Três CDs: André Mendes, ChimpanZés, Selton

por Marcelo Costa

“Amor Atlântico”, André Mendes (Independente)
Aqueles que vêm acompanhando a carreira solo de André Mendes, ex-Maria Bacana, iniciada com o álbum “Bem Vindo à Navegação”, de 2010, e seguido por “Enfim Terra Firme”, de 2012, irão se surpreender com a terceira investida do músico baiano. Após dois discos ensolarados, com canções suaves movidas por guitarras limpas que pareciam uma trilha sonora para caminhar na areia da praia durante o verão, André Mendes pisa no freio e lança um disco essencialmente acústico que busca valorizar a canção. Violão, guitarra, e eventuais piano e gaita acompanham André em “Amor Atlântico”, disco produzido por Jorge Solovera que reúne 10 canções em pouco mais de 20 minutos. “As Velhas Ondas” abre o álbum de forma calma com André cantando em falsete sobre uma base que parece uma rede balançando vagarosamente. “Sim, Deixa Fluir” segue a toada da faixa de abertura até os 45 segundos, quando a voz cresce e a letra pede para deixar fluir. Entre os destaques estão as pequenas cançonetas “Maldito”, fábula de apenas um minuto e meio movida por violão e gaita sobre uma pessoa que tenta iludir outra confundindo amor com gritos; “Tchau Jornal”, crítica esperta à mídia que faz política (“A real não passa na TV e nem nos grandes jornais/portais”, canta André no refrão); e a faixa título, que fecha o álbum de forma emocional à capela. Se os dois primeiros álbuns eram discos de verão, “Amor Atlântico” soa como um disco outonal, e, por isso, mais reflexivo. Um disco delicado e bonito que soa como uma trilha sonora para folhas caindo de árvores.

Nota: 7,5
Download gratuito: http://www.andremendesmusica.com.br/

Leia também:
– Entrevista: André Mendes, por Carlos Eduardo Lima (aqui)
– “Enfim Terra Firme”, André Mendes, por Bruno Capelas (aqui)

“Produto Interno Groove”, ChimpanZés de Gaveta (Monstro Discos)
Belíssima surpresa surgida de Goiânia, o sexteto ChimpanZés de Gaveta chega ao primeiro álbum após seis anos de estrada, e a longa espera parece ter funcionado a favor do grupo, pois deve ter permitido a banda trabalhar e retrabalhar as cinco faixas do EP “Produto Interno Groove” a exaustão durante noites e noites. Ao menos isso é o que faz parecer um álbum que tritura influências de forma magnifica focando no melhor da sonoridade de nomes como Barão Vermelho, O Rappa, Tim Maia e Nação Zumbi sob uma base encorpada de jazz, soul, blues e rock. Já na introdução de “Ao Apagar das Luzes”, canção que abre o disco, é possível vislumbrar tudo que virá pela frente: o arranjo junta a boa guitarra suingada de André Hiromi à cama suave do teclado bluezy de Adriano Zago, à bateria cheia de Décio Jr. e à percussão esperta de Gusttavo Barros mais o sax do convidado Pedro Labaig, que participa das cinco faixas, e acrescenta muito ao resultado final do álbum. A entonação do vocalista Michel Edere remete, em alguns momentos, a Cazuza, e o bom gosto nos arranjos, feitos na medida certa para valorizar o trabalho dos seis músicos, destaca uma das grandes estreias do ano. “Estação Blues”, com citação oportuna de duas canções de Chico Buarque (“Morena de Angola” e “Samba e Amor”) é daquelas canções fortes que devem crescer em shows (principalmente em botecos) e a tortíssima “Palavra Invertida”, com a frase de ataque “Que samba é esse seu Doutor?”, são grandes momentos de um EP que merece ser ouvido na integra… já.

Nota: 8
Ouça: https://soundcloud.com/chimpanzesdegaveta
Preço: R$ 15

“Saudade”, Selton (Anti Star / Tratore)
A história é meio surreal, quase um conto de fadas roqueiro: um grupo de gaúchos forma uma banda na Espanha para tocar em praças e pagar as contas, são descobertos por um produtor italiano, que faz a ponte Barcelona / Milão, resultando no primeiro disco, “Banana à Milanesa” (2008), um apanhado de versões de canções italianas eleito por várias publicações do país como um dos grandes álbuns daquele ano. O segundo álbum, “Selton” (2010), primeiro de material próprio, traz canções cantadas majoritariamente em italiano (há versões em português no Soundcloud da banda), e conquista o público. Com agenda de shows lotada e reconhecimento por parte da crítica local, o grupo volta os olhos para a Ilha de Vera Cruz e bate o banzo. “Saudade”, o terceiro disco, lançado no primeiro semestre, abre com uma versão empolgante da carta de intenções “Qui Nem Giló” (com participação de Arto Lindsay), clássico de Luiz Gonzaga. Entre canções em inglês, italiano e português (quando não tudo junto) movidas pela saudade, saltam aos ouvidos pequenas pepitas deliciosamente grudentas como “Across The Sea” (com citação de “Marinheiro Só”), “Ghost Song”, “De Volta Para o Futuro” e “Un Ricordo Per Me”, que sugerem um choque de Clube da Esquina, baião, rock, Franz Ferdinand e Skank com uma forte dose de Beatles e Beach Boys, como se Liverpool e Los Angeles fossem colônias brasileiras. “Saudade” é daqueles discos para serem ouvidos na integra e deixar no repeat, mostrando que o rock brasileiro consegue caminhar sem ficar babando no Los Hermanos (já deu, né). Um dos grandes discos do ano.

Nota: 9
Ouça: https://soundcloud.com/selton
Preço em média: R$ 25

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