Crítica: “Homem de Ferro 3” não é uma porcaria irremediável por causa de Robert Downey Jr.

por Leonardo Vinhas

Para efeitos de “estudo”, é possível dizer que a atual tendência de filmes baseados em HQ atravessou três momentos: o primeiro, de novidade e risco, no qual filmes como o primeiro “Homem-Aranha” (2002) ou “Batman Begins” surpreenderam por tratar com respeito e uma necessária atualização personagens que somam décadas de presença na mídia e na memória afetiva de muita gente. O segundo foi quando, consolidados como uma receita de sucesso, os filmes começaram a ganhar suas continuações, ao mesmo tempo em que a Marvel começava, com “Homem de Ferro” de 2008, a sequência de filmes que, produzidos por ela própria, recriava seu tradicional universo de papel (“Vingadores”, “Thor” e “Capitão América”). O terceiro começou há pouco: passadas as obrigatórias burradas mercadológicas (“Demolidor”, “Elektra” e outros atentados ao bom cinema) e encerradas algumas franquias/trilogias, vem a hora em que ou se apela pro reboot (como o pavoroso “Homem-Aranha” de 2012, dirigido por Marc Webb) ou se opta por seguir com os personagens, e então se situar naquele delicado equilíbrio entre o que dá muito dinheiro e o que realmente funciona para um bom filme.

É pouco recomendável predizer o futuro, mas a julgar por “Homem de Ferro 3” (2013), é difícil ficar animado. Naquele primeiro momento, e também no segundo, ainda havia o encantamento de milhares de nerds que nunca esperavam ver seus personagens queridos na tela, que dizer com tratamento de grande cinema. Havia, ainda, a surpresa para quem nunca havia comprado um gibi da Marvel ou da DC. Essa hora já passou, e esses filmes, por seu potencial de fazer as bilheterias explodirem de tanto dinheiro de venda de ingressos, entraram naquela zona de “blockbuster de verão”. E aí, você sabe, o blockbuster não precisa ser pensado, basta ser espetacular. Isso, o filme de Shane Black é. Uma infinidade de armaduras do personagem-título entra em ação, levando a um conflito final que rivaliza – em termos de empolgação juvenil, grandiosidade visual e apuro técnico – com a luta dos Vingadores contra os alienígenas. Pena que isso não garante um bom filme.

Todos os problemas que apareceram em filmes recentes como “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge” (2012) e o já citado “Homem-Aranha” de Webb dão as caras aqui. O vilão Aldrich Killian (Guy Pearce, ostentando um penteado e um visual que não ficariam deslocados no “Miami Vice” original) simplesmente não tem razão de ser. Seu plano de… conquista? Terrorismo? Dominação econômica? Enfim, seu plano impreciso e cheio de furos não faz sentido algum. A personagem de Rebecca Hall poderia ser eliminada da trama que não comprometeria o roteiro e os acontecimentos – e mesmo assim ela tem um tempo generoso na tela. As ligações forçadas entre um evento e outro, e o pífio romance de Tony Stark e Pepper Potts (Gwyneth Paltrow), só pioram o quadro.

Por que, então, o filme não é uma porcaria irremediável? Por causa de Robert Downey Jr. É algo exagerado, mas não de todo descabido, dizer que sua atuação como Tony Stark é o que tornou possível o sucesso do universo Marvel nas telonas. O ator se esbalda na arrogância e na impetuosidade de Stark, e a gente até consegue ignorar as incongruências do filme durante a projeção. Mas na hora em que a tela apaga e os neurônios estão livres do bombardeio de efeitos especiais e do carisma magnético de Downey Jr…

Há muito mais HQs para chegar às salas de projeção em breve, desde o reboot de “Superman” (por Zac Snyder) até as continuações de Thor, Wolverine e Capitão América, entre outros (incluindo o Homem-Formiga… é sério!). O que costuma depor contra a reputação das histórias em papel tem ligação com sua quantidade: é impossível entregar tantas histórias boas o tempo todo. Hollywood ameaça começar a produzir mais do mesmo, só que agora já não contará mais com o deslumbramento dos fãs, que estão mais exigentes com o que encontram na tela. Vamos ver o que acontece. Mas se o que acontecer for como “Homem de Ferro 3”, não precisa se esforçar muito para ver, não…

– Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yell.

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