Criolo ao vivo no Rio de Janeiro

Texto por Jorge Wagner
Fotos por Felipe Diniz

Já depois do bis, mais uma vez com a palavra, o tecladista explica: o show estava sendo gravado e, apesar de não existir o planejamento de lançá-lo em DVD, como havia ocorrido um problema no registro da primeira música, ele gostaria de repeti-la – caso o público não visse problema. Todos concordam e, em clima de festa, a música recomeça. O tecladista é Daniel Ganjaman, o grande responsável pela festa, afinal, é ele um dos donos da produção acertada de “Nó na Orelha” (ao lado de Marcelo Cabral), o disco que Criolo apresentou na quente noite de 4 de fevereiro no Circo Voador, Rio de Janeiro.

Criolo havia subido ao palco à 1h30 da manhã, depois da abertura mediana comandada por Curumin (da qual a parte mais animada, talvez a única, foi a que contou com a participação do rapper B Negão em “Feira de Acari”, clássico da pré-história do funk carioca). Acompanhado por uma banda precisa, o cantor abriu a apresentação com “Mariô” seguida por “Sucrilhos”, as duas cantadas e aplaudidas por todos os presentes. Aplausos, aliás, não faltaram. A cada intervalo, Criolo era ovacionado e, por vezes, fazia menção de chorar – visivelmente emocionado.

Ponto alto de seu último trabalho, eleito disco do ano em votação do Scream & Yell, “Subirusdoistiozin” surgiu impecável, responsável por mãos para o alto, coros precisos, danças e pulos. E também por uma pergunta: até que ponto aquilo era real? Até que ponto as atenções, demonstradas em um único exemplo pela lotação esgotada no show do Circo, estão voltadas para Kleber Cavalcante Gomes, o Criolo, graças ao seu talento, bem anterior à “Nó Na Orelha”?
As dúvidas são reforçadas – e corroboradas – pela ausência de músicas de seu antigo repertório durante a parte principal do show – toda baseada em seu último disco e entrecortada em raros momentos por números como “Para Mulato” (parceria de Criolo com Gui Amabis para o álbum “Memórias Luso Africanas”) e por seus versos feitos sob a melodia de “Cálice”, de Chico Buarque.

Embora ainda possua um discurso político tanto em algumas de suas letras quanto em suas falas – Criolo fez questão de citar a desapropriação de Pinheirinho e a greve de policiais em Salvador –, o artista precisou se reinventar para descer na garganta da classe média. Na ativa desde 1989, precisou deixar de ser o rapper Criolo Doido, restrito a um público admirador da cultura hip-hop, para se tornar o cantor Criolo, lapidado, abençoado por Caetano (o que, artisticamente, não quer dizer nada: Caetano é o mesmo que, pouco antes, gravara um disco com Maria Gadú) durante o VMB, aplaudido e aclamado, entre outros, por globais e estudantes de comunicação e de ciências sociais.

Sob a batuta de Ganjaman e Cabral, Criolo deixou de ser “Doido”. Tornou-se um animal em um zoológico: oferece perigo, mas está ali, a uma distância segura o suficiente para ser admirado tanto pelas famílias consumidoras de Multishow e MTV, quanto por jovens internautas consumidores de hype para quem, no fim das contas, não há qualquer diferença entre “Oração” (aquela, daquela banda) e “Não Existe Amor em SP” – acompanhada, na apresentação de sábado, por um coro de fazer inveja a qualquer show dos Los Hermanos.

Após o término da primeira parte do show, Daniel toma a palavra: fala da emoção e surpresa pela lotação da casa, com mais de 3 mil presentes. E devolve à palavra para Criolo, que depois do samba “4 da manhã”, emenda “Cerol” e “Vasilhame”, refeitas para caber no formato “Nó na Orelha”.

