Boteco: Seis cervejas Made in USA

por Marcelo Costa

Cervejaria badalada inaugurada em 2009 em Tampa, na Florida, a Cigar City Brewing marca presença com o carro chefe da casa, a Jai Alai, uma American IPA que responde por 50% das vendas totais da cervejaria. Na taça, a Cigar City Jai Alai exibe uma coloração âmbar alaranjada com creme branco levemente alaranjado de ótima formação e boa permanência. No nariz, notas herbais à frente (pinho) mais cítrico caprichado (maracujá e toranja), doçura (caramelo e mel) e resina distante. Na boca, a textura é quase cremosa e picante. No primeiro toque, uma pancada de lúpulos sugerindo pinho, toranja e resina. O amargor subsequente é potente (70 IBUs) tanto em profundidade quanto longevidade, misturando-se ao perfil cítrico, herbal e resinoso. O final traz amargor médio e resina. No retrogosto, toranja, pinho, resina e leve adstringência. Bem boa!

De Vista, cidade de 100 mil habitantes a cerca de 50 minutos de San Diego, surge a Toolbox Brewing, que surgiu em 2014 apostando no que ninguém na badalada região cervejeira havia ainda tentado: produzir sours! O risco deu certo e a fama da cervejaria vem crescendo. Essa Toolbox Spring Shandy é uma Berliner Weisse da (interessante) linha sazonal da casa, e que recebe adição de toranja e gengibre. De coloração amarela levemente dourada, ainda que com suave turbidez, e creme branco de baixa formação e rápida dispersão, a Spring Shandy exibe no nariz abundantes notas cítricas (limão e grapefruit à frente), gengibre suave, salgado e um pouco de doçura de trigo além, claro, de acidez. Na boa, a textura é frisante, picante e rebelde (a festa da levedura selvagem). O primeiro toque traz toranja atropelada no segundo seguinte por acidez, salgado, limão azedo e gengibre, que influenciam na sensação de amargor, abrindo o caminho para uma cerveja refrescante, arisca e provocante, que finaliza cítrica, salgada e adstringente, trazendo leve salivação para o retrogosto junto a cítrico e salgado. Bela!

A Stillwater Artisanal é de Baltimore, Maryland, mas Brian, o cervejeiro da casa, produziu essa Stateside Saison Amazonian Remix em Porto Alegre, na fábrica da Tupiniquim (que já rendeu duas ótimas colaborações: a Clássica Tropical e a Saison de Caju). A versão original da Stateside é deliciosa e para esse remix foi adicionado polpa de maracujá e de manga na receita. Na taça, uma cerveja de coloração dourada quase âmbar apresenta um creme branco de boa formação e média permanência. No aroma, a levedura salta à frente coçando o nariz e oferecendo acidez enquanto surgem notas cítricas (maracujá distante), leve herbal e o tradicional (para o estilo) couro de cavalo. Na boca, textura frisante e picante. O primeiro toque repete o aroma com a levedura oferecendo selvageria em meio a cítrico, herbal, azedo e fazenda. O amargor é ácido e, dai pra frente, surge um conjunto que me soou desequilibrado, com as leveduras chamando toda atenção e deixando pouco espaço pra lúpulo, malte e as frutas adicionadas. O final é seco, azedinho e cítrico. No retrogosto, maracujá, fazenda e leve caramelo.

Do Brooklyn nova-iorquino, a famosa Brooklyn Brewery retorna ao país com mais um rótulo feito pensando no público escandinavo da cervejaria: Brooklyn Scorcher IPA, uma Session leve que utiliza dois maltes (British Pale e Caramel) e cinco lúpulos (Pilgrim, Cascade, Willamette, Bravo, Amarillo). De coloração dourada com creme branco de boa formação e média retenção, a Brooklyn Scorcher IPA apresenta um aroma com notas cítricas (toranja, acerola e manga) e herbais (leve pinho) em destaque, mas não a ponto de encobrir a doçura maltada de caramelo, que fica na retaguarda. Na boca, textura suave com uma picancia muito leve. O primeiro toque traz bastante cítrico (toranja e maracujá) e herbal (pinho) seguidos de caramelo e um amargor comportado, que abre as portas para um conjunto refrescante e bastante leve. No final, amargor suave. Já o retrogosto traz leve traço de toranja em meio a uma suave adstringência. Boazinha.

