Cinema: Audrey Hepburn 1953, 1956 e 1964

por Marcelo Costa

Titulo original: “Roman Holiday”, 1953
Titulo Nacional: “A Princesa e o Plebeu”

O filme que apresentou Audrey Hepburn ao mundo. A atriz já havia feito dois papeis principais em produções britânicas (“Secret People”, de 1952, e “Monte Carlo Baby”, de 1953), mas não existia em Hollywood. No entanto, o papel de uma princesa que tem um dia de pessoa comum (ao lado de um jornalista, Gregory Peck, excelente), originalmente escrito para Elizabeth Taylor, caiu como uma luva em Audrey. “A Princesa e o Plebeu” é daqueles filmes destinados ao sucesso. Na direção, o seguro William Wyler topou filmar o roteiro caprichado de John Dighton e Dalton Trumbo, o segundo na lista negra do Comitê de Atividades Antiamericanas, que afastou gente como Frank Capra do projeto, que não queria seu nome envolvido com gente da lista negra. Trumbo usou um codinome, Ian McLellan Hunter, para assinar o roteiro, que ganhou o Oscar (apenas em 1993, mais de 20 anos após sua morte, Hollywood o homenageou com a estatueta). Audrey também levou uma estatueta pra casa, e antes mesmo do filme chegar aos cinemas, Gregory Peck, então já bastante famoso, havia pedido para que o nome da atriz estreante em Hollywood figurasse acima do seu nos letreiros, tamanha a certeza de seu sucesso. “A Princesa e o Plebeu” é uma arid comedy delicada sobre responsabilidades, e talvez o cartão postal de Roma mais pungente já feito no cinema.

Titulo original: “War and Peace”, 1956
Titulo Nacional: “Guerra e Paz”

Ousada tentativa de Hollywood em adaptar para o cinema a extensa e clássica obra de Leo Tolstoy publicada em 1869, “Guerra e Paz”, dirigido por King Vidor e com trilha sonora de Nino Rota é um épico de quase 3 horas e meia de duração (uma versão russa, de 1966, soma 427 minutos) que custou, na época, 6 mil dólares, arrecadando pouco mais que isso nas bilheterias. O livro busca detalhar a invasão do exército de Napoleão na Rússia, e tudo que isso acarretou em mudanças na rotina da sociedade czarista, partindo do ponto de vista de cinco famílias aristocráticas russas. No filme, o roteiro assinado por oito pessoas (incluindo o diretor King Vidor) centra foco no romance de Natasha Rostova (Audrey, de beleza delicada e quase quebrável frente a voluptuosidade de Anita Ekberg, como Hélene) com o Príncipe Andrei Bolkonsky (Mel Ferrer, seu marido na época), deixando o personagem do Conde Pierre Bezukhovc (Peter Fonda), um dos principais narradores da história, em segundo plano. Tendo a guerra como pano de fundo (e, em vários momentos, personagem principal), “Guerra e Paz” é brilhante ao recriar batalhas, invasões e, principalmente, estratégias dos líderes Napoleão (Herbert Lom, ótimo) e Kutuzov (Oscar Homolka) assim como soa perspicaz em recriar a sociedade da época, mas… cansa. Pior: após resumir a história em 208 minutos, o final, corrido e dispensável, não faz jus a história. Fique com o livro (e, no caso de Audrey, com o filme anterior, ou “Sabrina”).

Titulo original: “Paris When It Sizzles”, 1964
Titulo Nacional: “Quando Paris Alucina”

Comédia romântica meta linguística, “Quando Paris Alucina” reúne Audrey Hepburn (como a datilografa Gabrielle Simpson) e William Holden (como o roteirista Richard Benson), 10 anos após “Sabrina” – o casal, que havia vivido um romance nos bastidores do grande filme de Billy Wilder, foi forçado por contrato a atuar novamente juntos pela Paramount, o que para Holden, que continuava apaixonado por Audrey, foi uma tortura. Dirigido por Richard Quine e com roteiro adaptado por George Axelrod, “Quando Paris Alucina” é relegado injustamente ao segundo escalão da obra de Audrey Hepburn, que está belíssima em um filme que brinca espertamente (e, às vezes, de maneira cruel) com os vícios de Hollywood, com a censura e com os próprios rostos milionários dos atores em cena. Richard Benson precisa entregar o roteiro de um filme chamado “A Garota que Roubou a Torre Eiffel”, mas a dois dias do prazo, não escreveu sequer um linha: “Fiz o que todos os roteiristas fazem, ou deviam fazer, nas primeiras 19 semanas de contrato: esquiei em St Tropez, peguei sol em Antibes, conheci uma aspirante a atriz grega no Festival de Cannes e decidi estudar grego, bebi muita vodka e passei duas semanas em um cassino em Monte Carlo”, ele explica. Filme e roteiro que está sendo escrito se misturam em uma comédia romântica inteligente, deliciosa e ironicamente provocativa.

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

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