Abraçado por Caetano, homenageado por Chico, assistido por Zeca Camargo. Por falar para um público maior, Kleber fala agora para pessoas de características muito distintas daquelas de seu público anterior, muitas dentre as quais a maior manifestação política se dá, no máximo, por meio de um compartilhamento no Facebook ou uma hashtag no Twitter. Das mais de três mil pessoas que estiveram no Circo Voador no último show do Criolo no Rio, quantas, afinal, assistiriam Criolo Doido?

Todas estas questões atualizam a velha máxima nebulosa do “decifra-me ou te devoro”: Criolo parece estar querendo decifrar o sucesso, mas o sucesso parece estar lhe devorando (e parece que ele está gostando). Será?

– Jorge Wagner (siga @jotablio) é jornalista e colabora com o Scream & Yell desde 2006 tendo escrito sobre Milton Nascimento (aqui), Cícero (aqui) e Eskobar (aqui)

Leia também:
– “Nó na Orelha”: Criolo na linha de frente da quebra de preconceitos, por Bruno Capelas (aqui)
– Festival Transborda: o fenômeno Criolo está ultrapassando a barreira do hype (aqui)
– Planeta Terra: Criolo contemporiza e ignora plateia criada com sucrilhos no prato (aqui)
– Melhores do Ano Scream & Yell: Criolo crava o DIsco do Ano e a Música do Ano (aqui)

47 thoughts on “Criolo ao vivo no Rio de Janeiro

  1. nem fiquei sabendo que ele iria tocar no circo, mas pensando bem.. circo com mais de 3000 pessoas.. é melhor deixar pra próxima mesmo

    saindo do assunto principal do texto, não entendo esse desdém que os fãs de música mais alternativa tem pela maria gadú. ela é uma boa cantora com belas composições. shimbalaiê é a pior música do primeiro álbum e acabou virando o grande sucesso, tentem ouvir altar particular, laranja, encontro, todas composições da própria.

  2. Achei o texto equivocado, com um preconceito as avessas totalmente anacrônico. Ainda mais em se tratando do Criolo que tem um discurso includente e não excludente.
    Ora, Os Racionais(excludentes) há mais de 15 anos não tiveram que mudar nada para fazer sucesso com a classe média comedora de sucrilhos.
    O Criolo tá fazendo sucesso porque o disco dele é MUITO bom.
    Ponto.

    PS: Se o Teló faz sucesso, reclamam. Se o Criolo tb faz, “reclamam” também.
    Durma-se com um barulho desses.

  3. Texto perfeito, JW. Há que se investigar os mecanismos EXCLUDENTES do sucesso em tempos como os de hoje, em que é preciso excluir para incluir. O Criolo é um caso clássico de “unanimidade” apropriada por muitos, que precisou de uma reinvenção para isso acontecer. Se os tais Racionais MC surgissem tocando uma música mais acessível, o que seria dito? Que eles agora são includentes? É preciso investigar os motivos do sucesso, sempre.
    Este é o primeiro texto que eu leio que mapeia essas questões.

  4. Gente, não se pode investigar, criticar e levantar questões que o discurso é caga-regra? Democracia exige pluralidade de opiniões.

  5. leiam e releiam. não há uma crítica ao Criolo, mas aos mecanismos que permitiram com que ele atingisse o gosto do brasileiro médio – o mesmo brasileiro médio que canta Los Hermanos, Michel Teló, Adele… só para citar coisas bem diversas que viram “unanimidade” – e não mais um público restrito.
    me permito ao direito de desconfiar do que, de repente, é aprovado por todos.
    não fui eu quem escrevi que “toda unanimidade é burra”. briguem com Nelson Rodrigues.

  6. “ toda unanimidade é burra “, concordo mas querer comparar a aceitação por uma pequena ou media parcela do publico com fenômenos como Michel Telo e Adele e um baita equivoco, outra qual o problema do cara em sair do gueto, qual o grande medo do mundo indie de cruzar a fronteira e atingir mais pessoas?

