Michael Jackson’s This Is It

Por André Azenha

É bom o leitor saber. “Michael Jackson’s This is it”, documentário cujas cenas foram registradas primeiramente para constarem do acervo do astro e como extras de um possível DVD da turnê que ele realizaria em Londres é um filme caça=níqueis. Sim, é. Mas se durante muitos anos, Michael Jackson serviu de fonte para a mídia sensacionalista enriquecer graças a notícias jamais comprovadas, o filme ao menos o retrata como ele sempre mereceu: com respeito. Até veneração.

Também é importante saber que o longa não é um retrato dos últimos dias de vida dele e nem tem a intenção disso. É “somente” um esboço do que seria a última turnê de 50 shows que ele faria na capital inglesa. A (provável) última de sua carreira e que teve todos os ingressos esgotados. Por isso, “This is it” é um veículo para os fãs. Nada além disso. Quem não conheceu (se é que existe alguém) a obra do Rei do Pop, provavelmente não irá entender o que faz os dançarinos eleitos para trabalhar com Jackson na tour chorarem em suas declarações para o filme e exaltarem cada canção ensaiada nos palcos fechados do Staples Center (de Los Angeles) e The Forum (em Inglewood, na Califórnia) onde Michael preparava a série de apresentações que faria na O2 Arena de Londres.

Logo no início, um texto de abertura diz que esta seria a mais espetacular turnê da história da música. Realmente, o pouco que vemos nas quase duas horas de projeção, selecionadas de um material de mais de 100 horas de gravações, nos leva a crer que o show em questão poderia ser inesquecível. Só que infelizmente jamais teremos certeza disso.

É mais ou menos o que aconteceu com “Smile”, o álbum “perdido” dos Beach Boys, que poderia ter feito páreo ao maior álbum de rock da história, “Sgt Peppers”, dos Beatles. As gravações com músicas inacabadas do disco de Brian Wilson e companhia realmente davam a entender que se tratava de um disco muito especial. Mas Brian teve problemas psicológicos, se isolou e o disco não foi lançado. Só que o músico sobreviveu para quase quarenta anos depois finalmente dar vida à obra. Infelizmente, Michael não teve tal chance.

Dirigido por Kenny Ortega, que ficou mundialmente conhecido como coreógrafo de “Dirty Dancing” e depois faria “High School Musical”, “This is it” chega a mostrar algumas músicas prontas, como seriam exibidas no show. Da abertura com “Wanna Be Starting Something” ao encerramento com “Man On The Mirror”, somos apresentados a uma profusão de coreografias sensacionais, uma tela de cristal líquido em três dimensões, a maior do mundo, muitos dançarinos (todos excelentes, numa entrega emocionante), acrobacias, um coro de crianças e vídeos originais, que seriam projetados ao mesmo tempo que as músicas no show.

Em “Smooth Criminal”, por exemplo, Jackson é inserido no clássico “Gilda”, de 1946, filme sobre a eterna mulher fatal interpretada por Rita Hayworth. Ele escapa de bandidos e interage com os personagens em preto e branco. Já em “Thriller” nos deparamos com momentos dignos de Tim Burton. Além dos zumbis, surgem fantasmas e uma aranha gigante, de onde MJ sai para fazer a famosa coreografia. A última canção é “Earth Song”, que inclui um filminho sobre uma garotinha que tenta salvar uma planta da destruição das máquinas. É o eterno recado de Jackson para prestarmos atenção no mundo.

Michael é sempre flagrado com admiração, mergulhado em luzes, tratado com extremo respeito pelos colegas e pelo próprio Ortega, que o chama de Senhor – ainda que possamos ver o quão magro ele se encontrava. O cantor é mostrado como um profissional perfeccionista, que exige o máximo de seus músicos, dançarinos e produtores, sempre tratando-os com muita educação e respeito.

Alguns fãs reclamaram que as pessoas que trabalhavam com Michael Jackson ignoraram seu estado de saúde, e que ele jamais aprovaria um lançamento de um trabalho inacabado. Compreensível. Mas também é necessário entender que todas as pessoas que compraram os tickets para a turnê inglesa, e muitos outros milhões de fãs, desejavam ver essas imagens. Não à toa o filme (previsto para ficar somente duas semanas em cartaz, mas que já teve o prolongamento de seu período de exibição nos cinemas confirmado) estreou liderando as bilheterias nos cinemas norte-americanos (ainda que os produtores esperassem arrecadar mais que os US$ 20 milhões conseguidos na estréia).

“This Is It”, o filme, (o título também é de uma música até então inédita, composta por Paul Anka, que Michael tinha gravado nos anos 80 e surge nos créditos finais do documentário) é apenas parte de um esquemão que irá faturar milhões e milhões de dólares. Inclusive até um CD duplo com as músicas do filme já foi lançado e um DVD com mais três horas de material extra chegará ao mercado ainda em 2009. E tanto como caça-níqueis, homenagem a Michael Jackson e presente para os fãs se sai bem.

Agora vai de você avaliar se consegue ir ao cinema sem peso na consciência ou se prefere esperar o lançamento do DVD. Como fãs do astro, muitos não conseguiram esperar, inclusive este que vos escreve, que pode presenciar algo raro na sala do cinema. A platéia, que lotou o local, aplaudiu emocionada o filme assim que ele acabou. Não bastasse Michael Jackson ter sido um divisor de águas na música pop, ter feito o álbum mais vendido da história (“Thriller”), introduzido a música negra nas FMs populares e videoclipes estrelados por negros na MTV, também conseguiu o feito de emocionar mais pessoas muito longe de sua Terra Natal, sem estar presente.  Mais do que nunca, assim como Elvis, o Rei do Rock, Michael, a majestade do Pop, não morreu.

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André Azenha é jornalista e editor do site Cine Zen Cultural

3 thoughts on “Michael Jackson’s This Is It

  1. Marcelo, acho importante acrescentar que os boatos iniciais, vários deles foram plantados pelo próprio Michael na imprensa. Muita coisa que veio depois não foi culpa dele mas além da imprensa utilizar ele para vender, ele também a usou, e muito.

    Que fique claro que sou um grande fã dele.

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