Entrevista: Lava Divers

por Marcelo Costa

“A Lava Divers é um quarteto do Triângulo Mineiro (com integrantes espalhados entre Uberlândia e Araguari) que busca inspiração nas guitar bands inglesas e americanas do final dos 80/início dos 90”, avisa o site do selo Midsummer Records, responsável pelo lançamento de “Carte Blanche”, o primeiro EP do grupo, que agora também ganha lançamento em vinil via parceria com a Sapólio Rádio, produtora fundada em 2010 em Uberaba-MG.

Mais um representante da efervescente nova cena mineira, a Lava Divers vem chamando a atenção com um trabalho caprichado. O EP “Carte Blanche” (2014) foi produzido por Gustavo Vazquez, gravado no Vintage Rock Studio, de Araguari, com gravações adicionais no Caverna Studio, em Uberlândia e pós-produção no estúdio Rocklab, de Pirenópolis-GO, e liberado para download gratuito no final de 2014. Três canções já ganharam clipes oficiais e uma por um fã.

Paralelamente, enquanto divulga o vinil e prepara material para o lançamento do álbum cheio, o quarteto (João Paulo Porto, guitarra e voz; Ana Zumpano, bateria e voz; Glauco Ribeiro, baixo; e Eddie Shumway, guitarra) participa do Cena Cerrado, coletivo independente destinado ao fortalecimento da cena artística e cultural de Uberlândia e região. “Ao todo já são aproximadamente 30 bandas, e os eventos que já são praticamente mensais”, conta Ana.

No bate papo abaixo, respondido via e-mail durante um cafezinho, Ana fala do surgimento da banda (que tem relação com o grande show do Suede no Planeta Terra 2012), explica que vinil e download gratuito podem (e devem!) conviver juntos, conta sobre os ótimos videoclipes da banda e a parceria com a Midsummer Madness além de listar algumas bandas que você, leitor atento, pode se interessar bastante em descobrir. Com você, Lava Divers.

Como a banda se formou? Foi fácil encontrar outros doidos fãs de guitars bands por ai?
Ironicamente a banda se iniciou quando João Paulo e Glauco se conheceram em São Paulo durante o show do Suede, no Festival Planeta Terra, em 2012, e saíram de lá convencidos de que montariam uma banda juntos. Levou um ano e meio até se encontrarem novamente e colocarem a ideia em prática. Glauco convidou Eddie pra assumir a guitarra, enquanto João Paulo convidou a Ana pra assumir as baquetas. Como você disse, tava fácil saber quem eram os outros fãs malucos de guitar bands pra topar essa!

Vocês estão lançando agora o primeiro EP em vinil. Já era um plano de vocês ter um bolachão? Como vocês veem o formato hoje em dia?
Desde quando decidimos lançar nosso material fisicamente, o vinil sempre foi nosso objeto de desejo. Sabíamos que seria caro prensar, ainda mais no formato de 10”, que não é tão comum de ser encontrado, mas fomos atrás de parceiros que pudessem viabilizar a empreitada. Encontramos a Sapólio Rádio no caminho e então concretizamos a ideia. Acreditamos que o formato chama a atenção, não só pelo fato de ser vintage ou estar na moda, mas principalmente por demonstrar todo o cuidado que tivemos com o trabalho. É diferente ter o som chiando na agulha, sem falar na arte do álbum que pode ser melhor apreciada. É mais que uma mídia de música. É arte, pura e simples.

O EP também está liberado no site oficial da Lava Divers. O download gratuito ajuda vocês?
Ajuda e muito! Como somos uma banda nova, e estamos nos apresentando pela primeira vez pra maioria das pessoas, é mais do que válido permitir o download gratuito. Como vamos convencer alguém a ir ao nosso show sem ter escutado nossas músicas? Ou ainda, como instigar alguém a comprar o disco físico se ele não tem acesso tem às músicas. No nosso caso foi uma mão na roda. Nossa música tem chegado a lugares e pessoas que talvez não escutariam se não fosse dessa forma.

Para uma banda que tem bastante influência de guitar bands, lançar pela Midsummer Madness deve ser um orgulho. Como rolou o contato?
Mais que orgulho, é uma realização mesmo! Estamos agora ao lado de nomes do underground nacional que até então eram nossas referências. Mas o contato rolou na cara dura mesmo! Glauco já acompanhava o selo desde os anos 90. Daí quando o disco ficou pronto, mandamos pro Lariú (responsável pelo selo), e pra nossa surpresa ele topou!

Das quatro músicas do EP, três já tem clipes oficiais muito bacanas. Como surgem as ideias para os vídeos?
Para cada um desses três clipes tivemos ideias totalmente diferentes. Para o primeiro single, “Done”, pensamos em fazer uma festa no Death Valley ’69, a casa do Glauco em Araguari, onde inclusive gravamos o primeiro registro da banda que saiu em mono, e bem barulhento. Tivemos a sorte de encontrar um escafandro, e daí pensamos em fazer a festa na casa do cara do escafandro, onde no final a banda tocasse no meio da sala, pros amigos curtirem, num clima bem descontraído mesmo, que foi como tudo começou. Uma ideia bem simples, com custo bem baixo, espalhamos câmeras nos ambientes, demos câmeras nas mãos dos amigos e tudo fluiu até altas horas! O segundo clipe foi da música que abre o EP “Carte Blanche”, e foi uma junção de imagens que capturamos ao longo da gravação do EP, imagens das viagens que fizemos pra tocar em SP e pelo interior de Minas também, ensaios e gravações, e vários momentos capturados pelo nosso guitarrista/videomaker/diretor de cinema Eddie Shumway, que é o cara que editou tudo, e que desde o início da banda guarda imagens poderosíssimas para o um possível doc futuramente! Já o terceiro e último clipe, que lançamos mês passado, veio com uma proposta completamente diferente, com roteiro, produção, direção e edição de Renato Cabral, da Imaginare Filmes. Saímos um pouco da nossa vertente lofi, e fizemos uma super produção, que nos deixou bem felizes com o resultado. A única música que não tem videoclipe oficial acabou ganhando um vídeo fanmade muito especial pra gente, que também é super fácil de ser encontrado no Youtube. Ou seja, “Heartless” não ficou de fora!!!