  7. Entendi o texto, ele não faz uma crítica ao Criolo e sim levanta questões de como ele conseguiu o sucesso, como foi que ele atingiu as outras classes sociais mais bem favorecidas. ÓTIMA sacada.
    Só para constar, para mim “Nó na Orelha ” foi o melhor disco do ano passado.

  8. Os Racionais são(ou foram) excludentes no discurso, na postura, Cel.
    É o oposto da postura do Criolo.
    Vc imagina o Mano Brown sentado no programa da simpática Maria Beltrão na Globonews? O Criolo vai(foi) tranquilo e infalível que nem Bruce Lee.
    Não estou criticando os Racionais(tb sou fã), era necessária, ao meu ver, essa postura de confronto na época. Ou ainda hoje se assim eles acharem que devem.
    Só que o Criolo e tb o Emicida(que não gosto) têem um pensamento diferente.
    Acho que o bacana é justamente isso.
    Quanto ao lance do Don’t Beliive the Hype, é fácil, fácil não cair em tais armadilhas.
    Vc ouve e se gostar consome. Caso contrário manda pastar.
    Simples assim.
    Qual o mal de se reinventar? Com veracidade(salta aos olhos) pode-se fazer tudo.

    PS: A frase do Nelson é certeira demais pra se discordar. Agora, que bom que nem todo burro é unânime.
    Salve o Criolo.

  9. Quanta babaquice essa coisa de excludente / includente, antes e depois, brasileiro médio, hype e etc. Foda-se se quem assiste o show do cara hoje é o Zeca Camargo…e daí? O que isso tem a ver com a musica? É preciso parar com essa cultura de dividir tudo em “caixinhas”…coisa mais facista…
    Concordo com o Zé Henrique, o disco dele é MUITO bom e é isso que importa…rótulos, modismos, e preconceitos sem sentido não tem nada a ver com o que definitivamente importa…a Musica! Que aliás não foi abordada no texto em nenhum momento…

  10. Ótimo e corajoso texto. Reflexão pura e não polêmica gratuita. E tem gente que não entendeu… =/

  11. exatamente isso, Tiago!
    o disco é preciso, o show foi muito bom, mas foi só depois que ele deixou de ser um rapper para ser alguém que, por acaso, também faz rap, que a massa que inclui globais, hipsters, Caetanos etc passou a aceitá-lo.

  12. Eu gostei do texto. Não acho que seja sequer uma crítica direta ao criolo: me parece mais um questionamento válido sobre a dinâmica do processo de sua ascensão. Que, aliás, o autor questiona, mas, espertamente, se exime de responder. ATé porque, tudo é muito novo, recente. Pessoalmente, acho que o aumento do público do cara deve-se menos à babação de celebridades e mais ao aumento do escopo e armamento sonoro do último disco. Tudo certo e bem produzido: décadas de boa música negra (samba, funk, rap, soul, afrobeat) cozinhada com esmero. Claro, é interessantíssimo observa o que ocorrerá com Criolo daqui pra frente: seu fortalecimento e crescimento como artista ou a diluição e despersonalização imposta pela máquina de consumo raso e fácil. Torço pelo cara, acho seu último disco fantástico e ponto.

  13. pensadinha rápida:

    ontem vendo o garagem pela primeira vez ouvi alguém falar mal do criolo. não acompanho com afinco nem a carreira nem as críticas, exceto pelo que encontro sem querer, por isso posso estar mal informado, mas a julgar pelo comentário do cel, é lamentável que ninguém tenha decidido romper com esse clima de adesão ao rapper, dado o período de sucesso – quanto, um ano? – até aqui.

    o episódio no garagem foi interessante por revelar que o hypado criolo não tem aceitação dos seus pares – e aqui já começamos a questionar quem seriam os pares do criolo.

    o escravo do garagem foi na galeria do rock tentar comprar um disco do criolo. não conseguiu. foi em vários shoppings, não conseguiu. além de amor, parece que o disco do criolo não existe em sp.

