Entrevista: Elizabeth & The Catapult

Por Danilo Corci

Em tempos de crise, invariavelmente, surgem reações otimistas em parte do circuito cultural, naquela boa e velha tentativa de erguer a moral combalida pelos problemas financeiros. “Se a coisa tá ruim, então deixe que a música eleve seu espírito”. Essa é uma frase lapidar para definir o som de Elizabeth & The Catapult, cujo disco “Taller Children”, lançado no início do segundo semestre de 2009, é um exemplar único neste sentido.

Para entender a banda, com origem em 2004, o circuito universitário norte-americano é essencial. Formada por Elizabeth Ziman, Dan Molad e Pete Lalish, Elizabeth & The Catapult tem uma prepotência juvenil que se cristaliza em canções otimistas, divertidas, de alto astral, fruto da clara imersão de Ziman nos primórdios do jazz, uma coisa meio ragtime com timbres de pianos em clara evidência e uso de trompetes.

“Taller children”, a canção que batizou o álbum, é a pista mais clara de uma geração que tenta encarar com bom humor os percalços. Na narrativa musical, a história de um corretor que se ferra na crise e se comporta como uma criança – criança grande, no caso. Mas reduzir o Elizabeth & The Catapult apenas a uma banda que quer ser otimista seria um erro. Eles são competentes, bem produzidos, a voz de Ziman é cristalina e empolgante, eles sabem orbitar num universo indie de fachada (algo que o She & Him faz com muito mais competência), arriscam um cover de Leonard Cohen e tem uma autoironia pouco peculiar para uma banda nascida em Nova York e gerida pelo casal Ziman e Molad (sim, o som deles tem muito amor…).

Melhor do que falar tanto sobre a banda é deixar que eles falem por si próprios. Por isso, numa conversa por e-mail com Elizabeth Ziman, deixei que ela falasse um pouco mais sobre o próprio trabalho. O resultado você lê abaixo.

Olá Elizabeth. Para quem não conhece vocês, como você se apresentaria?
Olá. Bom, basicamente? Espero que gostem da minha música.

Vocês são de Nova York e, geralmente, as bandas da cidade que dão certo transitam num ambiente musical bem diferente do de vocês. Como vocês encaram isso?

Não tentamos nos colar a nenhum estilo, por isso nossas músicas são tão ecléticas. É difícil nos colar um rótulo, mas isso é algo que nos orgulhamos. É o que eu digo, no final: go for it!

Por que cantar Leonard Cohen? E por que “Everybody knows”?
É uma de minhas músicas favoritas, com uma mensagem universal. Quis fazer o meu melhor nela.

Li em alguns lugares na internet comparações entre você e Tori Amos. Alguma ideia do por quê? Parece tão distante, não?
Será porque eu sou uma garota que toca piano? Sinceramente, não faço ideia de onde isso veio, é meio bizarro.

Como foi trabalhar com Mike Mogis (produtor de bandas como Bright Eyes, The Faint, Rilo Kiley e Rachael Yamagata)?

Foi maravilhoso. Tivemos de gravar nossas canções ao vivo pela primeira vez com ele. E ele é brilhante, com um equipamento sensacional. Nos parecíamos crianças numa loja de doce.

Você é uma grande fã da escritora Maya Angelou. Você captura algo dela para a sua música?
Como ela, tento traduzir meus pensamentos em letras simples e graciosas, sem grandes frescuras. Acho que isso é o mais importante que ela me legou.

“Perfectly Perfect” tem uma história estranha na letra. Você pode me dizer qual é a real por trás dela?
Nos shows, eu falo que é sobre esquizofrenia, mas isso, de fato, é raso. Na verdade é uma canção sobre dominar sua realidade, por pior que isso possa ser.

As canções de vocês tem muita variações. Pop, jazz e até country. Como vocês misturam isso tudo sem perder a mão?
Quando você fala assim, parece bem estranho. Mas na verdade não é. É quase simples. É o que gostamos, é o que surge de verdade da gente.

Seria um equívoco dizer que você e seu jeito de cantar são influenciados por Nina Simone, ainda que o estilo musical seja tão distinto?
Eu adoro a Nina, o poder, a intensidade de sua voz. Mas eu fumo demais para conseguir chegar perto do que ela fez vocalmente. Mas adoraria.

Em “Right Next do You”, você canta “I heard the new today, oh boy”. Beatles demais na cabeça?
Adoro “A Day In The Life”, talvez mais do que dos Beatles como um todo. Eu tinha de fazer alguma homenagem e assim foi.

Músicas como “Golden Ink” tem uma tristeza poética, ainda que “animada”, por assim dizer. Como todas as canções que vocês fazem. Você vê a vida de maneira otimista e isto reflete em sua música?
Depende muito do dia e hora que você me pega. Há muita tristeza e felicidade no mundo, mas eu seria muito estúpida se só enxergasse o mundo de uma maneira.

E a carreira? Bem?
Sem reclamações até agora

E até onde você quer ir?
Quero continuar a escrever e cantar pelo máximo de tempo que conseguir.

Ter um casal na banda atrapalha de alguma maneira?
Podemos pular essa pergunta? (risos)

Pra fechar, o que você tem ouvido?

Muito M.Ward, Monsters of Folk e Portishead. Ah, e pra falar não só de música, acabei de reler Metamorfose e li também a biografia de Annie Leibovitz. Sensacionais!

http://www.myspace.com/elizabethandthecatapult

*******

Danilo Corci é jornalista e editor dos sites Speculum e Mojo Books

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.