Crítica: Com sintetizadores retrô em destaque, “Pre-Code Hollywood” reafirma talento de Jonathan Bree

texto de Luciano Ferreira

O pendor para o pop refinado de arranjos adornados por elementos suntuosos tem sido uma das marcas registradas dos últimos álbuns do produtor e músico Jonathan Bree, o “homem sem rosto”. São características marcante impressas em trabalhos como “Sleepwalking” (2018) e “After the Curtains Close” (2020), seus dois últimos álbuns, que ganharam atenção com o sucesso inesperado da canção “You’re So Cool” (do álbum de 2018) e seu videoclipe de ambientação retrô, com músicos e dançarinos mascarados. Com “Pre-Code Hollywood” (2023), seu quinto trabalho solo, o neozelandês se mantém fiel a essas propostas, apenas diversificando-a com o uso mais eloquente de sintetizadores e o grooves da era disco.

As batidas rítmicas do funk setentista estão representadas pela participação do lendário guitarrista Nile Rodgers e seu inconfundível estilo suingado e timbre de guitarra que marcaram a disco music através de sua banda, o Chic. Rodgers adiciona swing à canções como a romântica “Miss You”, que tem participação de Princess Chelsea – vocalista, compositora e colaboradora de longa data do músico -, e à faixa título, conduzida por sintetizadores pesados.

O uso de sintetizadores alavancando os arranjos é a tônica de várias canções de “Pre-Code Hollywood”. Eles conduzem também a ótima “When We Met”, que tem um videoclipe simples e sensacional co-dirigido pelo próprio Bree – a faixa é uma das melhores do álbum, e é carregada por versos de cunho romântico que rememoram a magia do primeiro encontro.

Se os dois últimos discos de Bree eram exercícios musicais de chamber-pop e baroque-pop com toques cinematográficos e arranjos classudos, aqui a conexão maior é com o synthpop denso do final dos anos 70 e início dos anos 80. E ainda que muitos dos elementos usuais de sua música marquem presença a todo instante (vide faixas como “City Baby”, “Epicurean” e “You Are The Man”), todo o álbum traz sintetizadores retrô em doses generosas. Em “Politics”, por exemplo, Bree consegue misturar o lado orquestral com o eletrônico, compondo uma canção de climas gélidos como a darkwave oitentista, aquecida pelas cordas em glissando.

Discípulo de artistas como Scott Walker e Leonard Cohen, os vocais de Bree mantem-se no tom barítono, cantado de forma lenta e gélida, e às vezes pontuado pela delicadeza de Chelsea, como no dueto de “Destiny” – ou pelo seu próprio grupo feminino de backings vocals.

Para o título do novo álbum, o músico pescou referências da indústria cinematográfica. Pre-Code Hollywood foi um período compreendido entre o final dos anos 1920 e o início da censura na indústria cinematográfica nos Estados Unidos, em 1934.

Apaixonado por física quântica e entusiasta do software DAW (Digital Audio Workstation), Jonathan Bree constrói seus arranjos a partir de bancos de sons. Logo não estranhem se descobrirem que “We All Be Forgotten”, por exemplo, foi construída no modo de adição de amostras sonoras tipo: synths de ficção científica, linha de baixo melódica estilo Peter Hook, dedilhados estilo Johnny Marr, violinos chorosos, batida oitentista…

Parece simples, não? Simples ou sofisticado, a verdade é que o trabalho de Bree é meticuloso – tudo isso é transportado para as apresentações ao vivo, com banda completa – e muitas vezes alcança resultados soberbos . “Pre-Code Hollywood” reafirma seu talento. Ouça e comprove.

 Luciano Ferreira é editor e redator na empresa Urge :: A Arte nos conforta e colabora com o Scream & Yell.

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