fez decidir colocar essa música na abertura foi a letra. Assim… analisando o que eu faço, essa música tem uns dos versos que eu mais fiquei feliz de ter escrito, sabe?

E a gente não sabia muito bem do tratamento musical para ela. Tentei colocar tudo na música, tentei colocar sintetizador, gravamos bateria e baixo, umas coisas de guitarra meio ambiência, a gente chegou a gravar umas coisas com aquele Tascam Porta K7, tentando simular aquela coisa meio Nine Inch Nails. E aí, o Zeca (Leme, co-produtor do disco) falou: “cara, essa música tem que ser voz e piano, parece que tudo que você tá fazendo é para colocar um escudo na sua frente que você tá falando uma coisa que é muito pessoal e acho que você tá se sentindo muito exposto. Acho que a melhor versão é voz e piano.”

E aí, acabei tentando umas outras coisas, mas acabei dando razão a ele. Acabei assumindo uma vulnerabilidade e um estado de espírito que é difícil mesmo. Mas o piano também resgata uma coisa que sinto falta. Eu já faço música há muito tempo e eu sentia falta de um lado mais lúdico, de você não saber o que está fazendo, sabe? Então, é um instrumento que eu não domino. Acho que foi uma procura por uma alegria de iniciante, coisa que a gente perde com o tempo. É tipo aquela música “Heavy Metal Drummer” (do Wilco), eu sinto falta de uma inocência que eu perdi.

É, acaba que tem isso mesmo. Quando “Meu Calabouço (Tão Precioso É o Novo Dia)” toca, ao contrário dos outros discos que começam sempre com banda completa, aqui parece que é um processo mais solitário mesmo.
É muito mais sozinho mesmo. O estúdio era toda uma precaução, aquela coisa de máscara, quando tinha algum convidado era meio que um evento. Acho que é o disco mais solitário que fiz na vida. De fato, reflete isso mesmo.

Acho que, musicalmente, “Ofuscante A Beleza Que Eu Vejo” traz umas roupagens que muita gente tem tratado como “experimental”, mas o formato canção permanece, né?
Sim.

Mas acho que talvez mais experimental que incorporar ruído e efeitos, uma parte grande da experimentação está no jeito como você tem tratado a voz. Ainda falando de “Meu Calabouço (Tão Precioso É o Novo Dia)”, mas também poderíamos falar de outras, é possível ouvir como você tem pensado as melodias, misturando canto e spoken word, mas também em manipulações da voz, mexendo com saturação, ora soando abafado, ora soando como uma textura a mais nas músicas. Como você concebeu a voz nesse disco?
Foi muito tentativa e erro, o disco como um todo. Mas acho que tem uma coisa também que tem muito na música brasileira que é tratar a voz quase como uma reverência, uma coisa cristalina, que não pode ser tocada, mesmo em discos de rock, sabe? E, principalmente, em grandes produções dos anos 80, o volume de voz sempre muito alto e tal. Não sei, talvez seja um instinto meio autodestrutivo ou outra coisa, não sei. Mas acho justo tratar a voz como mais um elemento. E sempre tinha uma preocupação de chegar num meio termo que ainda fosse inteligível o que eu estava dizendo. Mas que tivesse essa coisa coerente com o resto dos instrumentos que tem muitos experimentos, efeitos em cima.

Assim, passamos muito a voz por pedais, por outros efeitos. Também o jeito como gravei a voz foi diferente, um registro muito mais alto, muito mais agudo e quase “falseteado”. Muito próximo do microfone também. Essa música, principalmente, quando ouço sinto a minha voz muito no “cangote” mesmo. Uma coisa que não me lembro de ter feito. A gente vai se descobrindo. Também, o fato desse disco ter mudado tanto e ter sido feito de uma forma solitária trouxe uma coisa de autoconhecimento.

Explorei mais a minha voz, eu não sou um cantor de formação, então é meio experimental no sentido literal da palavra. Acho que esse termo quando aplicado a música traz uma coisa muito carregada de querer ser vanguardista ou sei lá. Mas, no meu caso, foi meio que testar coisas que a gente não tinha feito antes. E nesse disco tem muito. Não é que eu queira assumir um rótulo de desbravador da música popular, mas, dentro da minha discografia, tem coisas que eu nunca tinha feito antes mesmo. E é muito divertido, porque, a partir do momento que você assume que a voz é mais um instrumento e não precisa, necessariamente, ser a protagonista do arranjo.

