1966-2016: 50 discos com 50 anos

por Marcelo Costa

2016 não será um ano fácil para a música pop, e seu começo trágico, com a perda de vários músicos, deverá ser uma constante no ano que, agora após o carnaval, realmente começa. Porém, é um fato inevitável: grande parte de nossos heróis na música está com uma idade avançada, o que os torna frágeis – algo que nunca imaginaríamos que pudesse acontecer. Não custa sonhar, no entanto, que nossos ídolos ultrapassem os 100 anos criando e provocando o mundo. Nem todo mundo é Manoel de Oliveira, mas a gente cria esperança (e chora a perda).

Um exemplo de que muitos de nossos heróis já estavam criando obras primas muitos e muitos anos atrás é essa lista de 50 álbuns que completam 50 anos em 2016 (você chegou a ver a do ano passado? Confere aqui). Muita gente boa dessa lista já partiu, mas há, ainda, muita gente bacana – os Stones, por exemplo, não só estão por ai como passam pelo Brasil nos próximos dias, mostrando vitalidade e uma história de décadas a serviço do rock and roll. Bora ouvir alguns destes discos? Muitos deles permanecem tão criativos e geniais quanto em 1966.

“Os Afro-Sambas”, Baden Powell & Vinícius de Moraes
Um dos discos mais importantes da história da música brasileira, “Os Afro-Sambas” resultam de uma extensa pesquisa de cultura popular feita por Baden e Vinicius, antecipada por três clássicos singles (“Consolação”, “Berimbau” e “Samba da Benção”) que se integram ao clima do álbum. Vinicius e Baden quiseram fugir do comercialismo, pois queriam respeitar ao máximo a tradição africana, e fizeram um disco absolutamente clássico. Escrevi mais 12 mil toques sobre “Os Afro-Sambas” no livro “Indiscotiveis”, lançado pela editora Lote 42.

“Pet Sounds”, Beach Boys
Um dos honráveis melhores discos de todos os tempos começou a ser produzido quanto os Beach Boys foram excursionar pelo Oriente deixando o gênio Brian Wilson sozinho no estúdio compondo aquele que deveria ser o 11º álbum de estúdio da banda. “Enquanto John e Paul escreviam as canções, Ringo e George interpretavam e eu produzia ‘Revolver’, ele, sozinho, fazia tudo isso em ‘Pet Sounds’. Ele nos desafiava. Sem ‘Pet Sounds’ não haveria ‘Sgt Peppers”, disse George Martin certa vez. Precisa mais?

“Blonde on Blonde”, Bob Dylan
No mesmo dia que “Pet Sounds” era lançado, Bob Dylan também chegava às lojas com o aguardado sucessor de “Highway 61 Revisited” (e do single “Like a Rolling Stone”): gravado em Nashville sobre uma fumaceira de erva, improvisos e momentos de suprema genialidade, o álbum duplo “Blonde on Blonde” (um dos melhores álbuns duplos da história) é obrigatório do início, com “Rainy Day Women #12 & 35”, até o final, com os 11 minutos de “Sad Eyed Lady Of The Lowlands”. Entre elas, obras primas como “Just Like A Woman“, “I Want You”, “Visions Of Johanna”, “Leopard-Skin Pill-Box Hat”…

“Chico Buarque de Hollanda”, Chico Buarque de Hollanda
Atualmente bastante popular em gifs por sua capa icônica que mostra um Chico Buarque feliz e sorridente ao lado de outro sério, “Chico Buarque de Hollanda”, o álbum de estreia do compositor brasileiro, surgiu na esteira do sucesso de “A Banda”, que abre o disco, e meses antes havia dividido o primeiro lugar do II Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record, com “Disparada”, de Theo de Barros e Geraldo Vandré, em interpretação de Jair Rodrigues. Além de “A Banda”, a estreia de Chico traz os clássicos “A Rita”, “Olê Olá” e “Tem Mais Samba”

“Revolver”, Beatles
A cronologia histórica da música pop é mais ou menos a seguinte: os Beatles lançam “Rubber Soul” em 1965, os Beach Boys “respondem” com “Pet Sounds”. Dai o quarteto de Liverpool retorna com a primeira parte de uma dupla investida que seria quase fatal para Brian Wilson: “Revolver” leva os Beatles aonde eles nunca tinham ido. Utilizando o estúdio como ferramenta e assessorados pelo incomparável George Martin, John, Paul, Ringo e George gravam um disco que ditaria o futuro da música pop. E era só a primeira parte da “revolução”…

“Aftermath”, The Rolling Stones
Enquanto Beatles, Bob Dylan e Beach Boys “brigavam” criativamente no topo do universo da cultura pop, os Stones seguiam cravando hit após hit nas paradas de sucesso dos dois lados do oceano. Se 1965 havia sido o ano de “(I Can’t Get No) Satisfaction”, em 1966 eles voltaram as paradas com “19th Nervous Breakdown”, “Mother’s Little Helper” (que abre a versão inglesa de “Aftermath”) e “Paint It Black” (que abre a versão USA do mesmo álbum). Outros clássicos deste álbum: “Lady Jane”, “Out of Time”, e “Under My Thumb”.

