Boteco: da Bélgica, Brasserie de Blaugies

por Marcelo Costa

Da cidade de Blaugies, na Valônia belga quase na fronteira com a França, surge a Brasserie de Blaugies, pequena cervejaria familiar fundada em 1988. Abrindo o trio com a Darbyste, que já apareceu em um ranking Top 5 de melhores cervejas do mundo do New York Times, e que uns consideram Fruit Beer (pela adição de suco de figo), outros chamam de Belgian Pale Ale e um terceiro grupo define como Saison (pra mim, o correto). De coloração âmbar caramelada com leve alaranjado e creme bege clarinho de boa formação e longa retenção, a Blaugies Darbyste exibe um aroma provocante, com azedume forte, cítrico, doçura arisca de goiabada Cascão mais terroso e couro. Na boca, textura frisante devido a intensa acidez. O primeiro toque traz acidez pronunciada seguida de cítrico e docura (goiabada Cascão de novo). O amargor é baixo, mas a acidez pode confundir desavidados. Dai pra frente, uma cerveja que mantém em todo o percurso um caráter deliciosamente provocante, com acidez, azedume, frutado e doçura bem combinados. O final é suavemente azedinho. No retrogosto, cítrico, doçura suave e azedinho. Diliça.

Colaborativa da Brasserie de Blaugies com os norte-americanos da Hill Farmstead, essa Saison tradicional utiliza espelta – uma linhagem primitiva de trigo – e o lúpulo made in USA Amarillo. De coloração amarelo palha com turbidez aparente e creme branco de exagerada formação e longa retenção, a Blaugies La Vermontoise apresenta um aroma campestre com feno, trigo, espelta, mofo, floral, frutado cítrico (limão e banana), mel suave e condimentação adiantando acidez profunda (marca da levedura). Na boca, a textura é frisante e pícante. O primeiro toque oferece acidez picante com sútil presença cítrica (limão azedo). Na sequencia, espelta, banana e amargor intensificado pela acidez. Dai pra frente, uma Saison de responsa, totalmente arisca (como manda o figurino do estilo) e se balizando entre a acidez condimentada da levedura, a doçura não tão doce do trigo/espelta e o amargor cítrico da lupulagem. O final é cítrico, doce e acético. No retrogosto, limão azedo, doçura de trigo e mofo. Baita!

Fechando o trio com a mais famosa da casa, Blaugies La Moneuse, uma Saison tradicional que homenageia um bandido que fez fama na Valônia belga pelos idos de 1700. De coloração entre o âmbar caramelado e o alaranjado com creme bege clarinho de excelente formação e longa permanência, a Blaugies La Moneuse apresenta um aroma de fazenda com madeira, terroso, mofo e acidez derivada da levedura se destacando. Ainda é possível perceber cítrico (raspas de casca de laranja e limão) e suave caramelo. Na boca, a textura é levemente frisante e picante. O primeiro toque traz cítrico suave envolvido em caramelo seguido de azedume assertivo e amargor caprichado (reforçado pela acidez) abrindo as portas para uma Saison que honra o estilo, arisca e provocante, mas com doçura e cítrico caprichados, valorizando o conjunto. O final é caramelado e azedinho. No retrogosto, azedinho suave, terroso, cítrico e caramelo. <3

Balanço
Se alguém me falasse que essa Blaugies Darbyste recebia adição de goiabada Cascão, fácil que eu acreditaria. Na verdade, deve ser o suco de figo que aproxima da goiabada, e o resultado é provocante, arisco e delicioso. A Blaugies La Vermontoise é uma autêntica Saison, arisca como o mais belo cavalo selvagem. Acidez potente influenciando no amargor no embalo do lúpulo norte-americano com o trigo espelta dando um colorido ao conjunto. Bela! Fechando o trio com a Blaugies La Moneuse, uma Saison belamente tradicional, rústica e arisca, com caramelo e cítrico presentes construindo um perfil delicioso. Detalhe: quanto menos gelada, melhor.

Blaugies Darbyste
– Estilo: Farmhouse Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 5.8%
– Nota: 3,69/5

Blaugies Hill Farmstead
– Estilo: Farmhouse Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 6%
– Nota: 3,69/5

Blaugies La Moneuse
– Estilo: Farmhouse Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 8%
– Nota: 3,75/5

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