Claro que a letra precisa ser entendida, mas quando você perde um pouco esse preciosismo, você faz descobertas muito interessantes. Esse disco tem muito isso, desde gravar a voz de máscara, o que é uma ideia meio de jerico, mas trouxe essa coisa abafada, passar a voz por efeitos para trazer uma textura de fita K7 ou passar pelos pedais, não sei.

Essa coisa da proximidade é interessante, né? Eu tive uma sensação parecida quando escuto as coisas da Billie Eilish. Você ouve algumas músicas dela e parece que ela está cantando no pé do seu ouvido ou dentro da sua cabeça, né?
É, engraçado, né? Eu acho a produção dos discos dela, principalmente do primeiro, muito potente, principalmente no contexto que ela está inserida. Então, quando você vai trabalhando com alguém tem coisas que não são comunicadas, mas são meio que transferidas de alguma forma. Na sexta música, que é uma faixa meio que só piano, o Zeca fez um tratamento de piano que me lembra muito as produções da Billie Eilish e eu não falei nenhuma palavra. Acho uma referência muito boa, porque quando você pega referência de uma esfera pop e transfere para o que a gente faz, uma banda independente, do Brasil… Ainda mais no nosso caso, uma coisa quase kamikaze, que não tem nada a perder e, mesmo assim, fazer um disco que daqui a uns anos a gente vai ouvir e achar graça das loucuras todas. É curioso pensar como soa diferente. É muito louco. Você foi a primeira pessoa que citou essa referência. Acaba que o Zeca traz muito isso, até pela profissão dele, quem ele grava no estúdio, né? Ele vem de uma linha muito mais pop. E muito das conversas era meio: “cara, aplica no meu disco o que você usou gravando o Fiuk e vamos ver o que sai”. Muito das ideias de mixagem, vieram disso.

Eu queria sair um pouco do disco e focar mais na experiência da escuta. Em parte o disco me trouxe uma memória meio recorrente. Em 2019, um amigo aqui de Alagoas (Fernando Tenório, psiquiatra) escreveu um post no Instagram falando sobre experiências de consultório e mencionava uma recorrência de pacientes reclamando de esgotamento corporal, ansiedade, sintomas depressivos, dores de cabeça frequentes, dentre outras questões decorrentes da condição de trabalho, estilo de vida e condições mais amplas, não eram questões apenas da ordem intima. Ele falava nesse texto que essas pessoas estavam “doentes de Brasil”, de como parte desses sintomas eram decorrentes desse contexto histórico e de como ele, de certo modo, estava tratando no indivíduo questões que eram do social. Um povo inerte, adoecido, em alguma medida (Tenório fechou seu Instagram, mas fala sobre o assunto nessa texto de Eliane Brum). “Ofuscante A Beleza Que Eu Vejo” me levou a essa memória não por ser um disco de reflexão desse contexto em si, mas coloca uma perspectiva subjetiva, desse indivíduo, meio adoecido, nesse contexto. Um disco que acho que sintetiza um pouco desses processos que estamos vivendo, mas trazendo a atenção para dentro, para a primeira pessoa. Faz algum sentido para você?
Cara, tem muito. É inescapável. Eu não sei. São conversas recorrentes que eu tenho. De como o mundo mudou da geração dos nossos pais para a nossa, de como esses objetivos são diferentes e como as etapas da vida são diferentes. O que você conseguia com 25, 30, 35, 40 anos. Eu não vi esse post que você mencionou, fiquei curioso para ver e eu nunca tinha visto ninguém falar o que você me disse que ele falou, que é pensar o individuo nesse contexto e manda ele de volta para a trincheira. Tem muito aí, é um assunto que traria reflexões bem longas. A gente acabou que chegou em um ponto que esse modelo de vida neoliberal, flertando e, por vezes, abraçando o fascismo é uma coisa insustentável em termos de saúde mental mesmo. Essa coisa da liberdade, esse modelo de liberdade, seja seu patrão, faça seu horário, o quanto isso acaba com as pessoas. Uma carga de horário insana para que faça valer a pena e sem garantia nenhuma. Não sei.

