Ao vivo: Anna Calvi no Cineteatro Capitólio, em Lisboa

Texto por Pedro Salgado, especial de Lisboa
Fotos por Graziela Costa

Após um set de DJ que durante 50 minutos revisitou o repertório do This Mortal Coil, Portishead e Kate Bush procurando entreter um público impaciente (que lotava o recinto), Anna Calvi irrompeu no palco do Cineteatro Capitólio às 22h dedilhando a sua guitarra elétrica no blues arrastado de “Rider to the Sea” e abriu caminho à entrada em cena do baterista e da tecladista que a acompanham no tour do álbum “Hunter”, seu terceiro disco, lançado em agosto de 2018. O momento de intensidade sonora que o trio produziu foi bem recebido pela plateia lisboeta, composta por entusiastas e muitos curiosos.

Seguiu-se uma versão explosiva de “Indies Or Paradise”, na qual Anna Calvi atravessou uma passarela que a colocou mais perto da assistência (algo que repetiria várias vezes no show). O seu jeito desafiador e a forma insinuante como se movimentou, gerou a adesão do público e alguma expectativa quanto aos passos posteriores. Em números como “As A Man” e em particular “Hunter”, a cantora britânica impôs o seu vozeirão e assinou uma interpretação arrebatadora, que se evidenciaria igualmente na pop sugestiva de “Don´t Beat The Girl Out Of My Boy”.

Com o público rendido ao espetáculo e a banda mais embalada na sua viagem sonora, o desempenho de “I´m Your Man” revelou o lado vulnerável de Anna Calvi e a estridência roqueira de “Alpha” mostrou a faceta experimental da inglesa, que procurou testar até ao limite a sua guitarra elétrica com solos acelerados. A fúria deu lugar a uma sequência mais relaxada (“No More Words” e “Swimming Pool”), em que Calvi, num timbre alternadamente agudo e suave, apoiada na batida sincopada da bateria, criou uma toada hipnótica que conquistou o público e assinou um dos grandes momentos da noite.

Quando soaram os primeiros acordes de “Suzanne & I”, para gáudio de muitos fãs, a cantora correspondeu ao apelo da assistência e rubricou uma performance enérgica, dando um novo sentido à frontalidade na temática sexual e nas questões de gênero que definem o seu percurso. Depois da grandiosidade sonora de “Desire”, cujo refrão foi cantado em uníssono na sala, a vibrante “Wish” seguiu o trilho do rock, juntou-lhe uma cadência envolvente pelo meio e a cantora britânica dedicou-se a pôr à prova a sua linguagem corporal enquanto caminhava na extremidade do palco.

No encore, após a apresentação dos músicos, Anna Calvi brindou o Cineteatro Capitólio com uma versão pujante de “Ghost Rider” (do Suicide), denotando alguma teatralidade, apostando no seu potencial vocal e entoando “Immigrant Song”, do Led Zeppelin. Na passarela, durante a performance da versão, a inglesa ensaiou algumas extravagâncias instrumentais inspiradas em Jimi Hendrix que conduziriam ao final do concerto. Em pouco mais de uma hora, Calvi exerceu um magnífico poder de sedução sobre um público que cantou as suas canções, acompanhou os seus movimentos e legitimou a sua mensagem libertadora em tempos de retrocesso civilizacional.

– Pedro Salgado (siga @woorman) é jornalista, reside em Lisboa e colabora com o Scream & Yell desde 2010 contando novidades da música de Portugal. Veja outras entrevistas de Pedro Salgado aqui.
– Graziela Costa é fotografa. Confira seu trabalho em http://grazielacostaphotography.tk/

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