Boteco: 10 cervejas de 5 cervejarias nacionais

 por Marcelo Costa

Começando uma nova série de duas cervejas por cervejaria pelo Sul do Brasil com duas Tupiniquim, de Porto Alegre, as duas da linha popular da casa, que busca oferecer receitas de bom custo benefício ao bebedor. A primeira delas é a Premium Pale Ale, uma American Pale Ale de coloração âmbar e creme bege clarinho de média formação e boa retenção. No nariz, leve percepção de tosta de malte, caramelo sutil, rapadura e um também sutil toque herbal. Na boca, doçura caramelada no primeiro toque com leve remissão a rapadura, pinho e caramelo na sequencia. O amargor é baixo (não chega a 25 IBUs) e a textura, leve. Dai pra frente surge com um conjunto bastante simplista para quem tasca ‘premium’ na lata, com caramelo, herbal e tosta entregando muito mais uma Caramel APA de segunda categoria do que uma verdadeira American Pale Ale. No final, caramelo e herbal, notas que retornam no retrogosto.

A segunda Tupiniquim da linha popular é a Weiss Cristal, que, assim como a anterior, foi lançada no segundo semestre de 2018. Trata-se de uma German Kristallweizen (filtrada) de coloração entre o âmbar e o dourado translucido (ou seja, o Cristal ficou só no nome) e creme branco de média formação e boa retenção. No nariz, um aroma clássico que replica as notas tradicionais (e obrigatórias) do estilo sugerindo banana, cravo, pão e doçura de mel além de leve cítrico. Na boca, doçura frutada sugerindo banana no primeiro toque seguida de frutado cítrico, mel, caramelo e leve condimentação (cravo). O amargor é baixo (não chega a 25 IBUs novamente), a textura é suave e levemente picante e, dai pra frente, o conjunto pago tributo corretamente ao estilo alemão, e ainda que não alcance o brilho das melhores alemãs, é uma boa introdução. No final, doçurinha melada e banana. No retrogosto, mais banana, leve cravo e mel.

Ainda no Sul, mas saindo de Porto Alegre (e do Rio Grande) para Lauro Muller, em Santa Catarina, casa da Lohn Bier, cervejaria que já passou por aqui com sua linha de Catharina Sour e também com sua elogiada Carvoeira, e aqui retorna com duas receitas clássicas: a primeira delas é a Lohn Pilsen, uma Premium American Lager de coloração dourada cristalina e creme branco de média formação e longa retenção. No nariz, o aroma traz percepção de cereais além de um leve floral. Na boca, doçura maltada rápida no primeiro toque seguida de cereais e um sutil sugestão de pão. O amargor é baixinho (típico do estilo), a textura é leve (outro ponto tradicional) e, dai pra frente, segue-se um conjunto que capricha na replicação de um estilo bastante popular, e que por isso muitas vezes denota descuido, mas que aqui traz cuidado na execução. No final, secura e maltadinho. No retrogosto, doçura leve, pão e refrescancia.

A segunda Lohn Bier da linha Clássica é a Viena, uma Vienna Lager de coloração âmbar acastanhada e creme bege clarinho de boa formação e retenção. No nariz, as notas derivadas do malte brilham com sugestões de caramelo, biscoito e pão além de um discreto toffee, que quase passa despercebido. Na boca, caramelo novamente se destacando no primeiro toque seguidas de outras notas derivadas de malte e de um leve aceno de tosta, que acentua a presença de toffee. O amargor é baixinho e a textura, suave, meladinha, caramelada. Dai para frente, o conjunto segue esse perfil maltado sem tanto desafio ou contraste até o final, meladinho. No retrogosto, toffee, caramelo, biscoito, pão…

De Santa Catarina para Morungaba, cidade de 12 mil habitantes na região de Campinas, no interior de São Paulo, casa da Cervejaria Kremer, que já oferecia chopp na região desde 2009, e que em 2017 ampliou a planta e criou uma série de rótulos fincados na tradição da escola alemã. Essa primeira, a Golden, é uma Premium American Lager de coloração dourada e creme branco de boa formação e longa retenção. No aroma, predomínio de malte sugerindo doçura caramelada, cereais e casca de pão além de um discreto amanteigado. Na boca, doçura média no primeiro toque seguida de cereais e casca de pão. O amagor é baixo (12 IBUs), a textura é leve e, dai pra frente, segue-se uma Premium American Lager correta, ainda que um tiquinho adocicada em excesso. No final, doçura. No retrogosto, cereais, caramelo e casca de pão.

A segunda da Kremer é a Dunkel, uma cerveja Munich Dunkel de coloração âmbar escura translucida com creme bege claro de boa formação e longa retenção. No aroma, bastante doçura de malte tostado, com leve remissão a nozes, chocolate levemente amargo, açúcar e caramelo. Na boca, o primeiro toque mantém as impressões que o aroma adianta, com doçura maltada no início se abrindo a posteriori para notas que remetem, novamente, a nozes, caramelo e malte tostado. O amargor é bem baixinho – não deve nem passar dos 20 IBUs – e, dai pra frente, segue-se um conjunto que fixa no malte tostado sem nenhuma marca de torra (ou seja, nada de café aqui), mas sim de caramelo, nozes e, muito distante, chocolate. O final é doce, e longo. No retrogosto, mais doçura caramelada.