Já que vocês falaram das viagens, tenho visto que vocês tão rodando bastante! Como é o Lava Divers no palco e como está sendo tocar em tantos lugares diferentes?
Fizemos mais de 50 shows depois que lançamos o EP, e tivemos a sorte de rodar bastante aqui pela região de Minas e em São Paulo também. Ouvimos muito sobre o frescor que levamos para o palco, e é muito foda ouvir isso, ver que conseguimos levar toda nossa energia para as músicas que compomos. Apesar do EP ter 4 músicas, o show tem 40 minutos, pois tocamos outras canções que vão entrar no álbum, (que sairá no) ano que vem, e entre elas temos uma que é só instrumental, e temos também uma sem bateria… O show têm suas nuances, achamos que isso é importante ao vivo. Tocar em São Paulo foi um marco pra gente, chegamos no Mancha, e nos sentimos em casa, encontramos lá vários outros fãs perdidos de guitar bands. Tocamos com o Twinpine(s) a primeira vez numa festa linda de vários anos da banda, e depois voltamos mais duas vezes, na última com o The Cigarettes, momento histórico pra nós, que passamos de fãs convictos para amigos de estrada. Tocamos no Rio de Janeiro também, com eles e o Second Come. Temos um caso de amor e noise com o Travelling Wave, de Piracicaba. Nos encontramos em SP num festival foda do TBTCI, do Renato Malízia, daí depois trouxemos eles aqui pra Uberlândia, e o último encontro foi em Piracicaba, tocamos lá e saímos com a ideia maluca de fazer uma “South Noise Tour”! Estamos com esse plano pra 2016! Tá muito bonito o rolê pra gente. A banda cresceu e a gente tem trabalhado muito. Vamos seguindo com os planos!

Minas Gerais vive um momento prolífico musicalmente, com dezenas de bons trabalhos surgindo e surpreendendo. Como o “ser mineiro” acaba entrando na música de vocês?
Uai, o mineiro tem um jeitim bem característico, né não sô?! Não só pela fala, mas pelo jeito de se expressar também. Nós somos um quarteto bem mineiro, e é isso que temos ouvido por onde a gente passa! Apesar do Eddie ser originalmente de Cubatão, ele é mineiro de coração já faz tempo. O ser mineiro está em tudo que fazemos, e na música ele fica bem impresso, nosso inglês tem o r bem puxado também, ele é bem “amineirado” (hehehe). Sobre a cena aqui em Minas, estamos vivendo um momento maravilhoso! Uberlândia está rendendo vários frutos pra cena independente, e é um orgulho pra nós falar disso por onde passamos.

Demais isso! Que bandas da cena local vocês recomendam para os leitores do Scream & Yell prestarem bastante atenção?
Eita, vamos lá! Temos uma cena muito bonita, e claro que a gente apanha amor logo de cara, porque vê a competência da galera pra fazer som, mas não é só isso, passo uma semana tranquilamente com a playlist do Cena Cerrado no meu fone de ouvido. Sick, instrumental bonito que acabou de lançar um EP; Senomar, que também acabou de lançar um álbum maravilhoso, inclusive gravado com o Vazquez, no Rocklab, mesmo lugar que a Lava Divers gravou seu EP. Tem a Cachalotte Fuzz, que lançou um single, e tá com o álbum pro ano que vem. Tem a Maria Augusta, que está terminando de gravar seu primeiro álbum, lá no Caverna Estúdio, mesmo lugar que o Sick gravou. O recente duo OCIMOON, que fez seu segundo show e está gravando seu primeiro EP. Lucas Paiva, que era do Dom Capaz e acabou de lançar seu álbum solo. Tem a Surreal com trabalho novo também rodando por aí. Tem o Piêit aqui na região. Uganga, Corine e Canabicos, super fortalecidos e ativos por anos em Araguari… Tem banda demais, a cena tá super fervendo!

Fiquei bem interessado no Cena Cerrado, porque acredito que a união de forças tende a fazer com que o trabalho se amplie. Como funciona o Cena Cerrado e quais os planos que vocês tem para ele?
O Cena Cerrado é um coletivo independente destinado ao fortalecimento da cena artística e cultural de Uberlândia e região. É um projeto feito por artistas e colaboradores, com o intuito de juntar tudo que é nosso e criar um novo movimento. Unidos, organizamos intervenções, eventos e festivais, tudo DIY e com parcerias dos amigos. A ideia pra 2016 é fortalecer os intercâmbios com as bandas de diversas regiões. Ao todo já são aproximadamente 30 bandas, os eventos que já são praticamente mensais vão continuar rolando, e junto deles a produção de material desses artistas. Temos nos planos investir mais no programa de TV, fazer uma coletânea, e quem sabe até o Primeiro Festival. Lava Divers é parte do Cena desde o comecinho, e atualmente está ativamente levando pra fora de Minas, um pouco do que está rolando no cenário independente aqui da região.

Baita projeto! Ceis tão de parabéns! Fico na torcida pra que role festival, coletânea e que a cena se fortaleça ainda mais!
Ficamos na torcida para que pegue um show nosso! Voltamos pra tocar em SP, fim de novembro e início de dezembro, quando se aproximar as datas, fazemos o convite.

– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

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