Entrevista: Thrice

entrevista por Bruno Lisboa

Com 20 anos de história, o Thrice é uma das bandas mais celebradas da cena post-hardcore norte americana. Formada por Dustin Kensrue (guitarra/voz), Eddie Breckenridge (baixo), seu irmão Riley Breckenridge (bateria) e Teppei Teranishi (guitarra) o Thrice foi formado em 1998, mas teve o seu primeiro álbum (o barulhento “Identity Crisis”) lançado somente dois anos mais tarde.

De lá para cá, a banda amadureceu sua sonoridade e lançou discos como “Vheissu” (2005), um álbum celebrado pelo público e pela crítica devido a sua versatilidade e qualidade, marcas que se seguiram nos discos seguintes. O álbum mais recente (e carro chefe desta nova turnê) é “To Be Everywhere Is To Be Nowhere”, de 2016. A banda prepara para setembro deste ano o lançamento de “Palms”, primeiro disco sob a chancela da Epitaph Records.

Na entrevista abaixo, o baterista Riley comenta sobre as expectativas de vir a América do Sul  (“Os caras do Circa Survive nos disseram que a América do Sul é incrível, então estamos muito animados em experimentar isso por nós mesmos”), explica a origem do título do último álbum mais recente (“Nossa capacidade de viver o momento e estar presente – na vida real – diminuiu”) e a escolha por seguir suas próprias convicções (“Nós sempre faremos a música que queremos fazer”).

Além disso, Riley comenta sobre a mudança de gravadora, a falta de empatia que reverbera no mundo de hoje (“É uma pena que seja tão difícil para alguns”), a desastrosa era Trump (“É constrangedor, nojento, trágico, enfurecedor e frustrante”) e promete: “Nós vamos tocar um monte de músicas o melhor que pudermos, aproveitar cada segundo e esperar que vocês também façam isso.”

Esta é a primeira vez que o Thrice tocará na América do Sul. Eu sei que vocês são amigos dos caras do Circa Survive, eles fizeram uma turnê aqui uma vez em 2015 e voltarão neste ano. Então vocês tiveram uma conversa com eles sobre isso com eles? E por que demaram tanto para vir aqui?
Os caras do Circa Survive nos disseram que a América do Sul é incrível, então estamos muito animados em experimentar isso por nós mesmos. Há muitas razões pelas quais levamos tanto tempo para ir, mas as duas mais importantes são provavelmente a programação (diminuímos consideravelmente nossa agenda internacional em meados dos anos 2000) e a logística (é muito caro excursionar com toda a infraestrutura que precisamos para oferecer o melhor show possível).

O título do último álbum do Thrice (“To Be Everywhere Is To Be Nowhere”) é inspirado num pensamento do filosófo Seneca. Qual é o significado desta concepção para vocês e como isso influenciou a composição do álbum?
Eu acho que o significado geral é que, na era digital, como um todo, desde a comunicação ao comércio até a pesquisa na ponta dos dedos, nossa capacidade de viver o momento e estar presente (na vida real) diminuiu. As pessoas têm uma tendência a viver através de seus telefones e computadores e as relações interpessoais e comunicação tem sido perdida.

“Vheissu” é um dos discos mais celebrados do Thrice. Temos ótimas músicas e letras lá. Você tem algum disco favorito?
Não realmente, embora “Vheissu” seja muito especial para nós. É um disco muito punk, pois fizemos o que queríamos, apesar das expectativas dos fãs ou das gravadoras. Ao fazer isso, acho que colocamos a banda no caminho certo – nós sempre faremos a música que queremos fazer, independentemente do que é esperado, ou o que é popular no momento.

Cada álbum da banda soa diferente um do outro. Existe uma regra do tipo “temos que mudar em todos os discos”?
Na verdade não. Nós apenas fazemos o nosso melhor para incorporar elementos de diferentes estilos de música que estão nos inspirando em um determinado momento.

Após anos tendo discos lançados pela Vagrant, agora vocês estão na Epitaph Records, uma famosa gravadora independente, lar de grandes bandas como o Bad Religion. Como isso aconteceu?
Nosso contrato com a Vagrant expirou após o último álbum, então ficamos livres para conversar com outras gravadoras. Nós somos grandes fãs da Epitaph há mais de 20 anos e, quando eles disseram que estavam interessados em assinar conosco, nos encontramos com eles e ficamos realmente impressionados. Eles são um grupo incrível de pessoas, que são muito bons no que fazem e são muito fáceis de lidar. Tem sido ótimo.

Por muitas vezes a banda apoiou causas sociais. Como você, eu acredito que o mundo será melhor quando a maioria das pessoas entenderem que temos que cuidar uns dos outros. Mas para você porque as pessoas não se importam com isso?
Não tenho certeza se entendo totalmente essa pergunta, mas acho que você pode estar se perguntando por que as pessoas não são compelidas a ter empatia? Não tenho certeza. Egoísmo? Tratar os outros do jeito que você gostaria de ser tratado parece um conceito fácil de entender e decretar. É uma pena que seja tão difícil para alguns.

No ano passado, entrevistei Steve Von Till, da Neurosis, e ele disse que “o barulho do mundo é muito ensurdecedor agora“. Eu acredito que esse “barulho ruim” inspirou muitas músicas do Thrice. O que você acha do mundo hoje? Você acredita que existe uma solução para a situação caótica em que vivemos?
Eu acho que definitivamente existem soluções, mas acredito que encontrar essas soluções será muito mais fácil se pudermos começar com empatia. Percebo que é um empreendimento enorme, mas eu ainda tenho esperança.

Muitas pessoas já relacionaram as letras de Thrice ao cristianismo. E eu sei que você é cristão. Depois de todos esses anos, vejo que a presença da religião na vida das pessoas diminuiu. Por que você acha que isso está acontecendo? E qual é o papel da religião em sua vida?
Não tenho certeza de que qualquer um de nós se consideraria cristão neste momento e penso que o papel da religião está diminuindo porque ela pode ser incrivelmente sufocante em vários níveis. Eu não vou desabafar aqui, mas o mundo está sempre evoluindo e a incapacidade ou falta de vontade de uma pessoa para evoluir a partir disso parece insensata.

Mantendo esse tema, o mundo está em choque devido à desastrosa era Trump em seus primeiros meses. Como cidadão norte-americano, como você observa essa situação?
É constrangedor, nojento, trágico, enfurecedor e frustrante. Espero que possamos nos livrar dele em 2020 ou antes e sinceramente esperamos que todos possamos nos recuperar dos danos que ele está causando nos EUA e no mundo diariamente.

O que os fãs brasileiros podem esperar para esta primeira turnê por aqui?
Nós vamos tocar um monte de músicas o melhor que pudermos, aproveitar cada segundo e esperar que vocês também façam isso.

– Bruno Lisboa (@brunorplisboa) escreve no Scream & Yell desde 2014. Leia outras entrevistas dele aqui.

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