Boteco: Cinco cervejas da Flying Dog

por Marcelo Costa

Abrindo uma segunda série de cervejas da mítica Flying Dog, que nasceu em Aspen, no Colorado (leia a primeira aqui), e depois montou sua fábrica em Frederick, Maryland, com a Numero Uno Agave Cerveza, uma Pale Lager cuja receita utiliza malte Bon Munich e flocos de milho mais lúpulos Hallertau e Saaz além de néctar de agave e raspas de limão. O resultado é uma cerveja dourada com creme branco de boa formação e média retenção. No nariz, as raspas de limão são o primeiro destaque seguido de leve doçura, mas nada que remete ao agave. Na boca, uma cerveja picante e levemente áspera. O primeiro toque traz cítrico de limão, um herbal que sugere agave, doçura rápida e amargor baixo (20 IBUs), que abre a porta para uma cerveja altamente refrescante, ainda que simples. O agave se torna mais presente no paladar. O final é seco enquanto o retrogosto traz lima e leve agave. Boa no que se propõe.

A segunda da série vinda na mala de Nova York é a Flying Dog Counter Culture Ale, uma Amber Ale cuja arte, assinada por Ralph Steadman, é uma réplica da “Última Ceia”, de Leonardo Da Vinci. De coloração âmbar acastanhada levemente turva com creme bege de baixa formação e e média retenção, a Flying Dog Counter Culture Ale apresenta um aroma delicado de malte sugerindo chocolate ao leite, nozes e discreto herbal e cítrico. Na boca, a textura é cremosa com leve picância. O primeiro toque oferece doçura caramelada que passa a ser achocolata e, depois, sugere levemente café. O amargor é baixo e dai pra frente surge uma cerveja bastante agradável, com doçura na medida e herbal mais presente, ainda que secundário. O final é longo e maltado. No retrogosto, caramelo, chocolate e nozes. Ok.

Em 2016, a Flying Dog Brewery festeja 25 anos e para marcar a data produziu essa Belgian IPA com maltes Pale e Caramel, lúpulos Warrior, Galaxy e Amarillo mais levedura belga e adição de suco de abacaxi, manga e maracujá alcançando 8% de álcool e 55 IBUs. De coloração âmbar alaranjada com creme bege clarinho de boa formação e longa retenção, a Flying Dog Tropical Bitch exibe um aroma com doçura de caramelo dividindo a atenção do bebedor com as notas cítricas advindas tanto da lupulagem quanto dos sucos adicionados e também com a rebeldia da levedura, que acrescenta condimentado à receita. Na boca, textura picante. O primeiro toque traz efervescência cítrica e alcoólica seguida de rápida doçura e amargor marcante. Dai em diante, uma cerveja potente, amarga, mas com um ponto de doçura interessante. O final, porém, é rebelde e terroso. No retrogosto, laranja passada, especiarias e calor alcoólico. Boa!

A próxima cacetada da Flying Dog é a The Truth, uma poderosa Imperial IPA cuja receita une maltes Munich e Acidulated mais trigo maltado com cinco lúpulos (Warrior, Summit, CTZ, Citra, Amarillo) e levedura de Ale norte-americana batendo 8.7% de álcool e 80 IBUs. De coloração alaranjada com creme branco espesso de boa formação e longa retenção, a Flying Dog The Truth apresenta um aroma levemente cítrico (maracujá, abacaxi e manga) e herbal (pinho e grama) com doçura de caramelo perceptível e praticamente nada de resina (uma surpresa… boa!). Na boca, a textura quase cremosa com picância alcóolica. O primeiro toque traz rápida doçura seguindo de uma deliciosa pancada cítrica (maracujá, abacaxi e manga) e amargor praticamente limpo e delicioso, que segue em frente sem soar exagerado, encantando o bebedor. O final é amargo e cítrico. No retrogosto, mais amargor, manga e felicidade. Baita!

Fechando o quinteto com outra porrada, Flying Dog The Fear, uma Imperial Pumpkin Ale com quatro maltes (Cara-Brown, Midnight Wheat, Chocolate, Vienna), dois lúpulos (Willamette e Warrior) além, claro, de adição de abóbora e especiarias. De coloração âmbar translucida escura com creme bege bastante espesso de boa formação e longa retenção, a Flying Dog The Fear exibe um aroma caprichado com sugestão de abóbora, açúcar mascavo, gengibre, mel, caramelo, canela e noz moscada. Na boca, a textura começa sedosa e vai ficando licorosa e picante (de álcool: são 9%!). O primeiro toque é doce (açúcar queimado) seguido de forte presença de abóbora e condimentos. O amargor é baixo para o IBU adiantado (45), muito porque o álcool distrai bem o bebedor, sem incomoda-lo, num conjunto que soa bastante doce sem parecer enjoativo. O final traz abóbora e adstringência. No retrogosto, mais adstringência, abóbora, noz moscada, canela e sorriso. Gostei bastante!

Balanço
Começando uma série de cinco Flying Dog que vieram na mala de Nova York com a Numero Uno Agave Cerveza, que tenta juntar na mesma garrafa limão, agave e cerveja. O resultado é refrescante e interessante, mas esperado. A Morada CDB, por exemplo, vai além. Mas vale experimentar essa Numero Uno já de olho na próxima, a Flying Dog Counter Culture Ale, uma Amber Ale com jeitão de Brown Ale (com direito a nozes, ainda que delicada, e tudo mais). Boa, mas simples. A Flying Dog Tropical Bitch avança um pouco em relação as duas anteriores, muito por ser maluquinha, mas, ainda assim, bem interessante. Primeira dessa leva a realmente encantar, a Flying Dog The Truth é uma Imperial IPA de amargor limpo e cítrico, simplesmente deliciosa. Quero mais! Fechando a série Flying Dog com a Imperial Pumpkin Ale da casa, The Fear, uma cerveja altamente alcóolica e com gosto de abóbora. Algumas pessoas podem até acha-la doce demais, mas, para mim, está na medida. Excelente.

Flying Dog Numero Uno Agave Cerveza
– Estilo: American Pale Lager
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 4.8%
– Nota: 3.01/5

Flying Dog Counter Culture Ale
– Estilo: American Amber Ale
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 6%
– Nota: 3.29/5

Flying Dog Tropical Bitch
– Estilo: Belgian IPA
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 8%
– Nota: 3.43/5

Flying Dog The Truth
– Estilo: Imperial IPA
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 8.7%
– Nota: 3.69/5

Flying Dog The Fear
– Estilo: Blond Ale
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 9%
– Nota: 3.69/5

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