Trazendo essa discussão para dentro do disco. Não existe necessariamente uma menção, ou melhor uma nomeação, nas músicas. Você cita “corja”, “parasitas”, por exemplo. É uma perspectiva que me parece de quem está dentro desse contexto histórico, está vivendo. Essas coisas que você viveu durante o processo de feitura do disco, até que ponto esse “estado de doença” nos leva a questões como essa que você apontou. Da gente pensar que “já deveria estar calejado” ou questionamentos sobre porque ainda estamos aqui. Eu queria pensar mesmo esse processo de quem está dentro do universo do disco.
É curioso porque eu sei exatamente do que você está falando e não sei muito bem o que dizer sobre isso. Tem uma música que fala sobre notícias ruins vindo de enxurradas, como a gente reage a isso. Sei lá, como a gente começou esse papo falando sobre o que aconteceu nos últimos cinco dias. A gente precisa lidar com uma quantidade de informação altamente destrutiva, cotidianamente, todo santo dia. Eu não sei como você se define como individuo, qual o seu lugar no mundo, seus planos, suas ambições…

A leitura que fiz da sua pergunta e que tentei deixar claro no disco é de quem faz parte disso. Então, muito dessa guinada à extrema direita que o país passou… É difícil a gente se ausentar disso, ignorar isso porque a gente conhece muita gente que optou por isso. Como eu não conseguir abrir os olhos dessas pessoas? Eu me culpava muito em grande parte. Tenho uma sorte de não conviver tanto, ao contrário de muitos amigos eu não tenho pais bolsonaristas, por exemplo. Nos Estados Unidos vem outra coisa…

Fico com medo de parecer ingrato porque tem muita gente que queria se mudar para cá e tudo mais. Mas, ao mesmo tempo, eu vejo um romantismo nessas pessoas que, nem de longe é condizente com a realidade, né? O que é de fato você vir para cá, você está num lugar totalmente novo e ser um desconhecido com 30 e tantos anos, 40 anos e ter que reescrever tudo do zero.

Você já vive há alguns anos em Los Angeles, viveu esse processo de imigração durante a era Trump nos Estados Unidos. Acho que viu a eleição do Bolsonaro à distância, né?
Foi. Eu lembro exatamente como foi. Eu fui ao cinema e vi dois filmes nesse dia para não ficar olhando de tempo em tempo para o celular toda hora. E quando acabou o último, eu abri um desses portais grandes de notícia e vi “Bolsonaro presidente”, essas duas palavras juntas não faziam muito sentido juntas para mim. Não é possível que isso está acontecendo.

Ao mesmo tempo que encarar essa mudança durante um governo declaradamente xenófobo, para um estado que se diz progressista, mas esse discurso neoliberal de preservação de liberdades que é bem complexo, ao mesmo tempo que se assume dentro de um progressismo rivalizando com um país altamente conservador e que tem seus problemas de ordem social e até com vacinação. Essas controvérsias de certo modo aparecem no disco também, né?
Sim, com certeza. Tem tanta coisa aí. Eu me sinto muito mais brasileiro aqui do que aí, sabe? Eu sempre achei nacionalismo um sentimento superperigoso, nunca tive nenhuma tendência ao ufanismo. Mas aqui eu descobri que é uma parte gigante de quem eu sou, não imaginava que era tanto. Os costumes, as coisas que refletem no sotaque, é a primeira impressão que as pessoas têm de você: o lugar de onde você veio. O primeiro dado que eles têm. E tudo isso que você falou é real. Estou numa espécie de oásis de progressismo, mas que tem as questões de ser um local colonizador, um local muito voltado para si, que reescreve a história para se colocar como herói. E é muito louco porque estou (conversando com você via Zoom) num lugar público, me sinto meio mal de falar isso em voz alta, mesmo em português.

