Ao vivo: Cut Copy em São Paulo

Texto por Daniel Tavares
Fotos por Fernando Yokota (veja galeria)
Vídeo por Rodolfo Yuzo

A última atração do Festival Queremos, no Rio de Janeiro, compartilhada com São Paulo foi a banda australiana de synthpop Cut Copy numa espécie de mini festival paulistano com parceria da Popload e, ainda, shows de Animal Colective e Father John Misty (este um show difícil de superar – leia a resenha aqui). Na noite de terça, 28 de agosto, foi a vez do Cut Copy botar para balançar o Fabrique, na Barra Funda.

Você pode até pensar que eles não passam de um copy/paste do New Order, uma versão millenial da banda que melhor misturou o rock com a música eletrônica, mas quem foi ao Fabrique não estava nem aí pra isso. O importante em um show do Cut Copy é festejar, entregar-se “às luzes e à música”, deixando de lado as preocupações do trabalho, de casa, da vida.

E foi isso que todo mundo fez logo que “Need You Now” abriu a noite, com o bom público pulando, dançando e cantando junto com a banda formada pelo DJ, tecladista e vocalista Dan Whitford, pelo guitarrista Tim Hoey, pelo baterista Mitchell Scott e pelo baixista Ben Browning. E, sem pausa, com Dan agradecendo e comentando como era bom estar de volta, mas sem grandes interrupções, o show seguiu-se com “Black Rainbows” e “Nobody Lost, Nobody Found”, esta recebida com gritos quando Dan, quase o tempo todo dançando também, começou a canção no seu set/teclado.

A tônica da noite, claro, eram as canções do último álbum, “Haiku From Zero” (2017). Dele vieram “Black Rainbows”, “Airborne”, “Living Upside Down” (esta com parte instrumental mais longa e com mais efeitos – poderíamos até dizer mais psicodélica, mas seria um exagero) e, mais adiante, “Counting Down” (uma das poucas em que Dan toca por instantes a sua guitarra) e “Standing in the Middle of the Field”. Mas, também não poderiam faltar canções dos quatro álbuns anteriores, responsáveis ainda mais pelo comparecimento do público naquela noite. Era a promessa de Dan. “Vocês estão ok hoje? Vamos fazer um balanço de tudo o que fizemos”.

E realmente, cada um dos álbuns teve pelo menos uma representante. O menos lembrado foi só o primeiro, “Bright Light Neon Love”, de 2004, com “Future”. Mas se ninguém parava de dançar, na hora dos maiores sucessos é que o Fabrique fervia mesmo, como em “Pharaohs & Pyramids”, muito esperada pelo público. Nessa, Tim toca teclado, uma espécie de castanhola e cowbell. E, colada assim com “Hearts on Fire”, como foi, os fãs tiveram seu momento de extrema loucura. Claro, não se podia esperar menos do que todos cantarem o refrão. Reconhecendo isso, Dan não pode ter outra reação senão apontar o microfone para a plateia. E declarou: “o Brasil é um dos meus lugares favoritos no mundo para tocar”.

A canção faz jus ao sucesso. É um convite para dançar. Mas é também a que mais lembra New Order, até pelo solinho no final. Um desavisado confundiria fácil. Não é implicância. Ambas as bandas são boas no que fazem e entregam aquilo que seus fãs esperam.

Já no bis, enquanto Dan avisa que tocariam algumas mais, um rapaz lá na frente interrompe com um grito: “Casa Comigo”. Serve de retrato também do apelo da música entre o público LGBT, uma boa parte da casa naquela noite, que só parava de dançar para celebrar o amor, ou apenas a azaração, entre um beijo e outro. Não foi surpresa quando “Lights and Music” começou. O set closer é mais que obrigatório no show que teve Dan sempre dançando, Tim de vez em quando numas viagens, Ben mais contido e Michael garantindo que tudo aquilo ali era de verdade (menos o saxofone que se escuta nesta ou naquela canção).

Luz e música, era tudo o que importava naquela terça fria. No fim, mas muito controladamente, Tim ainda revira o set de bateria de Michael deixando tudo bagunçado no chão, mas com cuidado para não quebrar nada. É a rebeldia controlada do politicamente correto dos anos 2000. Que seja. Se é uma “Sessão da Tarde”, se não é uma revolução da música, o show do Cut Copy é o bastante para deixar todo mundo com os “corações em chamas” enquanto está acontecendo, mesmo que seja para voltar à vida normal depois. Quem não precisa de um “Cut” por duas horas antes de um “Paste” para o metrô, o trânsito, a empresa no outro dia…

Setlist

1. Intro
2. Need You Now
3. Black Rainbows
4. Nobody Lost, Nobody Found
5. Airborne
6. Living Upside Down
7. Free Your Mind
8. Counting Down
9. Future
10. Pharaohs & Pyramids
11. Hearts on Fire
12. Standing in the Middle of the Field
13. Take Me Over
14. Out There on the Ice

Bis
15. Meet Me in a House of Love
16. Lights and Music

– Daniel Tavares (Facebook) é jornalista e mora em Fortaleza. Colabora com o Scream & Yell desde 2014.

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