Entrevista: Tássia Reis

por Marcos Paulino

Ao participar de grupos de dança em Jacareí, sua cidade natal, Tássia Reis descobriu a cultura hip hop. Cantora e compositora, encontrou no gênero o espaço que precisava pra dar vazão à sua criatividade. Com um discurso contundente, hoje, aos 27 anos (e há sete morando em São Paulo), ela transita do rap ao reggae, como se pode notar no segundo trabalho da carreira, “Outra Esfera”, recém-lançado e disponível nas plataformas digitais e gratuitamente no site oficial da cantora.

“Sou compositora nova, mas venho com propostas amadurecidas”, avisa Tássia em conversa com o Plug, parceiro do Scream & Yell. . “A cada música consigo expressar com mais intensidade aquilo que guardo em mim. Acredito que ousamos um pouco mais nas batidas e nas letras também. Gostamos de afrontar!”, avisa. “Outra Esfera” é uma boa evolução em relação à sua estreia, em 2014, com o EP que leva seu nome e que traz a canção “Meu Rapjazz”, cujo clipe chegou a 10 mil views logo no primeiro dia em que foi postado.

Tássia já cantou com Marcelo D2, gravou com Izzy Gordon, fez shows com a banda de jazzrap Mental Abstrato (incluindo uma apresentação no badalado Jazz na Fábrica, do Sesc Pompeia), foi para o universo das rimas femininas no projeto “Rimas e Melodias”, entrou para a discussão de gêneros que sempre propôs no “Salada de Frutas” e a posição política a levou a novas composições, que culminam neste novo disco. “O hip hop me despertou o senso crítico e me apresentou a luta dos direitos civis”, conta na entrevista abaixo. Confira!

Como foi sua descoberta da cultura hip hop?
Conheci a cultura através das danças urbanas, e foi como conhecer um mundo novo, onde os protagonistas se pareciam comigo e tinham realidades semelhantes à minha. Sentir-me parte de algo foi muito importante na minha formação. O hip hop, além de incentivar as minhas expressões artísticas, também me despertou o senso crítico e me apresentou a luta dos direitos civis.

Você estudou moda e já disse ter sofrido racismo em um processo de seleção pra um estágio. Coisas desse tipo também te levaram a encontrar no hip hop um espaço pra vazão das suas ideias?
Na verdade, disse e repito que a sociedade é racista, o que reflete no mercado de trabalho. O que disse foi que, apesar de ter apresentando um bom desempenho nas aulas de moda, eu não consegui nenhum estágio. Atribuo ao racismo, porque as garotas da minha sala com notas iguais ou menores que as minhas conseguiram. Quando terminei a graduação, eu me agarrei àquela oportunidade inventada por mim mesma, e desde então venho fazendo da música a minha vida.

Ser mulher dificultou sua entrada nesse universo, que parece tão dominado pelos homens? Você acredita que falta espaço pro hip hop na mídia?
As mulheres sempre estiveram no hip hop, mas, como acontece sempre na história desde que o mundo é mundo, somos invisíveis. Acredito que a internet nos possibilitou ter um lugar de fala, dispensando os intermediários e divulgando o nosso próprio trabalho. Não estamos na TV, em nossa grande maioria, mas estamos nas novas mídias e plataformas. As redes sociais já são uma realidade, e o rap é a música mais escutada do mundo, segundo o Spotify.

Você já cantou com Marcelo D2, gravou com Izzy Gordon… O que falta pro seu trabalho chegar ao grande público?
Não me preocupo com isso. Já venho trabalhando e ultrapassando vários limites impostos, alcançando lugares e pessoas de maneira orgânica e progressiva. Minha realidade já é música, e isso já é um ótimo começo.

Entre seu EP de estreia e este “Outra Esfera”, que balanço você faz da sua evolução como artista?
Sou compositora nova, mas venho com propostas amadurecidas. A cada música consigo expressar com mais intensidade aquilo que guardo em mim. Acredito que ousamos um pouco mais nas batidas e nas letras também. Gostamos de afrontar!

De Clara Nunes a Sabotage, de Jackson 5 a Racionais MCs, as influências que você evidencia em sua música são muitas e variadas. Como você constrói seu processo criativo levando em conta o que apreende desses clássicos?
Quando vou compor, não sigo uma referência pronta. As melodias surgem na minha cabeça junto com as letras, e assim as músicas nascem. Depois construímos os instrumentais em torno do que já foi criado e lapidamos. Algumas vezes também me sinto inspirada por batidas e crio em cima delas. Entretanto, é comum criar melodias como quem bebe água. [Risos]

Hoje, o que mais toca no seu fone de ouvido?
Gosto muito de ouvir o meu pessoal: Janine Mathias, Liniker e os Caramelows, As Bahias e a Cozinha Mineira, Aláfia são incríveis . De gringo, eu curto a mana Eva RapDiva, Ibeyi, Oshun NYC, álbum novo da Rihanna, Anderson Paak com Malibu e o “But you can use my phone”, da Erykah Badu.

Que cantoras você ouve e diz: “Gostaria de cantar assim”?
Admiro muitas cantoras, mas não quero parecer com nenhuma delas. Acho que sou leonina demais pra pensar isso. [Risos]

Quais os próximos passos que estão no seu radar?
Acabamos de lançar digitalmente, logo mais teremos clipes e estaremos passeando pelo Brasil, quem sabe pelo mundo.

Marcos Paulino é editor do caderno Plug (www.mundoplug.com), da Gazeta de Limeira. A foto que abre o texto é de Larissa Ísis / Divulgação.

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