Eu acho que, também, a ideia de distância se reflete muito no disco. Seja a distância dos outros músicos, do processo de fazer música. Mas tive uma coisa muito forte que é a distância de uma parte de mim que é essa parte criativa, que aqui estou em um modo de sobrevivência total para me sustentar e ficar com a pessoa que eu amo, que casei e escolhi ficar. A minha música meio que não cabe aqui por vários motivos, primeiro que não tenho dinheiro para começar algo do zero, ser músico em tempo integral, preciso pagar aluguel, comer etc. Mas, ao mesmo tempo, grande parte dessas músicas foram escritas quando eu ainda estava aqui, se não todas elas. Tem uma distância de uma parte de mim que fica apagada, inevitavelmente. Assim, eu fico indo e vindo já há cinco anos praticamente. E é um processo que nunca te deixa 100% presente em um lugar.

Sim, claro. Imagino. Acaba que você não é ou está em nenhum lugar, né? Você não mora aqui e não mora aí, né?
Total. E mesmo as coisas que arrumo aqui de trabalho são sempre provisórias porque eu não vou abrir mão das minhas coisas aí. De tentar estar com minha mãe em um período de crise sanitária sem igual ou de ver vocês, fazer minhas músicas. Ao mesmo tempo, quando estou aí eu fico preocupado com a Britt, minha esposa, como será que ela está lidando com as coisas? Então é muito maluco essa coisa da distância e de não estar 100% presente. De ser dois.

Acaba que sempre você nunca está feliz com a viagem. Sempre rola um coração partido indo para algum lugar, né?
Eu não aguento mais despedida. Porque toda viagem que faço, eu estou me despedindo de alguém. Durante dias, fico pensando que preciso interromper algo e voltar daqui a cinco ou seis meses. Claro que isso é um problema muito classe média ou classe média alta, né? É um problema de privilégio, mas não deixa de ser um problema, ainda mais nesse cenário doido que a gente está vivendo.

Queria falar um pouco de “Breu”. É uma canção sobre seu cachorro?
É. (risos) É sobre o meu cachorro.

É o que ficou em São Paulo?
Ele mesmo. Bom e velho Fredão.

Eu acho uma das melhores canções, vamos dizer assim, de amor que eu já ouvi sua e olha que você tem umas muito boas. Mas não sobre amor com alguma outra pessoa, mas com um animal. Acho que muito dela tem a ver com sua mudança para Los Angeles, né? “Breu” e “Meu Calabouço (Tão Precioso É o Novo Dia)” trazem um pouco a ideia de vida, passagem do tempo e envelhecimento, questões que ganham novos pontos de vista aqui. Outra coisa é que o tempo de vida dos animais é diferente dos humanos, o que parece tornar a relação ainda mais intensa, né? Como você tem percebido essa passagem do tempo? É algo que você tem tomado consciência?
É, eu ia chamar atenção para esse fato. De como a vida deles é muito mais curta e a gente presencia tudo, todo o arco, desde os primeiros passos até o momento final em um período muito curto. E eu gostei muito que você falou de ser uma canção de amor, ninguém nunca falou…

(Jair se emociona, para e respira)

Está vendo? Isso é foda, Victor. Fiquei até emocionado com essa definição. Gostei muito do jeito que você encarou e colocou isso. Acho uma música muito diferente de tudo que fiz, e foi muito difícil de fazer. Gravei aquela introdução, e eu já falei disso algumas vezes, que e eu tive que sair da sala porque eu não aguentava ouvir, é uma música que resvala em muitas coisas importantes para mim.

Uma coisa que tem me chamado muito a atenção é o especismo, como a gente subestima a profundidade da nossa relação com os animais. Como eles são capazes de uma complexidade emocional que a gente não se dá conta muitas vezes, de uma entrega emocional que a gente é incapaz mesmo. Essa coisa do amor completo, do perdão completo, que é uma coisa que os animais são capazes que eu não acho que eu seja, por exemplo. A coisa da mudança foi muito complicada porque eu conseguia explicar racionalmente para todos, mas como eu ia explicar para ele.

Não sei, eu não acho que eu vá escrever uma música parecida de novo. Ela reflete muita coisa sobre o envelhecimento. Agora estou chegando nos meus 40 anos e você começa a pensar em muita coisa que você não pensava antes. Aposentadoria, por exemplo, sabe? E volta para o assunto do modelo de vida que a gente está tendo, que talvez a nossa geração seja a primeira a não conseguir se aposentar e uma preocupação maior com isso. Uma ideia de finitude maior também, sabe?

