Mojo Book 007: “Doolittle”, do Pixies, por Marcelo Costa

15 anos atrás, Danilo Corci e Ricardo Giassetti decidiram fazer uma pergunta: e se um disco virasse literatura? Nascia a Mojo Books, primeira editora 100% digital do Brasil, que de dezembro de 2006 até dezembro de 2012 explorou de maneira diversificada essa possibilidade, lançando mais de 130 volumes de livros inspirados em discos.

O Scream & Yell tem a honra de republicar os livros da Mojo em seu aniversário de 15 anos, completados em dezembro, buscando manter o acervo da editora online (enquanto também estivermos online). Toda segunda, um livro da Mojo novo sobre um disco! O sétimo volume da série (os anteriores estão aqui) traz o editor do Scream & Yell, Marcelo Costa, recontando o “Doolittle”, o clássico dos Pixies.

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A primeira coisa que fiz após o silêncio do impacto da porrada foi olhar o relógio: 0h38m43s. Sempre fui muito dependente do relógio, e nessa hora até que ele foi útil: percebi que estava vivo porque seria uma tremenda inconseqüência divina um morto preocupado com as horas. Ou não? Na verdade, tentando juntar os fragmentos do episódio, tudo o que surge claro na minha memória não dura mais do que cinco segundos. Foi algo assim: porrada, impacto, relógio e… hospital. Bem, entre 0h38m43s e o hospital passaram-se mais do que cinco segundos… tenho certeza, mas não me lembro muito bem.

Minha memória sempre foi péssima para detalhes. Uma das coisas que me interessam quando leio uma reportagem é a maneira como o jornalista ambienta a história. A cor da roupa da pessoa, o que ela tem na mesa de centro, o besouro que pousa na janela, o raio que estoura no exato momento em que a pessoa que está respondendo uma pergunta fala uma grande bobagem. Gosto destes detalhes, mas acho impossível de reproduzi-los. Já fui tantas vezes a um mesmo lugar sem nem notar o ambiente, que, quando um amigo chega e faz algum comentário do tipo “olha que legal é aquilo”, dou de ombros e finjo uma situação tão comum que para mim aquilo não chama atenção. Mas fico horas pensando em como não pude prestar atenção naquilo antes.

As pessoas que visitam a morte, mesmo que num pequeno espasmo de tempo, contam histórias fantásticas sobre a “viagem”: anjos, luzes, o céu clarinho, o Paraíso, a paz eterna. Desculpe-me, mas não tenho nada para contar. Amigos dizem que vacilei, que eu podia ter encontrado com Ele e pedido, sei lá, os números da loteria, o telefone da Scarlett Johansson e umas dicas de como conquistá-la (a bebida certa e a frase que ela espera ouvir do homem que ela irá considerar “O” escolhido). Mas foi tudo rápido demais. Quando vi, havia um poste se aproximando a toda velocidade do meu carro. Esperei que ele virasse, mas ele veio ao meu encontro e… 0h38m43s.

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