Entrevista: Steve Shelley fala de Sonic Youth, seu selo próprio e DJs Set

entrevista por Janaina Azevedo

O Sonic Youth anunciou sua pausa em 2011, após 30 anos de bons serviços prestados ao noise, mas seus integrantes ainda seguem envolvidos aqui e ali com a música. Thurston Moore e Lee Ranaldo seguem carreiras solo bastante ativas (Ranaldo, inclusive, colaborou com a trilha de um filme brasileiro recentemente); Kim Gordon escreveu um livro poderoso e depois lançou um disco solo excelente. O baterista Steve Shelley, por sua vez, quando não acompanha os amigos em aventuras extra-ex-banda (ele veio ao Brasil com Ranaldo em 2015), cuida do acervo raro do Sonic Youth, mantém programas em rádios, um selo e… faz DJ-sets.

“Na verdade, tenho tocado mais como DJ desde que tudo parou devido a Covid”, conta Shelley, que se diz contra estereótipos na hora de montar o set, mas entrega de bandeja sua receita particular: “faço as regras enquanto estou tocando e então mudo as regras”. Steve Shelley foi um dos convidados do festival noramusique, projeto dos irmãos Vilarouca (Renato e Rico), do Rio de Janeiro, e de Thata Wyns, residente no México, que aconteceu em março via Zoom.

Na conversa abaixo, Steve Shelley conta como faz a curadoria dos materiais raros do Sonic Youth que aparecem no Bandcamp da banda (“A gente tem uma discussão contínua sobre quais gravações queremos lançar”), explica o que busca lançar em seu próprio selo, o Vampire Blues (“Estou sempre em busca de algo que você vai querer contar para os seus amigos: ‘você já ouviu isso?’”) e revela que adora vir ao Brasil, onde mantém uma banda paralela, Riviera Gaz, com Gustavo Riviera e Paulo Kishimoto (dois integrantes do Forgotten Boys), aproveitando para mandar um recado: “Acho que podemos sempre se esforçar para melhorar nossa situação e cuidar uns dos outros”. Confira o papo.

Você tem participado de festas como DJ. Como você cria o seu set?
Na verdade, tenho tocado mais como DJ desde que tudo parou devido ao Covid, então por enquanto minha discotecagem tem sido de alguma forma mais virtual, à distância – eu tenho um programa na WYXR (rádio de Memphis) e um programa no gimmecountry.org

Tem músicas que não podem faltar no teu set, ou você escolhe de acordo com a proposta da festa?
Definitivamente os parâmetros da festa e do público são úteis no que diz respeito a escolher um set. Tenho sons ‘obrigatórios’ que amo tocar, mas tento não fazer todas às vezes. Sempre vou contra estereótipos: faço as regras enquanto estou tocando e então mudo as regras. Meu set é tipo estar andando na van e ouvindo o que a gente toca na viagem.

A pandemia interrompeu os shows ao vivo em todo mundo. Você precisou cancelar algum evento? Tem alguma perspectiva de voltar aos palcos?
Tive só um evento cancelado antes de tudo fechar (uma exibição de filmes do Sonic Youth em um festival do Arkansas). Agora estou esperando que músicos (e todo mundo) possam voltar a trabalhar e viajar com segurança, e se encontrar em um futuro próximo.

Como a pandemia tem afetado a renda de músicos como você?
Tem sido louco, congelou muito da nossa renda. Esperamos que a gente possa viajar de novo, mas também estamos muito felizes de estarmos seguros e saudáveis durante esse evento extremo.

Você é curador dos arquivos do Sonic Youth que tem sido publicados no BandCamp. Como vocês escolhem quais bootlegs vão pro ar? Os outros membros da banda também participam dessa curadoria
Sim, todo mundo no Sonic Youth está envolvido de alguma forma com as gravações ao vivo que a gente disponibiliza no Bancamp. Queremos fazer mais edições físicas desses lançamentos. Algumas gravações são as nossas favoritas e outras foram sugeridas por amigos e fãs, e algumas delas achei enquanto fuçava arquivos de gravação.

Qual a importância de publicar esse material? O quanto ainda há para ser lançado?
É importante porque as pessoas curtem esse tipo de coisas – eu curto com os artistas que eu gosto, então imagino que é o mesmo para fãs do Sonic Youth. Tem muito material, pois nós gravamos a maioria dos nossos shows. Aliás, tem tanto material que a gente tem uma discussão contínua sobre quais gravações queremos lançar, é muita coisa pra desbravar.

Seu selo, Vampire Blues, publicou recentemente gravações do Sentridoh, projeto de Lou Barlow, feitas nos anos 90. Como foi esse trabalho?
Essas gravações estão disponíveis há anos, a gente só incluiu na página do Vampire Blues recentemente. Estamos conversando com Lou Barlow sobre alguns novos projetos.

Você já tinha trabalhado com o Lou Barlow antes?
Sim, quando eu comecei o selo Smells Like Records, o single “Losercore” foi o primeiro que lancei. Uns anos depois, o “Winning Losers” foi o primeiro EP lançado (em CD e em vinil). Sonic Youth e Dinosaur Jr tocaram shows juntos ao longo dos anos.

Que tipo de disco você busca para publicar no selo?
Ultimamente tenho trabalhado em “discos perdidos”. Tem sido bem interessante. São músicas ou discos dos anos 70, 80 e 90 que são difíceis de encontrar ou foram esquecidos pela maioria. Tenho trabalhado em uma nova série desses discos perdidos com músicos amigos como Emil Amos (do Holy Sons, Grails e Om). Mas não importa se é um disco perdido ou novo, eu estou sempre em busca de algo que você vai querer contar para os seus amigos: ‘você já ouviu isso?”

Quantas bandas você tem atualmente? Está trabalhando em algum disco?
Não faço contratos, então não “tenho” nenhuma banda, mas continuo a trabalhar com pessoas se a gente está se divertindo. Atualmente estou procurando as próximas gravações do Sonic Youth para disponibilizar no Bandcamp, e trabalhando em alguns lançamentos físicos – a gente lançou recentemente uma edição feita à mão do LP do Disappears + Steve Shelley + White​/​Light.

Você costumava vir ao Brasil com frequência e chegou até a tocar com brasileiros. Você está acompanhando a situação da pandemia no Brasil?
Sim, tenho acompanhado através dos meus amigos que vivem aí. Eu amo visitar, tocar e trabalhar no Brasil, tenho muitos amigos aí e espero voltar e tocar logo. Acho que a gente pode sempre se esforçar para melhorar nossa situação e cuidar uns dos outros.

– Janaina Azevedo (www.facebook.com/janaisapunk) é jornalista e colabora com o Scream & Yell desde 2010. A foto que abre o texto é de Liliane Callegari (Scream & Yell). Veja outras fotos desse show.

 

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