A gente começa a se deparar com limitações físicas que a gente não tinha antes. Coisas pequenas como uma dor nas costas ou um problema no joelho assim. Acho que essa música trouxe muito isso. E foi uma das poucas músicas que tentei escrever sobre a perspectiva que não fosse a minha. Se você for analisar, a introdução é sobre como eu achava que ele estava encarando esse problema. A segunda parte era como eu achava que ele estava se sentindo. De como eu o via tateando, estranhando a disposição das coisas na casa. E a música termina com ‘por que isso tinha que acontecer com você’?

É uma música de um teor emocional muito forte, nem sei se essa música vai estar nos shows porque ainda é difícil lidar com ela e acho que é a primeira vez que eu tenho esse problema em mãos depois de tudo que eu já gravei na vida. É estranho, não sei.

Quem tem animal e vive essa vida de viagem passa por isso. Eu tenho uma gatinha que está em São Paulo com minha esposa agora. E é engraçado que toda vez que eu viajo e volto, ela é muito diferente de cachorro, toda vez que eu volto rola uns dois ou três dias de boicote, puro desprezo…
(risos)

Sempre rola uns dois ou três dias para rolar um apego novamente, um perdão que você fala. Mas acho que é isso, no fundo é uma canção de amor muito doida porque não é uma coisa de perda, é uma coisa de processo. É estar perdendo. Geralmente, numa relação por mais que você perceba isso acontecendo é diferente, né?
É, sim. E é uma relação que a comunicação tem muitos limites. Eu não sei se eles sabem o que é cegueira. Eu não sei. Se eu ou você passarmos por isso, a gente vai saber perceber que é isso que está acontecendo. E eu fico pensando o que passa na cabeça dele. Como é isso?

Ele não sabe que alguém pode ficar cego, não sei o que ele acha. E acompanhar esse processo é muito doloroso. Você falou da sua gata, nós temos uma gatinha aqui também. E eu tenho que lidar com ela também quando eu vou para o Brasil, a volta é isso. Rola um desprezo, um ressentimento, assim. “Onde é que você estava até agora?”

E essa coisa da impossibilidade de uma comunicação completa, me pegou muito. Quando eu mudei para cá e eu quis explicar uma coisa que aconteceu que era muito séria. Às vezes, você fala: “fulano saiu, mas já volta” ou “a gente já vai passear”, mas como você fala “olha, vou viajar e ficar fora por meses” ou “você não vai enxergar mais, mas ainda dá pra viver, fazer suas coisinhas”. É muito estranho, tem muita coisa aí. É uma música que tem uma profundidade que eu ainda não consigo dar conta.

Há muito tempo, me recordo de uma dessas caixinhas de pergunta no seu Instagram de alguém perguntando sobre o seu equipamento, sobre o que você usava no palco. Não lembro exatamente a resposta que você deu, mas fiquei com uma lembrança que você meio que disse que não usava nada demais, apenas afinador e alguns poucos recursos. Para esse disco novo, parece que a situação deu uma mudada, né? Qual sua relação com instrumentos, pedais e equipamentos de áudio hoje?
Sim, mudou. Mudou totalmente e abriu muitas portas. Cara, isso tudo tem a ver com a minha trajetória musical também, né? No Ludovic, eu compunha as coisas no violão, passava para os guitarristas e tocava baixo. E quando eu comecei solo era só violão e quando tinha guitarra era uma coisa muito simples. Não sei se era purismo, não sei o que era. E agora, olhando em retrospecto eu espero não ter dado a impressão de ter menosprezado a pergunta da pessoa.