    quem são os pares do criolo? de repente aparece um texto dizendo que o criolo e uma moça do tecnobrega fizeram um show numa boate paulistana pra “jovens de classe média alta”, que gritaram em coro “pinheirinho”.

    o pas achou legal, o que já começa a apontar algo sobre a questão. quem legitima o criolo? estadão e fsp, com a editora da ilustrada dizendo “acredite no hype”. parece crítica, mas é só tristeza.

    uma das duas canções que ouvi fazia referência a pasárgada. considerando que o pessoal da quebrada não tem acesso a manuel bandeira e que “jovens de classe média alta” não lêem, quanto mais poesia, seria útil saber a quem se dirige o criolo.

    certamente não a mim. como não ouço rap, acho mais interessante o fato de quem deveria apoiá-lo, por ser do mesmo grupo, se eximir, preferindo dizer que não o conhece, como fizeram os vendedores das lojas de rap da galeria do rock, a confiar no relato do escravo do garagem.

    em vez da agressão, o consenso. em vez do rechaço, a aceitação. tentando conscientizar jovens de classe média alta sobre pinheirinho, citando oiticica e frida khalo. parece malhação, a novela teen. se se comportar bem, no fim da temporada viaja pros usa.

    dá tempo do neymar pegar um show?

  14. Fico espantado com a quantidade de gente que se supõe fã de música ou mesmo um ouvinte dedicado e que não tem a menor curiosidade em saber como se dá a “reinvenção” de um artista, de como ele sai do anonimato quase total para ter um trecho de uma canção incluída em “Cálice”, de Chico Buarque. Ninguém acha isso, no minimo, curioso? Se vocês, que são classe média, têm acesso a informação, banda larga e demais facilidades não botam azeite nas suas máquinas, pombas, quem fará isso?

  15. Cel, vc não acredita na chamada espontaneidade?
    Tudo tem um grande e mirabolante plano por trás?
    Porra, que chatice que a vida seria se fosse só isso!
    Muito com o comentário do Paulo Diógenes, embora ele tenha gostado do texto do Jorge Wagner e eu não.
    O texto parte da premissa que o Criolo pra ser aceito teve que mudar.
    Repito o que disse acima. Os Racionais há longínquos quinze anos não mudaram nada e tb foram adotados pela mesma classe média.
    Portanto…

  16. Zé, a própria “espontaneidade” varia de tempos em tempos e, sim, sempre há, não um plano, mas mecanismos midiáticos, humanos, sociais, culturais em marcha, que determinam o que acontece até a música ou qualquer outra expressão artística chegue até os nossos ouvidos. Questionar é sempre preciso.

  17. Cel, concordo com todo esse seu último comentário, Mais ainda com sua última frase.
    Podemos traçar um paralelo do Criolo com o Chico Science e o Manguebeat, por exemplo.
    No Mangue ouve tudo isso que vc falou aí em cima – mecanismos humanos, sociais e culturais em marcha – mas não deixa de ser um movimento espontâneo.
    O espontâneo aí entra como sinônimo de verdadeiro.
    É bem diferente, por exemplo, de um Calcinha Preta da vida. Que é uma banda que tem dono e cujo dono fica tentando estourar – por métodos nada espontâneos – uma de suas 5 ou 6 bandas.
    Não estamos entrando na seara da qualidade musical. E sim, dos métodos.
    E tem também ao meu ver, e pode ser até ingenuidade minha, os fenômenos quase 100% espontâneos, como essa música do Teló, “Minha Mulher não deixa Não “, Moraguinho do Nordeste”…
    Tanto são que os caras somem depois.

  18. Bem, a eclosão do manguebeat aconteceu no início dos anos 90, né? Aquele mundo, meu jovem, não existe mais.

  19. Mas, Cel, o início dos anos 90 foi o auge da indústria fonográfica, e seus métodos nada espontâneos, no Brasil.
    Hoje, penso eu, com o advento da internet os movimentos espontâneos(entenda-se por isso algo de valor artístico) têm cada vez mais chance.
    Ainda bem que aquele mundo já não existe.
    Nem tudo é cinismo em SP.