De Morungaba para Petropolis, no Rio de Janeiro, para a primeira de duas Petras, uma das marcas que a Cervejaria Petrópolis produz além de Itaipava, Crystal, Lokal, Weltenburger Kloster e Black Princess. A primeira é a Petra Stark Bier, uma Premium American Lager versão alemã das Malt Liquors. Na taça, uma coloração âmbar translucida e creme branco de boa formação e média retenção. No nariz, doçura maltada com bastante sugestão intensa de caramelo, um pouco mais leve de biscoito e, ainda, presença de álcool (são 8.2%). Na boca, doçura maltada com leve toque de laranja no primeiro toque seguido de caramelo, frutado e uma pancada forte de amargor e de álcool. A textura é sedosa e picante. Dai pra frente surge um conjunto interessante, doce e levemente frutado, mas bem a frente das Malt Liquors tradicionais. No final, maltadinho e álcool. No retrogosto, caramelo, frutado leve e álcool.

A segunda da Petra é a Aurum, uma Premium American Lager de coloração dourada cristalina e creme branco de ótima formação e média alta retenção. No nariz, doçura caramelada, cereais, pão, biscoito e sutil percepção de álcool (são 6.2%), principalmente quando a cerveja aquece na taça, além de um leve metálico. Na boca, doçura maltada caramelada levemente alcoólica no primeiro toque que se abre levemente para percepção discreta de cereais e biscoito e, principalmente, doçura maltada caramelada levemente alcoólica, sensação que domina completamente o paladar. O amargor é praticamente inexistente, a textura é suave e, dai pra frente, a Petra Aurum segue o que se propõe desde o início, ser uma Malt Liquor mais suave (se até a dinamarquesa Faxe tem sua versão mais comportada do estilo, por que não a Petra), com doçura maltada caramelada com percepção alcoólica. No final, doçura e cereais com álcool distante. No retrogosto, caramelo, doçura maltada e leve picância.

Ainda no interior de São Paulo, mas dessa vez em Ribeirão Preto, casa da Colorado, a representante brasileira, que surge aqui com o debute da linha Brasil com S, mensal, que pretende explorar ingredientes brasileiros. Na estreia, a cervejaria aposta em uma American Pale Ale com garapa de microprodutores da cidade. De coloração alaranjada com creme bege bem clarinho, quase branco, de boa formação e retenção, a Colorado Brasil com S 01 APA com Garapa apresenta um aroma bastante adocicado, remetendo a mel, caramelo e melaço com uma leve sugestão floral. Na boca, doçura media no primeiro toque (esperava mais pelo aroma, e felizmente mostrou equilíbrio) seguida de leve frutado e de amargor bem suave, mas presente (34 IBUs). A textura é cremosa com leve suavidade e, dai em diante, surge um conjunto que equilibra doçura (60%) e amargor (40%) até o final, meladinho. No retrogosto, mel, melaço, caramelo e frutado levemente cítrico. Gostei.

A segunda da série Colorado Brasil com S é uma New England IPA com dry-hopping dos lúpulos Amarillo e Galaxy e adição de maracujá. De coloração amarela turva, juicy como um suco, e creme branco espesso de ótima formação e retenção, a Colorado Brasil com S 02 NE IPA com Maracujá apresenta um aroma intenso de frutas amarelas, com o maracujá saltando á frente e trazendo consigo, ainda, algo de mousse de maracujá e também sugestão de laranja. Na boca, doçura frutada cítrica (maracujáááááá)no primeiro toque seguida de mais maracujá e, ainda, mais maracujá – fica um pouco complicado de achar a cerveja em meio a tanto suco, mas ela está aqui, amarguinha (40 IBUs), com acidez marcante da fruta (quase keetle sour) e textura suave e picante (os 6.5% de álcool aparecem um pouco sobre a língua). Dai pra frente, esse suquinho delicioso de maracujá traz refrescancia, doçura e acidez. No final, acidez e adstringência. No retrogosto, maracujá, açúcar, adstringência e acidez.

Tupiniquim Premium Pale Ale
– Produto: American Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4.8%
– Nota: 2.29/5

Tupiniquim Weiss Cristal
– Produto: German Kristallweizen
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 2.70/5

Lohn Bier Pilsen
– Produto: Premium American Lager
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4.6%
– Nota: 2.72/5

Lohn Bier Viena
– Produto: Vienna Lager
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4.6%
– Nota: 2.35/5

Kremer Golden
– Produto: Premium American Lager
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5.2%
– Nota: 2.51/5

Kremer Dunkel
– Produto: Munich Dunkel
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 2.71/5

Petra Stark Bier
– Produto: Malt Liquor
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 8.2%
– Nota: 2.73/5

Petra Aurum
– Produto: Premium American Lager
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6.2%
– Nota: 2.74/5

Colorado Brasil com S 01 – APA com Garapa
– Produto: American Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5.6%
– Nota: 3.45/5

Colorado Brasil com S 02 – NE IPA com Maracujá
– Produto: New England IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6.5%
– Nota: 3.45/5

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– Top 2001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
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