Não acho que seja menosprezar, mas acho que tinha uma perspectiva de autenticidade vinculado a uma crueza da música, não? Por mais que boas canções não precisem de muita coisa para funcionarem, você parece ter apontado para outros caminhos.
É, sim, claro. Acho que hoje encaro os equipamentos como instrumentos em si. Não quero entrar em tecnicidades que nós gostamos, mas que talvez não interessem tanto ao leitor comum. Mas esses pedais como o (Chase Bliss Audio) Mood, (Hologram) Microcosm eles são instrumentos em si. Não são pedais que você coloca no chão, pisa e liga um efeito. Acho que dá para compor uma coisa ali, nem que seja separar um loop de uma frase maluca que o pedal criou e inserir isso. Então acho que estou com a cabeça mais aberta. O que eu acho desse disco é que ele parece ser um disco mais da sua era que os discos anteriores. Eu não sei. Esses recursos oferecem possibilidades muito maiores e eu estou muito animado para poder explorar mais profundamente nos próximos discos.

De certa maneira esses pedais vão no mesmo lugar do piano, né? A gente voltou a aprender, fazer o que você não sabe o que está fazendo e vai entender depois, né?
É. E você começa a entender suas possibilidades ali. Acho que tem muito a ver com o tipo de música que eu passei a consumir também. É engraçado como essa década mudou muita coisa para mim, até o meu gosto musical. O meu jeito de controlar ansiedade, que esteve muito presente desde 2018, mas se acentuou em 2020, eu passei a ouvir músicas que eu não ouvia antes buscando algum conforto.

O que se chama de “música ambiente” que é uma coisa mais contínua e que não tinha tanta quebra, não tinha ideia de ponte, refrão, estrofe e aquilo passou a fazer sentido para mim. O meu disco teve uma tentativa de fazer canções com essa atmosfera, com essas características, mas com um formato tradicional. Tem a ver como eu mudei ao longo desse tempo também. Acho que lembro dessa caixinha de perguntas, deve ter sido na época do “Rente”. Ouvindo o “Rente”, hoje em dia, eu vejo como uma era muito distante. Eu, realmente, encaro música de outra forma.

Por mais que você considere tecnicidades que não interessem tanto ao leitor, eu acho que tem gente que se interessa por isso. Eu mesmo me interesso bastante nesses debates. A gente já falou do piano, de alguns pedais, começo do violão, mas você consegue citar algum instrumento, pedal ou equipamento que de certa maneira mudou o jeito como você concebeu esse disco? De como você pensa composição?
Sim, claro. Acho que sintetizadores foram a maior coisa de diferente, tipo aqueles que algumas pessoas não levam a sério como o (Korg) Volca, explorar a bateria eletrônica do Volca e passar por um pedal que já estava produzindo aleatoriedades como o Mood mesmo. Sei lá, nem que fosse uma sequência simples de bumbo e caixa e aquilo gerava uma coisa rítmica que eu considerava inimaginável. Os sintetizadores eles oferecem muito disso, desde aspectos de parte rítmica e até harmônica e melódica. E esse disco foi muito aberto a aleatoriedade assim. O sintetizador que eu usei foi o (Korg) Minilogue com esses pedais e distorções. Muita coisa de loops que eu nunca trabalhei antes. Chamava o baterista para gravar, colocava a música e falava para ele fazer várias bases que ele conseguia para aquela sequência harmônica e a gente selecionava os melhores takes e colava e, a partir daí, fazia coisas novas.

Existe até um termo em inglês que seria a ideia de “happy accidents” que aparece no disco.
Sim, tem demais.

Claro que as composições são importantes, mas “Ofuscante A Beleza Que Eu Vejo” parece ter um trabalho muito mais esmerado na pós-produção. Algumas faixas, como “A Luz Que Só Você Irradia” e “Dialeto” por exemplo, parecem terem sido compostas a partir de colagens sonoras de takes distintos. É isso mesmo? Como foi o processo de compor assim em estúdio? Qual o papel do Zeca Leme (BTG Studio) nessa mudança?
Bem, eu nunca compus assim antes. Você citou “Dialeto” e aquela música toda era uma introdução para uma outra música, que era uma coisa meio The Cure “Desintegration”, meio grandiosa, meio teatral. Mas comecei a fazer variações do acorde e pensei em fazer uma outra coisa a partir disso. Imagina, se eu iria compor assim antes?

E aí, tem a importância do Zeca que é gigantesca, esse disco não existiria sem ele. E você bem sabe, durante o tempo de estúdio é um período que você se expõe e de muita vulnerabilidade. Pelo menos tendo a duvidar muito do que estou fazendo e perguntar as pessoas o que elas acham, se é por aí mesmo, se vai dar certo. E ele me encorajava muito.