  20. Paulo D. foi certeiro. Criolo está estourado por que é um talento maturado em décadas de hip hop. Amadureceu, foi acolhido por produtores muito competentes, abriu o escopo musical, e portanto, ampliou o público – e aí entra o papel da imprensa e dos críticos, levando a boa nova aos veículos de comunicação (on e off line). Como toda boa nova, tem o período do hype, do oba-oba. Passado esse período, aí vamos ver se o cara se firma, se passa da “promessa” e constrói uma carreira consistente no “grand monde” fora do circuito hip hop. Eu confesso que jamais veria um show do Criolo Doido pelo simples fato de que não sou fã de hip hop. E resisti até um mês atrás mais ou menos para ouvir o disco do cara, por que tb corre léguas de hypes e unanimidades. Mas baixei o disco (no site oficial) e me surpreendi. O cara é bom de fato. Não curti o disco todo, mas quase – Grajaúex é eminem regurgitado, né? Tenham dó. Agora o cara tem que tomar cuidado com duas coisas (no mínimo): para não ser engolido pela mídia etc. E com a pegada messiânica. Domingo passado no show dele aqui em Salvador, diante de mais de 3 mil pessoas, tinha até meninas chorando na plateia. O coro em alguns refrões me lembrou a plateia de um show do Los Hermanos. Tem que tomar cuidado para não ficar chato como um Renato Russo ou os barbudões lá. Se levar um pouco menos a sério seria a sugestão que daria a ele, caso fosse meu amigo. No mais, troféu joinha pra ele.

  21. “Como toda boa nova, tem o período do hype, do oba-oba. Passado esse período, aí vamos ver se o cara se firma”. é a isso que me refiro, Chico, quando questiono até que ponto esse momento alto da carreira dele tem a ver com o talento (que ok, não o falta; já não faltava antes, mas precisou ser adequado para deixar de ser produto de nicho e interessar a um público mais amplo) ou tem a ver APENAS com o oba-oba, do tipo “Caetano cantou com ele!”, “Chico homenageou” etc.
    torço para Criolo não caia nas armadilhas do messianismo.

  22. Bom, então o Criolo é um espécie de Lana Del Rey a brasileira! Troca nome, troca sonoridade e praticamente se apaga o passado.

    Brincadeiras a parte, vamo manera nessa nóia de mídia dominadora, de que um artista se torna menor por mudar os rumos, visar o pop, faz favor.

    Vamos ao case Amy Winehouse, a produção do Mark Ronson foi tipo 80% do Back To Black e depois disso o que foi a Amy? Mas mesmo assim ela é reverênciada e aclamada, pois tinha talento que soube ser lapidado, mesmo caso do Criolo, e isso não é problema algum.

    Mas vá lá se querem fechar a redoma da paranóia blza!

  23. o disco do Criolo é bom, mas, na minha visão, super estimado. transformou-se no “fenômeno Criolo”. o carinha (da classe média ou não) acha bom pq convencionou-se que é bom. aí pq o cara veio do gueto e tá conseguindo se firmar de forma “mais universal” menos segmentada, parece que não pode ser criticado.

    num dos comentários anteriores alguém falou do episódio que ocorreu no último programa Garagem, foi bastante interessante mesmo. os caras do Rap já não reconhecem no Criolo um companheiro de cena ou de luta, pelo contrário, meio que estão renegando o cara agora. um conhecido meu, que está muito mais presente na cena rap que eu, estava questionando o show do circo voador, principalmente pelos valores dos ingressos, né, a galera do gueto tem acesso a shows como esse? logo, o Criolo acaba tendo, muitas das vezes, como principais receptores de suas mensagens, os alvos das críticas da própria mensagem, a classe média. tudo muito paradoxal.

    agora, esse papo de “verdadeiro”, “autêntico”, “espontâneo” nada mais é que uma visão romântica da arte, que diga-se de passagem, está bastante ultrapassada.

