Três CDs: Zachary Kibbee, Cesar Saez, The Growlers

por Leonardo Vinhas

“Songs from the Mud”, Zachary Kibbee (Independente)
Zachary Kibbee é um garotão de Los Angeles que gosta de blues e também de música pop. Ouvindo seu álbum de estreia (antes houve apenas o EP “Little Clocks”), deduz-se que ele provavelmente passou primeiro pelos Black Keys da fase Danger Mouse para só depois chegar aos velhotes do gênero. Também dá para deduzir que ele não nega sua origem californiana, trazendo vários elementos de pop ensolarado às suas composições. Com essa combinação intencionalmente palatável, dá para entender porque ele caiu no gosto de produtores de TV e cinema, emplacando faixas em séries como “Daredevil”, “Jessica Jones”, “Graceland” e outras. Ou seja: Kibbee quer ter certeza que será ouvido, e faz uma música que favorece isso sem insultar a inteligência do ouvinte ou o próprio bom gosto. “Songs from the Mud” é uma digna coleção de canções radiofônicas, ainda que em um ou outro arranjo fique a sensação de que seria de bom tom pagar royalties para Dan Auerbach.

Nota: 6

“Perdido”, Cesar Saez (Independente)
Vocalista da Wallburds, Cesar Saez deixa temporariamente de lado o synth rock de sua banda para enveredar pelas reminiscências do folk setentista, especialmente da turma de Laurel Canyon (James Taylor, Joni Mitchell, Jackson Browne, esse povo) e de gente como David Crosby e Stephen Stills. Ou seja: violões ditam as melodias para que as guitarras e discretos arranjos de cordas façam pequenos pontos de exclamação. Por cantar em espanhol (o rapaz é mexicano) e num registro melancólico, colabora para que essa receita soe ainda mais nostálgica e praieira. A última faixa, “Mujeriego”, derrapa um pouco nesse conceito – é um tema uptempo e com mais instrumentos elétricos – mas mantém a alta qualidade, que também se escuta na faixa-título, na romântica “Cien Años” e na bucólica “Casa en el Campo”. Das cinco faixas, só “Amor Bonito” passa como algo mais anódino. Mas mesmo assim, no meio dessas crias redondinhas, ela ajuda a fazer deste EP uma simpática e recomendável estreia.

Nota: 7

“City Club”, The Growlers (Cult Records)
O Growlers é uma banda da turma de Mac DeMarco, Allah-Las e afins – essa psicodelia mais pop e mais light, mais fincada nos anos 60 que nos 70. Até há pouco, soavam, de certa forma, como um ponto de encontro entre o rolê praiano do The Blank Tapes e a acelerada urbana dos Strokes de boa época – isso principalmente por causa da voz de Brooks Nielsen (o fato de Julian Casablancas ser um dos produtores deve colaborar). Porém, “City Club” pega a pista deixada por duas faixas de seu antecessor, “Chinese Fountain” (2014), e persegue uma sonoridade mais atual, com sintetizadores, programações e toda uma nova coleção de timbres de guitarra. OK, eles já haviam ensaiado timidamente essa mudança em “Hung at Heart” (2013), mas era mais uma paqueradinha à distância que um “vem cá, minha nega”. Agora, assumem a coisa, e entre os fãs da banda (que já tem 10 anos de estrada), houve quem chiasse e quem amasse. O fato é que, à exceção da voz de Nielsen, há pouco dos discos anteriores, e o resultado parece mais interessante e duradouro. Nos quatro LPs anteriores havia uma certa repetição de melodias e arranjos, enquanto este “City Club” capricha na variação dos climas. “Night Ride”, por exemplo, cumpre a promessa de seu título, enquanto “Daisy Chain” parece acenar às girl groups dos anos 60 (não à toa, recentemente a banda gravou uma versão de “Mama Said”, das Shirelles, para as redes sociais). “Dope on a Rope”, “Vacant Lot” e “Neverending Line” são exemplos de um som mais roqueiro e sintetizado. A faixa-título e “Rubber & Bone” são mais adequadas para clubes noturnos, e a vibe “praia gótica”, um rótulo que se davam antes, aparece melhorada em “When You Were Made” e “World Unglued”. Descontentamento de alguns fãs à parte, não vai ser nenhuma surpresa se esse disco lançar a banda (merecidamente) a pontos mais altos de popularidade.

Nota: 7,5

– Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yell.

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