Boteco: Quatro cervejarias brasileiras

por Marcelo Costa

Abrindo um quarteto de cervejarias brasileiras que já passaram por este espaço com a Chocolatier, uma é uma Dark American Lager que recebe adição de aroma natural de cacau num lançamento limitado da Bohemia, de Petrópolis. De coloração marrom escuro com creme marrom de média baixa formação e rápida dispersão, a Bohemia Chocolatier destaca no aroma a doçura intensa derivada da adição de cacau em pó, que remete tanto a caramelo quanto a chocolate ao leite (nos bons momentos) e Nescau em um copo d’agua (nos ruins). Na boca, a doçura é intensa enquanto o corpo reforça a sensação de Nescau misturado com água. O conjunto simplista exibe apenas doçura (caramelo e chocolate em pó) deixando amargor ou mesmo possíveis notas derivadas da torra do malte (como café) de fora. O final é doce e achocolatado (com água) enquanto o retrogosto traz cacau em pó. Fraquinha.

A comemorativa Baden Baden 15 Anos é uma Heller Bock de respeito da turma de Campos de Jordão, que traz como inovação o uso de lúpulos brasileiros no dry-hopping (lúpulos europeus foram usados para amargor e sabor). Devido ao clima brasileiro, inadequado ao plantio, o lúpulo usado em 99,9% da produção cervejeira do país é importado, mas a Baden Baden conseguiu quatro quilos de lúpulos plantados em São Bento do Sapucaí, interior de São Paulo, para a fabricação desta cerveja. O agrônomo Rodrigo Veraldi conseguiu a façanha de colher 12 quilos bons para utilização em cerveja após um experimento fracassado, pois uma das plantas da tentativa frustrada cresceu em uma área de descarte e foi a base para a plantação que, finalizada, integra a receita da Baden Baden 15 anos. A conquista é uma vitória mesmo em comparação com números como o da Alemanha, que só em 2005 colheu 29 mil toneladas.

De coloração âmbar cristalina, a Baden Baden 15 anos (a cervejaria surgiu em 1999 em Campos do Jordão) exibe um excelente creme branco, de ótima formação e boa permanência. No nariz, um interessante buquê aromático destaca o malte (através de notas adocicadas que remetem a caramelo e mel) abraçado por delicadas notas florais e um leve toque frutado cítrico, sem remissão a nenhuma fruta especifica. Há, ainda, sugestão de biscoito e leve amendoado. Na boca, o conjunto melhora consideravelmente. A entrada é adocicada com caramelo do malte, que encontra pouca resistência de amargor dos lúpulos, e se sobressai num conjunto agradável que sugere leve amendoado, aproximação com mel e caramelo além de biscoito e leve toque floral com nenhuma percepção dos 6.7% de álcool. O final é maltado e adocicado, sem presença de lúpulo, enquanto o retrogosto reforça a sensação de doçura.

A terceira da lista é a Landbier, de Presidente Prudente, que já havia passado por este espaço com as versões Pilsen, Stout e Weiss, e retorna agora com uma Belgian Ale cuja receita reúne um blend de seis tipos de malte e três tipos de lúpulo. De coloração âmbar acobreada e creme levemente bege de boa formação e média baixa permanência, a Landbier Belgian Ale destaca no primeiro plano aromático um off flavour intenso de diacetil sugestionando manteiga, e que, em contanto com as notas derivadas do caramelo do malte, remete a pão doce. Debaixo da nuvem amanteigada é possível notar leves notas de frutas escuras (ameixa). Na boca, há reforço da sensação de pão doce com o diacetil marcando o conjunto de forma dominante ao lado do caramelo do malte tostado sem nenhum confronto do lúpulo. No trecho final, o amanteigado se sobrepõe ao caramelo e prejudica fim e retrogosto. Uma pena.

Fechando o quarteto com o rótulo mais novo da DUM, de Curitiba, cervejaria responsável pelas incríveis Jan Kubis e Petroleum, e que investe aqui no que eles denominam como Double Witbier, a DUM Grand Cru, uma receita que une água, malte, trigo, aveia, cascas de laranja frescas, sementes de coentro e fermento belga. De coloração entre o âmbar, o alaranjado e o avermelhado, a DUM Grand Cru exibe um creme médio, de baixa persistência. No nariz, notas cítricas (casca de laranja) em primeiro plano mais condimentação (coentro) e caramelo do malte formam um belo conjunto aromático que não esconde os 8.8% de álcool, perceptíveis através de uma sensação mentolada. Na boca, a entrada adocicada (de caramelo) é atropelada rapidamente por um amargor cítrico (laranja) e alcoólico. O final caprichado traz laranja, álcool, condimentação e caramelo, e remete a licor. No retrogosto, laranja e caramelo. Bela!

Balanço
A Bohemia bem que tentou, mas o fraco resultado desta Chocolatier tira o posto de pior cerveja “achocolatada” brasileira da Backer Brown. A melhor ainda é a Cacau IPA, da Bodebrown, mas duas boas alternativas inglesas podem servir como exemplo de comparação: esqueça a Bohemia Chocolatier e procure a Young’s Double Chocolate Stout ou Batemans Mocha Beer, duas marcas que mostram que é possível produzir cerveja boa com chocolate. A próxima é a Baden Baden 15 anos, boa cerveja da turma de Campos de Jordão, que utilizou lúpulos brasileiros no dry-hopping, e ainda que a receita não valoriza lúpulos, a iniciativa é elogiável e rende uma das melhores cervejas da Baden Baden (ao lado da 1999 e da Red Ale). A Landbier, que já havia exibido alguns erros nas três primeiras cervejas que passaram por aqui, parece ainda não ter encontrado o caminho. Com off flavour intenso de diacetil, a Landbier Belgian Ale pão doce de padaria, açucarado e amanteigado. Quem sabe na próxima. Para fechar o quarteto, a melhor do conjunto, DUM Grand Cru, dos responsáveis pelas excelentes Petroleum e Jan Kubis. Aqui, os curitibanos sonharam em fazer uma Double Witbier (“Algo como uma weisenbock belga”, eles explicam no site oficial), e o resultado é quase um licor alcoólico (8.8%) com presença cítrica (laranja), condimentada (coentro), caramelada de malte e alcoólica. Beeeeem boa.

Bohemia Chocolatier
– Produto: Dark American Lager
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4,1%
– Nota: 1,60/5
– Preço pago: R$ 4,50 (355 ml)

Baden Baden 15 anos
– Produto: Doppelbock
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6,7%
– Nota: 3,01/5
– Preço pago: R$ 14,90 (600 ml)

Landbier Belgian Ale
– Produto: Belgian Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5,5%
– Nota: —-/5
– Preço pago: R$ 12 (600 ml)

DUM Grand Cru
– Produto: Belgian Ale
– Nacionalidade:
– Graduação alcoólica: 8,8%
– Nota: 3,34/5
– Preço pago: R$ 15 (355 ml)

Leia também
– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas (aqui)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.