“5 Anos de Canção”, de Geraldo Vandré
Terceiro álbum de Geraldo Vandré, “5 Anos de Canção” surge ancorado no sucesso da canção “Porta-Estandarte”, vencedora do Festival Nacional de Música Popular Brasileira, promovido pela Tv Excelsior, em 1966, em interpretação de Airto Moreira e Tuca. Vandré conseguiria ainda mais fama com “Disparada”, mas isso aconteceria meses depois do lançamento deste “5 Anos de Canção”, que conta com faixas poderosas “Fica Mal Com Deus”, “Pequeno Concerto Que Virou Canção”, “Quem Quiser Encontrar O Amor” e “Canção Nordestina”. Para ouvir lendo a recém-lançada e excelente biografia “Uma Canção Interrompida”, de Vitor Nuzzi.

“Las Últimas Composiciones”, Violeta Parra
Apontada como um dos maiores nomes da música chilena, Violeta Parra se notabilizou (assim como Geraldo Vandré) na busca por resgatar a música e o folclore de seu país. “Las Últimas Composiciones” foi gravado em Santiago em 1966 após Violeta retornar de uma longa estadia na Europa, e o título do álbum, que buscava mapear as canções compostas por Violeta nos quatro meses anteriores a gravação, acabou soando tragicamente profético: ela se suicidou em 1967 deixando como epitáfio este poderoso álbum.

“Freak Out!”, The Mothers of Invention
Lançado em junho de 1966, este é o álbum de estreia da The Mothers of Invention, banda que trazia como líder Frank Zappa. Um dos primeiros álbuns conceituais da história, “Freak Out!” satiriza os valores políticos da cultura norte-americana da época. Lançado em vinil duplo, o álbum não fez sucesso comercial e nem de crítica na época, mas tornou-se objeto de culto de músicos e fãs com o passar dos anos. Posteriormente entrou na lista de 500 melhores álbuns de todos os tempos mostrando o quanto Frank Zappa estava à frente de seu tempo.

“Speak No Evil”, Wayne Shorter
Gravado na véspera do natal de 1964, o sexto álbum de Wayne Shorter só ganhou lançamento oficial pela Blue Note no final de março de 1966. Na época da gravação, Shorter passava por uma transição: em seus dois álbuns anteriores pela Blue Note, o saxofonista havia trabalhado com um quarteto clássico inspirado em John Coltrane, mas aqui exibe as influencias da recente colaboração com Miles Davis formando um quinteto: Freddie Hubbard no trompete, Herbie Hancock no piano, Ron Carter no contrabaixo e Elvin Jones na bateria. O resultado é um clássico, digno de suceder “Juju”.

11) “Blues Breakers with Eric Clapton”, John Mayall & the Bluesbreakers
12) “A Quick One”, The Who
13) “Strangers in the Night”, Frank Sinatra
14) “The Psychedelic Sounds Of The 13th Floor Elevators”, The 13th Floor Elevators
15) “Ascension”, John Coltrane
16) “Buffalo Springfield “, Buffalo Springfield
17) “A Voz Adorável de Clara Nunes”, Clara Nunes
18) “Sounds of Silence”, Simon & Garfunkel
19) “Face To Face”, The Kinks
20) “Fresh Cream”, Cream
21) “Fifth Dimension”, The Byrds
22) “The Good, The Bad & The Ugly”, Ennio Morricone
23) “Elis”, Elis Regina
24) “Roberto Carlos”, Roberto Carlos
25) “Complete & Unbelievable: The Otis Redding Dictionary of Soul”, Otis Redding
26) “The Magic City”, Sun Ra
27) “Maria Bethânia canta Noel Rosa”, Maria Bethania
28) “Sunshine Superman”, Donovan
29) “The Exciting Wilson Pickett”, Wilson Pickett
30) “Black Monk Time”, Monks
31) “Maiden Voyage”, Herbie Hancock
32) “Ces gens-là”, Jacques Brel
33) “Wild Is The Wind”, Nina Simone
34) “Da Capo”, Love
35) “At the “Golden Circle” Stockholm, Volume One”, The Ornette Coleman Trio
36) “It Serve You Right to Suffer”, John Lee Hooker
37) “Tim Hardin 1”, Tim Hardin
38) “The Seeds”, The Seeds
39) “Você Me Acende”, Erasmo Carlos
40) “Them Again”, Them
41) “East Broadway Run Down”, Sonny Rollins
42) “From Nowhere”, The Troggs
43) “Boom”, The Sonics
44) “If You Can Believe Your Eyes And Ears”, The Mamas & the Papas
45) “Small Faces”, Small Faces
46) “Maysa”, Maysa
47) “River Deep – Mountain High”, Ike & Tina Turner
48) ‘Four’ & More: Recorded Live in Concert, Miles Davis
49) “Today”, Skip James
50) “Tristeza on Guitar”, Baden Powell

Leia também:
– 50 discos de 1965 que completaram 50 anos em 2015 (aqui)

One thought on “1966-2016: 50 discos com 50 anos

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.