Entrevista: Fleshgod Apocalypse

entrevista por Homero Pivotto Jr.

O homem envenena a natureza e a si mesmo para seguir vivo. É como um mal necessário. Da alimentação ao ar que respiramos, tudo está intoxicado. Ainda assim, são necessários à nossa sobrevivência. Não há antídoto. O que não tem cura remediado está. Mas existem medidas paliativas para aliviar o fardo de caminhar entre os vivos. A música é um deles e apresentações ao vivo são um ótimo remédio para o tédio que nos consome a carne — e o espírito.

Nome em ascensão na Europa, o Fleshgod Apocalypse quer contaminar o resto do globo com seus sons agressivos que carregam doses de elementos sinfônicos e ambientações. Para entender melhor esse processo de contaminação, conversamos com o vocalista e guitarrista Francesco Paoli, que fala sobre as conquistas de seu conjunto, o vindouro quinto disco e o que a plateia pode esperar de suas performances no palco.

Ansioso por lançar “Veleno” (veneno, em italiano), o quinto disco, o grupo espalha seu nome como vírus entre os adoradores de som pesado. Quando o álbum sair, em maio, a epidemia tende a se acelerar. Isso porque, de acordo com o cantor, trata-se do “melhor registro que o Fleshgod Apocalypse já criou até esta data”. Foram três anos de processo criação que renderam, seguindo Paoli, o álbum mais variado do grupo. Saiba mais no papo abaixo!

O som do Fleshgod Apocalypse é um misto de metal extremo com elementos sinfônicos. Quais aspectos de cada um desses estilos você incorpora nas composições da banda?
Esses gêneros parecem mundos diferentes, mas, no fim das contas, têm mais em comum do que podemos esperar. Claro que cada um com suas peculiaridades, mas o que posso dizer é que eles são complementares. Em termos de som, por exemplo, as partes metal completam as sinfônicas com mais agressividade e modernidade. As referências de música clássica dão à música um caráter épico.

Vocês vêm da Itália, um país que não tem lá tanta tradição em música extrema — ainda que, óbvio, existam bandas bem pesados originárias do país. Poderia contextualizar para o público aqui do Brasil como é o cenário italiano de sons mais agressivos?
Na verdade, temos uma ótima cena e sempre tivemos grupos tocando música extrema. Mesmo sendo algo bastante denso, muitos artistas acabam não sendo descobertos fora da Itália. Somos, creio, a primeira banda extrema a ganhar reconhecimento mundial e conquistar sucesso. Temos esperança de que isso ajude a divulgar outros nomes para resto do planeta.

Qual o momento de sua carreira acredita ter sido o ponto de mudança para que ganhassem mais visibilidade na Europa e no mundo? E quais as principais conquistas desde que o Fleshgod Apocalypse foi criado? Tipo: tocar com alguns ídolos, ser escalado para grandes festivais, ganhar cobertura de veículos especializados…
Para mim, o momento ao vivo mais importante da nossa carreira até aqui foi o show no Wacken Open Air (assista no final da página) e a última turnê que fizemos pela América do Norte como atração principal, quando tivemos shows com ingressos esgotados. Tivemos o prazer de testemunhar todo dia a resposta massiva dos fãs e isso foi sensacional. Se falarmos de produção musical, posso facilmente dizer que “King” (2016) ainda é considerado por muitos um marco, se não o nosso melhor disco até aqui. E reforço o até aqui, pois “Veleno” vai superar o que fizemos antes. Por exemplo: o novo videoclipe (“Sugar”) nos deu uma inacreditável exposição e esse novo material está nos fazendo expandir a base de admiradores.

O Fleshgod Apocalypse tem toda uma preocupação visual nos shows. As vestimentas e os personagens criam uma espécie de ópera sangrenta feita por gente morta. O quão importante é a parte da imagem em suas performances de palco?
Entretenimento é a chave de uma boa apresentação ao vivo, em nossa opinião. Claro que nossas atuações são baseadas na música, mas acreditamos que dando aos fãs um show mais complexo e teatral — algo denso, com atmosferas loucas e fortes emoções — temos um caminho para fazer a experiência deles ainda mais intensa. Tipo: uma noite para se guardar na memória, uma lembrança que vai ficar em suas mentes para sempre.

Como é o processo de composição Fleshgod Apocalypse? É verdade que para o novo disco, “Veleno”, a banda foi mais experimental, deixando-se livre para criar as músicas sem preocupações sobre como iria soar?
O processo de criação levou quase três anos. Tivemos uma alteração essencial para o álbum mais recente: enquanto para os trabalhos anteriores a gente fazia um longo intervalo entre as turnês e o processo criativo, desta vez optamos por compor constantemente, mesmo na estrada. A ideia era coletar tanto material quanto fosse possível. Na última primavera, demos uma desacelerada nas atividades ao vivo e focamos somente em selecionar o que já tínhamos criados, arranjando e criando sons apropriados com o monte de ideias que tivemos. É por isso que “Veleno’’ é definitivamente o disco mais variado que já fizemos. Todas as faixas foram criadas em diferentes períodos e carregam sentimentos e áurea específicos desses momentos. É certamente a mais espontânea e selvagem sessão de gravação do FA.

E o que as pessoas podem esperar desse novo trabalho que está previsto para sair em maio?
Possivelmente, o melhor registro que o FA já criou até esta data. Colocamos muito esforço para tornar o disco único, diferente e eclético. Nunca copiamos nós mesmos, é verdade, sempre aparecemos com algo novo. Até porque não faria sentindo refazer o que já existe. Mas desta vez fomos além. Encontramos um novo balanço entre todas as características do nosso som e, ao mesmo tempo, retornamos às raízes sem maneirismos. Também exploramos novos ares e gêneros. Tem sido uma excelente jornada.

E o título “Veleno” (Veneno, em italiano), alguma razão especial para isso? O público pode esperar ser envenenado por sua música?
(risos) Você pode dar esse significado se quiser. Bem, a razão pela qual nominamos o álbum como “Veleno” é que “envenenamento” é uma espécie de tema comum do álbum, que conecta todos as músicas perfeitamente. Analisando a relação do homem com a natureza, seja como ambiente natural e natureza humana, percebemos que essa “contaminação” esteve sempre presente e forte nas letras. Uma espécie de autodestruição consciente que opera deliberadamente. Então, tanto pelos significados metafóricos e não metafóricos, optamos por essa palavra e conceito, pois reúne todos os diferentes sons do álbum.

Esta será sua primeira passagem pelo Brasil? Alguma expectativa? Como deve ser a apresentação por aqui em termos de aparato visual no palco, repertório, duração…
Na verdade, já estivemos no Brasil em 2017 com o Septic Flesh e foi sensacional. Amamos cada segundo da experiência. O público é um dos mais loucos do mundo, dedicados ao metal e, principalmente, gosta de apreciar o show e curtir aquele momento. Temos boas expectativas para essa nova gira. Voltar como headliner nos dá a oportunidade de tocar um setlist maior, com temas do novo disco e algumas surpresas que não posso revelar. Estamos ansiosos e temos convicção de que vai ser algo difícil de esquecer.

– Homero Pivotto Jr. é jornalista e responsável pelo videocast O Ben Para Todo Mal. Entrevista cedida pela Abstratti Produtora

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