Terceira e mais interessante cerveja da Goose Island, de Chicago, a aportar no Brasil (as outras duas foram a Honkers Ale e a Island IPA), a Sofie é uma elegante Saison (ou Belgian Farmhouse Ale, se quiser) envelhecida em barris de vinho com adição de cascas de laranja. De coloração amarela bonita com creme branco de boa formação e média retenção, a Goose Island Sofie exibe um aroma com presença marcante da levedura e, ainda, notas cítricas (casca de limão, uva verde e maçã verde) e madeira. Na boca, a textura é levemente frisante. O primeiro toque traz cítrico (casca de limão e uva verde) seguido de acidez potente, que se confunde com o amargor, baixo (apenas 20 IBUs), abrindo as portas para um conjunto saboroso e refrescante, com deliciosas notas cítricas, remissão a vinho branco, doçura de malte mais madeira. Delicia. O final é seco e levemente amadeirado. No retrogosto, caramelo, cítrico e suave madeira. Muito boa!

A sexta cerveja desta série USA vem de em Milwaukee, Wisconsin, e é da Horny Goat Brewery: Exposed, uma Cream Ale produzida na fábrica da Stevens Point Brewery, no próprio estado. De coloração amarela turva com creme branco de média formação e retenção, a Exposed Cream Ale apresenta um aroma delicado com doçura maltada (caramelo e mel) em destaque e suave percepção cítrica (laranja) além de um leve condimentado e presença de cereais. Na boca, a textura é cremosa e levemente efervescente. O primeiro toque junta caramelo, mel e laranja seguidos de um amargor médio e eficiente abrindo as portas para um conjunto refrescante e bastante simples, centrado na combinação de mel (malte) com laranja (lúpulo) sem muita profundidade, o que pode conquistar o paladar do bebedor tradicional e decepcionar quem espera algo mais. O final e levemente maltado enquanto o retrogosto oferece… mel e laranja. Simplezinha, mas gostei.

Balanço
A primeira desta nova série Made in USA é da Florida e bastante respeitada: Cigar City Jai Alai, uma American IPA responsa, que exibe tudo aquilo que fez a fama da escola norte-americana. Muito boa! A segunda é de uma cervejaria de uma cidade do sul Califórnia, vizinha de San Diego, que aposta nas receitas sours, cumprindo com galhardia a missão nesta arisca Toolbox Spring Shandy, cujo nome faz uma brincadeira com o costume de alguns – principalmente na Europa – de misturar suco de limão ou mesmo Soda / Sprite com cerveja (bebi uma assim em Santorini, na Grécia). O lance é que aqui a selvageria das leveduras não permite doçura, mas libera espaço para o acento interessante da toranja e gengibre adicionados. Gostei bastante! Já a versão Amazonian Remix da Stateside não brilha tanto quanto a Stateside original. Inclusive é daqueles remixes que descaracterizam a versão original buscando criar uma nova canção a partir da canção original, o que de certa conseguem aqui, ainda que inferior. Após um bom tempo ausente, a Brooklyn retorna a este espaço com a Scorcher IPA, uma Session leve e bem refrescante, mas bastante simplesinha. Um dos destaques desta sessão, a Goose Island marca presença com a Sofie, uma elegantíssima Saison envelhecida em barris de vinho, delicia pura. Fechando o sexteto com a mais fraca da série, mas ainda assim agradável: Horny Goar Exposed Cream Ale.

Cigar City Jai Alai
– Estilo: American IPA
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 7,5%
– Nota: 3,79/5

Toolbox Spring Shandy
– Estilo: Berliner Weisse
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 4,5%
– Nota: 3,52/5

Stillwater Stateside Saison Amazonian Remix
– Estilo: Farmhouse Ale
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 6,8%
– Nota: 3,14/5

Brooklyn Scorcher IPA
– Estilo: Session IPA
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 4,5%
– Nota: 3,10/5

Goose Island Sofie
– Estilo: Farmhouse Ale
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 6,5%
– Nota: 3,58/5

Horny Goat Exposed
– Estilo: Cream Ale
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 4,9%
– Nota: 3,04/5

Leia também
– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas (aqui)

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