E os efeitos que a gente conseguiu, como por exemplo em “Vociferando”, a voz foi gravada simultaneamente com a bateria, aquela voz que fica repetindo. Aquela voz era acionada pela batida na caixa e a caixa meio que determinava a duração do eco da voz. Isso foi uma ideia totalmente dele, eu não tenho nem domínio técnico para chegar nesse tipo de experimento. Foi muito importante. Foi o primeiro disco coproduzido da minha vida. Acho que eu tinha um purismo nos anteriores e esse foi um disco de libertação. E a mixagem foi tão ou mais importante que a gravação. Muita coisa foi resolvida ali.

Em uma primeira audição do disco, uma coisa que me saltou foi como “Ofuscante A Beleza Que Eu Vejo” parece ser um disco sobre um processo e, de algum modo, de aprendizado. Por mais que as músicas no começo já apresentem intervenções de efeitos, algumas ambiências, uns glitches aqui e ali. Parece que o disco tem uma quebra, ali por “Vociferando”. Quando me parece que as composições parecem demonstrar um domínio maior das ferramentas, do estúdio e da estética que se buscava. É por aí? Quais os aprendizados que você tira daqui?
É. Eu acho que você está numa posição muito privilegiada de ver o disco de um jeito que eu não consigo. Até porque as seis primeiras são músicas mais melódicas, um poucos menos desafiadoras para o ouvinte. Eu estou tentando pensar, mas acho que cronologicamente depois de “Vociferando” sejam as últimas mesmo e talvez a gente tenha se dado uma liberdade maior. Essa quebra foi meio consciente, por exemplo, nas músicas que se repetem.

A minha ideia era, basicamente, contar a mesma história de formas diferentes em “Morre Um Apaziguador / Nasce Um Saqueador” e “Nasce Um Saqueador / Morre Um Apaziguador”. A partir dali, realmente tem uma quebra e a gente decide aprofundar um pouco mais e enfim, vamos testar mais. De fato, acho que estou falando, mas absorvendo um pouco do que você colocou. Acho que tem um domínio maior e uma segurança maior para ir um pouco mais fundo nas águas que a gente estava se aventurando.

É, com certeza. Tem uma percepção minha que não é um disco que mostra aonde você “chegou”, mas para onde você pretende ir. Não sei. É um disco de passagem.
Eu acho que você me contou isso uma vez e eu fiquei pensando nisso a noite toda. Cara, acho que o Victor tem razão sim. Porque é um disco que aponta para muitas possíveis direções também. E é por isso que já estou até animado para gravar um próximo por muitos motivos, inclusive existenciais, mas um dos motivos é esse. Agora que eu tenho essas coisas em mãos, o que mais eu vou descobrir? O que mais eu vou aprender?

Mas também, vale mencionar que está tudo ali, né? Tem Ludovic, tem fase “Araguari”, tem a fase “Trovões”. Está tudo ali, junto com essas coisas novas.
Acho que isso se aplica até ao que a gente estava falando antes sobre envelhecimento. Ao contrário do que me foi passado quando eu era criança, talvez para você também. Pelo menos, eu tinha a ideia de que quando eu tivesse a idade que eu tenho hoje, talvez, eu já tivesse chegado em algum lugar, sabe? E eu vejo que não, eu estou no caminho e acho que estarei no caminho por muito tempo. Eu acho que esse disco é também um pouco isso. Sei lá. Se permitir ainda ter um gosto infantil e amador, não profissional, pela música, sabe? Pensar que hoje eu vou chamar meus amigos para o estúdio e a gente vai fazer uma merda qualquer que pode dar muito errado, mas pode dar certo. No final das contas é o que se leva. Eu acho um pouco isso.

