Boteco: Sete cervejas em lata

por Marcelo Costa

Abrindo uma série de cervejas em lata com a versão original da lendária Ballast Point Sculpin, de San Diego, nos EUA, que remonta ao início da cervejaria no começo dos anos 90, quando os proprietários ainda eram cervejeiros caseiros (hoje, sucesso da casa, há versões da Sculpin com Grapefruit e Habanero). De coloração âmbar alaranjada turva com creme bege clarinho de boa formação e longa permanência. No nariz, uma pancada cítrica arremessa maracujá e grapefruit junto a uma potente presença herbal (pinho). Na base, caramelo. Na boca, textura cremosa e picante. No primeiro toque, amargor cítrico (grapefruit) e herbal (pinho), dobradinha que irá dominar o perfil de uma IPA tradicionalmente norte-americana, com amargor potente (70 IBUs reais) e pouca concessão à doçura. O final é levemente resinoso. No retrogosto, mais resina, pinho, maracujá e abacaxi. Uma American IPA para quem ama American IPA.

Também da Ballast Point, a Even Keel é uma Session IPA com 10 tipos diferentes de malte, seis lúpulos (entre eles Ahtanum, Cluster e Spalt), duas cepas de levedura e apenas 3.8% de álcool. De coloração âmbar sem nenhuma turbidez e com creme bege clarinho de boa formação e longa permanência, a Ballast Point Even Keel apresenta um aroma de American IPA tradicional com intensas notas cítricas (maracujá, grapefruit) e herbais (resina, pinho), mas mais limpas do que na clássica Sculpin. Há, claro, uma discreta percepção de caramelo. Na boca, a textura é picante. O primeiro toque, amargor cítrico (maracujá) e herbal (pinho) seguido de leve doçura de caramelo. O amargor é médio (40 IBUs), mas bastante marcante, abrindo as portas para um conjunto caprichado, que consegue exibir as qualidades de lúpulo e malte sem baixar o álcool. O final é amarguinho e levemente cítrico. No retrogosto, grapefruit, maracujá, resina e pinho.

Minha 21ª cerveja da dinamarquesa (radicada nos EUA) Evil Twin, a Bikini Beer também é uma Session IPA, mas com apenas 2.7% de álcool, produzida na fábrica da Two Roads Brewing, em Stratford, no estado norte-americano de Connecticut. De coloração dourada com leve turbidez e creme branco espesso de boa formação e permanência, a Evil Twin Bikini Beer apresenta um aroma com bastante frutado cítrico (abacaxi, maracujá, limão, pêssego), herbal (grama) e leve terroso. Na boca, a textura é bastante leve e levemente picante. O primeiro toque confirma a pegada lupulada da receita, com cítrico (abacaxi, limão e maracujá) e herbal (grama e ervas) convincentes e quase nada de doçura. O amargor é médio abrindo as portas para um conjunto bastante cítrico e herbal, leve acidez, pouco álcool e muita refrescancia. O final é seco e cítrico. No retrogosto, mais abacaxi, maracujá, limão e grama.

De Várzea Paulista, a quarta cerveja da Dádiva a passar por este espaço (mais sobre as outras três) foi também a primeira cerveja artesanal em lata do país: Venice Beach, uma Session IPA de pegada californiana (com apenas lúpulos norte-americanos). De coloração entre o dourado e o âmbar com leve turbidez e creme branco de boa formação e media alta retenção, a Dádiva Venice Beach apresenta um aroma apaixonante de frutas cítricas (maracujá, abacaxi, manga e laranja) combinadas com a doçura caramelada do malte. Na boca, textura quase cremosa e levemente picante. O primeiro toque traz doçura cítrica (caramelo e maracujá) seguido de leve amargor herbal (distante dos 55 IBUs creditados, no máximo 40, mas bastante ok). Dai para frente, uma cerveja bastante refrescante e saborosa, com cítrico, caramelo e amargor muito bem combinados. O final é seco e cítrico. No retrogosto, maracujá, abacaxi e caramelo.

Voltando para os Estados Unidos, agora para São Francisco, na Califórnia, com minha segunda Speakeasy, Baby Daddy, também uma Session IPA (a anterior foi a Payback, uma bela Porter) com apenas lúpulos made in USA (Citra, Chinook, Centennial e Cascade). De coloração amarela com média turbidez e creme branco alaranjado de boa formação e média alta permanência, a Speakeasy Baby Daddy apresenta um aroma encantadoramente cítrico (limão, melão, abacaxi, maracujá e toranja), suavemente herbal (pinho) e com doçura de caramelo na base. Na boca, textura quase cremosa e levemente picante. O primeiro toque traz doçura cítrica equilibrada (abacaxi, maracujá e mel) seguida de amargor caprichado (35 IBUs marcantes), que segue em frente acompanhando suavemente o perfil refrescante que se descortina, com cítrico, herbal e doçura deliciosos. O final é seco e cítrico. No retrogosto, abacaxi, melão e limão. Excelente!