  24. Grajauex me lembra Berenice do Jorge Ben. Pelo lance dos sufixos.
    Os Racionais tb são messiânicos e seu conselho Chico – não se levar muito a sério – é certeiro. Mas para alguns dessa galera que não cresceu comendo sucrilhos o buraco é mais embaixo.
    Com o Los Hermanos e a Legião o messianismo vinha, penso eu, da platéia para o artista. Com os Racionais e o Criolo vejo o movimento inverso.
    E, vejam só, ao contrário do que faria crer a frase acima eu acho mais chato o messianismo dos dois primeiros.
    Sem dúvida que de onde os Racionais e o Criolo vieram interferem na minha avaliação.
    Uma luta de classes básica, pra variar.

  25. a questão não é “fechar a redoma da paranóia”; não quero fechar nada, dar uma palavra final sobre nada – nem que é tudo uma armação e nem que é tudo talento.
    apenas proponho o debate de até que ponto é tudo apenas graças ao disco (que fez com que Criolo passasse por um polimento para chegar a existir).

  26. acho que podemos tb analisar de um ponto de vista apenas musical, antes ele fazia apenas rap paulistano, que nunca realmente atingiu a massa, ja no no da orelha ele faz musica pop, so isso ja basta pra definir o novo estagio de alcance que ele atingiu.Nó na orelha é musica pop das boas

  27. Engraçado o cara falar que os “manos da periferia” não consideram o Criolo,Foda-se eles,estã perdendo o bonde da historia ao ficar querendo ser os Racionais.O Criolo está só fazendo a sua parte,e bem,e está no lugar em que merece.É engraçado,porque na cara ninguém fala nada,mas por trás sempre aparecem os covardes pra cagar regra.Isso que é foda.

  28. Ah,Mac,tem muito critico conhecido seu que faz isso,fora esses grupelhos sub-racionais que o fazem.Uma vez vi um rapper do Faces do Suburbio(conhecido grupo de rap de Recife)no Provocações,aquele programa do Seu Abu,na TV Cultura.Dentre outras coisas,como dizer que o João Gordo era um vendido,sendo que o mesmo usou uma camiseta do grupo num show,falou que o rap tem que falar da periferia para a periferia,sendo que qualquer coisa fora seria uma afronta(veja bem)e uma fuga dos ideais promovidos pelo movimento hip-hop.Deve estar se borrando de raiva ou de inveja ao ver um Criolo ou um Emicida na tv.

  29. O Emicida fala sobre isso na letra de “Num é Só Ver”, e ele é extremamente bem resolvido na questão estética, tanto que quem pega no pé dele não é a crítica, mas os próprios pares – e ele está pouco se lixando, no que está certissimo.

  30. rapaz, aqui no site só tenho visto esses pensamentos excludentes, gente que muda de opinião s euma coisa virou pop (ou hype) ou nao. tá louco. que gente chata. e dai que ele se reinventou? e dai que mudou o publico, o nome, e dai qualquer coisa? que chatice

  31. Vi vários críticos pegando no pé do Criolo. Vi os mesmos o colocando como detentor do melhor disco e da melhor música do ano passado. Com a Lana Del Rey, o mesmo. Resultado: “Video Games” é posta como melhor música internacional. Assim fica difícil. Falta coerência. Achei o disco do Criolo irregular, com belas canções (“Subirusdoistiozin” e “Não Existe Amor Em SP”) e outras nem tanto, sendo completamente descartáveis. Com relação ao “hype” e a exposição , essa rejeição da periferia é patética. O tom messiânico e o papo “poético” de Criolo também. Mas acredito que ao avaliar a qualidade do som, tudo isso deve ser ignorado, como alguns aí já disseram.