É um pouco também desse processo que você canta sobre “estar calejado”, né? De pensar que eu nem deveria estar tão emocionado com essas coisas, afinal de contas já fiz tantas vezes, né? Mas ainda estar descobrindo coisas que gerem uma empolgação genuína que, se não igual a lá trás, é semelhante, talvez.
É, equivalente sim. E acho que tem uma coisa aí que se colocada nesse contexto político, social e econômico maior que onde a gente está sempre pode ser o último disco. É um investimento gigante que a gente não sabe até quando a gente vai conseguir continuar fazendo, sabe? Se é o último, então que a gente faça o melhor que a gente pode, tentar aprender. Espero que não seja o último, mas se for, a gente fez o melhor que pode, falou as coisas que a gente queria falar da melhor forma possível. Eu acho que eu nunca pensei tanto sobre isso, quanto agora. Ser um músico independente, no cenário brasileiro, que não dialoga tanto com outros. Não é como um mercado anglófono que se propõe a falar com o mundo inteiro. A gente fica dentro de nossas fronteiras e até quando isso continua sendo viável? Que é aquele negócio da conta não fechar, que uma das músicas fala. Eu não sei onde se aplica exatamente, mas foi uma sensação presente enquanto eu fazia o disco.

Uma coisa que acho que já conversamos há um tempo, durante os processos de gravação desse disco, era como a falta de perspectiva de shows fizeram você repensar o processo de feitura de um disco. Sem a pressão de ter que “repetir” o disco ao vivo, você se via mais disposto a ousar nas gravações e construção do novo álbum. No rock se tem muito isso, né? De gravar um disco que, gravado, soe como uma apresentação ou performance ao vivo e, ao vivo, soe como se fosse tão bom, tão cristalino e perfeitamente executado quanto o gravado. A gente acaba tirando essa liberdade de “não ter que repetir”, afinal nem show ia ter. Parece, para mim, que isso foi uma tônica no processo do disco, correto?
Ah, sim, total. Aliás, eu estava muito pessimista com o andamento da pandemia, principalmente com a reação governamental em relação a isso. Eu pensava, sei lá, não vai ter show nos próximo cinco anos. E eu ainda me sinto um pouco inseguro com relação a essa ideia de tocar novamente. Mas teve isso de fato, até nisso é um disco que é meio retrato de seu tempo. E, de algum modo, eu pensava daquele jeito na época da pergunta da caixinha. Era um purismo, eu não queria ter essa preocupação ao vivo, cantando. Pelo menos eu achava isso. Agora não, agora eu quero ter até uma mesinha com as coisas montadas e os instrumentos de teclas. Isso foi algo muito presente mesmo. Acho até que me deu um gosto, me fez eu me apegar mais ao processo de gravação do que antes e tido a vontade que aquilo durasse mais tempo. Talvez a música passe por aí daqui para a frente. Não vai ter mais palco.

Nesse meio tempo, a gente viu muita coisa fechando, né? Os palcos estão meio que se acabando também. Não é só a questão sanitária, mas o que veio a reboque dela. Com os shows sendo retomados, como você vê isso? O que você prepara para “Ofuscante A Beleza Que Eu Vejo”? Qual o tamanho do “problema”? Parece que você vai ter vários.
Ah sim, vou.

Com relação a primeira parte da pergunta, eu consigo pensar em poucas casas de show mesmo que permanecem abertas. Lidar com o fechamento das casas de shows, com o poder aquisitivo muito menor por parte das pessoas. Hoje em dia, as pessoas talvez precisem escolher um entre vários shows para ir no mês assim e escolher um disco, uma camiseta para comprar. E isso atrapalha muito o processo de recuperação do investimento feito no disco.

Então, não sei como vai ser isso, estou bem curioso para saber como vai ser essa parte da procura pelo ao vivo. Agora, os problemas de transpor esse disco para o palco vão ser muitos, né? Vamos ter que colocar um músico a mais, mas também confesso que isso parece empolgante. Não sei, talvez algumas músicas precisem de uma releitura completa e outras vão permitir uma leitura mais fiel do que está no disco. De fato, vai ser um problemão, mas estou muito empolgado para encarar.

– Victor de Almeida (@Victoranpires) é jornalista, Doutor em Comunicação pela UFPE e professor da Universidade Federal de Alagoas. Autor dos livros “Além do Pós-Rock” (2015) e “Circuitos Urbanos e Palcos Midiáticos” (2017). A foto que abre o texto é de Luis Naressi.

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