Rita Lee Mora Ao Lado – O Musical

por Adriano Costa

Espetáculos musicais no teatro estão sendo cada vez mais explorados no Brasil. Ainda não é uma enorme tendência, pois o investimento é alto e a preparação demorada, sem contar que viajar pelo país com uma trupe de atores e demais envolvidos é bastante complicado. No entanto, montagens recentes sobre a vida de Tim Maia, Cazuza e Elis Regina, sendo que as duas últimas ainda estão em cartaz no momento (Cazuza no Rio, Elis em São Paulo), mostram que o segmento está aquecido. A questão da homenagem póstuma cerca os três trabalhos citados, e nisso “Rita Lee Mora Ao Lado – O Musical” (em cartaz em São Paulo) já se diferencia.

Uma personagem importante e influente no cenário musical nacional, Rita Lee tem uma obra vasta e repleta de momentos excelsos, que dão material de sobra para uma montagem teatral. A artista chegou a ir a uma das apresentações, corroborar a homenagem e dar seu aval para a exibição. E a peça é puramente isso: uma homenagem, que visa não somente louvar os méritos artísticos da cantora, como também espelhar momentos de dificuldade que ela teve que passar, sem, no entanto, exercer crítica em momento algum. A tonalidade do roteiro é leve e descomprometida, e isso não muda mesmo quando se tratam de temas como prisão e morte.

“Rita Lee Mora Ao Lado” é adaptada do livro de mesmo nome de Henrique Bartsch lançado em 2009, e que conta a história da ex-Mutantes utilizando como recurso uma terceira pessoa chamada Bárbara Farniente, que passa toda a vida bem próxima de Rita Lee. Esse recurso de pura ficção contrabalança os fatos reais com uma carga razoável de humor e torna o livro uma experiência agradável. A adaptação dos diretores Márcio Macena e Débora Dubois (com o auxílio de Paulo Rogério Lopes no texto) segue a mesma linha em aproximadamente duas horas e meia de duração.

À frente do elenco, Mel Lisboa, escolhida para interpretar Rita Lee, e Carol Portes, presente em cena como a onipresente Bárbara Farniente. Mel (que é filha do músico Bebeto Alves) já mostrou que não é somente a garota bonita que apareceu na minissérie global “Presença de Anita”, em 2001, exibindo talento em papéis interessantes no teatro. E esse talento é percebido no musical: ela incorpora muito bem a parte física e gestual da homenageada, ficando parecida até mesmo na maneira com que conversa com os outros em cena. Porém, por mais que se esforce, não consegue se sobressair quando canta. E ela canta bastante. Em algumas canções o problema nem aparece tanto, mas em grande parte da peça, o esforço demasiado de Mel Lisboa não surte efeito.

Acompanhada por cinco músicos em cena (Felipe Cruz, Gregory Paoli, Junior Gaz, Marcio Guimarães e Robson Couto), Mel Lisboa canta canções como “Agora Só Falta Você” (do álbum “Fruto Proibido”, lançado ao lado do grupo Tutti Frutti em 1975), “Saúde” (do disco homônimo de 1981), “Jardins da Babilônia” (do álbum “Babilônia”, de 1978, outro disco ao lado do Tutti Frutti), “Ando Meio Desligado” (do repertório d’Os Mutantes) e “Coisas da Vida” (do disco “Entradas e Bandeiras”, de 1976, também com o Tutti Frutti), entre outros sucessos de Rita Lee.

A “presença” de outros cantores em cena transita entre o interessante, o ruim e o insosso. Do primeiro grupo fazem parte as recriações de Ney Matogrosso, Gilberto Gil e Hebe Camargo enquanto Tim Maia, Caetano Veloso e Elis Regina frequentam o último grupo, prejudicando o conjunto da peça, que poderia ser mais enxuta sem esses deslizes. Carol Portes também apresenta altos e baixos em sua atuação: uma hora anima a plateia, outra hora a constrange. No geral, são poucos os momentos de “Rita Lee Mora Ao Lado – O Musical” que realmente emocionam (destaque para a parte final) resultando em uma peça apenas razoável, que traz Mel Lisboa ótima como atriz e apenas esforçada como cantora.

– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop

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