  32. Acho valido de parte de JW tentar desvendar os mecanismos do sucesso, mas erra a mão ao fazer isso criticando somente um artista através do show de um disco. Acho que isso é papo para um livro, um ensaio, algo com mais conteúdo, não uma simples crônica…
    Criolo é um artista que antes usou o rap para se manifestar e agora utiliza outras linguagens, mas a lírica (que é o forte dele) esta ai, afiada, presente em quase todas as faixas do disco.
    Musicalmente, teve um crescimento absurdo, mas muita coisa estava insinuada no primeiro disco, diversos timbres, um samba, um reggae, podem conferir lá…mas é aqui também que entra a figura do produtor, no caso Daniel Ganjaman, um grande que vem mostrando serviço desde 2002 e com uma lista enorme de músicos que ajudou a mudar o som.
    Como se isso fosse pouco, o Daniel é parte da banda, mas não como músico, senão como membro pleno, tanto que falou diretamente com o público mais de uma vez, mais inclusive que o Dj Dan Dan…
    Resumo: O disco é muito bom (não é excelente), o show foi muito bom (não entrou na minha lista de top10) mas deixa estar, deixa ele mostrar a que veio…
    Ah,sim, sobre o assunto que JW disse abordar, espero algo com mais conteúdo…

  33. Omar, a intenção não foi, em momento algum, fazer uma análise profunda ou dar uma palavra final. foi apenas questionar esses mecanismos, apenas uma chamada de atenção para o fato de que existe sim, mais coisas por trás do sucesso “rápido” dele (rápido no sentido referido pelo CEL quando ele cita o fato de Criolo ter saído de um quase anonimato para o palco de uma premiação, cantando com o Caetano).
    se apenas cogitando isso houve toda essa “revolta” que se vê por aqui, nos comentários, imagine se e quando alguém for mais profundo no assunto…

    sempre há algo que vai além do talento quando alguém desponta assim, e não necessariamente um jabá. um email enviado meses antes do lançamento com o link do disco pedindo força para jornalistas amigos já faz com que esse “boom” tenha dependido de fatores extra-disco.

  34. “o fato de Criolo ter saído de um quase anonimato para o palco de uma premiação”

    O Criolo já era incensado por artistas em SP, antes de virar “moda”. Eu fui saber desse disco dele quando a Pitty comentou que tinha escutado um álbum nacional muito bom, que há muitos anos não havia escutado nada nacional que tivesse “batido” tanto quanto esse do Criolo. Isso tem muito tempo mesmo, Criolo nem sonhava cantar em premiação alguma, acho que havia acabado de lançar. Um tempo depois, ela fez um cover de “Não existe Amor em SP” no primeiro show do Agridoce e ali nego já estava falando bastante de Criolo…foi uma questão de tempo até todo mundo escutar, gostar, criar um hype. Não tô dizendo que isso começou com ela, mas que ali naquela época, já tinha uns artistas “antenados” ligados no som do Criolo (provavelmente via Ganjaman). Quando ele cantou com Caetano, eu vi como um processo natural, de tanto que já se falava dele…

    Mas eu concordo com o seu texto, acho que vem muito mais pra chamar a atenção para como funcionam as coisas do que para fazer uma crítica ao sucesso do Criolo. É bastante útil e você mandou muito bem.

    O interessante do seu último comentário é que logo pensei em Cícero. Cícero também mandou o link do seu CD pra jornalistas amigos, não? Mas a ascensão dele está sendo feita de uma forma bem diferente da do Criolo. Merece uma análise.

  35. exato, renata. meu comentário diz respeito ao cícero. tb não é uma crítica. cada um usa as armas que tem e ele usou essa.
    sem produtor, sem padrinhos ou verba pra divulgação, se não houvesse alguma qualidade, o barulho seria em proporções menores – cono tem sido com outras bandas que contam apenas com o aporte da camaradagem.

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