Também dos EUA, mas de Springfield, no Oregon, a Hop Valley marca presença com a Double-D Blonde da casa, cuja receita junta cevada e trigo com lúpulos Cascade e Willamette. Na taça, um líquido dourado com leve turbidez a frio apresenta um creme branco de média formação e retenção. No nariz, o conjunto é bastante sutil liberando algumas notas que remetem a trigo, cereais, caramelo frutado cítrico e herbal distantes – tudo bem discreto. Na boca, a textura é cremosa. O primeiro toque traz doçura caramelada bem suave seguida de cítrico e herbal (os dois mais intensos do que no aroma, mas, ainda assim, suaves). O amargor subsequente é leve e abre as portas para um conjunto que prima pela refrescancia aliada a um sabor que deve descer maravilhosamente bem em dias quentes. O final é seco e cítrico. No retrogosto, refrescancia, um toque cítrico e cereais.

Para fechar a série de latas, o grande sucesso da temporada 2016 no Brasil, Dogma Rizoma, uma Double IPA com lúpulos Citra e Mosaic que foram adicionados apenas no final da fervura, buscando oferecer um amargor muito mais limpo e de melhor qualidade. De coloração âmbar alaranjada com creme branco de boa formação e retenção, a Dogma Rizoma exibe um aroma encantadoramente frutado e cítrico (maracujá, manga, tangerina, lichia e limão) com uma base bastante suave de mel. Há, ainda, leve percepção herbal. Na boca, textura cremosa com leve picância. O primeiro toque traz rápida doçura atropelada no segundo seguinte por uma pancada assertiva de frutado e cítrico e são mais alguns segundos até o amargor potente (80 IBUs) elevarem o conjunto a um nível de capricho. Dai em diante, cítrico e herbal apaixonante nadando em meio a amargor agradável, nada arisco, até o final, deliciosamente cítrico. No retrogosto, cítrico (manga, abacaxi, lichia), herbal, mel e amor cervejeiro.

Balanço Começando o passeio por uma série de cervejas em lata com o pé direito: a Ballast Point Sculpin é uma autêntica e clássica American IPA, com lupulagem exagerada oferecendo um coquetel de notas cítricas e herbais. Apesar de a casa ter produzido versões com Grapefruit e Habanero, a original ainda é a grande estrela. A Ballast Point Even Keel é, provavelmente, a melhor Session IPA que já provei. Está tudo aqui (amargor cítrico, herbal, resinoso e caramelo), com baixa presença de amargor. Excelente. A Evil Twin Bikini Beer também é uma Session IPA, e perde pontos em relação a versão da Ballast Point pelo corpo, nitidamente mais leve, e também pela pouca doçura, que se serve para contrapor o potente amargor na Even Keel, aqui não mostra as caras. Ainda assim é uma boa Session com baixo teor alcóolico. Melhor é a Dádiva Venice Beach. Se as três da linha tradicional da Dádiva não tinham chamado tanto a atenção, essa versão da Venice Beach em lata se posiciona entre as melhores Session IPA do país. Muito capricho! Para fechar a série, a deliciosa Session IPA da Speakeasy, Baby Daddy, muito saborosa e refrescante! Na medida. A Hop Valley Double-D Blonde é uma cerveja feita para o verão: refrescante e com sabor e aromas discretos que cabem na estação. Fechando a série, Dogma Rizoma, uma das unanimidades cervejeiras no Brasil em 2016, e a turma toda não está errada: é uma cerveja sensacional.

Ballast Point Sculpin
– Estilo: India Pale Ale
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 7%
– Nota: 3.90/5

Ballast Point Even Keel
– Estilo: Session IPA
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 3.8%
– Nota: 3.60/5

Evil Twin Bikini Beer
– Estilo: Session IPA
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 2.7%
– Nota: 3.20/5

Dádiva Venice Beach
– Estilo: Session IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4.5%
– Nota: 3.40/5

Speakeasy Baby Daddy
– Estilo: Session IPA
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 4.7%
– Nota: 3.53/5

Hop Valley Double-D Blonde
– Estilo: Blond Ale
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3.00/5

Dogma Rizoma
– Estilo: Imperial IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 8.3%
– Nota: 4.03/5

Leia também – Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui) – Leia sobre outras cervejas (aqui)

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