Livros: Tropper, Frey, Shelton e Riggs

por Adriano Mello Costa

“Antes de Partir Desta Pra Uma Melhor”, Jonathan Tropper (Ed. Arqueiro)
Após cinco livros dá para reconhecer bem as características da literatura do escritor norte-americano Jonathan Tropper. E “Antes de Partir Desta Pra Uma Melhor” (“One Last Thing Before I Go”, 2012), o recente trabalho que a Editora Arqueiro lança agora no país, com 256 páginas e tradução de Marcello Lino, reforça todas elas. O personagem principal é Drew Silver, baterista que teve um único sucesso com a banda que tocava passando da posição de rockstar para, logo depois, galgar o panteão do ostracismo. Vive em um hotel cheio de divorciados e perdedores. Sim, ele foi deixado pela mulher e mantêm uma péssima relação com a filha. Tem como fonte de renda os trocados que ganha tocando em aniversários e batizados além do dinheiro da venda de esperma para uma clínica local. É o tipo do cara que não ambiciona nada na vida. Até que de uma só tacada descobre que a filha adolescente está grávida, que a ex-mulher vai casar de novo e que tem um problema no coração que, se não operar, vai lhe matar. Drew Silver lembra outros personagens do autor como o Zachary King de “Tudo Pode Mudar” (2005), o Doug Parker de “Como Falar com um Viúvo” (2007), ou mesmo o Judd Foxman de “Sete Dias Sem Fim” (2009), que virou filme nas mãos do diretor Shawn Levy em 2014. Em seus livros, Tropper sempre pega o personagem principal em um momento ruim, com alguma doença ou morte, e indica uma reviravolta que precisa ser feita enxertando bons diálogos de humor no meio do drama, da autopiedade a busca por alguma redenção, mesmo que de modo atrapalhado e involuntário. “Antes de Partir Desta Pra Uma Melhor” é mais do mesmo exibindo um autor confortável na repetição e que agrada somente quem o lê pela primeira vez, pois, para quem já leu os demais livros, a sensação de cansaço supera a diversão.

Nota: 4

“Endgame: O Chamado”, de James Frey e Nils Johnson-Shelton (Intrinseca)
Eis o primeiro livro de uma trilogia escrita pela dupla James Frey (de “Os Legados de Lorien”) e Nils Johnson-Shelton (de “A Torre Invisível”), voltada para o público adolescente e publicada no Brasil pela editora Intrínseca em 2014 (o subsequente nacional já chegou às lojas em 2015). Com 504 páginas e tradução de Dênia Sad, a trama remonta a criação da humanidade quando, há doze milênios, seres alienígenas dotados de imenso saber e tecnologia, fizeram este mundo e deram aos moradores condições necessárias para a evolução, deixando claro que caso não respeitassem o planeta corretamente, voltariam para aniquilar tudo em uma competição chamada “endgame”. Desde então, as doze linhagens mais antigas da humanidade vêm treinando século após século um jovem (entre 13 e 20 anos) para lhes representar caso os alienígenas voltem. O prêmio da competição é a sobrevivência de todos dessa linhagem. Partindo de um tema largamente utilizado tanto na literatura juvenil quanto em histórias em quadrinhos e lendas antigas, “Endgame: O Chamado” joga 12 jovens na busca por conquistar três chaves que lhe garantirão a vitória e a vida de entes queridos. No meio há bastante ação, intrigas, paixões, dúvidas e violência, tudo como manda o figurino. A série conversa bastante com a interatividade dos dias atuais, com diversas notas contendo links externos, como também e-books relacionados, um possível jogo a ser lançado e a venda dos direitos para o cinema. Convida também os leitores para uma competição própria, caso assim queiram (mais no site: http://www.endgamerules.com). Contudo, a narrativa desse primeiro volume poderia ter passagens a menos que facilitariam o ritmo e o envolvimento com uma história que tem diversas correlações com outras e que já foi melhor explorada anteriormente. Com capítulos individuais para cada personagem, criação de símbolos e enigmas pendentes, chega até a funcionar bem em alguns momentos, mas no geral não flui tão bem.

Nota: 5

“O Orfanato da Srta. Peregrine Para Crianças Peculiares”, Ransom Riggs (Ed. Leya)
Jacob Portman sempre foi muito chegado a seu avô, principalmente quando era criança e ouvia as histórias surreais e fantásticas contadas por ele. Com o tempo, Jacob cresceu e, normalmente, passou a não mais acreditar nas histórias se tornando um adolescente como qualquer outro, repleto de insatisfações. Contudo, continuou nutrindo um carinho especial pelo ente, e quando este é assassinado em circunstâncias anormais, Jacob enlouquece não só pelo que viu no dia da morte, mas pelo que lhe foi sussurrado no ouvido antes do falecimento. Aos poucos, ele percebe que as histórias do avô não eram tão surreais e, para tirar a prova, se manda junto ao pai para uma inóspita ilha do País de Gales onde conhece as tais crianças especiais que tanto ouvira na infância. Essa é a trama inicial de “O Orfanato da Srta. Peregrine Para Crianças Peculiares” (“Miss Peregrine’s Home For Peculiar Children”, 2011), do escritor e cineasta Ransom Riggs, que ganha reedição nacional pela Editora Leya, com 336 páginas e tradução de Edmundo Barreiro e Marcia Blasques. O livro encantou tanto o diretor Tim Burton que ele resolveu adaptar a história para o cinema, com estreia prevista para 2016. Realmente, a narrativa e a ambientação têm tudo a ver com o diretor. Na trama se fundem terror, suspense, fantasia e aventura de modo esplêndido focando o público jovem, mas com potencial para agradar adultos, principalmente pelas fotografias antigas que vão do curioso ao bizarro, sendo parte fundamental do processo da narrativa, auxiliando muito nas sensações descritas pelas páginas. Ransom Riggs cria aqui uma trama sombria misturando diversos conceitos fantásticos – tanto de literatura quanto dos quadrinhos (a alusão aos X-Men é óbvia) – resultando em um grande livro (com potencial para um grande filme).

Nota: 8,5


– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop

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